sábado, 3 de abril de 2010

Brizola Neto: so Freud explica

Muito interessante o post do Brizola Neto, intitulado "O Sigmund Freud de O Globo", em que faz uma critica acida a um texto do Merval Pereira, apontando como relacoes profissionais de subserviencia podem levar a uma distorcao na percepcao das relacoes de poder. A coisa realmente soa surreal.

O Sigmund Freud de O Globo
Por Brizola Neto


O Conselho Nacional de Psicologia devia dar um título honorário – ou uma queixa por exercício ilegal da profissão - ao colunista Merval Pereira, por sua coluna deste sábado em O Globo.

Eu, que não sou psicólogo e também não sou aspirante a lorde inglês, dei foi boas risadas.

Vejam que pérolas do “jornalismo”:

“Ela (Dilma) chegou a usar 28 vezes o tratamento de “senhor” ao se referir ao presidente Lula em eu discurso de despedida do ministério, o que é um sinal de subserviência não com o papel de candidata à presidência da República”

Como é que se trata o presidente da República numa cerimônia oficial e pública? “Aí, xará“? “Mano“? “Cara“? “Ô, psit“?

Ou ela deveria chama-lo de “Doutor”, como Merval e outros chamavam Roberto Marinho, que era tão diplomado quanto Lula?

Mas tem mais:

“Pois ele (Lula) não está escondendo a dificuldade com que está lidando com a perspectiva do fim do poder“

Aí, xará, senti firmeza…Dignóstico legal, profundo, resultado de horas de análise. Qual seria o dignóstico do Dr. Sigmund Merval sobre os arreganhos de Fernando Henrique que, para desespero de José Serra, tenta ser uma voz de oposição – reconheça-se a sua honestidade – a Lula? Merval – não posso chamar de senor Merval para não ser submisso – deveria ler sobre a “Síndrome do Ninho Vazio”, que acomete pais quando os filhos criam asas e se vão, tucaninhos donos de seus próprios bicos.

Mas você pensa que acabou?

“Encarar a alternância de poder como uma derrota é uma maneira de querer continuar no poder eternamente (…)”

Uai, um presidente, um governador, um prefeito é vitorioso se a oposição ganha a eleição? Não é derrota? Pode não ser o fim do mundo, pode não ser o desastre que, neste caso, é… Mas que é derrota, é! Nada a ver com não aceitar o resultado, a manifestação do eleitor. Mas achar que perder eleição é vitória e não derrota, é caso de ir pro divã ou, então, para o palanque do adversário.

” O presidente Lula está parecendo até aqueles funcionários que não querem se aposentar, mesmo que a lei os obrigue a isso”

Pronto, aí está a terapêutica mervalina para o futuro ex-presidente: ir jogar truco em São Bernardo. Mas não vai dar certo, truco é jogo gritado, se passa a mão no queixo para marcar o Rei barbudo e se manda o Zap (quatro de paus, obrigado) na testa…

Melhor não, Dr. Merval. O senhor, como psicólogo, deveria saber que a ociosidade é má conselheira. Lula vai ter muito trabalho ajudando Dilma a enfrentar os colunistas que querem descartar o Lula, porque acham que a Dama é fraca no truco e perderá para os valetes de Serra.

“Se Dilma vencer, vai querer tutelá-la. Se vencer Serra, Lula vai comandar uma oposição ferrenha contra aquele que o tirou do poder.”

Ué, “aquele que o tirou do poder”? Não era aposentadoria, não era “vitória da alternância de poder”?

Lula não vai comandar “uma oposição ferrenha”. Nem vai exercer tutela. Isso é vício de quem só enxerga as relações humanas como de “chefe” e subordinado. Coisa de quem não tem causa, da qual todos somos servos, e não há posição de maior altivez do que ser servo de idéias. Fica quilômetros acima da de ser lorde na corte dos poderosos.

Mas é natural que se pense assim. Quem se formou no ambiente da subserviência ao poder não consegue ver senão a ambição como motor do comportamento humano.

Freud, o verdadeiro, explica.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Globo: Dilma Fede

Estao achando exagero esse negocio de que parte da midia virou "partido politico"  e escancarou de vez? Ha! Mas foi apenas coincidencia! Sera?! Ofensa gratuita na primeira pagina do o Globo. Depois nao entendem porque sao hostilizados em via publica.

A Imprensa como Partido Politico

A imprensa deve ser livre, mas deve ser tambem democratica. Deve ser criticada porque nao esta acima do bem, nem do mal. Deve ser vigiada e se errar deve responder pelos seus atos. Mas o mais importante e que uma populacao politizada faca as escolhas, de ler ou assistir o que bem entender, sempre com base no patrimonio de credibilidade que um veiculo de comunicacao tem (ou deva ter). O que nao impede que um governo tome iniciativas para desconcentrar o poder nas maos de alguns meios, que passam a agir como partido politico, distorcendo fatos e favorecendo candidatos que se alinham a seus interesses. Nao se enganem, esta eleicao e o ultimo suspiro da "velha midia" e eles vem com tudo pra cima do atual governo, pois sentem que o seu poder esta sendo diminuido pelo atual grupo que ocupa o Planalto Central. Mas ha tambem uma ressalva a se fazer: assim como e pernicioso a concentracao de poder nas maos de um grupo de midia, asssim tambem e que se deve encarar quanto aos governos. Governo de mais tambem e pernicioso, principalmente quando falamos do Estado brasileiro, que nao e, em si, um primor de defesa dos interesses publicos. Claro que isto depende muito das circunstancias que envolvem uma sociedade, mas e sempre bom ficar atento pra nao se sair de uma armadilha e cair em outra. E o caso do PNDH e a virulenta reacao dos detentores dos maiores veiculos de comunicacao no pais.

Do Portal Comunique-se

Vannuchi diz que imprensa age como “partido de oposição”
Da Redação

Para o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, a imprensa brasileira age como um tipo de “partido de oposição”. "(A imprensa) vem confundindo um papel que é dela - informar, cobrar e denunciar - com o papel do protagonismo partidário, que é transformar isso em ações de conteúdo unilateral". A declaração foi feita nesta terça-feira (30/03) durante a apresentação do 3º PNDH (Programa Nacional de Direitos Humanos) na Procuradoria Geral da República.
O ministro ressaltou a posição da Associação Nacional de Jornais (ANJ) para reforçar seu ponto de vista. "A presidente da ANJ, Judith Brito, fala exatamente o que eu vinha dizendo como crítica. Ela fala: 'Na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos. Por isso estamos fazendo'", declarou Vannuchi ao se referir a participação de Judith em um evento, que discutiu o PNDH, em São Paulo.
Contra as críticas do ministro, Judith afirmou que o objetivo da entidade é defender a liberdade de expressao.
. "O jornalismo sério num país democrático precisa ser livre, porque sem liberdade não há investigação, nem opinião. Deve também ser pluralista. Esse papel da imprensa é exercido igualmente em relação ao governo e à oposição".
Várias entidades patronais, como Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e Associação Nacional de Editores de Revista (ANER), repudiaram o controle social da mídia proposto pelo PNDH. Vannuchi negou que o governo tenha a intenção de limitar a liberdade de expressão, alegando que ela precisa ser “ampla, plena e completa".
Com informações da Folha de S. Paulo.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Armando Nogueira e a Edição do Debate Collor x Lula

Com o falecimento do competente jornalista Armando Nogueira veio à tona a lembrança da edição do debate Collor x Lula nas eleições em 1989. Junto com o caso Proconsult, um dos mais emblemáticos exemplos de como a mídia age quando coloca seus interesses políticos acima do ofício de bem informar. É por estas e outras que a população deve se colocar numa posição de crítica à imprensa, principalmente em tempos de internet, quando o monopólio da informação já não está mais nas mãos destes meios tradicionais. Até porque a imprensa não está acima do bem ou do mal.

Nassif: O Estadão e a Cobertura do PAC

O jornalista Luis Nassif é um ferrenho critico da mídia na sua vertente partidarizada. Vez por outra ele faz análises sobre a abordagem dos principais jornais do país, especialmente os de maior circulação, como a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo e o Globo. Além da revista Veja, esta campeã de reclamações no PROCON da credibilidade, principalmente por ser contumaz na prática do "assassinato de reputações" como o Nassif passou a denominar a forma com que a revista faz valer seus interesses contra quem ousa desafiá-la (ele mesmo vítima da revista e de seus blogueiros, além de estar sendo processado por alguns profissionais ligados a Editora Abril). Pois bem. O texto a seguir traz uma análise de como, agora neste período eleitoral, tais meios de comunicação passaram a tratar o PAC, deixando-se trair pelo engajamento político evidente, deturpando a realidade em prol de seus próprios interesses. Pelo teor da reportagem do Estadão, não há absolutamente nada de bom no Programa, sendo este, inclusive, responsável pelos déficits do governo e uma futura crise nas finanças do Estado. Entretanto, a realidade parece ser bem diferente do que é dito na reportagem...

Por Luis Nassif
Ontem fui palestrar em um evento da Agência do Desenvolvimento de Pernambuco.
O estado virou um canteiro de obras. Refinaria Abreu e Lima, Transnordestina, obras de Suape, investimentos da Petrobras, transposição do São Francisco, eletrificação em todo estado.
Tudo isso atraindo investimentos para quatro novos estaleiros, indústrias alimentícias, como a Sadia, possibilidades objetivas de trazer novos frigorificos, crias polos texteis e de calçados.
A apresentação do presidente da Refinaria foi uma aula de estratégia de desenvolvimento, mostrando onde se pretende avançar aproveitando o conjunto de obras em andamento. Como a ferrovia permitirá levar o diesel para o interior; as unidades fabris que serão atraídas para aproveitar a nova produção, o movimento sincronizado com o Sebrae e FIEP para formar mão-de-obra, a maneira como – pela primeira vez – estaleiros saíram do Rio optando pelo nordeste.
Daí, o incauto abre o Estadão de hoje e o que vê.
1. Na primeira página, a única nota sobre o PAC2: que terá hidrelétrica em área de preservação ambiental.
2. Vira a folha e se depara com o editorial «O comício do PAC2». Entre outras coisas, diz que «a ministra discursou como se o PAC1 houvesse resultado em realizações importantes».
3. Vira a página e, na página 4 três matérias. Uma sobre a tal hidrelétrica em área ambiental. Outra, sobre o aumento de investimentos da Petrobras. Matéria positiva ou neutra? Engano. Negativa, dizendo que os investimentos foram aumentados a toque de caixa.
4. A outra matéria é sobre o programa «Minha Casa, Minha Vida». É inacreditável! O mercado imobiliário atravessa um boom por conta do programa, que mobilizou todas as empreiteiras grandes e médias. As ações dispararam. A matéria é um clássico: «as ações das empresas imobiliárias, que vinham registrando um bom resultado (não diz o motivo, mas provavelmente foi devido ao lançamento do novo caderno imobiliário do Estadão), sofreram queda nos dois dias que antecederam o lançamento da sua fase”. Nao houve desagrado algum, mas apenas um movimento normal de mercado devido ao fato do programa não oferecer vantagens adicionais sobre a primeira fase (e só faltava).
5. Aí, passa-se por duas páginas de anúncio e vai se dar no artigo da notável especialista em modelos gerenciais, Dora Kramer, que concui de forma definitiva que «falta gerência no PAC» e que isso acabou com a candidatura da Dilma Roussef.
Mas então tudo o que vi em Pernambuco é miragem. Não há investimentos na Abreu e Lima, na Transnordestina e em um sem-número de obras.
Não, o bravo e objetivo Estadão admite os investimentos.
O incauto vai para a página de Economia, onde o jornal finalmente admitirá que tem investimentos. E vem a demonstração cabal de informação objetiva e neutra: «Obras do PAC levam a déficit de R$ 1 bi». Ou seja, nesse nível de objetividade a que chegou o jornalismo brasileiro, não se respeita sequer a conta da padaria: no balanço do Estadão só existe o deve (o quanto se investiu no PAC) mas não o haver (que obras levantou).

Leia mais no blog do Nassif...

A Hora e a Vez das Classes C e D

Passei a maior parte da minha vida a ouvir que o Brasil não tinha jeito (e ainda ouço). Que o brasileiro é ladrão e mal educado (neste último caso tem lá sua parcela de verdade, o que permite até uma certa generalização) e que o país não tinha mais saída. De uns anos pra cá passo a ouvir, ainda que o velho mantra não tenha sido abandonado por inteiro, que temos um mercado interno e que as pessoas mais pobres são as responsáveis pelo surgimento de tal mercado, o mesmo que ajudou o país a não entrar em recessão durante o período da maior crise econômica que se tem notícia. E aí a se falar em classes C e D, produtos e investimentos. O Brasil passa por um processo - espero que sem retorno - em que a distribuição de renda parece estar finalmente acontecendo. Vinte milhões fora da extrema pobreza, possibilidade de negócios e crédito para a demanda. É por isso que empresas e empreendimentos outrora impensáveis em muitos lugares, agora surgem de olho nas oportunidades que aparecem com, não falo nem em elevação, mas o surgimento do padrão de consumo das classes mais baixas. E a aposta não é um mero blefe...

Do Último Segundo
Como varejo, bancos miram classes C e D em 2010
O aumento do poder de compra deixa a enorme massa de brasileiros desbancarizados muito mais apetitosa
Aline Cury Zampieri e Olívia Alonso, iG São Paulo

Diarista em São Paulo, Cleuza Souza, de 54 anos de idade, não tem conta em banco. Mesmo com o salário de R$ 800 por mês, mais do que suficiente para se “bancarizar”, Cleuza nunca foi a um banco com a pretensão de abrir conta porque acha “tudo de banco muito complicado” e também porque “nunca sobrou dinheiro”.

Quando para para pensar, no entanto, Cleuza acha que uma conta corrente a ajudaria a controlar melhor o dinheiro e a poupar. "Hoje, recebo os pagamentos e guardo o dinheiro em casa para ir pagando as contas”, diz. “Se tiver alguém para me explicar direitinho e com detalhes como são as regras do banco e sempre tirar minhas dúvidas, eu vou querer uma conta sim."

É por causa de consumidores como Cleuza que as instituições financeiras têm esfregado as mãos, nos últimos tempos. Os bancos sempre miraram as classes C e D com olhos de cobiça mas, com o aumento de seu poder de compra dos últimos anos, a enorme massa de brasileiros desbancarizados ficou muito mais apetitosa. Como aconteceu com o varejo, que garantiu seu crescimento em meio à crise graças a esses consumidores, os bancos têm traçado estratégias, criado produtos e feito parcerias para conquistá-los.
A tarefa, no entanto, não é simples. Além do receio em emprestar para um grupo de pessoas sem histórico de inadimplência, as instituições financeiras ainda não aprenderam a lidar com esse público. E, bem ou mal, dizem os especialistas, ainda conseguem lucros recordes, ano após ano, com os correntistas de classe média.

“Os bancos avançaram bastante nesse campo, mas falta muito espaço a preencher”, diz Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ele conta que o País encerrou o ano passado com 158 instituições financeiras, uma a menos do que em 2008. O número de agências bancárias cresceu 5%, para cerca de 20 mil.

Muitas contas correntes com poucas pessoas
Num primeiro momento, o número de contas correntes parece atender à quase totalidade da população economicamente ativa (PEA), de 99,5 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Existiam, ao fim do ano passado, nada menos que 81 milhões de contas.
Porém é bastante fácil, nas classes mais altas, encontrar pessoas com mais de uma conta bancária. “Há quem possua três, quatro contas em bancos diferentes”, diz Álvaro Taiar, responsável pela indústria de mercado financeiro da PriceWaterhouseCoopers (PwC). Taiar estima que os correntistas ativos no Brasil estejam entre 30 milhões e 40 milhões de pessoas, o que abre um grande espaço para a conquista de novos clientes.

De olho em custos e inadimplência
Para Sardenberg, da Febraban, as instituições financeiras têm cautela extra ao montar produtos e estratégias para as novas classes consumidoras. Os altos custos de se montar agências tradicionais e a ausência de histórico de risco dessa faixa da população, que nunca teve crédito permanente, estão entre os motivos.
“Há certo receio dos bancos em entrar numa classe nova”, diz. “Eles precisam mudar todo o escopo de atuação e trabalhar com uma receita menor por cliente pode trazer mais inadimplência.”
Ex-diretor de finanças e de relações com investidores da Nossa Caixa, Sardenberg lembra que o banco enfrentou aumento nos calotes em 2003, quando iniciou sua estratégia de fidelização de classes populares. “Adotamos uma política mais agressiva de concessão de crédito e oferecemos taxas mais baixas, mas tínhamos pouca documentação”, afirma. “A inadimplência foi maior até nos acostumarmos.”

Bancarização é inevitável
Apesar de os analistas concordarem que “dá muito trabalho conceder crédito”, Kimitaka Ivamoto, presidente da consultoria especializada em tecnologia para instituições financeiras Kiwco, lembra que a oportunidade de crescimento dos bancos com o público já bancarizado é limitada, enquanto existe uma classe C ávida por consumo. “Prova disso é o crescimento dos cartões de crédito entre consumidores de baixa renda a taxas maiores do que o avanço do restante do mercado”, diz.

Outro fator que amplia a perspectiva de aumento dessa base de clientes dos bancos é tempo. O crescimento da renda é bastante recente e as instituições ainda estão se ajustando para trazer esse público para si. "É uma questão de momento econômico”, afirma Lauro Gonzalez, professor de Finanças da FGV. “Um conjunto de fatores acabou promovendo um crescimento de renda 'chinês', bastante elevado e rápido”.

Apesar de os bancos não estarem totalmente prontos, os analistas acreditam que eles não terão dificuldade para se ajustar, pelo menos em algumas áreas. No campo tecnológico, por exemplo, o Brasil a expertise brasileira é consenso. Segundo Gonzales, essa realidade é herança dos períodos de inflação descontrolada, o que obrigou as instituições financeiras a desenvolver tecnologias muito rapidamente. “No geral, o Brasil se desenvolve muito mais rapidamente que a média de outros países, diz Ivamoto.

http://economia.ig.com.br/mercados/financeiro/como+varejo+bancos+miram+classes+c+e+d+em+2010/n1237554302504.html

Noam Chomsky: Um evento 'lamentável' a leste de Jerusalém

Noam Chomsky
Do The New York Times
Via Terra Magazine
Mais uma vez o ponto de ignição é Jerusalém Oriental, tomada por Israel na guerra de 1967 - desta vez, a questão gira em torno de um condomínio de 1.600 de apartamentos na vizinhança de Ramat Shlomo. E mais uma vez o resultado foi a morte de palestinos por israelenses.
No dia 9 de março, o Ministro do Interior de Israel anunciou um novo projeto durante a visita do vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph R. Biden, a terras israelenses. O Presidente Barack Obama havia pedido que fosse refreada a expansão de assentamentos em território ocupado.
A reação foi intensa e imediata. O Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pediu desculpas publicamente pela 'lamentável' ocasião, mas insistiu que Israel poderia construir livremente em Jerusalém Oriental e em outros pontos dos territórios que deseja anexar.
Biden teve uma conversa fechada com Netanyahu, invocando as preocupações das forças armadas norte-americanas com o fracasso em resolver a questão do conflito entre Israel e Palestina, segundo relata a imprensa Israelense.
"O que você está fazendo prejudica a segurança de nossas tropas que estão no Iraque, Afeganistão e Paquistão", teria dito Biden a Netanyahu. "Isso é uma ameaça para nós e para a paz na região."
No dia 16 de março, o general David H. Petraeus, chefe do Comando Central americano, levantou essas preocupações para o Comitê das Forças Armadas no Senado: "O conflito fomenta o sentimento antiamericano, pois suscita um suposto favoritismo a Israel."
Uma semana mais tarde, Netanyahu e Obama encontraram-se na Casa Branca para uma conversa mais tarde denominada de "litigiosa".
Netanyahu mantém uma posição firme com relação aos assentamentos. E ele não faz questão de reconhecer a viabilidade de um estado palestino. Essa intransigência afeta de forma negativa a credibilidade dos Estados Unidos.
Ocorreu um contratempo parecido, há 20 anos, também envolvendo os assentamentos, que levou o então presidente George H.W. Bush a impor sanções limitadas a Israel, em resposta ao comportamento petulante e insultuoso do Primeiro Ministro Yitzhak Shamir, que foi rapidamente substituído. A questão continua se a administração Obama está disposta a tomar medidas, mesmo que mais abrandadas, como fez Bush pai.
A situação agora é mais séria. Com Israel, os setores ultranacionalistas e religiosos emergem com uma perspectiva estreita e limitada. E as forças armadas dos EUA têm no histórico algumas guerras pouco populares na região.
Em maio passado, em Washington, Obama encontrou-se com Netanyahu e Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina. Os encontros, juntamente com o discurso de Obama no Cairo em junho, foram interpretados como um divisor de águas para a política norte-americana com relação ao Oriente Médio.
Se olharmos mais de perto, há algumas reservas.
A interação entre os EUA e Israel - com Abbas deixado de lado - gerou duas expressões: "Estado palestino" e "crescimento natural de assentamentos." Vamos atentar a elas individualmente.
Obama, não há dúvidas, pronunciou as palavras "estado palestino", ecoando o discurso do presidente George W. Bush. Em contraste, a plataforma (não revisada) de 1999 do partido de situação em Israel, o Likud de Netanyahu, "rejeita ostensivamente o estado árabe palestino a oeste do rio Jordão".
É importante também lembrar que o governo de Netanyahu em 1996 foi o primeiro em Israel a utilizar a expressão "estado palestino". O governo concordara que os palestinos tinham o direito de chamar de "estado" os fragmentos da Palestina que lhes sobraram se assim desejassem - ou poderiam chamar também de "frango frito".
Em maio passado, a posição de Washington fora apresentada de forma mais impositiva com a declaração da Secretária de Estado, Hillary Clinton, rejeitando as "expectativas de crescimento natural" para a política oficial americana que se opunha à criação de novos assentamentos.
Netanyahu e quase todos os políticos israelenses insistem em permitir o dito "crescimento natural", reclamando que os Estados Unidos não estão honrando a palavra de Bush que autorizou essa expansão, dentro da sua "visão" do estado palestino.
A formulação Obama-Clinton não é novidade. Ela repete o discurso do Guia Bush para o Estado Palestino, estipulando que, na Fase I, Israel "deve cessar toda a atividade de assentamentos, em concordância com o relatório do ex-senador George J. Mitchell, incluindo o crescimento natural de assentamentos".
No Cairo, Obama manteve seu estilo "tabula rasa" - com pouca substância, mas apresentado de forma atraente que permite aos ouvintes preencher as lacunas com as informações de sua preferência.
Obama reverberou a "visão" de Bush de uma estado palestino, sem dizer explicitamente sua opinião.
Obama declarou: "Os Estados Unidos não aceitam a legitimidade da multiplicação contínua dos assentamentos israelenses". As palavras mais importantes da declaração são "legitimidade" e "contínua".
Por omissão, Obama indicou que aceita a "visão" de Bush. Os numerosos projetos israelenses de assentamento e infraestrutura na Cisjordânia são implicitamente "legítimos", reafirmando que a expressão "estado palestino", no que tange as sobras de território, significa mesmo "frango frito".
Em novembro último, Netanyahu decretou uma suspensão de 10 meses na nova construção, com muitas isenções e excluindo completamente a Grande Jerusalém, onde a desapropriação das áreas árabes e a construção de assentamentos judaicos, como o projeto Rabat Shlomo, continuem a largos passos.
Esses projetos são duplamente ilegais: Como os assentamentos, eles violam a lei internacional - e, em Jerusalém, as resoluções do Conselho de Segurança específico.
Em Jerusalém na época, Hillary Clinton parabenizou as concessões "sem precedentes" de Netanyahu para a construção (ilegal), gerando uma onda de raiva e zombaria por grande parte do mundo.
A administração Obama defende a "reconceitualização" do conflito no Oriente Médio, articulada mais claramente em março último pelo membro do Comitê de Relações Estrangeiras do Senado, John Kerry.
Israel deve ser integrado aos estados árabes "moderados", aliados dos Estados Unidos, confrontando o Irã e fornecendo meios para a dominação dos EUA nas regiões férteis em produção de energia vital. Com esse modelo, é possível que alguns assentamentos do eixo Israel-Palestina possam ser acomodados.
Enquanto isso, as relações entre os Estados Unidos e Israel se aprofundam. A cooperação próxima da inteligência dos dois países já dura meio século.
As parceiras tecnológicas entre os EUA e Israel nunca estiveram melhores. A Intel, por exemplo, vai adicionar uma instalação gigantesca à fábrica de Kiryat Gat para implementar uma redução revolucionária ao tamanho dos chips que fabrica.
Os laços entre a indústria militar americana e israelense continuam especialmente próximos, tanto que Israel está mudando suas instalações de desenvolvimento e produção para os Estados Unidos onde o acesso à ajuda militar americana e aos mercados é facilitada. Israel também vislumbra a possibilidade de transferir a produção de veículos blindados para os Estados Unidos, apesar dos protestos de milhares de trabalhadores israelenses que perderão seus empregos.
As relações também beneficiam os produtores militares norte-americanos - duplamente, porque os fornecedores norte-americanos de armas financiadas pelo governo americano e enviadas a Israel, que já são por si só muito lucrativas, também funcionam como "propaganda" para induzir as ditaduras árabes ricas (as chamadas "moderadas") a comprar grandes quantidades de equipamento militar menos sofisticado.
Israel também continua a fornecer aos EUA uma base militar localizada estrategicamente para o pré-posicionamento de armas e outras funções - mais recentemente, em janeiro, quando o exército norte-americano aumentou para "o dobro do valor de equipamento militar de emergência que mantém estocado em solo israelense", chegando a US$ 800 milhões.
"Mísseis, veículos blindados, munição aérea e armamentos em geral já são armazenados no país", relata a publicação Defense News.
Esses são alguns dos vantajosos serviços que Israel tem oferecido às forças armadas dos EUA e o domínio global, bem como para a economia de alta tecnologia dos Estados Unidos.
Eles dão certa tolerância para que Israel desafie algumas ordens de Washington - apesar de que Israel estaria correndo um sério risco se abusasse da sorte, como mostra a história. A arrogância de Ramat Shlomo certamente provocou quem não deveria.
Israel só poder ir até onde os EUA permitirem. Os Estados Unidos foram por muito tempo um participante direto até dos crimes israelenses que tanto condena - com algumas reservas, claro. O que não sabemos ainda é se essa farsa vai continuar.

Atentados no metrô de Moscou reacendem xenofobia na Rússia

Do Ópera Mundi
Por Sandro Fernandes de Moscou

Moscou amanheceu hoje (29) aos prantos e assustada. Dois atentados terroristas num intervalo de 40 minutos atingiram o metrô da capital russa. Hora do rush, estações centrais e um saldo de 38 mortos. Pouco antes das 8h, a primeira bomba: estação Lubyanka, bairro que abriga a sede do Serviço Federal de Segurança (FSB, antiga KGB). Às 8h40, a segunda bomba: estação Park Kultury. As linhas de telefone congestionadas e a falta de informação só aumentaram o pânico.

O metrô mais movimentado do mundo, com 9 milhões de passageiros por dia, ficou hoje vazio. Policiais controlavam todas as conexões do metrô com detectores de metal e armas. Abrir uma mochila, atender o telefone, conferir o itinerário, qualquer movimento mais brusco era observado com medo. Cada estação era aguardada com ansiedade, como se, a qualquer momento, vidas e sonhos pudessem ir pelos ares com um novo ataque. E o pior - éramos todos suspeitos. Alguns, mais do que outros.

Eu mesmo, por exemplo. Às 21h30, horário de Moscou, com normalidade parecendo ter voltado, resolvi passar pela estação Park Kultury para ver se ainda havia algo interditado ou, talvez, homenagens às vítimas. Nenhuma estação de metrô fechada, telefones funcionando normalmente, uma volta para casa como numa segunda-feira qualquer. Ou quase.

A primeira surpresa foi com a quantidade de policiais na plataforma, entre 15 e 20. Todos muito jovens, como se tivessem sido convocados naquele mesmo dia. Vestiam casacos muito largos ou muito curtos e as fardas de policial não escondiam as caras de apavorados.

Sentei e resolvi observar. Em dez minutos, pediram os documentos de sete pessoas (todos aparentando ser do Cáucaso) e expulsaram do metrô dois russos alcoolizados (o que, num dia normal, não importa a ninguém). Liguei meu computador e comecei escrever esta matéria para o Opera Mundi ali mesmo, sentado no local onde algumas horas antes havia acontecido o atentado. Em questão de minutos, todos os policiais vieram e começaram a perguntar o que eu estava fazendo. Revisaram minha mochila, pegaram a câmera e tentaram apagar algumas fotos que eu havia feito de manhã. Como não conseguiram, resolveram me levar para a sala de polícia, comum nas estações de metrô de Moscou. Fui liberado em 20 minutos, mas obrigado a deixar o computador e a câmera de fotos com eles "temporariamente", para inspeção. Em momento algum, pediram meu passaporte.

"Não sou russo e tenho feições asiáticas", relatou ao Opera Mundi o estudante malaio Alex Tan, de 24 anos. "Acho melhor ficar em casa esta semana. Hoje parece que todo mundo olha pra mim com raiva, com ódio".

O medo do estudante estrangeiro não é em vão. Durante todo o dia, a cena mais comum nas ruas e nos transportes públicos foi o rigoroso controle da Milítsia (polícia russa). Cidadãos do Cáucaso, negros e asiáticos foram os principais alvos das medidas de segurança. Mas houve também quem decidiu fazer "justiça" com as próprias mãos: um grupo de cinco passageiros agrediu duas mulheres com roupas islâmicas num vagão do metrô. "É um lugar cheio de ódio. Só não vê quem não quer. Nosso governo precisa lutar contra os terroristas muçulmanos do Cáucaso", esbravejava Marina Shramatilova, "uma eslava com muito orgulho".

Pessimismo

Os russos costumam chamar de tchernojopie ("bunda negra", em tradução livre) os tchetchenos, armênios e pessoas da Ásia Central. Agora, o clima de hostilidade só tende a aumentar. "Infelizmente, os ataques xenófobos vão ser mais constantes e tenho certeza de que a polícia não vai fazer nada para impedir", prevê a moscovita Nataliya Savelieva, de 32 anos. "Tenho amigos de muitos lugares e fico preocupada com a segurança deles".

"Os estrangeiros vão sofrer aqui o que nós árabes sofremos depois do 11 de setembro", prediz, pessimista, a libanesa Salwa Abdultawab, de 30 anos, residente há cinco anos na capital russa.

Moscou viveu horas caóticas, mas algumas pessoas acharam uma maneira para aproveitar a situação. Uma corrida de táxi entre a Komsomolskaya (Praça da Juventude Comunista) e o Park Kultury (Parque da Cultura), que normalmente custa 200 rublos (12 reais), não saía por menos de 3000 rublos (184 reais). Com a linha vermelha do metrô parcialmente fechada e o medo de utilizar o transporte público, era difícil achar um táxi disponível.

"Os taxistas são do Cáucaso, não são russos. Por isso, eles se aproveitam", reclamava uma passageira do metrô que não quis se identificar.

Oração e perseguição

Depois do ataque, a primeira figura pública a se pronunciar foi o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo I, sempre ativo nos assuntos do Estado e pessoalmente próximo do primeiro-ministro Vladimir Putin. Cirilo convocou os russos a "lutar contra os terroristas" e prometeu rezar pelas vítimas e suas famílias.

Já à noite, o presidente Dmitri Medvedev visitou a estação Lubyanka e prometeu "perseguir os terroristas sem hesitar".

Moscovitas de nascimento e aqueles que adotaram a cidade ainda vão precisar de muito tempo para se recuperar do medo depois do quinto atentado em apenas 12 anos. No pior deles, em setembro de 1999, 293 pessoas morreram e 651 ficaram feridas em uma série de explosões em condomínios residenciais, num atentado atribuído a separatistas tchetchenos que, anos depois, a oposição denunciou ter sido orquestrado pelo próprio Kremlin - o que nunca foi provado.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Com piora dos números, contas externas do Brasil voltam a preocupar

Da Agência Brasil

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O crescimento acelerado do déficit em transações correntes (soma de comércio exterior, juros da dívida externa, viagens internacionais, remessa de lucros de empresas) causa preocupação em quem acompanha a economia brasileira. Nessa situação, o país fica cada vez mais dependente do cenário financeiro internacional para bancar o saldo negativo, avaliam especialistas.

No ano passado, o déficit ficou em US$ 24,334 bilhões, equivalente a 1,54% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Neste ano, a previsão do Banco Central é de déficit de US$ 49 bilhões (2,53% do PIB). Trata-se de um cenário bem diferente do ano de 2006, quando o Brasil teve saldo positivo de US$ 13,984 bilhões.

O risco está num corte abrupto de financiamento externo, deixando o Brasil sem recursos suficientes para bancar o déficit corrente, como ocorreu nas crises de 1998 e de 2002. Para o economista Ricardo Carneiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o financimento com investimentos em ações na Bolsa de Valores e títulos públicos não é seguro. “No mundo com tal volatilidade, como o de hoje, é um risco grande entrar numa posição dessa.”
O governo conta com a forte entrada de investimento estrangeiro direto, usado para compra de empresas e instalação de multinacionais no país, para custear o déficit das transações.

Neste ano, o Banco Central espera um investimento direto de US$ 45 bilhões (2,33 % do PIB), abaixo dos US$ 49 bilhões do déficit corrente. A expectativa é que os recursos estrangeiros aplicados em ações e títulos chegue a US$ 35 bilhões, o que completará com folga o financiamento do déficit em conta corrente.

Professor de Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o economista Antonio Corrêa de Lacerda diz que, no curto prazo (2010 e 2011), esse tipo de financiamento por meio de títulos e ações não é ruim. “O que preocupa é a rapidez da deterioração das contas externas, que vem crescendo em trajetória insustentável no longo prazo”, avalia. “A história recente já mostrou que toda vez que o Brasil ampliou sua vulnerabilidade externa teve que interromper o seu ciclo de crescimento.”

Segundo ele, o aumento do déficit corrente acompanha a valorização do real em relação ao dólar que estimula, por exemplo, as importações e as viagens ao exterior. O Brasil, diz Lacerda, precisa de políticas que promovam “melhora qualitativa das exportações, com venda de produtos industriais e também uma substituição de importações para favorecer a produção local”.
“Isso depende de um câmbio mais favorável, mas também de outros fatores de competitividade como financiamentos, isenções, incentivos para a produção local”, ressalta Lacerda, acrescentando ainda que é preciso limitar o fluxo de capital, além de intervenções do BC para evitar uma valorização do real.

O economista Reinaldo Gonçalves, professor de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também considera que o Brasil deveria ter maior controle do fluxo de capital, pois evitar a valorização excessiva da moeda brasileira. “A economia brasileira se tornou a casa da mãe Joana. O capital internacional entra e sai sem nenhum tipo de critério”, afirmou. Entretanto, ele considera que é pouco provável que controles sejam adotados.

O chamado "ajuste natural" para reduzir o déficit externo ocorre com a desvalorização do câmbio, ao encarecer os gastos no exterior. Porém a alta do dólar, explica Gonçalves, causa efeitos no preço da gasolina, do trigo e de bens importados. “Mas o governo vai manter os juros altos, para atrair o capital de curto prazo para financiar esse buraco.”

Na situação atual, explica Gonçalves, geralmente são adotadas outras de medidas. Uma delas é cortar gastos públicos. Outra saída é não mexer nas reservas internacionais e deixar o câmbio subir. “O problema disso é que o dólar explode e gera inflação.”
Há ainda a alternativa de usar as reservas internacionais (hoje na casa dos US$ 240 bilhões) para financiar o déficit corrente e assim segurar o dólar. Mas o uso das reservas pode levar à redução da proteção do país. “Outra forma é aumentar a taxa de juros, o que atrai capital de fora. Mas quando se aumentam os juros, gera-se recessão”, explicou Gonçalves.

Tortura: fatal coincidência

Por Urariano Mota
Direto da Redação

Recife (PE) - Esta é uma história que a vida nos entrega pronta. Muito contra a nossa vontade, é claro, mas o real nunca nos consulta sobre o que gostaríamos de comer. Acompanhem trechos da necessária reportagem de Ed Vanderley e Rafael Dias, publicada no Diário de Pernambuco desta quarta-feira.

“No último dia 10 de janeiro, José Alex Soares da Silva, 19, e Diego Pereira Cruz, 18, pagaram o preço de terem sido confundidos com bandidos que tinham praticado um suposto assalto a um posto de gasolina. Eles voltavam de uma pelada num campo de várzea, por volta das 19h, em Petrolina, no Sertão. Ao pararem para abastecer a moto no posto Paizão, na BR-428, foram acusados pela proprietária do posto Umburuçu, que fica próximo, de serem os autores do assalto, ocorrido minutos antes. Sem a mínima chance de alegarem defesa, foram brutalmente espancados por seguranças e motoristas que haviam sido vítimas dos bandidos no posto anterior. José Alex morreu três dias depois no Hospital de Traumas de Petrolina em virtude das fortes agressões. Diego sobreviveu, mas com marcas no corpo e na alma...

No Hospital de Traumas de Petrolina, onde Diego foi atendido e Alex passou três dias internado, houve mais terror. ‘Os policiais me ameaçavam dizendo que eu tinha uma hora para começar a falar", contou Diego. "Me levaram a uma área chamada de pantanal, tiraram minhas roupas, colocaram um saco na minha cabeça e me bateram, me mandando mudar de história’, disse.

Na delegacia, as agressões teriam continuado e incluíam a simulação de afogamento em um vaso sanitário”.


E perdoem por favor a frase óbvia a seguir. Nos limites da democracia brasileira, não existem mais torturados políticos. E dizer isso não é dizer pouco, quando temos na memória e na retina o que foi o Brasil da república Médici. Mas a verdade manda dizer que continuam a ser torturados os de sempre, desde o passado colonial. Ganhamos hoje, com a democracia, o território livre da denúncia, na medida do possível, quando não falamos mal do anunciante. Ganhamos também a ocasião de levar à justiça os crimes de sempre. Mas, mas, mais: o quanto isso ainda é pouco. Acompanhem, na reportagem citada:

“O delegado que concluiu os dois inquéritos de assalto, Erlon Cícero, defende que qualquer outro colega teria autuado os jovens em flagrante. ‘Três ou quatro pessoas que se dizem vítimas afirmam que não tiraram os olhos dos suspeitos e que os assaltantes são aqueles que estão na sua frente. Chega outra suposta vítima dizendo que também foi assaltada por ele. Como você iria fugir e não lavrar o flagrante?’, justifica. Sobre as denúncias de espancamento que Diego Cruz teria sofrido, por volta das 3h do dia seguinte ao crime, o delegado é categórico: ‘Não vi nem ouvi nenhum movimento anormal durante o plantão’ ”.

Comecemos pelo fim: o que seria um movimento anormal em uma delegacia de polícia? Porradas, afogamentos, brutalização que animais rejeitam? Não, isso é comum. Seriam então, mais precisamente, gritos e uivos em silêncio? Queremos dizer, gritos e uivos que não impressionam a sensibilidade em torno? Não, isso ainda é mais comum. Podemos então imaginar que anormal seria tudo aquilo que os olhos, os ouvidos e a sensível pele da autoridade, e com ela toda a gente, não percebem ou dizem não perceber. E com isso o fato objetivo - a dor e a humilhação de presos – ganha o foro de fato subjetivo. O que em bom português quer dizer: o que os olhos não querem ver, o coração não sente. Ou melhor: o que antes já foi rejeitado pelo coração, os olhos não veem.

A civilização brasileira tem um histórico de tortura, normal, que vem de homens tornados bestas, desde a escravidão. Daí que as notícias reclamam mais a circunstância de os dois rapazes não serem marginais que a própria tortura e morte sofrida. Daí que num ato falho, num flagrante da nossa humanidade, se diga que o preso foi torturado e morto injustamente. Daí a relevância com que o caso sobe à notícia. Se se tratasse de ladrões, traficantes ou assemelhados, ah, bom, comeriam formiga por justiça histórica e civilizada.

Nos comentários da notícia, em novo ato falho, houve quem dissesse que as vítimas estavam no lugar errado, na hora errada. Que azar, não é? Mas se olhamos bem, enxergamos o contrário. Mais próprio seria dizer que eles eram as pessoas certas, na hora certa e no lugar certo. As vítimas José Alex Soares da Silva e Diego Pereira Cruz acumulavam todas as coincidências de marginais no Brasil: eram jovens e pobres. E, fator máximo de crime, negros. Por que não seriam eles os ladrões? Numa infeliz coincidência, traziam juntos idade, pele e renda do pedigree de sua raça. E um cão danado, sabe-se, todos a ele.

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domingo, 28 de março de 2010

Precatórios: O Mapa dos Maus Pagadores

O STF divulgou os Estados que estão na iminência de sofrer interveção federal por falta de pagamento de precatórios: são 3 do PSDB (Paraíba, Rio Grande do Sul e São Paulo), 2 do PMDB (Espírito Santo e Paraná) e um do PP (Goiás).

Fonte: STF http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=122667

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, determinou que os estados do Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo apresentem um plano de pagamento de precatórios, em no máximo 15 dias. O ministro é relator de ações de Intervenção Federal (IF) que tramitam na Corte para reivindicar o pagamento de precatórios. Gilmar Mendes fez a determinação semelhante em 42 processos de intervenção federal referentes a esses seis estados, agrupando os pedidos em despacho único por estado.  

Ao fixar o prazo para o envio do plano de pagamento de precatórios, o ministro Gilmar Mendes fez referência ao Regimento Interno do STF, que em seu artigo 351, inciso I, estabelece que o presidente da Corte, ao receber o pedido de intervenção federal “tomará as providências oficiais que lhe parecerem adequadas para remover, administrativamente, a causa do pedido”.

Nas decisões, o ministro frisa que para a elaboração dos planos de pagamento deve ser observada a ordem cronológica dos precatórios, conforme estabelece o artigo 100 da Constituição Federal. Observa, ainda, que o prazo de 15 dias começa “a contar da data da ciência do despacho”.

Em suas decisões o ministro pede um “plano detalhado com cronograma para cumprimento da referidas obrigações, em data razoável, considerando, para tanto, a ordem cronológica de precatórios”.

O ministro classificou de fato “notório e preocupante” a situação de inadimplência por parte dos estados, municípios e da União. “Se de um lado está a escassez de recursos e a reserva do financeiramente possível, de outro se vislumbra, hoje, um quadro de profundo desânimo e descrença da população na quitação de tais débitos”, disse o presidente do STF.

Na avaliação do ministro Gilmar Mendes, “não é possível justificar o não pagamento de créditos, muitas vezes de natureza alimentícia, apenas com alegações genéricas de falta de recursos materiais. É necessário um esforço conjunto dos poderes no sentido da organização financeira e do adimplemento das dívidas financeiras que o Estado contrai com a sociedade”.

O presidente do Supremo citou precedentes da Corte no julgamento das IF 2915 e 2953, em que ficou decidido que “enquanto o Estado se mantiver diligente na busca de soluções para o cumprimento integral dos precatórios judiciais, não estarão presentes os pressupostos para a intervenção federal ora solicitada. Em sentido inverso, o Estado que assim não proceda estará sim, ilegitimamente, descumprindo decisão judicial, atitude esta que não encontra amparo na Constituição Federal.”

A partir desse entendimento, o ministro realçou a necessidade de que os estados requeridos demonstrem, detalhadamente, seus esforços e diligências voltados ao cumprimento dos precatórios judiciais. Diante disso, fixou o prazo de 15 dias para a apresentação do plano de pagamento desses precatórios por parte dos estados nos seguintes processos de intervenção federal:

Espírito Santo – Intervenção Federal (IF 3122) contra o Estado do Espírito Santo em razão do descumprimento de ordens de pagamento de precatórios judiciais vencidos desde 1993.

Paraíba – Intervenção Federal (IF 5.108) contra o Estado da Paraíba em razão do descumprimento de ordens de pagamento de precatórios judiciais vencidos desde 2004.

Paraná – Intervenção Federal (IF 5.111) contra o Estado do Paraná, em razão do descumprimento de ordem de pagamento de precatório judicial vencido em 31 de dezembro de 2006, avaliado em R$ 29.818,51, em valor atualizado em 31 de maio de 2005.

Goiás – Intervenção Federal (IF 5.112) contra o Estado de Goiás, em razão do descumprimento de ordens de pagamento de precatórios judiciais vencidos, desde 2002.

Rio Grande do Sul – Intervenção Federal (IF 5.114) contra o Estado do Rio Grande do Sul, em razão do descumprimento de ordens de pagamento de precatórios judiciais vencidos desde 2003.

São Paulo – Intervenção Federal (IF 5.158) contra o Estado de São Paulo e outros 22 processos semelhantes, em razão do descumprimento de ordens de pagamento de precatórios judiciais vencidos. Os processos em questão são os seguintes: IF 3.192/ 5.109/ 5.110/ 5.116/ 5.120/ 5.121/ 5.123/ 5.124/ 5.137/ 5.138/ 5.139/ 5.140/ 5.146/ 5.148/ 5.149/ 5.150/ 5.151/ 5.157/ 5.159/ 5.173/ 5.176/ 5.177.

Reflexões sobre a Pesquisa Data-Folha

A seguir um bom artigo do blog do Nassif, sobre a recente pesquisa Data-Folha, mais realista e menos apaixonado, levando em conta aspectos relevantes sem se deixar levar pelo clima de torcida que vem contaminando o debate eleitoral deste ano. A salientar a necessidade de se confirmar as tendências apontadas pelo instituto de pesquisas através de outros levantamentos (aguardemos a Vox Populi e a CNT/Senus) e as potencialidades de cada candidato. Há um aspecto importante nesta pesquisa: o índice da espontânea, que dá a Dilma 12% e a Serra 8%.

As Novas Etapas da Campanha Presidencial
Do blog Nassif
Por Marcos Doniseti

Nassif, escrevi um longo artigo onde procurei analisar o ciclo de crescimento de Dilma, que parece ter se esgotado neste primeiro momento, a se confiar nos resultados da mais recente pesquisa Datafolha.

No entanto, a pesquisa Datafolha ainda precisa ter os seus resultados confirmados por uma pesquisa mais confiável, devido aos fortes laços que unem Serra, o PSDB e a empresa proprietária do instituto, que é a ‘Folha da Manhã’ e que é, na prática, uma atividade participante da candidatura tucana à Presidência da República.

No entanto, caso o Datafolha esteja correto (algo que não podemos descartar, mesmo que o instituto tenha divulgado os números de uma maneira a beneficiar Serra, mas isso é algo de difícil comprovação), Dilma parece ter se estabilizado, ou melhor, esgotado o ciclo de crescimento pelo qual vinha passando , pelo menos, desde o início de 2009.

E Serra parece ter iniciado uma recuperação que, no entanto, não se sabe se irá continuar ou se terá fôlego curto.

Isto não impede, que Dilma possa, sim, retomar esse crescimento mais à frente, e nem que Serra volte a cair, mas isso vai exigir que a campanha de Dilma arregace as mangas e trabalhe duro, pois esta será a campanha eleitoral mais dura e agressiva desde a redemocratização, sem dúvida alguma.

Aquela idéia de que Dilma teria uma vitória fácil, no 1o. turno, parece que ficaram para trás depois do Datafolha. Os recentes casos da Eletronet e do Bancoop demonstram isso claramente.

Ainda penso que Dilma tem maiores chances de vitória (devido à popularidade imensa de Lula, ao bom ano que teremos para a economia do país), sim, mas se a sua campanha se acomodar, Serra poderá vencer a eleição, sem dúvida alguma.

Baseado nestas possibilidades abertas pela nova pesquisa Datafolha, escrevi um longo artigo onde procuro analisar os motivos do crescimento de Dilma, o possível esgotamento (neste momento) de seu crescimento, bem como da recuperação de Serra.

Vamos lá, então:

O ciclo de crescimento de Dilma se encerrou? A recuperação de Serra é para valer?

Entre Março de 2009 e Fevereiro deste ano a candidatura de Dilma passou por um ciclo de crescimento, como demonstram as várias pesquisas feitas no período.

Segundo o Datafolha, no período em questão, a candidatura de Dilma saiu de 11% em Março de 2009 (cenário com 4 candidatos) para 23% em Dezembro do ano passado e para 28% em Fevereiro. Agora, em Março, ficou em 27%, demonstrando estabilidade.

O que ocorreu, neste período de tempo, para que Dilma tivesse esse crescimento? Simplesmente, ela se tornou mais conhecida entre o eleitorado e uma parcela maior deste descobriu que ela era a candidata apoiada pelo Presidente Lula e que seria a candidata do PT à Presidência da República.

Na pesquisa Datafolha de Março de 2009 apenas 52% dos eleitores diziam conhecer Dilma e, nesta mesma pesquisa, ela tinha apenas 11% das intenções de voto (cenário com 4 candidatos).

Em Dezembro do ano passado, a pesquisa Datafolha constatou que 80% dos eleitores diziam conhecer Dilma e ela tinha 23% das intenções de voto. Esse índice subiu para 86% na pesquisa do final de Fevereiro, quando Dilma chegou a 28% na pesquisa Datafolha.

É bom esclarecer que o Datafolha considera que basta o eleitor dizer que ‘conhece mais ou menos’ ou ‘que ouviu falar’ do candidato para considerar que o mesmo é conhecido dos eleitores, o que é algo muito questionável, no mínimo.

Afinal, será que um eleitor que diz conhecer Dilma ‘mais ou menos’ ou que ‘ouviu falar’ dela, tem conhecimento de fatos como o de que Dilma é a candidata do PT à Presidência da República e que será apoiada pelo Presidente Lula? É claro que não, pois se tivesse conhecimento disso, ele responderia que ‘conhece bem’ a ministra Dilma e não ‘mais ou menos’ ou que tenha apenas ‘ouvido falar’ dela.

Então, isso mostra que Dilma passou por um ciclo de maior exposição e de conhecimento de sua candidatura por parte dos eleitores e que isso gerou um sensível crescimento nas pesquisas. No Datafolha, Dilma saiu de 11% em Março de 2009 para 27% em Março de 2010 (cresceu 16 p.p.). No mesmo período de tempo, Serra caiu de 41% para 36% (queda de 5 p.p.).

E quais os fatores que contribuíram para esse maior conhecimento do eleitorado a respeito da candidatura de Dilma?

Em primeiro lugar, é claro, a intensa exposição que ela passou a ter ao viajar pelo Brasil inteiro ao lado do Presidente Lula.

Além disso, no final de 2009, o PT exibiu um programa nacional no qual Dilma e o Presidente Lula fizeram uma espécie de ‘bate-bola’ durante 10 minutos. E finalmente, em Fevereiro deste ano, Dilma teve uma grande exposição no Carnaval (seu desempenho durante o mesmo foi excelente, muito superior ao de Serra, que mal conseguiu disfarçar o constrangimento em meio à população) foi escolhida a candidata à Presidente pelo PT.

Depois destes fatos, que tiveram grande repercussão entre uma parcela significativa do eleitorado, Dilma cresceu nas pesquisas.

Porém, depois que foi escolhida a candidata do PT para a Presidência, não tivemos mais fatos de grande repercussão junto aos eleitores e que pudessem servir para que Dilma continuasse crescendo nas pesquisas.

Além do mais, nas últimas semanas, nós vimos o início de uma clara e nítida ofensiva midiática muito forte e violenta contra o governo Lula, Dilma e o PT, no qual tivemos o seguinte:

1) Capas da ‘Veja’ explorando o ‘caso’ Bancoop, que o PIG procurou relacionar com Dilma e com o PT, mesmo não havendo ligação alguma entre eles. Mas, a mentira foi difundida intensamente, seguindo os ensinamentos de Goebbels;

2) ‘Caso’ da Eletronet, no qual a Grande Mídia atacou o Zé Dirceu e fizeram de tudo para atingir o governo Lula, o PT e a candidatura de Dilma;

3) Propaganda maciça do governo do estado de SP na Mídia, dizendo que o estado de SP ‘está cada vez melhor’;

4) Ataques contra Lula e Dilma devido a uma suposta ‘campanha antecipada’ por parte da Grande Mídia. As multas aplicadas ao Presidente Lula pelo TSE podem ter reforçado junto a uma parte do eleitorado a idéia de que isso estava mesmo acontecendo. Mas, se isso não prejudicou Dilma, ajudar, também, não ajudou, certo?;

5) Forte crescimento da exposição de Serra na Mídia: lembram-se dele na praia, empurrando o carrinho de rodas de uma mulher? e da vez em que ele participou de um passei ciclístico? Bem ou mal, lá estava Serra, aparecendo de forma positiva na Grande Mídia, que o apóia totalmente, é claro.

Tudo isso ajuda a entender uma eventual estabilidade nas intenções de voto em Dilma e uma recuperação de Serra neste momento da campanha presidencial, que já está a pleno vapor entre os candidatos, a Mídia e os partidos, mas que ainda não chegou à maior parte do eleitorado. Tanto isso é verdade que o Datafolha constatou que, na pesquisa espontânea, 59% dos eleitores não apontam o nome de nenhum candidato para a Presidência da República. E eles, eleitores, não o fazem porque, de fato, sequer estão pensando no assunto, ainda!

A população vai começar a prestar atenção, mesmo, na campanha presidencial, depois da Copa do Mundo e, principalmente, após o início do horário eleitoral. Daí, sim, é que o eleitorado irá se definir com relação à disputa.

Mas, o fato é que esta ofensiva midiática (altamente negativa para a candidatura de Dilma, para o governo Lula e para o PT), ocorreu num momento em que a campanha de Dilma não criou fatos novos que tivessem maior repercussão junto ao eleitorado e que pudessem dar continuidade ao crescimento . E isso acontece desde que Dilma foi escolhida pelo PT como candidata à Presidente.

Portanto, sempre que Dilma cresceu nas pesquisas, isso foi precedido por alguns fatos positivos e que tiveram grande repercussão junto a uma parcela importante do eleitorado e que, até aquele momento, ainda não conhecia Dilma.

Exemplos: Dilma cresceu em Dezembro, depois do programa nacional do PT que explorou intensamente a sua ligação com o Presidente Lula. Daí, ela saiu dos 16% de Agosto de 2009 para os 23% de Dezembro de 2009.

E Dilma voltou a crescer quando o PT lançou a sua candidatura presidencial e com o apoio declarado do Presidente Lula, o que aconteceu em Fevereiro. Depois disso, Dilma saiu dos 23% de Dezembro e foi para 28% no final de Fevereiro.

Assim, somando-se a ofensiva midiática extremamente agressiva contra o governo Lula, Dilma e o PT nas últimas semanas (‘casos’ Eletronet, Bancoop), mais o aumento da exposição de Serra na mídia (devido à propaganda maciça do governo de SP, programa do Datena) e o fato de que a campanha de Dilma não criou, em Março, nenhum fato que repercutisse junto ao eleitorado, ajudariam a explicar as razões desta estabilidade momentânea de Dilma e da recuperação parcial de Serra na pesquisa Datafolha.

Porém, como já ressaltei aqui, em outras mensagens, o Datafolha é um instituto que pertence à ‘Folha de S.Paulo’, jornal que está na linha de frente da campanha presidencial de Serra e o mesmo pode, muito bem, ter dado uma ‘forcinha’ para Serra nesta pesquisa.

Logo, a prudência recomenda aguardar uma próxima pesquisa do CNT/Sensus ou do Vox Populi para constatar se, de fato, Serra iniciou uma recuperação e se Dilma parou de crescer.

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A guerra do ferro entre siderúrgicas e mineradoras, encabeçadas pela Vale

Do Le Monde
Alain Faujas

O julgamento, encerrado em Xangai na quarta-feira (24), de quatro executivos da mineradora Rio Tinto, acusados de “espionagem comercial” e de “corrupção”, é só um episódio da batalha que há mais de um ano ocorre entre as siderúrgicas de porte mundial e os três maiores produtores de ferro, a brasileira Vale e as anglo-australianas BHP-Billiton e Rio Tinto.

Na verdade, as siderúrgicas chinesas não são mais as únicas a denunciarem o monopólio dessas três gigantes e a pedir a intervenção de seu governo em suas negociações com as empresas mineradoras. Há alguns dias a associação das siderúrgicas europeias Eurofer pediu para que a Comissão Europeia a apoiasse diante desse “cartel” que pratica, segundo ela, um “abuso de posição dominante”, pois a Europa corre o risco de lhe ter imposta uma alta de 80% do preço do minério, em um mercado do aço que ainda sofre com a recessão.

Há décadas o ferro é alvo de um verdadeiro ritual. Todo outono siderúrgicas e mineradoras se encontram para discutir preços praticáveis durante um ano a partir de 1º de abril do ano seguinte. As negociações duram até que uma siderúrgica europeia ou japonesa entre em acordo com um fornecedor brasileiro ou australiano sobre as quantidades e os preços. Os outros participantes seguem esse contrato de referência. O mercado à vista, ou “spot”, até agora só representava 5% do bilhão de toneladas de ferro comercializado a cada ano no mundo. Esses preços garantidos têm a vantagem de dar uma visibilidade de um ano aos vendedores, que podem decidir os investimentos necessários, e aos compradores, que constroem sem riscos sua oferta comercial de aço.

“A China desequilibrou tudo”, comenta um analista europeu, “pois ela aumentou muito sua produção de aço em 2008-2009, em plena crise, e importou ferro em grande quantidade. As mineradoras não querem que o preço de referência continue sendo fixado contratualmente em US$ 60 a tonelada, sendo que o preço se aproxima dos US$ 140 no mercado spot, pois a China compra ali 70% de suas necessidades. Agora eles querem preços de mercado e, assim como para o carvão para caldeiras a vapor, eles querem trocar o preço anual por um preço trimestral indexado sobre o spot. A oferta é hoje limitada, pois as minas operam em capacidade máxima; a demanda de ferro continua forte. Em outras palavras, são as mineradoras que têm o controle, gostem os chineses e os europeus ou não”.

Estes últimos não veem as coisas dessa forma. “Nada justifica o aumento de preços em 80% apresentado pela Vale”, protesta Gordon Moffat, diretor-geral da Eurofer. “Nos cinco últimos anos, nossas empresas siderúrgicas sofreram aumentos anuais de 50% a 70%, devido à emergência da China e ao forte crescimento mundial. As mineradoras registraram então margens de 50%! Hoje, constatamos uma retomada de nossa produção de aço de somente 8,6% em relação a 2009, após uma queda de 35% no ano passado. Nossos preços ainda estão retraídos em 40%: a demanda das siderúrgicas é injustificada”.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2010/03/25/a-guerra-do-ferro-entre-siderurgicas-e-mineradoras-encabecadas-pela-vale.jhtm

Liga Árabe procura alternativas para o processo de paz

Da Reuters

Por Lamine Ghanmi
SIRTE, Líbia (Reuters) - Os Estados árabes precisam se preparar para a possibilidade de que as negociações de paz entre Israel e os palestinos venham a ser um fracasso total e devem pensar em alternativas, disse Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe, neste sábado.
O conturbado processo de paz sofreu um retrocesso este mês, quando os palestinos disseram que as conversações indiretas com os israelenses só aconteceriam se Israel desistir de construir 1.600 novas casas em um assentamento perto de Jerusalém Oriental.
Aumentando ainda mais as dificuldades para uma retomada das negociações, dois soldados israelenses e um palestino foram mortos durante um combate na Faixa de Gaza, na sexta-feira, no confronto mais sangrento no enclave, em 14 meses.
Moussa não disse quais poderiam ser as alternativas para o processo de paz, mas uma opção seria ressuscitar uma iniciativa de oito anos atrás, sob a qual os Estados árabes normalizariam suas relações com o Estado judeu em troca de concessões israelenses em relação ao território ocupado.
Falando aos lideres árabes durante a reunião da Liga Árabe, na cidade libanesa de Sirte, Moussa disse que há necessidade de uma nova abordagem.
"Precisamos estudar a possibilidade que de que o processo de paz seja um fracasso total", disse Moussa. "Está na hora de encarar Israel. Precisamos ter planos alternativos, porque a situação chegou a um momento crucial."
"O processo de paz entrou numa nova fase, talvez seja a sua última fase. Temos aceitado os esforços dos mediadores. Temos aceitado as negociações de paz abertas."
"Mas isso resultou em uma perda de tempo e nós não conseguimos nada e permitimos que Israel praticasse a sua política de assentamento por 20 anos", ele disse.
ONU APOIA CONVERSAÇÕES
A Liga Árabe concordou neste mês que os palestinos conduzam negociações de aproximação com Israel e sua opinião em relação a essas negociações pode ser decisiva.
Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU disse durante o encontro que ele havia encorajado os lideres árabes a apoiar as tentativas de aproximação, apesar dos obstáculos.
"Não existe alternativa para negociações sobre uma solução envolvendo dois Estados. Sem isso, nos arriscamos a cair no desespero e nos arriscamos a ver mais violência como a que tivemos recentemente", disse ele a jornalistas.
Mas os delegados palestinos disseram que as ações israelenses haviam de fato paralisado as negociações.
A alternativa para as negociações estagnadas que mais agrada aos Estados da região é a Iniciativa de Paz Árabe, proposta inicialmente pela Arábia Saudita durante um encontro da Liga Árabe em Beirute, em 2002.
Com essa iniciativa, os países Árabes normalizariam suas relações com Israel em troca de uma retirada total dos territórios ocupados e de uma compensação justa para os refugiados palestinos.
O chefe da Liga Árabe também disse que a organização de 22 países membros deveria começar a falar com o Irã, para tratar da preocupação, especialmente forte entre os vizinhos do Golfo Pérsico, sobre seu programa nuclear.

Homenagem da Câmara de Comércio Árabe no Brasil ao Presidente Lula pela intensificação das Relações entre os países e o Brasil