Alain Faujas
O julgamento, encerrado em Xangai na quarta-feira (24), de quatro executivos da mineradora Rio Tinto, acusados de “espionagem comercial” e de “corrupção”, é só um episódio da batalha que há mais de um ano ocorre entre as siderúrgicas de porte mundial e os três maiores produtores de ferro, a brasileira Vale e as anglo-australianas BHP-Billiton e Rio Tinto.
Na verdade, as siderúrgicas chinesas não são mais as únicas a denunciarem o monopólio dessas três gigantes e a pedir a intervenção de seu governo em suas negociações com as empresas mineradoras. Há alguns dias a associação das siderúrgicas europeias Eurofer pediu para que a Comissão Europeia a apoiasse diante desse “cartel” que pratica, segundo ela, um “abuso de posição dominante”, pois a Europa corre o risco de lhe ter imposta uma alta de 80% do preço do minério, em um mercado do aço que ainda sofre com a recessão.
Há décadas o ferro é alvo de um verdadeiro ritual. Todo outono siderúrgicas e mineradoras se encontram para discutir preços praticáveis durante um ano a partir de 1º de abril do ano seguinte. As negociações duram até que uma siderúrgica europeia ou japonesa entre em acordo com um fornecedor brasileiro ou australiano sobre as quantidades e os preços. Os outros participantes seguem esse contrato de referência. O mercado à vista, ou “spot”, até agora só representava 5% do bilhão de toneladas de ferro comercializado a cada ano no mundo. Esses preços garantidos têm a vantagem de dar uma visibilidade de um ano aos vendedores, que podem decidir os investimentos necessários, e aos compradores, que constroem sem riscos sua oferta comercial de aço.
“A China desequilibrou tudo”, comenta um analista europeu, “pois ela aumentou muito sua produção de aço em 2008-2009, em plena crise, e importou ferro em grande quantidade. As mineradoras não querem que o preço de referência continue sendo fixado contratualmente em US$ 60 a tonelada, sendo que o preço se aproxima dos US$ 140 no mercado spot, pois a China compra ali 70% de suas necessidades. Agora eles querem preços de mercado e, assim como para o carvão para caldeiras a vapor, eles querem trocar o preço anual por um preço trimestral indexado sobre o spot. A oferta é hoje limitada, pois as minas operam em capacidade máxima; a demanda de ferro continua forte. Em outras palavras, são as mineradoras que têm o controle, gostem os chineses e os europeus ou não”.
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2010/03/25/a-guerra-do-ferro-entre-siderurgicas-e-mineradoras-encabecadas-pela-vale.jhtm
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