sexta-feira, 19 de março de 2010

Roberto Vieira: O Pré-Açúcar.

O artigo é do blog do Roberto Vieira (que, além de especialista no futebol pernambucano, publica relatos históricos interessantíssimos sobre o futebol brasileiro e mundial). Neste caso o Roberto Vieira, saindo um pouco da rotina do futebol, traz considerações interessantes sobre a questão do pré-sal fazendo uma comparação com aquilo que ele chamou de "pré-açúcar", ou, os acontecimentos históricos que formaram a identidade nacional e que tiveram como protagonistas os estados de Pernambuco e Rio de janeiro, suas vicissitudes e sua evolução. Nestes tempos de engajamento político, com os cariocas defendendo seus interesses com unhas e dentes, é bom refletirmos sobre como resolver este problema, não prejudicando quem  já se beneficia, tampouco esquecendo dos demais irmãos brasileiros, afinal somos ou não uma federação? Apenas alguns Estados se beneficiarem de uma riqueza que está no fundo do mar e que é explorada pela União não parece ser a situação mais justa. Se há realmente tanta riqueza ela deve ser repartida com todos, ainda que os Estados "produtores" tenham direito a uma fatia mais generosa. No final, só a título de ilustração de como esse tema pode ser tratado de forma irresponsável, uma crônica "tresloucada" do Arnaldo Jabor (o cara perdeu o senso do ridículo!). E olhe que é porque o Rio sediou o PAN, vai sediar as Olímpiadas de 2016, provavelmente a final da Copa de 2014, e tem investimentos da União de mais de 15 bilhões de dólares.

O PRÉ-AÇÚCAR
Por ROBERTO VIEIRA


A gritaria geral do Rio de Janeiro em relação à divisão das riquezas do pré-sal parece justa. Por que dividir o lucro com outros estados da Federação se quem produz a riqueza é o território carioca? Por que dividir o dinheiro se o Rio de Janeiro vai arcar com os prejuízos ambientais? Lógico que não faz sentido. Pelo menos do ponto de vista econômico, vale a pena até chantagear com a não realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Porém, o que acontece se examinamos a questão do ponto de vista histórico?

Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello no instigante livro 'A Outra Independência', a chegada da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808 foi um desastre para a economia nordestina, em particular de Pernambuco. A riqueza do estado, baseada na produção de algodão e açúcar, foi repassada em forma de impostos para o estabelecimento dos nobres portugueses no Rio de Janeiro. O comércio de Pernambuco com a Europa e os EUA foi sobretaxado. O dinheiro era extorquido de Pernambuco e dos demais estados nordestinos até para iluminar as ruas da capital de Dom João. Foi o início do declínio da outrora poderosa capitania.

A insatisfação reinante levou Pernambuco a se insurgir contra o déspota Dom João VI. Os nativos puseram os holandeses pra correr sem auxílio de Portugal, por que então se submeter ao jugo dos refugiados das guerras napoleônicas? No dia 6 e 7 de março de 1817, a revolta explodiu com a tomada do poder local e proclamação de uma República com liberdade de imprensa e igualdade de direitos entre seus cidadãos.

Nunca os portugueses foram tão severos como na punição dos revoltosos pernambucanos. Após a derrota do movimento de 1817, os seus líderes foram enforcados e esquartejados em praça pública. As prisões se encheram de sangue e tortura. Mas o problema persistiu apesar da violência. Sete anos depois, uma nova revolta se estabeleceu. Dom Pedro I ocupava o lugar do seu pai e o Brasil se julgava independente. Foi quando o coturno de Pedro I espalhou destruição novamente em Pernambuco. A Confederação do Equador foi apagada da história do Império. Império que nunca confiou muito nos pernambucanos.

Mas Pernambuco já não era o mesmo. O Leão do Norte cambaleava com a sangria de suas riquezas materiais e filosóficas. Toda uma geração, onde se destavaca Frei Caneca, foi exilada, presa, morta ou corrompida. Pernambuco tornou-se fogo morto. Uma terra respirando o passado, seus estudantes aprendendo absurdos na escola, ignorando que a Corte Portuguesa era seu martírio, e nunca motivo de comemoração. Teve gente que cresceu admirando Pedro I nas imagens de Tarcísio Meira nos cinemas.

Repito: A gritaria geral do Rio de Janeiro em relação à divisão das riquezas do pré-sal parece justa. Por que dividir o lucro com outros estados da Federação se quem produz a riqueza é o território carioca? Por que dividir o dinheiro se o Rio de Janeiro vai arcar com os prejuízos ambientais? Lógico que não faz sentido. Pelo menos do ponto de vista econômico. Porém, o que acontece se examinamos a questão do ponto de vista histórico?

O que acontece se a gente for debater o pré-açúcar e o pré-algodão?

Leia mais no blog do Roberto Vieira...

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