quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Pureza das Crianças e o Ato Falho de Campanha

Para as crianças, na sua pureza, vem à boca aquilo que está no coração. Neste caso o assessor teve que corrigir a "falha" quando da visita do candidato Serra àquela escola.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Vingança de Lula

Podemos dizer que com Lula a Amercia Latina tornou-se um parceiro preferencial. A idéia de uma comunidade latinoamericana tomou peso, e tem uma lógica muito interessante: a de que o bem-estar do meu vizinho é o meu bem-estar. Esta idéia de integração é que permitirá que o continente deixe para trás os momentos de conturbação que tanto prejudicaram a vida dos povos que o compõem.




Aqui stá o discurso de Lula na integra.
"Bem, primeiro, eu queria cumprimentar a companheira Cristina Kirchner, presidente da Argentina e presidente Pro Tempore do Mercosul,
Cumprimentar o companheiro Fernando Lugo, presidente do Paraguai,
Cumprimentar o companheiro José Mujica, presidente do Uruguai,
Cumprimentar o companheiro Evo Morales, presidente da Bolívia,
Cumprimentar o companheiro Sebastián Piñera, presidente do Chile,
Cumprimentar o nosso querido secretário-geral da Unasul, companheiro Kirchner,
Cumprimentar os companheiros representantes de organismos internacionais,
Cumprimentar o nosso querido Governador da Província de San Juan,
Queria cumprimentar os chefes de delegações,
Queria cumprimentar os representantes do Parlamento do Mercosul,
Cumprimentar os representantes dos movimentos sociais aqui presentes,
E dizer para a Cristina que vou fazer um esforço imenso para não levar todo o tempo que levávamos para falar, alguns anos atrás.
Mas queria começar reconhecendo que ontem à noite quando eu cheguei aqui, às dez e meia da noite, onze horas – o companheiro Celso Amorim já estava recolhido, certamente telefonando para sua mulher –, eu me encontrei com os meus assessores que, unanimemente, me disseram que esta reunião de San Juan tinha sido a melhor reunião, depois de Ouro Preto, do Mercosul – já faz muito tempo –, e estava todo mundo feliz com o conteúdo e a qualidade das decisões que foram aprovadas aqui. Portanto, eu acho que o clima de San Juan, Governador, permitiu que o Mercosul avançasse nisso. Esta, na verdade, deve ser considerada a Declaração de San Juan, grande declaração.
Bem, queria dizer aos companheiros que eu sou decano do Mercosul, sou o presidente mais velho. De idade, estou igual a Pepe, mas de participação no Mercosul eu sou o presidente que mais tempo está exercendo a Presidência. O que é triste é que para quem está no governo oito anos não é nada, e para quem está na oposição oito anos é uma eternidade. Entonces, eu tenho que sair para contemplar um pouco a oposição que quer disputar uma eleição, embora vá perder.
Segundo, dizer um pouco, Cristina, do clima que era o Mercosul, no começo. O companheiro Kirchner não está aqui presente agora, deve estar em uma bilateral. Mas eu queria dizer que os avanços do Mercosul, na minha visão, foram avanços extraordinários. Eu lembro que eu fiz uma campanha para presidente da República em 2002, em que o grande tema da campanha era se iria prevalecer a implantação da Alca ou não. E o movimento social, o movimento sindical, o meu partido e as pessoas de esquerda no meu país, todos éramos contra a Alca, todos. E éramos acusados de não querer que o Brasil se desenvolvesse, éramos acusados de não perceber a importância dos Estados Unidos para o desenvolvimento da América do Sul. E nós afirmávamos que na Alca não tinha nenhuma proposta condescendente, como teve a proposta da criação da União Europeia, em que países como Portugal, Grécia, Espanha, receberam ajuda financeira para desenvolver os seus países, investimentos em infraestrutura, e se colocarem, mais ou menos, em igualdade de condições. Então, a Alca, no fundo, no fundo, no fundo, era uma proposta que não tinha nenhum propósito de ajudar com que os países mais pobres pudessem ter ajuda para se desenvolverem e se transformarem em países minimamente competitivos com os países ricos.
O dado concreto é que nós ganhamos as eleições. Depois de algum tempo, veio o Kirchner e ganhou as eleições. O dado concreto é que dois anos depois que estávamos na Presidência da República, nem os Estados Unidos falavam mais em Alca, ninguém falava mais em Alca. Talvez, alguns saudosistas acreditassem que poderiam continuar falando na Alca. E nós fizemos uma coisa e a história, às vezes leva anos para mostrar e às vezes... Eu lembro quantos discursos eu ouvi, eu lembro quantas vezes eu lia jornal de países aqui do Mercosul, em que os presidentes participavam de algumas reuniões e voltavam para os seus países dizendo: “O Mercosul não adianta, porque o Mercosul não vai para a frente, porque é preciso nos voltarmos para tentar fazer acordo direto com os Estados Unidos”. Nós nunca fizemos nenhuma crítica a quem quisesse fazer acordo, com quem quisesse. Era um direito soberano de cada país fazer acordo com os Estados Unidos, fazer acordo com a Europa, fazer acordo com o Japão. Mas o que nós queríamos era fortalecer o potencial de similaridade que nós tínhamos e que não era explorado.
Pois bem, eu acho que os resultados econômicos do Mercosul demonstram, por si só, o acerto das decisões que nós tomamos quando resolvemos fortalecer o Mercosul. É só pegar o fluxo comercial e, além do fluxo comercial, pegar os avanços de integração, e, sobretudo, pegar os avanços da interação política que houve entre os nossos companheiros governantes, ministros e o povo em geral. Há um processo de confiabilidade hoje que não havia dez anos atrás ou que não havia oito anos atrás.
Além disso, nós tivemos a oportunidade de fazer duas reuniões da América do Sul com os Países Árabes – parecia impossível e aconteceram as duas reuniões –; nós fizemos duas reuniões entre a América do Sul e o continente africano – parecia impossível e aconteceram as reuniões –; e nós fizemos a primeira reunião, em 200 anos de independência, de toda a América Latina mais o Caribe, que foi a reunião de Sauípe, na Bahia, o que parecia impossível.
Muitas vezes, muitas vezes, nós ficamos ansiosos porque vamos a uma reunião e não voltamos para casa com nada para dizer para o nosso povo: “Eu conquistei tal coisa”. Todos nós ficamos ansiosos. Eu, no começo, ficava nervoso porque o Kirchner ia para as reuniões, ficava um dia e depois o Kirchner vinha embora para a Argentina. Eu falava: por que é que ele não fica os dois dias com a gente aqui e tal? Depois ele virou, agora, secretário-geral da Unasul. Agora ele vai ter muito mais dor de cabeça e muito mais reuniões do que ele tinha na época.
Aprovamos a entrada da Venezuela no Mercosul e, lamentavelmente, o Parlamento brasileiro demorou quatro anos para aprovar, muito mais por preconceito político, porque não há nenhuma divergência econômica para [não] ter aprovado. Eu acho que a mesma coisa pode se dar no Paraguai, e é preciso que a gente trabalhe para que outros países façam parte do Mercosul. Não tem lógica, não tem lógica, não tem lógica, nem econômica, nem cultural, nem comercial, que nós que temos milhões de quilômetros de fronteira seca em que o nosso povo pode transitar de lado a lado, que a gente não tenha um comércio muito mais forte, que as nossas empresas não se desenvolvam construindo parcerias. A gente não precisa abdicar das nossas relações com outros países, mas a gente tem que privilegiar as nossas relações. Afinal de contas, se a gente não cuida dos filhos da gente, a gente não pode dar palpite nos filhos dos outros. É preciso, primeiro, cuidar de onde nós temos um potencial extraordinário.
Nós temos energia, nós temos petróleo, nós temos gás, nós temos possibilidade hídrica como nenhuma parte do mundo tem, nós temos tudo que o mundo precisa, sobretudo para dar exemplo nessa discussão sobre a questão do clima. Os países ricos fazem discursos de bonzinhos, mas querem que nós submetamos o nosso desenvolvimento para cuidar de coisas que eles não cuidaram. Foi por isso que nós não tivemos acordo em Copenhague, porque a grande proposta, a grande proposta de contenção de emissão de gases de efeito estufa dos companheiros americanos era de apenas 4%, se pegássemos como base 1990. A Europa poderia ter oferecido 30%, ofereceu 20%. E eles acham que podem resolver o problema do mundo dando um pouco de dinheiro para os países pobres não desmatarem as suas florestas, ou seja, para os países pobres ficarem pobres, subdesenvolvidos, enquanto eles podem, sofisticadamente, cada vez mais, exportar para nós produtos de valor agregado, cada vez mais sofisticados.
No fundo, no fundo, é isso que está em jogo nessa discussão. Ninguém quer abrir mão dos privilégios conquistados. E nós não queremos manter privilégios, nós queremos conquistar o direito do nosso povo ter o mesmo direito que eles já têm. Cada argentino, cada brasileiro, cada boliviano, cada venezuelano, cada chileno, cada uruguaio, paraguaio, cada companheiro do Haiti tem que ter o mesmo direito de ter acesso a todos bens materiais que eles têm porque, senão... Se o planeta Terra não oferece matéria-prima suficiente para todo mundo ter o padrão de vida alemão, é preciso, então, que a gente discuta como utilizar corretamente as matérias-primas e as riquezas que existem no mundo.
Então, essa é uma discussão que vai se dar muito forte em Cancún, e essa discussão vai se dar, outra vez, Cristina, com os Estados Unidos, ela vai se dar, outra vez, com a Europa, e ela vai se dar com a China. E nós precisamos estar preparados e, quem sabe, construir uma proposta do Mercosul; quem sabe, o Kirchner trabalhar para a gente construir uma proposta da Unasul; fazer o possível para a gente fazer uma proposta, mas sem abrir mão do direito de continuarmos nos desenvolvendo. Esse é um dado delicadíssimo.
Então, eu acho que nós avançamos de forma extraordinária. E quero, Cristina, dizer que eu só tenho uma frustração, que era um sonho meu: que era que nós pudéssemos construir o acordo entre Mercosul e União Europeia, na sua Presidência e na Presidência do companheiro Zapatero, o que não foi possível. E agora, como o grande adversário dessa união me parece que são os companheiros franceses, eu agora vou ter cinco meses pela frente para tentar convencer os franceses a fazerem o acordo União Europeia e... Deus queira que a gente consiga e, quando, em dezembro, quando em dezembro, eu for passar a Presidência, acho que é para o Paraguai, lá... eu já estou dizendo que a reunião será convocada lá em Foz do Iguaçu, porque além do Mercosul, nós vamos visitar a escola que está sendo construída... a Universidade Latino-Americana, com professor latino-americano, com currículo latino-americano, com aluno latino-americano, e já vai ter uma base funcionando nos prédios de Itaipu... Então, vai ser lá a reunião.
Bem, ditas essas coisas, eu queria dizer aos companheiros que os avanços que nós conseguimos são visíveis e o nosso povo sente. Eu tenho sempre uma parte improvisada e uma parte institucional. Essa institucional é porque o Brasil vai ter uma nova pessoa que vai assumir a Presidência. Então, eu preciso deixar algo provado, do que foi o meu penúltimo discurso.
Eu gostaria, companheiros e companheiras... É quase um agradecimento à lealdade que nós tivemos nesses anos de convivência. Acho que a América do Sul e o Mercosul hoje são exemplos de como o mundo poderia viver em paz, de como o mundo poderia viver sem armas nucleares, de como o mundo poderia viver sem guerra, de como o mundo poderia viver de forma muito mais harmônica. Eles poderiam aprender conosco, poderiam aprender conosco. Eles não poderiam ter os ciúmes que tiveram nesses últimos dias, que eu peço a paciência de vocês para contar.
Eu, Cristina, não conhecia o Presidente do Irã, até que eu o encontrei na ONU, uma vez, e resolvi conversar com ele. Depois que conversei com ele, fui conversar com o Obama, fui conversar com o Sarkozy, fui conversar com a Angela Merkel, fui conversar com o Gordon Brown, sobre o problema dos conflitos entre iranianos, europeus, Estados Unidos e Israel. Depois eu fui à Palestina conversar com o presidente Abbas; depois eu fui a Israel conversar com o Primeiro-Ministro de Israel; depois eu recebi o Presidente de Israel no Brasil, tivemos conversa; depois tive uma conversa com o Presidente da Síria; recebi o Presidente do Irã no Brasil, e depois eu fui ao Irã.
O que me deixou profundamente chocado é que nenhum dos presidentes, dos grandes do Conselho de Segurança, tinham conversado com o Irã. Estive com Medvedev... mostrando para eles que era necessário que alguém pegasse o telefone e chamasse o Presidente do Irã para conversar, afinal de contas nós tínhamos lá os homens mais importantes do Planeta, que são os homens que têm... são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Eu não sei se é pelo fato de serem os membros permanentes do Conselho de Segurança, que são os cinco países que vendem mais armas no mundo, são os países que têm bomba nuclear. Então, deveriam chamar o Irã para conversar. Essas coisas a gente resolve na conversa, como foi resolvido o acordo aduaneiro agora, aqui. Em dois minutos de conversa o Lugo decidiu.
Pois bem, diziam que era impossível, que o Irã não queria sentar para conversar. O Primeiro-Ministro da Turquia e eu, Celso Amorim e o chanceler deles, depois de 18 horas conseguimos assinar um documento em que ele se dispunha a sentar à mesa de negociação com o Grupo de Viena, que era o grupo composto por Rússia, Estados Unidos e França. Não, só os três. Qual não foi a minha surpresa, qual não foi a minha surpresa, que quando ele manda o documento no domingo à noite – porque nós exigíamos prazo –, os países do Grupo de Viena, em vez de começarem a dizer “Bom, estão criadas as condições para negociação”, começaram a discutir o aumento das sanções. Possivelmente, eles nem queriam ler o documento. E o documento – o que me deixou mais irritado –, é que o documento – e eu posso dizer para vocês aqui –, o documento que nós firmamos com Ahmadinejad era a carta explícita que o Obama mandou para mim e mandou para o Primeiro-Ministro da Turquia. Exatamente o que Obama disse que era possível fazer, nós fizemos.
De repente, aquilo que era para ser um acordo virou sanções. Eu não acredito em sanções porque essas sanções, também, têm problemas. Deve ter sanção para as empresas argentinas, para as empresas brasileiras, mas não deve ter sanção para as empresas russas, não deve ter sanção para as empresas americanas, não deve ter sanção para as empresas chinesas. Eles vão continuar... A Rússia vai continuar fazendo a usina nuclear do Irã, a Argentina... o Chile vai... a China vai continuar cuidando do petróleo lá, e os outros mortais comuns é que vão ficar fora.
Eu fiquei muito decepcionado porque hoje eu me pergunto se as pessoas querem paz ou se as pessoas querem manter o clima de instabilidade que existe para poder utilizar a teoria, muito conhecida, de Maquiavel: é preciso dividir para reinar. Hoje eu tenho essa convicção, porque não é possível, não é possível que as pessoas não conversem com quem está nos conflitos, para negociar. Como é que eu posso fazer pacto com o Piñera se eu não me sentar com o Piñera para conversar? Como é que a gente vai restabelecer a harmonia entre Colômbia e Venezuela, se Chávez e o novo presidente não sentarem para conversar. Como é possível resolver um conflito do Brasil com a Argentina, se eu e Cristina não sentarmos para conversar? Então, em política, a gente não pode terceirizar o mandato que o povo nos deu. Em política, quem foi eleito precisa exercer o seu mandato e fazer o que tem que ser feito, negociar, conversar, porque, às vezes, um companheiro nosso, assessor, pensa diferente. Eu acho, acho que... Eu queria fazer esse depoimento aqui, porque eu ainda vou discutir com eles na ONU, ainda vou discutir com eles no G-20. Eles não vão... Nós vamos fazer uma discussão profunda sobre isso, porque eu acho que...
Nós não queremos guerra. E se alguém quiser saber um lugar tranquilo no Planeta, olhe para a América do Sul, olhe para este continente. Aqui nós temos todos os defeitos do mundo, mas faz muito tempo que nós não fazemos guerra entre nós. Às vezes, temos guerra verbal, que não fere ninguém, não ataca ninguém. Por exemplo, eu fiz uma... eu falei uma coisa com a imprensa, nesses dias, e o Uribe ficou meio nervoso e fez uma nota. Sabem como é que eu vou me vingar de Uribe? Eu vou, na segunda-feira à noite, jantar lá, no jantar de despedida dele, para ele saber que eu não tenho nenhum problema com ele, que eu gosto dele, que é meu amigo, e que eu quero ajudar a construir a paz. Então, o meu gesto vai ser ir jantar, para ver se ele me convida para sentar ao lado dele, ainda, para a gente poder conversar. Senão, a gente não constroi a paz no mundo, senão a gente não constroi a tranquilidade, senão a gente não constroi o Mercosul, não constroi a Unasul, não constroi o Parlamento do Mercosul. Por que não aprovamos o Parlamento do Mercosul? Qual é a dificuldade que nós temos? Qual é a grande divergência de fundo, que a gente não tem um Parlamento? Que vai ajudando a gente a fazer as coisas, com erros e com acertos. Nada, nada, nada vai ser definitivamente pronto, é um processo de aprendizagem. E nós vamos aprendendo com os erros, sabendo que não pode ter supremacia de um país sobre outro país, sabendo que o Parlamento não pode aprovar uma coisa que fira a soberania de um outro país. E a gente só vai atingir a maturidade política quando a gente tiver responsabilidade.
Então, meus queridos companheiros e companheiras, eu acho que... Eu vou deixar o meu discurso escrito aqui para outra oportunidade. Eu acho que nós ainda temos muito, muito o que fazer. Por exemplo, no Brasil nós aprovamos uma grande política de inovação tecnológica. E essa política de inovação não pode ser só para o Brasil, nós temos que ter laboratório no Mercosul inteiro. Cada país do Mercosul tem que ter um laboratório... [estar] conectado com um laboratório para a gente poder avançar nessa questão da inovação tecnológica, que é uma necessidade, hoje, do mundo. A questão energética, nós não podemos ficar, a cada inverno, a cada verão, vendo um país nosso ter problema energético. Nós temos que sentar e pensar, definitivamente, como é que nós vamos resolver esse problema.
Então, companheiros... eu queria, Cristina, te dar os parabéns. Acho que a tua Presidência foi, na minha opinião, uma extraordinária Presidência. Acho que este documento assinado é uma demonstração do avanço extraordinário que nós tivemos. Eu espero que na minha Presidência a gente possa avançar um pouquinho mais, e que em outras presidências a gente possa avançar um pouquinho mais, até que o Mercosul seja uma coisa que ninguém tenha mais dúvida de ninguém e que nós sejamos amigos de verdade na construção de um bloco político, econômico, social e cultural.
Portanto, eu quero agradecer a todos vocês pelo tratamento que me deram, nesse tempo todo. Obviamente que não é o discurso de despedida porque vai ter outro discurso, mas é quase... tudo o que eu faço, daqui para a frente, é quase a última vez. Sinceramente, saio daqui com a consciência de que... lá no meu país tem gente falando contra o Mercosul, lá no meu país tem gente falando contra o Mercosul, lá no meu país tem gente achando que não vale a pena a gente manter relações privilegiadas com a Bolívia, com o Uruguai, com o Paraguai, são todos países “pequeninicos”.
Eu quero dizer o seguinte: as pessoas não sabem... Eu estava com o Lugo, quando um jornalista brasileiro perguntou: “Companheiro Lula, como é que você está investindo US$ 400 milhões numa linha de transmissão, se quem vai pagar o custo dessa linha de transmissão é o povo brasileiro?” Eu perguntei [respondi] para ele: perguntem o preço de uma guerra, que vocês vão perceber que nós não estamos gastando absolutamente nada com a construção dessa torre.
Portanto, muito obrigado, companheiros, e feliz Mercosul."
http://noticias.uol.com.br/politica/2010/08/03/lula-critica-demora-da-venezuela-em-integrar-o-mercosul-e-pede-mais-paises-no-bloco-leia-a-integra-do-discurso.jhtm

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Espaço que lhe cabe neste Latifúndio

Restou para aquele que um dia foi considerado uma partido social democrata a extrema-direita do espectro político. E por que isto? Porque aquele que hoje se coloca como a principal figura da Oposição no Brasil, o candidato à Presidência da República, José Serra, foi empurrado para lá, principalmente pelas bandeiras sociais que foram efetivamente beneficiadas no governo Lula. Um pouco também, talvez, pelo temperamento do Candidato; outro porque foi o que sobrou das forças políticas vigentes que vão apoiá-lo até o fim, até porque não suportam o Lula no poder. Acham-no apenas uma farsa, uma vez que tudo que deu certo no seu governo é fruto da inércia das políticas implantadas pelo governo FHC. Interessante que, por este raciocínio, o FHC estaria elegendo o Lula indiretamente, e não o seu candidato, no caso, o Serra, que, embora não esteja na Presidência do país governa o Estado mais rico na nação. O que se vê é que o tom da campanha está cada vez mais agressivo e menos propositivo. A Dilma, o Lula o PT e as FARCs, e o dossiê, e a receita federal. A proposição? Fazer mais e melhor. O que esta estratégia tem de eficaz na elaboração ou modificação da convicção politica, desde os mais humildes até mesmo aqueles que se informam pelos veículos de comunicação alinhados com o PSDB? Esta pergunta faz sentido na medida em que as classes C, D e E têm melhorado o seu rendimento, o desemprego tem caído, e o salário mínimo combinado com programas de assistência como o Bolsa Família formam um sistema indutor do desenvolvimento social no país e os mais ricos e abastados, bem como o mercado financeiro, têm visto os seus ganhos não apenas manterem-se, mas se beneficiarem de uma economia mais equilibrada e em expansão. O que se pode concluir de tudo isto, olhando para o que indicam as últimas pesquisas de intenção de voto, é que a estratégia não está dando certo, e que, cada vez mais a Oposição está falando para uma fatia do eleitorado bem específica e inexpressiva. Neste sentido, não alcançando o desiderato de ocupar a mais alto cargo no Executivo nacional, restará para a mesma se reinventar, enterrando de vez o Serrismo e o Fernandismo e partindo para novas proposições, ocupando espaços que certamente serão abertos, mesmo porque ninguém se eterniza no poder. Pelo menos nos sistemas ditos democráticos.


Gilson Caroni: Serra e Índio, qual o apito?

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento.
por Gilson Caroni Filho, em Carta Maior
E finalmente descortinou-se – sob os estarrecidos olhares dos eternos ingênuos – a verdade que todos, há muito tempo, já conheciam. A fluidez do processo político brasileiro, suas clivagens e crises que podem decorrer da percepção de resultados eleitorais adversos, levaram o candidato José Serra a revelar sua verdadeira natureza de classe. Reativando um surrado discurso udenista, o ex-presidente da UNE passou a endossar o protofascismo de sua base de sustentação. Mais que assegurar a adesão de eleitores da direita, pôs por terra uma tese que ganhava espaço na grande mídia e em conhecidos círculos acadêmicos.
A caracterização simplória do cenário político definia as próximas eleições mais como uma disputa por espaço eleitoral do que como polarização ideológica de projeto de país. Ressurgia, com endosso de algumas lideranças esquerdistas, a visão dos dois partidos hegemônicos (PT e PSDB) como agrupamentos politicamente inautênticos, sem verdadeiras raízes na estrutura social e sem diferenciação ideológica nítida. A distinção se daria apenas na maior ou menor capacidade de conseguir recursos, ganhos incrementais que ignoram modificações substantivas nos programas públicos. Nada mais falacioso. Nada mais revelador da fragilidade analítica dos que vêem no governo Lula uma continuidade pura e simples da gestão FHC. As sobejas dificuldades do candidato da direita, sua necessidade de marcar posição, desmentiram os estudos de encomenda.
Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento; típicos da intolerância retórica que o distingue. Impossibilitada de construir sua identidade pela inserção no processo produtivo, essa parcela da classe média forja a auto-imagem por diferenciação das classes fundamentais. Sabe que não é o que mira, mas não sobrevive sem o sentimento subjetivo de pertencer a uma elite idealizada. É nesse aspecto da nossa estrutura social que Índio e Serra passam a querer o mesmo apito. E a falar o mesmo dialeto.
As diatribes recentes do candidato tucano têm uma imensa serventia para os setores progressistas. Ao criticar as relações do governo petista com países sul-americanos e com a China, assegurando que “estamos fazendo filantropia com Paraguai e Uruguai e concessões excessivas ao país asiático”, Serra sinaliza que, no caso de uma eventual vitória em outubro, retomaria a política externa de subalternidade aos interesses estadunidenses. A volta da “diplomacia de pé de meia” não é uma questão menor nem uma mudança de rota desprezível.
A própria capacidade de o país de decidir soberanamente sobre seus destinos estará novamente em jogo. A orientação tendente a beneficiar o diálogo com os países vizinhos, superando assimetrias e promovendo uma autêntica integração, para ter continuidade e ser aprofundada, não pode conviver com a submissão vergonhosa ao imperialismo. O que está em jogo, neste momento, é a verdadeira segurança nacional.
Os inimigos dos reais interesses do país, ao contrário do que pretende a oposição e seu braço midiático, não são os governos de Evo Morales e de Hugo Chávez, a quem Serra, repetindo Uribe, acusa de “abrigar as Farc”. O que ameaça a nação brasileira é a humilhante prostração aos ditames de Washington. Em um país com instituições minimamente democráticas, Serra e seu vice têm como lugar certo a lata de lixo da história.
Quanto mais nos aproximamos de outubro, aumenta a urgência de ampla mobilização dos trabalhadores e demais setores populares em defesa das suas conquistas sociais e econômicas, alcançadas nos dois mandatos do presidente Lula. É bom lembrar que não se deve esperar da nova direita, que sustenta Serra, uma análise serena de um governo popular. Para ela é imperdoável que tenha havido um período tão rico em cidadania, tão pródigo em participação nos debates sobre problemas nacionais.
Jonathan Swift escreveu, certa vez, que se pode identificar um gênio pelo número de imbecis que lhe atravancam o caminho. Se o criador de Gulliver tiver razão, Lula e sua candidata, a ex-ministra Dilma Roussef, têm excelentes títulos para exigir que lhes reconheçam a genialidade. Com inveja, com rancor, com incompreensão, mobiliza-se contra eles o que há de pior na sociedade brasileira. E ainda há quem não veja diferença entre os atores.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil