segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Submissão das Elites Brasileiras

O que mais chama a atenção em todo esse episódio do Irã é a opinião da grande(?) mídia brasileira, contrária ao protagonismo do Brasil no campo diplomático, que se coloca em linha de choque em relação aos EUA e seus associados europeus. Ainda assim muitos jornais da Europa e EUA lograram publicar matérias a favor dos esforços do Brasil e da Turquia em procurar uma solução pacífica para a questão nuclear iraniana. E aqueles que se colocaram contra, como o New York Times, tiveram que publicar, na versão eletrônica, opiniões de leitores que, em sua absoluta maioria, não disfarçaram contrariedade à atitude belicista da Sra. Clinton, ao apressar a assinatura de um esboço de resolução do Conselho de Segurança da ONU, aplicando sanções ao Irã, logo após o acordo assinado em Teerã.
Mas voltando à nossa grande(?) mídia tupiniquim, é interessante observar como espelham uma forma de pensamento, ou melhor, de consenso muito característico de uma parte da elite brasileira: a da submissão. Especificamente com potências como os EUA ou mesmo com os europeus. Submissão porque não reconhece que ter interesses conflitantes ou opostos não necessariamente nos coloca como adversários com tais países. E foi isto que o Brasil demonstrou ao praticar uma diplomacia de alto nível, colocando-se como interlocutor respeitado e respeitoso, tanto com os países que querem as sanções, quanto com o próprio Irã. Não é à toa que conseguiu a assinatura. 
Mas não entra na cabeça dessas pessoas que o Brasil, através de sua chancelaria, representada pelo embaixador Celso Amorim e do Presidente Lula, não se deixaria enganar pelo Ahmadinejad, dando ao Irã tempo para fabricar a bomba (que segundo fontes da própria inteligência americana não poderia ser feita em menos de cinco anos). Isto até poderia acontecer, mas o tempo é para a construção da paz, e a responsabilidade foi jogada para os atores em campo: Irã e EUA.
Não poderia ser outra a atitude brasileira, principalmente como líder atual da presidência rotativa do CS da ONU. Para os submissos que só pensam em ganhos um aviso: o Brasil escreveu o capítulo definitvo do multilateralismo nas relações internacionais.








Os interesses do Império e os nossos 
Mino Carta
da Carta Capital

Ao ler os jornalões na manhã de segunda 17, dos editoriais aos textos ditos jornalísticos, sem omitir as colunas, sobretudo as de O Globo, me atrevi a perguntar aos meus perplexos botões se Lula não seria um agente, ocidental e duplo, a serviço do Irã. Limitaram-se a responder soturnamente com uma frase de Raymundo Faoro: “A elite brasileira é entreguista”.

Entendi a mensagem. A elite brasileira aceita com impávida resignação o papel reservado ao País há quase um século, de súdito do Império. Antes, foi de outros. Súdito por séculos, embora graúdo por causa de suas dimensões e infindas potencialidades, destacado dentro do quintal latino-americano. Mas subordinado, sempre e sempre, às vontades do mais forte.

Para citar eventos recentíssimos, me vem à mente a foto de Fernando Henrique Cardoso, postado dois degraus abaixo de Bill Clinton, que lhe apoia as mãos enormes sobre os ombros, em sinal de tolerante proteção e imponência inescapável. O americano sorri, condescendente. O brasileiro gargalha. O presidente que atrelou o Brasil ao mando neoliberal e o quebrou três vezes revela um misto de lisonja e encantamento servil. A alegria de ser notado. Admitido no clube dos senhores, por um escasso instante.

Não pretendo aqui celebrar o êxito da missão de Lula e Erdogan. Sei apenas que em país nenhum do mundo democrático um presidente disposto a buscar o caminho da paz não contaria, ao menos, com o respeito da mídia. Aqui não. Em perfeita sintonia, o jornalismo pátrio enxerga no presidente da República, um ex-metalúrgico que ousou demais, o surfista do exibicionismo, o devoto da autopromoção a beirar o ridículo. Falamos, porém, é do chefe do Estado e do governo do Brasil. Do nosso país. E a esperança da mídia é que se enrede em equívocos e desatinos.

Não há entidade, instituição, setor, capaz de representar de forma mais eficaz a elite brasileira do que a nossa mídia. Desta nata, creme do creme, ela é, de resto, o rosto explícito. E a elite brasileira fica a cada dia mais anacrônica, como a Igreja do papa Ratzinger. Recusa-se a entender que o tempo passa, ou melhor, galopa. Tudo muda, ainda que nem sempre a galope. No entanto, o partido da mídia nativa insiste nos vezos de antanho, e se arma, compacto, diante daquilo que considera risco comum. Agora, contra a continuidade de Lula por meio de Dilma.

Imaginemos o que teriam estampado os jornalões se na manhã da segunda 17, em lugar de Lula, o presidente FHC tivesse passado por Teerã? Ele, ou, se quiserem, uma neoudenista qualquer? Verifiquem os leitores as reações midiáticas à fala de Marta Suplicy a respeito de Fernando Gabeira, um dos sequestradores do embaixador dos Estados Unidos em 1969. Disse a ex-prefeita de São Paulo: por que só falam da “ex-guerrilheira” Dilma, e não dele, o sequestrador?

A pergunta é cabível, conquanto Gabeira tenha se bandeado para o outro lado enquanto Dilma está longe de se envergonhar do seu passado de resistência à ditadura, disposta a aderir a uma luta armada da qual, de fato, nunca participou ao vivo. Nada disso impede que a chamem de guerrilheira, quando não terrorista. Quanto a Gabeira, Marta não teria lhe atribuído o papel exato que de fato desempenhou, mas no sequestro esteve tão envolvido a ponto de alugar o apartamento onde o sequestrado ficaria aprisionado. E com os demais implicados foi desterrado pela ditadura.

Por que não catalogá-lo, como se faz com Dilma? Ocorre que o candidato ao governo do Rio de Janeiro perpetrou outra adesão. Ficou na oposição a Lula, primeiro alvo antes de sua candidata. Cabe outro pensamento: em qual país do mundo democrático a mídia se afinaria em torno de uma posição única ao atirar contra um único alvo? Só no Brasil, onde os profissionais do jornalismo chamam os patrões de colegas.

Até que ponto o fenômeno atual repete outros tantos do passado, ou, quem sabe, acrescenta uma pedra à construção do monumento? A verificar, no decorrer do período. Vale, contudo, anotar o comportamento dos jornalões em relação às pesquisas eleitorais. Os números do Vox Populi e da Sensus, a exibirem, na melhor das hipóteses para os neoudenistas, um empate técnico entre candidatos, somem das manchetes para ganhar algum modesto recanto das páginas internas.

Recôndito espaço. Ao mesmo tempo Lula, pela enésima vez, é condenado sem apelação ao praticar uma política exterior independente em relação aos interesses do Império. Recomenda-se cuidado: a apelação vitoriosa ameaça vir das urnas.

http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=6792

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