sábado, 29 de maio de 2010

Lula pela Der Spiegel

Enquanto aqui na terrinha a grande(?) mídia baixa o sarrafo no metalúrgico, ou, no mínimo, cobre os avanços do governo com uma "certa" má vontade, pra dizer o de menos, lá fora, ao que parece, a cobertura é bem mais isenta, até porque não existe uma Dona Judith (ANJ)  pra afirmar que imprensa tem que tomar o lugar de oposição fragilizada em nome da democracia. Isto prá não falar nos famosos "embaixadores de pijama" do governo FHC, chamados às pressas por algumas emissoras de tv para defender os interesses americanos, principalmente agora com a madame Hillary a fazer biquinho.


Lula salta para a primeira divisão da diplomacia mundial
Erich Follath e Jens Glüsing

Transpirando autoconfiança, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva está elevando o status global do seu país ao protagonizar um número cada vez maior de iniciativas na área de política internacional. Na mais recente dessas ações, ele convenceu o Irã a concordar com um polêmico acordo nuclear. Poderia este acordo proporcionar uma oportunidade para que sejam evitadas sanções e guerra?

Ele foi acusado de ser muitas coisas no passado, incluindo um comunista, um proletário grosseiro e um alcoólatra. Mas a época dessas acusações acabou há muito tempo. À medida que o Brasil cresce para tornar-se uma nova potência econômica, a reputação do presidente brasileiro cresce de forma meteórica.

Hoje em dia muita gente vê o presidente como um herói do hemisfério sul e um importante contrapeso em relação a Washington, Bruxelas e Pequim. A revista de notícias norte-americana “Time” foi além, duas semanas atrás, ao afirmar que ele é “o líder político mais influente do mundo”, colocando-o à frente até mesmo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. No Brasil, muita gente vê em Lula da Silva um candidato ao Prêmio Nobel da Paz.

E agora este homem, Luiz Inácio da Silva, 64, apelidado de “Lula”, que passou a infância em um cortiço como filho de pais analfabetos, conseguiu mais outra vitória política no exterior. Em uma reunião que foi uma verdadeira maratona política, ele negociou um acordo nuclear com a liderança iraniana. Na última segunda-feira, ele apareceu triunfante ao lado do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Os três líderes chegaram a um acordo que eles acreditam que retirará da agenda internacional as previstas sanções da Organização da Nações Unidas (ONU) contra o Irã devido ao possível programa de armas nucleares do país. O Ocidente, que vinha fazendo pressões pela adoção de medidas punitivas mais duras contra o Irã, pareceu ter sido feito de bobo, e até ter sido pego de surpresa.

Mas o contra-ataque de Washington veio no dia seguinte, abrindo um novo capítulo nesta acalorada disputa nuclear, na qual Pequim, em especial, há muito vem resistindo a adotar uma abordagem mais dura. A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton anunciou: “Nós chegamos a um acordo baseado em medidas fortes com a cooperação tanto da Rússia quanto da China”. O texto relativo às sanções planejadas contra o Irã foi enviado a todos os membros do Conselho de Segurança da ONU, incluindo o Brasil e a Turquia. Os dois países são membros eleitos para ocuparem durante dois anos esse conselho que têm 15 integrantes, e que precisa aceitar uma resolução com pelo menos nove votos para que esta possa ser implementada.

Os Estados Unidos mostram-se irredutíveis quanto às sanções
Clinton agradeceu especificamente a Lula pelos seus “esforços sinceros”. Mas a sua expressão indicava claramente que ela viu os esforços de lula mais como um impedimento do que como uma ajuda. “Nós estamos procurando o apoio da comunidade internacional a uma resolução composta de sanções fortes que, segundo o nosso ponto de vista, constituir-se-ão em uma mensagem muito clara a respeito daquilo que se espera do Irã”, afirmou Hillary Clinton.

Mas a abordagem menos confrontativa de Lula nesta disputa nuclear não seria muito mais promissora? Seria tão fácil assim desacelerar o “Lula Superstar”, que conta com o apoio da Turquia, um país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)? Quem quer que tenha acompanhado a carreira de Lula achará difícil acreditar nisso. Este homem sempre superou todas as resistências, e todos os cenários desfavoráveis com os quais se defrontou.

O pai dele abandonou a família quando Lula era bem novo, e a mãe mudou-se com os oito filhos do nordeste do Brasil para o sul industrializado, onde ela esperava aumentar as chances de sucesso da família. Lula só aprendeu a ler e a escrever aos dez anos de idade. Quando criança, ele ajudou a sustentar a família trabalhando como engraxate e vendedor de frutas, e também como operário de uma fábrica de tintas. Ele acabou conseguindo fazer um curso de torneiro mecânico. Quando Lula tinha 25 anos de idade, a mulher dele, Maria, e o seu filho ainda não nascido morreram porque a família não tinha condições de pagar por atendimento médico adequado.

Lula tornou-se politicamente ativo quando era jovem, ao ingressar em um sindicato e organizar greves ilegais na época da ditadura militar. Ele foi preso várias vezes na década de oitenta. Insatisfeito com os esquerdistas clássicos, ele fundou o seu próprio Partido dos Trabalhadores, que gradualmente transformou-se de um partido marxista em uma agremiação social-democrata. Ele concorreu três vezes, sem sucesso, à presidência, até que, na quarta vez, venceu a eleição presidencial de 2002 com uma vantagem significante sobre o seu adversário. Foram os indivíduos mais pobres que, em um país de extremos contrastes econômicos, depositaram as suas esperanças no carismático líder trabalhista. Quando Lula venceu a eleição, os indivíduos extremamente ricos, temendo que os seus bens fossem desapropriados, mantiveram os seus aviões a jato particulares abastecidos, prontos para decolar.

O herói dos pobres distanciou-se de revoluções
Mas aqueles que esperavam ou que temiam uma revolução no Brasil ficaram surpresos. Após tomar posse, Lula levou alguns dos membros do seu gabinete a uma favela, e lançou um programa de grande escala chamado “Fome Zero” para aliviar os sofrimentos dos desprivilegiados. Mas ele não assustou os mercados. Aumentos dos preços das commodities e uma política econômica moderna que enfatizou os investimentos estrangeiros, a educação nacional e recursos para treinamento ajudaram Lula a se reeleger em 2006.

O mandato dele termina em dezembro, e Lula não poderá disputar novamente a reeleição. Ele colocou a casa em ordem e cultivou uma potencial sucessora. Mas o presidente autoconfiante deseja evidentemente deixar também um legado político: ele considera uma missão sua transformar o Brasil, com a sua população de 196 milhões de habitantes, em uma grande potência mundial, bem como assegurar uma cadeira permanente para o seu país no Conselho de Segurança da ONU.

Lula reconheceu que manter boas relações com Washington, Londres e Moscou é algo que ajuda o Brasil a tentar alcançar essa meta. Mas ele sabe também que vínculos fortes com países como a China e a Índia, bem como o Oriente Médio e os países africanos, poderiam ser ainda mais importantes. Ele se considera um homem do “sul”, e um líder dos pobres e desfavorecidos. E, é claro, ele também reconhece as mudanças que estão ocorrendo. No ano passado, por exemplo, a República Popular da China ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil pela primeira vez na história.

Lula é o único chefe de Estado que participou tanto do exclusivo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, quanto do Fórum Social Mundial, que criticou a globalização, na cidade de Porto Alegre, no Brasil. Ele é um viajante infatigável, tendo visitado 25 países só na África, muitos países asiáticos e quase todos as nações da América Latina – levando sempre consigo uma delegação econômica. Lula prega incansavelmente a sua crença em um mundo multipolar. E, como Lula é um orador carismático e um “autêntico” líder trabalhista, multidões em todo o mundo o saúdam como se ele fosse um pop star. Na reunião de cúpula do G20 em 2009, em Londres, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que aparentemente é um fã de Lula, afirmou: “Eu adoro esse cara”.

No entanto, Obama não pode mais ter certeza de que Lula é de fato “o seu cara de confiança”. O brasileiro está ficando cada vez mais autoconfiante à medida que se distancia de Washington e, às vezes, chega até a buscar a confrontação com os norte-americanos.

Autoconfiança cada vez maior
O caso de Honduras é um exemplo dessa tendência. Os Estados Unidos, que sempre viram a América Central como o seu quintal, ficaram perplexos quando Lula concedeu abrigo ao presidente deposto Manual Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa no ano passado e exigiu que tivesse uma voz no processo para solucionar o conflito. Ao recusar-se a reconhecer o novo presidente, Brasília se opôs ostensivamente a Obama.

Depois disso, as coisas aconteceram muito rapidamente. Lula viajou a Cuba, onde reuniu-se com Raul e Fidel Castro e pediu um fim imediato do embargo econômico norte-americano à ilha. Para a alegria dos seus anfitriões, ele comparou os críticos do regime que sofrem nas prisões de Havana a criminosos comuns. Lula também fez questão de aparecer junto ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que não poupa críticas a Washington e que está amordaçando cada vez mais a imprensa no seu país. Em uma entrevista a “Der Spiegel”, Lula definiu o líder autocrático como “o melhor presidente da Venezuela em cem anos”.

E quando recebeu Ahmadinejad em Brasília alguns meses atrás, Lula cumprimentou o presidente iraniano pela sua suposta vitória eleitoral impecável e comparou o movimento oposicionista iraniano a torcedores de futebol frustrados. Ele afirmou que o Brasil também não permitiria que ninguém interferisse com o seu programa nuclear “obviamente pacífico”.

Apesar dessa aproximação, muita gente manifestou ceticismo quando Lula seguiu para Teerã a fim de negociar um acordo nuclear com a liderança iraniana, especialmente depois que os iranianos não demonstraram quase nenhuma disposição para ceder nos meses anteriores. Em uma entrevista coletiva à imprensa com Lula, o presidente russo Dmitry Medvedev disse que a probabilidade de um acordo mediado pelo Brasil seria de no máximo 30%. Lula retrucou, dizendo: “Eu diria que as chances são de 99%”. Lá estava novamente em evidência o ego pronunciado do astro político em ascensão. “Ele acredita ser um trabalhador milagroso que é capaz de obter sucesso onde outros fracassaram”, diz Michael Shifter, um especialista norte-americano em América Latina.

Vitória inédita ou fracasso?
Neste momento, só existem indícios circunstanciais de que uma “vitória inédita” foi alcançada em Teerã após 17 horas de negociações. É também possível que a reunião tenha sido, na verdade, aquilo que o jornal alemão “Frankfurter Allgemeine Zeitung” classificou como um “fracasso”, ou apenas mais uma forma encontrada pelos iranianos, que em outras ocasiões foram frequentemente evasivos, para novamente paralisarem as iniciativas internacionais contra o seu programa nuclear.

Autoridades da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena afirmaram cautelosamente que qualquer fato novo no sentido de que se chegue a um acordo nuclear se constitui em um progresso. Os inspetores da AIEA são responsáveis por inspecionar as instalações nucleares de todo o mundo em nome da ONU. Eles recentemente descobriram mais indícios de um programa iraniano ilegal de armas nucleares e pediram a Teerã que cooperasse mais. A avaliação dos especialistas da agência, cuja comunicação com

Teerã nunca foi interrompida e que jamais afirmaram algo que não fossem capazes de provar, terá agora muito peso. O fato de os iranianos só se disporem a apresentar o texto do acordo à AIEA “em uma semana” gerou dúvidas.

Os governos ocidentais têm manifestado muito ceticismo, e a resolução da ONU que Hillary Clinton tornou pública pouco depois do acordo de Teerã aparentemente deixou os israelenses preocupados. Alguns membros do governo de linha dura do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu estão criticando abertamente o acordo como sendo uma artimanha para aliviar a pressão internacional que é exercida sobre Teerã. O ministro israelense do comércio Benjamin Ben-Elieser afirma que Teerã está aparentemente “tentando novamente ludibriar o mundo inteiro”.

O acordo proporciona uma brecha ao Irã
O instituto norte-americano ISIS, que sempre defendeu uma solução negociada e que acredita que a “opção militar” para resolver a questão nuclear iraniana é impensável, fez uma análise inteligente do acordo Lula-Ahmadinejad-Erdogan. Na análise, os especialistas nucleares independentes do instituto divulgaram as suas preocupações e observaram os pontos fracos do texto do acordo que foi revelado até o momento.
Os iranianos só concordam em enviar 1.200 quilogramas do seu urânio de baixo teor de enriquecimento à Turquia, para receberem em troca combustível para o seu reator de pesquisas em Teerã. As dimensões do acordo correspondem àquelas de um outro acordo proposto pela AIEA em outubro do ano passado, segundo o qual mais de três quartos do urânio produzido no Irã seriam mandados para fora do país, fazendo desta forma com que a fabricação de uma bomba atômica se tornasse impossível. A ideia era que isso fosse uma medida fomentadora de confiança para proporcionar espaço para negociações.

No entanto, o acordo atual ignora o fato de que o Irã, após ter colocado em funcionamento as suas centrífugas em Natanz, aparentemente já conta com mais de 2.300 quilogramas de urânio. Em outras palavras, o acordo possibilitaria que Teerã ficasse com quase a metade desse material, que é um ingrediente básico para uma bomba nuclear, de forma que o Irã ainda contasse com matéria prima suficiente para atingir a “capacidade mínima” de fabricação de armas nucleares.

O acordo também proporciona uma brecha a Teerã: ele concede à liderança iraniana o direito de pegar o seu urânio de volta da Turquia se, na sua opinião, qualquer cláusula do texto oficial “não for cumprida”. E o mais importante é que o acordo não exige que Teerã suspenda o processo de enriquecimento de urânio. “Nós nem sonharíamos em fazer isso”, declarou uma autoridade iraniana. Mas é isso precisamente que a ONU exigiu inequivocamente com aquilo que a esta altura já são três rodadas de sanções.

Essas objeções todas não preocupam Lula. Ele demonstrou que não pode mais ser ignorado no cenário internacional. Na última terça-feira, os amigos do presidente brasileiro elogiavam os seus esforços no sentido de fomentar a paz durante a reunião de cúpula América Latina-União Europeia em Madri. A participação do presidente tinha como objetivo demonstrar que a “lula” possui vários braços. Ele provou que é capaz de nadar na companhia de grandes tubarões.

Por trás dos bastidores, o Lula Superstar gosta de falar sobre como obrigou os diplomatas brasileiros a abandonarem a “síndrome de vira-latas”, o seu termo para designar o profundamente arraigado complexo de inferioridade que os brasileiros demonstravam até recentemente em relação aos norte-americanos e aos europeus.

O fato ocorreu em 2003, na primeira aparição internacional importante de Lula, na reunião de cúpula do G8, em Evian, na França. Um grupo de pessoas estava sentado no saguão do hotel onde ocorria a conferência, aguardando o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Quando os norte-americanos finalmente entraram no recinto, todos se levantaram – menos Lula, que ordenou ao seu ministro das Relações Exteriores que também permanecesse sentado. “Eu não participarei desta subserviência”, declarou o presidente brasileiro. “Afinal, ninguém se levantou quando eu entrei”.

http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/05/29/lula-salta-para-a-primeira-divisao-da-diplomacia-mundial.jhtm

Sonho e Realidade na América do Sul

Do Portal Luis Nassif
Por Paulo Kautscher

Nota do Secretariado Nacional do PCB:
Este artigo é escrito por um importante diplomata de carreira brasileiro, especializado em América Latina. Com conhecimento de causa e franqueza, o autor ajuda a compreender a análise do PCB sobre a política externa do governo brasileiro.
ANTONIO JOSÉ FERREIRA SIMÕES
UMA DÉCADA se passou desde que o Brasil tomou a iniciativa de convocar, em Brasília, a 1ª Reunião de Presidentes da América do Sul, realizada no ano 2000. Quase oito anos depois, em maio de 2008, o presidente Lula recebeu os chefes de Estado da região para a assinatura do tratado que fundou a União Sul-Americana de Nações (Unasul).
Para quem hoje observa a intensidade da agenda regional, é difícil imaginar que, até há pouco, os líderes do continente jamais tivessem se reunido. Dez anos atrás, a articulação da América do Sul não passava de um sonho. Hoje, é uma realidade concreta.
As estatísticas comprovam o sucesso da integração sul-americana. Desde o ano 2000, o comércio total do Brasil com a região passou de US$ 22 bilhões para US$ 63 bilhões. Em 2002, nossas exportações para os vizinhos somaram US$ 7,5 bilhões.
Em 2008, alcançaram 38,4 bilhões: um aumento de 412%. Em 2009, o índice de bens industrializados nas exportações brasileiras para a região alcançou cerca de 90% -vendemos, na nossa vizinhança, bens de alto valor agregado. Essas mercadorias geram renda e empregos com carteira assinada para milhões de brasileiros.
A presença das empresas brasileiras na América do Sul é crescente e tem transformado a infraestrutura de países vizinhos, com a construção de estradas, aeroportos, hidrelétricas, petroquímicas. Para apoiar esse esforço, o Brasil financia parte dos projetos, sobretudo por meio do BNDES.
O total de financiamentos em 2009 chegou a US$ 8 bilhões para a América do Sul. Cerca de US$ 3,1 bilhões referem-se a projetos em execução ou já concluídos, e outros US$ 4,9 bilhões, a projetos já aprovados.
São obras que ajudam a economia brasileira e contribuem para o desenvolvimento dos países da região. Os investimentos diretos das empresas brasileiras também têm crescido.
Na Argentina, por exemplo, o estoque total é estimado em US$ 8 bilhões. A América do Sul é o espaço primordial para a transnacionalização das empresas brasileiras.
Nem ingenuidade nem ideologia explicam a vertente sul-americana da política externa brasileira. Por ser o Brasil a maior e mais diversificada economia da região, é inevitável que o país exerça o papel de propulsor da integração. Solidariedade não é sinônimo de ingenuidade.
Porque queremos abrir mercados na América do Sul, interessa-nos que nossos vizinhos também sejam cada dia mais prósperos.
O Brasil deseja que a prosperidade e a justiça social se espalhem pela América do Sul. A política solidária não é incompatível com a busca de nossos legítimos interesses.
Um Brasil que contribui para a prosperidade continental reforça suas credenciais como fator de estabilidade e progresso no mundo. Junto com isso, avançam a democracia e um sistema econômico aberto.
Será preciso, porém, reforçar a consciência de nossos interesses comuns de longo prazo. Se franceses e alemães tivessem optado, no final da 2ª Guerra Mundial, pelos ganhos de curto prazo, perdendo-se na mesquinhez da contabilidade das reparações e no exercício das recriminações, teria sido possível construir o edifício que é hoje a União Europeia?
A política externa brasileira para a América do Sul não se pauta apenas por uma visão pragmática de viabilização de negócios e investimentos mas também está imbuída de uma visão política, estratégica, social e cultural de longo prazo.
Aqui, idealismo e realismo se combinam: o primeiro nos inspira a buscar um futuro melhor; o segundo nos estimula a colocar as mãos à obra.
ANTONIO JOSÉ FERREIRA SIMÕES é subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Foi embaixador do Brasil em Caracas (2008-2010), diretor do Departamento de Energia (2006-2008) e secretário de Planejamento Diplomático (2005-2006) do MRE.


FONTE PCB

 http://blogln.ning.com/forum/topics/para-nao-dizer-que-falei-de

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um acordo e seis verdades

De José Luis Fiori
no Valor Econômico
Via clipping do MP


"A mediação bem sucedida de Lula com o Irã alçaria o Brasil no cenário mundial." O Globo, 16 de maio de 2010, p. 38.
Na terça feira, 18 de maio de 2010, foi assinado o Acordo Nuclear entre o Brasil, a Turquia e o Irã, que dispensa maiores apresentações. E como é sabido, quarenta e oito horas depois da assinatura do Acordo, os Estados Unidos propuseram ao Conselho de Segurança da ONU, uma nova rodada de sanções ao Irã, junto com a Inglaterra, França e Alemanha, e com o apoio discreto da China e da Rússia.

Apesar da rapidez dos acontecimentos, já é possível decantar algumas verdades no meio da confusão:

1) A iniciativa diplomática do Brasil e da Turquia não foi uma "rebelião da periferia", nem foi um desafio aberto ao poder americano. Neste momento, os dois países são membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e desde o início contaram com o apoio e o estímulo de todos os cinco membros permanentes.
Além disso, as diplomacias brasileira e turca estiveram em contato permanente com os governos desses países durante a negociação. A Turquia pertence à OTAN, e abriga em seu território armas atômicas norte-americanas. E o presidente Lula recebeu carta de estímulo do presidente Barack Obama, duas semanas antes da assinatura da visita de Lula, e a secretária de Estado norte-americana declarou - na véspera do Acordo - que se tratava da "última esperança" de solucionar de forma diplomática a "questão nuclear iraniana".

2) O que provocou surpresa e irritação em alguns setores, portanto, não foram as negociações, nem os termos do acordo final, que já eram conhecidos. Foi o sucesso do presidente brasileiro que todos consideravam impossível ou muito improvável. Sua mediação viabilizou o acordo, e ao mesmo tempo descalçou a proposta de sanções articulada pela secretária de Estado americana depois de sucessivas concessões à Rússia e à China. E, além disso, criou uma nova realidade que já escapou ao controle dos Estados Unidos e seus aliados, e do Brasil e Turquia.

3) A reação americana contra o Acordo foi rápida e ágil, mas o preço que os Estados Unidos pagarão pela sua posição contra esta iniciativa pacifista será muito alto. Perdem autoridade moral dentro das Nações Unidas e perdem credibilidade entre seus aliados do Oriente Médio, com a exceção de Israel, por razões óbvias. E já agora, passe o que passe, o Brasil e a Turquia serão uma referência ética e pacifista, em todos os desdobramentos futuros deste contencioso.

4) Existe consenso que a estrutura de governança mundial estabelecida depois da II Guerra Mundial, e reformulada depois do fim da Guerra Fria, já não corresponde à configuração do poder mundial. Está em curso uma mudança na distribuição dos recursos do poder global, mas não se trata de um processo automático, e dependerá muito da capacidade estratégica e da ousadia dos governos envolvidos nesse processo de transformação. O Oriente Médio faz parte da zona de segurança e interesse imediato da Turquia, mas no caso do Brasil, foi a primeira vez que interveio numa negociação longe de sua zona imediata de interesse regional, envolvendo uma agenda nuclear, e todas as grandes potências do mundo. A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potência global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França e, também, com relação aos países do Bric.

5) O acordo seguirá sendo a melhor chance para prevenir um conflito militar em todo o Oriente Médio. As sanções em discussão são fracas, já foram diluídas, não são totalmente obrigatórias, e não atingirão a capacidade de resistência iraniana. Pelo contrário, se foram aprovadas e aplicadas, liberarão automaticamente o governo do Irã de qualquer controle ou restrição, diminuirão o controle norte-americano e da AIEA, acelerarão o programa nuclear iraniano e aumentarão a probabilidade de um ataque israelense. Porque os Estados Unidos já estão envolvidos em duas guerras, e não é provável que a OTAN assuma diretamente esta nova frente de batalha, a despeito do anti-islamismo militante, dos atuais governos de direita, da Alemanha, França e Itália.

6) Por fim, o jornal "O Globo" foi quem acertou em cheio, ao prever - com perfeita lucidez - na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.

 Leia mais no Clipping do Ministério do Planejamento.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Nassif: Pausa nas Sanções contra o Irã

A insistência neste assunto sobre o Irã é porque revela em todos os aspectos quais os interesses que estão em jogo na questão da diplomacia e como o Brasil se agiganta neste momento, ainda que parte de sua elite mantenha-se atrelada a um passado que sempre retratou o país como pequeno e dependente dos interesses de outros países, principalmente dos EUA. Não é à toa que os "embaixadores de pijama", em especial aqueles que fizeram parte de um outro governo, são sempre chamados para "debater" numa certa emissora, e baixar o sarrafo nos avanços da nossa chancelaria, mormente no caso do acordo com o Irã. Ao que parece, quebraram a cara (mais uma vez!). E agora?! É o mundo de um lado e os EUA, Israel, Alemanha e a grande(?) mídia brasileira do outro?! A que ponto chegamos...

Pausa nas Sanções contra o Irã
do blog do Nassif.

Por Tomás Rosa Bueno

Os EUA não acreditavam que a Turquia e o Brasil fossem capazes de fazer o Irã concordar com o acordo que *os Estados Unidos* tinham proposto no ano passado, e incentivaram os turcos e brasileiros a fazer papel de tontos indo ao Irã sem conseguir nada. Quando o acordo saiu, contra todas as expectativas deles, em vez de transformar o vexame em vitória dizendo que o Irã tinha sido forçado a aceitar uma proposta que afinal *os americanos* tinham feito, não, resolveram se fazer de espertos e durões e exigir mais. A Hllary mandou os negociadores dela abrirem as pernas para os russos e chineses concordarem com *qualquer* projeto de sanções contra o Irã, mesmo que não valesse nada, pra que ela pudesse sair por aí dizendo que “o Ocidente” tinha enviado um “recado inequívoco” ao Irã, e que o acordo BIT não valia nada.

Os russos e os chineses devem estar rindo dela até agora. Assinaram um papel sem valor, porque não só não tem nada significativo como sequer foi aprovado pelo CS, e em troca a Rússia conseguiu que os EUA tirassem da lista negra do Departamento de Estado três empresas russas, que vão agora poder entregar aos Irã os mísseis S-300 de que os iranianos precisavam para defender as instalações nucleares contra um possível ataque aéreo de Israel ou dos Estados Unidos, ou dos dois. E os chineses arrancaram dos americanos a promessa de que não vão ter mais de ficar ouvindo reclamações impertinentes e exigências descabidas sobre a taxa de câmbio do remimbi.

O Obama ainda mandou ao Golfo Pérsico um porta-aviões e seis mil marines, para reforçar o “recado inequívoco” ao Irã.

Não adiantou nada. A “comunidade internacional” que estaria majoritariamente contra os “párias” iranianos que só o Lula e o Erdogan “apoiavam” foi se desmiliguindo país a país. Os chineses que “apoiavam as sanções” declararam que davam preferência a uma solução negociada com base no acordo BIT, os russos alertaram os EUA e a UE contra sanções unilaterais “ilegais”, os 116 países do Movimento Não-Alinhado apoiaram o acordo, o Conselho de Cooperação do Golfo e a Liga Árabe apoiaram o acordo, a França desconversou (dizendo que o acordo era “bom”, mas “não trata todas as questões”; e o Sarkozy aproveitou pra falar dos Rafale com o Lula), os britânicos não disseram uma única palavra sobre o assunto, o Japão apoiou o acordo na cara da Hillary em Tóquio, a Índia, Portugal, Espanha, a Grécia, o Egito, a Jordânia, a Síria, a Indonésia, a Organização de Cooperação Islâmica, a África do Sul, (o rei d)a Noruega, os “stãs” todos da Ásia Central, a Armênia, a Nicarágua, El Salvador, o Vietnã e a Ucrânia, todos se alinharam no apoio ao acordo BIT. E o representante do Irã na AIEA, acompanhado dos representantes do Brasil e da Turquia, entregou hoje ao diretor da agência a carta em que o Irã se compromete oficialmente com os termos do acordo.

Os EUA, Israel e a Alemanha ficaram pendurados na brocha, clamando que “a comunidade internacional” estava atrás deles. Só se for atrás do couro dos três.
Resultado, segundo o Ha’aretz:

EUA vão examinar proposta iraniana de troca de combustível

Natasha Mozgovaya e DPA
Tags: Israel news Iran Iran nuclear US
Os Estados Unidos vão examinar a proposta iraniana de enviar urânio enriquecido à Turquia, e planejam consultar a França e a Rússia sobre os próximos passos a serem dados, informou na segunda-feira o Departamento de Estado americano.
O Irã, juntamente com o Brasil e a Turquia, entregou na manhã de segunda-feira ao órgão de vigilância nuclear da ONU sediado em Viena, a Agência Internacional de Energia Atômica, a carta que esboça o acordo que pretende aliviar preocupações sobre as atividades nucleares iranianas e afastar possíveis sanções.
[Resto da notícia, em inglês, aqui:http://tinyurl.com/iran-haaretz]
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Não podiam ter dito isto há uma semana? Não podiam ter-se poupado o vexame de comprar uma assinatura sem efeito num papel sem valor em troca de favores substanciais aos russos e chineses? Não podiam ter dado ao mundo uma demonstração de que de fato procuram uma saída pacífica para o problema que eles mesmos criaram?
Definitivamente, tem um bando de amadores no controle do maior arsenal nuclear do mundo.
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À uma da manhã aqui no sul gelado, o site noticioso chinês english.cri.cn deu a notícia: em uma declaração oficial sobre uma conversa telefônica entre o primeiro ministro turco Recep Erdogan e o presidente francês Nicolas Sarkozy, o Palais de l’Élysée anunciou que a França “vai dar um tempo ao diálogo” sobre a questão nuclear iraniana.
Ás cinco da manhã, outra boa notícia: mais um aliado de peso se somou ao Brasil: o México, que vai presidir o Conselho de Segurança em junho, mês que as sanções *seriam* votadas, se s EUA ainda tiverem a cara-de-pau de as submeter a votação, correndo o risco de um vexame.
A ministra de relações exteriores mexicana, Patricia Espinosa, ainda acrescentou que “a presença do presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva no Irã garante a seriedade da questão”. E isto que ela é ministra de um governo “de direita”.
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Definitivamente, as sanções estão mortas.

Leia mais no Nassif...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Submissão das Elites Brasileiras

O que mais chama a atenção em todo esse episódio do Irã é a opinião da grande(?) mídia brasileira, contrária ao protagonismo do Brasil no campo diplomático, que se coloca em linha de choque em relação aos EUA e seus associados europeus. Ainda assim muitos jornais da Europa e EUA lograram publicar matérias a favor dos esforços do Brasil e da Turquia em procurar uma solução pacífica para a questão nuclear iraniana. E aqueles que se colocaram contra, como o New York Times, tiveram que publicar, na versão eletrônica, opiniões de leitores que, em sua absoluta maioria, não disfarçaram contrariedade à atitude belicista da Sra. Clinton, ao apressar a assinatura de um esboço de resolução do Conselho de Segurança da ONU, aplicando sanções ao Irã, logo após o acordo assinado em Teerã.
Mas voltando à nossa grande(?) mídia tupiniquim, é interessante observar como espelham uma forma de pensamento, ou melhor, de consenso muito característico de uma parte da elite brasileira: a da submissão. Especificamente com potências como os EUA ou mesmo com os europeus. Submissão porque não reconhece que ter interesses conflitantes ou opostos não necessariamente nos coloca como adversários com tais países. E foi isto que o Brasil demonstrou ao praticar uma diplomacia de alto nível, colocando-se como interlocutor respeitado e respeitoso, tanto com os países que querem as sanções, quanto com o próprio Irã. Não é à toa que conseguiu a assinatura. 
Mas não entra na cabeça dessas pessoas que o Brasil, através de sua chancelaria, representada pelo embaixador Celso Amorim e do Presidente Lula, não se deixaria enganar pelo Ahmadinejad, dando ao Irã tempo para fabricar a bomba (que segundo fontes da própria inteligência americana não poderia ser feita em menos de cinco anos). Isto até poderia acontecer, mas o tempo é para a construção da paz, e a responsabilidade foi jogada para os atores em campo: Irã e EUA.
Não poderia ser outra a atitude brasileira, principalmente como líder atual da presidência rotativa do CS da ONU. Para os submissos que só pensam em ganhos um aviso: o Brasil escreveu o capítulo definitvo do multilateralismo nas relações internacionais.








Os interesses do Império e os nossos 
Mino Carta
da Carta Capital

Ao ler os jornalões na manhã de segunda 17, dos editoriais aos textos ditos jornalísticos, sem omitir as colunas, sobretudo as de O Globo, me atrevi a perguntar aos meus perplexos botões se Lula não seria um agente, ocidental e duplo, a serviço do Irã. Limitaram-se a responder soturnamente com uma frase de Raymundo Faoro: “A elite brasileira é entreguista”.

Entendi a mensagem. A elite brasileira aceita com impávida resignação o papel reservado ao País há quase um século, de súdito do Império. Antes, foi de outros. Súdito por séculos, embora graúdo por causa de suas dimensões e infindas potencialidades, destacado dentro do quintal latino-americano. Mas subordinado, sempre e sempre, às vontades do mais forte.

Para citar eventos recentíssimos, me vem à mente a foto de Fernando Henrique Cardoso, postado dois degraus abaixo de Bill Clinton, que lhe apoia as mãos enormes sobre os ombros, em sinal de tolerante proteção e imponência inescapável. O americano sorri, condescendente. O brasileiro gargalha. O presidente que atrelou o Brasil ao mando neoliberal e o quebrou três vezes revela um misto de lisonja e encantamento servil. A alegria de ser notado. Admitido no clube dos senhores, por um escasso instante.

Não pretendo aqui celebrar o êxito da missão de Lula e Erdogan. Sei apenas que em país nenhum do mundo democrático um presidente disposto a buscar o caminho da paz não contaria, ao menos, com o respeito da mídia. Aqui não. Em perfeita sintonia, o jornalismo pátrio enxerga no presidente da República, um ex-metalúrgico que ousou demais, o surfista do exibicionismo, o devoto da autopromoção a beirar o ridículo. Falamos, porém, é do chefe do Estado e do governo do Brasil. Do nosso país. E a esperança da mídia é que se enrede em equívocos e desatinos.

Não há entidade, instituição, setor, capaz de representar de forma mais eficaz a elite brasileira do que a nossa mídia. Desta nata, creme do creme, ela é, de resto, o rosto explícito. E a elite brasileira fica a cada dia mais anacrônica, como a Igreja do papa Ratzinger. Recusa-se a entender que o tempo passa, ou melhor, galopa. Tudo muda, ainda que nem sempre a galope. No entanto, o partido da mídia nativa insiste nos vezos de antanho, e se arma, compacto, diante daquilo que considera risco comum. Agora, contra a continuidade de Lula por meio de Dilma.

Imaginemos o que teriam estampado os jornalões se na manhã da segunda 17, em lugar de Lula, o presidente FHC tivesse passado por Teerã? Ele, ou, se quiserem, uma neoudenista qualquer? Verifiquem os leitores as reações midiáticas à fala de Marta Suplicy a respeito de Fernando Gabeira, um dos sequestradores do embaixador dos Estados Unidos em 1969. Disse a ex-prefeita de São Paulo: por que só falam da “ex-guerrilheira” Dilma, e não dele, o sequestrador?

A pergunta é cabível, conquanto Gabeira tenha se bandeado para o outro lado enquanto Dilma está longe de se envergonhar do seu passado de resistência à ditadura, disposta a aderir a uma luta armada da qual, de fato, nunca participou ao vivo. Nada disso impede que a chamem de guerrilheira, quando não terrorista. Quanto a Gabeira, Marta não teria lhe atribuído o papel exato que de fato desempenhou, mas no sequestro esteve tão envolvido a ponto de alugar o apartamento onde o sequestrado ficaria aprisionado. E com os demais implicados foi desterrado pela ditadura.

Por que não catalogá-lo, como se faz com Dilma? Ocorre que o candidato ao governo do Rio de Janeiro perpetrou outra adesão. Ficou na oposição a Lula, primeiro alvo antes de sua candidata. Cabe outro pensamento: em qual país do mundo democrático a mídia se afinaria em torno de uma posição única ao atirar contra um único alvo? Só no Brasil, onde os profissionais do jornalismo chamam os patrões de colegas.

Até que ponto o fenômeno atual repete outros tantos do passado, ou, quem sabe, acrescenta uma pedra à construção do monumento? A verificar, no decorrer do período. Vale, contudo, anotar o comportamento dos jornalões em relação às pesquisas eleitorais. Os números do Vox Populi e da Sensus, a exibirem, na melhor das hipóteses para os neoudenistas, um empate técnico entre candidatos, somem das manchetes para ganhar algum modesto recanto das páginas internas.

Recôndito espaço. Ao mesmo tempo Lula, pela enésima vez, é condenado sem apelação ao praticar uma política exterior independente em relação aos interesses do Império. Recomenda-se cuidado: a apelação vitoriosa ameaça vir das urnas.

http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=6792

domingo, 23 de maio de 2010

Irã oferece ajuda aos EUA para conter vazamento de petróleo

Da Agência EFE
via Portal Terra

O Irã ofereceu neste domingo ajuda aos Estados Unidos para frear o derramamento de petróleo que há um mês atinge o Golfo do México. O país afirmou que tem experiência, pois no passado enfrentou desafios maiores.

Em declarações divulgadas pela agência de notícias estatal Irna, o diretor de operações de perfuração da companhia nacional iraniana, Mehran Alinejad, disse que a conta com os meios técnicos para deter o vazamento de petróleo no mar. "As equipes técnicas iranianas conseguiram grandes sucessos no fechamento de poços de petróleo. Comparativamente, a perfuração na plataforma do Golfo do México não é uma grande façanha", disse.

Essa experiência foi adquirida pelos engenheiros iranianos durante os anos da guerra na fronteira entre o Irã e o Iraque (1980-1988), especificou Alinejad. "Existe um desastre ecológico no Golfo do México que tem consequências negativas para todo o mundo. Por isso, recebemos uma resposta positiva das autoridades desse país, podemos examinar a situação e contribuir para sua solução", disse.

Os Estados Unidos informaram em 6 de maio que três países tinham oferecido ajuda diante da catástrofe, mas não mencionaram o Irã. Um mês depois da explosão da plataforma petrolífera operada pela British Petroleum (BP), que causou a morte de 11 trabalhadores, o vazamento ainda não foi controlado e ameaça a chegar às restingas do delta do Mississipi.

O vazamento foi declarado "catástrofe nacional" pelo governo dos Estados Unidos. Segundo a BP, vertem por dia no mar 5 mil barris de petróleo.

http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4446288-EI8141,00-Ira+oferece+ajuda+aos+EUA+para+conter+vazamento+de+petroleo.html 

Bresser Pereira: O Irã e o império decadente

Na Folha de São Paulo de 23.05.2010
via Blog do Nassif


Há algum tempo, o establishment mundial recebeu com um misto de irritação e descrença a notícia de que o presidente Lula se dispunha a intermediar a questão do Irã.

Na semana passada a diplomacia brasileira alcançou um êxito histórico em Teerã ao lograr que o governo nacionalista islâmico do Irã aceitasse o acordo sobre a troca de urânio pouco enriquecido por urânio enriquecido a 20% nos mesmos termos que as grandes potências e a AIEA(agência atômica da ONU) haviam proposto há seis meses.

Não obstante, alegando que o acordo não assegura que o Irã não utilizará o restante do urânio em seu poder para se tornar potência nuclear, os EUA conseguiram convencer as demais grandes potências a levar ao Conselho de Segurança da ONU a proposta de novas sanções ao Irã. E adicionaram mais uma “razão”: assim, evitam que seu aliado Israel bombardeie o Irã. Significa isso que o acordo de Teerã fracassou?

As razões para ignorar o acordo bem pensado e realizado não se sustentam. A recusa dos EUA de continuar a negociação a partir dele deixou mais uma vez claro que seu objetivo principal não é evitar que o Irã tenha a bomba, mas é desestabilizar seu governo.

Desde a Revolução Islâmica de 1979, os EUA vêm procurando derrubar o governo nacionalista iraniano. Primeiro, porque o regime seria fundamentalista; depois, porque ameaçaria Israel.

Nesse sentido, suas ações não se limitaram ao “soft power” e à diplomacia, mas foram militares. Em 1981, financiaram uma guerra mortífera do Iraque de Saddam Hussein contra o Irã, que durou quase dez anos e terminou com a derrota da coligação americano-iraquiana.

Agora, depois de haver invadido e submetido seu antigo aliado, voltam- se de novo contra o regime dos aiatolás e de seu boquirroto e autoritário presidente, Mahmoud Ahmadinejad.

Mostram, assim, coerência em sua política imperial de controle político-militar do Oriente Médio. O fato de a China ter concordado em assinar o pedido de mais sanções significaria que não usará seu poder de veto no Conselho de Segurança? É possível, mas não é provável. A China assinou o pedido para, neste momento, não aumentar seu contencioso com os EUA, que já é grande.

Por isso, é bem possível que o acordo de Teerã e as reações que está provocando levem os chineses, que não têm interesse em que os EUA e a Europa aumentem ainda mais seu poder no Oriente Médio, afinal a recusar seu voto às sanções.

Os EUA são um império em decadência que tenta ser imperial em uma fase da história mundial na qual os impérios não fazem mais sentido.

Os dois últimos grandes impérios foram o britânico e o soviético. Fracassaram por diferentes razões, mas principalmente porque hoje mesmo países mais atrasados são membros plenos da ONU e não aceitam a dominação imperial.

Não obstante, os EUA insistem em terem bases militares espalhadas em todo o mundo para “legitimar” a imposição de sua vontade. Sabemos, porém, que não é com armas, mas com bons argumentos e com concessões mútuas que haverá paz entre as nações.

*LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC).

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/05/23/o-imperio-decadente/#more-63116

BBC Brasil: Não se pode pedir confiança ao Irã com ameaças, diz Amorim




O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta sexta-feira, em entrevista à BBC Brasil, que as potências ocidentais não podem pedir confiança ao Irã e ao mesmo tempo "fazer ameaças".
"Esse acordo foi idealizado por eles (potências) como forma de se criar confiança. Bom, você não pode tentar criar confiança e ao mesmo tempo fazer ameaças", disse o chanceler, referindo-se à intensificação de um movimento a favor de sanções econômicas a Teerã.
Na entrevista, o chanceler se diz "desapontado" com a reação dos Estados Unidos e outros membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
"Esperamos que se dê pelo menos uma pausa nessa discussão (das sanções), enquanto se vê se esse curso (do acordo) funciona", disse.
O governo brasileiro tem argumentado que o acordo assinado na última segunda-feira com Irã e Turquia é o mesmo que foi apresentado em outubro passado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com o apoio das grandes potências.
Já o governo americano argumenta que a quantidade de urânio no Irã aumentou significativamente desde então, colocando em xeque a validade do acordo assinado em Teerã.
Segundo Amorim, essa preocupação não foi apresentada oficialmente ao governo brasileiro nos contatos com as principais potências antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã.
"Na verdade, em algumas dessas comunicações, essas autoridades inclusive enfatizaram que o acordo seria uma oportunidade", afirma o ministro.
"Você sempre poderá encontrar outros problemas, outros defeitos, para justificar que a situação mudou", acrescenta.
Clique Entenda a polêmica sobre o programa nuclear iraniano
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Ceticismo
Na avaliação do ministro, o "ceticismo" das potências ocidentais acabou prejudicando as discussões sobre um acordo com o Irã.
Para Amorim, esses países "não acreditaram" que Brasil e Turquia conseguiriam chegar a um entendimento com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
"Eles estavam provavelmente esperando que voltássemos do Irã de mãos vazias e que isso confirmaria que eles estavam certos, e que isso aumentaria a pressão pelas sanções", diz o ministro.
Assistir Veja a entrevista completa com o ministro das relações exteriores, Celso Amorim
"Eu acho que o ceticismo deles era tão grande com relação à possibilidade de a gente obter um acordo que nós não chegamos a esse ponto da discussão", acrescenta.

Contatos
Amorim se diz "esperançoso" de que a resolução com as sanções econômicas ao Irã não chegue a ser votada na ONU, mas nega que o Brasil esteja "buscando votos" contrários à medida.
"Não estamos cabalando voto pra nada. Esse não é nosso papel. E eu espero que nem cheguemos ao ponto de votar as sanções", afirma o ministro.
Nos últimos dias, Amorim conversou por telefone com ministros de países que estão no Conselho de Segurança e que, portanto, poderão votar a favor ou contra as sanções.
Segundo o ministro, o objetivo desses contatos é apenas o de "esclarecer" alguns pontos do acordo, e não de buscar aliados em uma possível votação, como chegou a ser cogitado.

Direitos humanos
Questionado sobre um possível papel do Brasil como interlocutor do Irã em assuntos de direitos humanos, Amorim disse que as questões não podem ser tratadas "todas de uma vez só".
A avaliação do ministro é de que o Brasil pode "dar uma palavrinha ou outra" sobre o assunto, mas não sair "com dedo em riste".
"Além disso, existem outras instâncias para isso, inclusive as multilaterais", disse.
Para o chanceler, "imperfeições" em direitos humanos "existem em muitos países", mas que "certos países, em certos momentos, são singularizados, por motivos que não têm a ver somente com direitos humanos".

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/05/100521_amorim_entrevista_fbdt.shtml