quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Luis Nassif e os Desdobramentos das Pesquisas Eleitorais

O problema é que a oposição não encarou a realidade de frente. Esqueceu que o povo era um "detalhe" importante e que só mídia não ganha eleição. Mal comparando, é a mesma coisa que dizer que um time de futebol ganha uma campeonato apenas com a tradição. Taí a grande mídia batendo dia e noite no governo, muitas vezes de forma desonesta apelando para métodos pouco ortodoxos, e não tem quem baixe a aprovação do Lula. Aliás, ao que parece só tem contribuído para aumentá-la. Ok, as eleições ainda vão ocorrer e não foram ganhas por nenhum dos lados, portanto, ainda estão abertas as possibilidades. O que não nos impede de analisar a questão da fragilidade da oposição e seus possíveis desdobramentos pós-eleições. O texto é do Luis Nassif.


Coluna Econômica - 18/08/2010
A grande tragédia política dessas eleições será o fim quase completo da frente PSDB-DEM, a única que poderia oferecer uma oposição consistente ao novo governo, que será empossado em 1º de janeiro de 2011.
Não existe governo, por mais virtuoso, que resista a um mandato sem oposição. E este é o risco que o Brasil corre, com os erros cometidos pela oposição nas atuais eleições. A avaliação é de João Francisco Meira, diretor-presidente do Instituto Vox Populi.
Em meados do ano passado, a partir de conversas com Meira e de reflexões próprias, parlamentares do DEM – como o ex-deputado Saulo Queiroz – alertaram para as dificuldades que haveria em uma provável candidatura José Serra. Estava claro para eles a quase impossibilidade de vitória de Serra, por um conjunto de fatores.
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O alerta de nada adiantou.
Em março, durante Congresso da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), Meira alertou mais uma vez que a eleição já estava decidida para Dilma Rousseff. Tanto o Vox Populi quanto o Instituto Sensus trabalhavam com modernas técnicas de pesquisa, visando antecipar tendências do eleitorado.
A metodologia era simples. Parte relevante do eleitorado não sabia ainda que Dilma era candidata de Lula. Mas certamente saberá no dia das eleições. A técnica consistia em antecipar aos pesquisados as informações. A partir daí, se chegaria a um resultado muito mais próximo do resultado final das urnas.
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No encontro, houve um forte questionamento do Instituto Datafolha, para quem pesquisas não deveriam antecipar tendência.
É uma bela discussão conceitual. O que interessa em uma pesquisa eleitoral: saber qual o resultado se a eleição fosse hoje ou tentar antecipar o resultado final da eleição? A fronteira da pesquisa de mercado é justamente antecipar tendências, explica Meira.
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Nos meses seguintes, um inferno se abateu sobre os Institutos que seguiram essa nova metodologia – Sensus e Vox Populi. Foram atacados pelos jornais.
O momento mais dramático dessa história foi quando, estimulado pelas matérias da Folha, o PSDB entrou na justiça eleitoral exigindo a auditagem da pesquisa do Sensus. O Instituto amanheceu com um estatístico convocado em São Carlos, com a polícia, para garantir a vistoria, e com um repórter da Folha (empresa proprietária do Datafolha) para escandalizar o acontecimento.
Não se encontrou nenhuma irregularidade na pesquisa. Mais que isso, à medida que os dias iam passando, confirmava-se integralmente o acerto do Sensus e do Vox.
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O próximo desafio de Meira será produzir um trabalho acadêmico a respeito das conseqüências do viés das pesquisas. Em um primeiro momento, aumentou a desinformação da opinião pública. Agora, há muita gente perplexa com um resultado que já era previsível desde o ano passado.
Ao comprar a ideia de que Serra era competitivo, contra toda a evidência de um ano atrás, a oposição acabou indo para o caminho que Lula queria.
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Meira equipara esse episódio às grandes tragédias shakespeareanas, de desdobramentos terríveis quando se toma a decisão errada na política, na guerra e no amor. Os fatos acabam voltando no meio da sua testa, com fúria redobrada.
Se não se tivesse embarcado nessa armadilha das pesquisas com viés, a oposição teria tomado outro caminho. Constataria que Lula inaugurou um novo tempo na política brasileira e tentaria se adequar a esse novo cenário, pensando em um pacto progressista, que permitisse reformas estruturais do Judiciário, reforma fiscal, estrutura tributária. Não venceria as eleições, mas sairia preservada.
Em vez disso, queimaram-se as caravelas e se chegou ao final da tragédia, com a aniquilação quase completa da estrutura DEM-PSDB. Vai sobrar Aécio Neves, em Minas, Kátia Abreu em Tocantins, talvez Roseane Sarney (embora no PMDB) no Maranhão. Cesar Maia corre o risco de não se eleger, assim como Agripino Maia e outros caciques. A nova geração de centro-direita, esperança de um revigoramento da oposição, será arrasada nas eleições.
Levará no mínimo oito anos para se recompor a oposição, com todos os inconvenientes que trará para o aprimoramento democrático do país. O final da tragédia será em São Paulo. Geraldo Alckmin será eleito, possivelmente com folga. Mas há grande probabilidade de Serra perder no seu próprio estado, a partir do qual se produziu a fantasia que liquidou com a oposição em todo país.


http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/desdobramentos-de-pesquisas-eleitorais#more

O Início da Propaganda Eleitoral na TV

Com o resultado das últimas pesquisas eleitorais, e esta última da Vox Populi, que adotou o método de antecipação de tendências, a situação da oposição no âmbito nacional ficou mais difícil. A candidata Dilma Rousseff começa o guia com mais de 10 pontos percetuais à frente de José Serra, que hoje estaria abaixo dos 30% de intenções de voto. Ontem, 17/08, iniciou-se aquilo que poderia ser uma alento para esta situação, mas pelo que se viu das duas principais candidaturas, foi uma grande diferença de enfoque, com vantagem para o programa governista, por óbvio: a uma, porque o governo tem o que mostrar de positivo; e outra, porque trouxe o peso da aprovação popular do Lula para dentro da campanha da Dilma, a pedir voto para sua candidata. O Serra teve a bola levantada pelo JN na Rede Globo, que um pouco antes, na sua edição do mesmo dia, tratou do problema de saúde, asssunto abordado coincidentemente pelo  programa oposicionista. Outro aspecto foi a tentativa de "popularizar" o nome do candidato associando-o à sucessão do Lula, e tranformando o José Serra em "Zé". A redução do léxico soou tão artificial quanto a favela que abre o programa. Pelo andar da carruagem vai ser muito difícil a mudança deste quadro e restará para oposição PSDB-DEM se reinventar, inclusive no que se refere a questões de conceito e métodos de fazer política, com todos os inconvenientes que é termos uma oposição fragilizada, sem discurso e sem proposições. É torcer para que o governo continue bem, mas, como somos demasiadamente humanos, e nenhum governo será sempre bom, torcemos também para o surgimento de uma oposição responsável e inteligente, papel que, infelizmente, o movimento que construiu a candidatura Serra não foi capaz de desempenhar durante todo este tempo.

Programa da Dilma Rousseff


Programa do José Serra