terça-feira, 25 de maio de 2010

Nassif: Pausa nas Sanções contra o Irã

A insistência neste assunto sobre o Irã é porque revela em todos os aspectos quais os interesses que estão em jogo na questão da diplomacia e como o Brasil se agiganta neste momento, ainda que parte de sua elite mantenha-se atrelada a um passado que sempre retratou o país como pequeno e dependente dos interesses de outros países, principalmente dos EUA. Não é à toa que os "embaixadores de pijama", em especial aqueles que fizeram parte de um outro governo, são sempre chamados para "debater" numa certa emissora, e baixar o sarrafo nos avanços da nossa chancelaria, mormente no caso do acordo com o Irã. Ao que parece, quebraram a cara (mais uma vez!). E agora?! É o mundo de um lado e os EUA, Israel, Alemanha e a grande(?) mídia brasileira do outro?! A que ponto chegamos...

Pausa nas Sanções contra o Irã
do blog do Nassif.

Por Tomás Rosa Bueno

Os EUA não acreditavam que a Turquia e o Brasil fossem capazes de fazer o Irã concordar com o acordo que *os Estados Unidos* tinham proposto no ano passado, e incentivaram os turcos e brasileiros a fazer papel de tontos indo ao Irã sem conseguir nada. Quando o acordo saiu, contra todas as expectativas deles, em vez de transformar o vexame em vitória dizendo que o Irã tinha sido forçado a aceitar uma proposta que afinal *os americanos* tinham feito, não, resolveram se fazer de espertos e durões e exigir mais. A Hllary mandou os negociadores dela abrirem as pernas para os russos e chineses concordarem com *qualquer* projeto de sanções contra o Irã, mesmo que não valesse nada, pra que ela pudesse sair por aí dizendo que “o Ocidente” tinha enviado um “recado inequívoco” ao Irã, e que o acordo BIT não valia nada.

Os russos e os chineses devem estar rindo dela até agora. Assinaram um papel sem valor, porque não só não tem nada significativo como sequer foi aprovado pelo CS, e em troca a Rússia conseguiu que os EUA tirassem da lista negra do Departamento de Estado três empresas russas, que vão agora poder entregar aos Irã os mísseis S-300 de que os iranianos precisavam para defender as instalações nucleares contra um possível ataque aéreo de Israel ou dos Estados Unidos, ou dos dois. E os chineses arrancaram dos americanos a promessa de que não vão ter mais de ficar ouvindo reclamações impertinentes e exigências descabidas sobre a taxa de câmbio do remimbi.

O Obama ainda mandou ao Golfo Pérsico um porta-aviões e seis mil marines, para reforçar o “recado inequívoco” ao Irã.

Não adiantou nada. A “comunidade internacional” que estaria majoritariamente contra os “párias” iranianos que só o Lula e o Erdogan “apoiavam” foi se desmiliguindo país a país. Os chineses que “apoiavam as sanções” declararam que davam preferência a uma solução negociada com base no acordo BIT, os russos alertaram os EUA e a UE contra sanções unilaterais “ilegais”, os 116 países do Movimento Não-Alinhado apoiaram o acordo, o Conselho de Cooperação do Golfo e a Liga Árabe apoiaram o acordo, a França desconversou (dizendo que o acordo era “bom”, mas “não trata todas as questões”; e o Sarkozy aproveitou pra falar dos Rafale com o Lula), os britânicos não disseram uma única palavra sobre o assunto, o Japão apoiou o acordo na cara da Hillary em Tóquio, a Índia, Portugal, Espanha, a Grécia, o Egito, a Jordânia, a Síria, a Indonésia, a Organização de Cooperação Islâmica, a África do Sul, (o rei d)a Noruega, os “stãs” todos da Ásia Central, a Armênia, a Nicarágua, El Salvador, o Vietnã e a Ucrânia, todos se alinharam no apoio ao acordo BIT. E o representante do Irã na AIEA, acompanhado dos representantes do Brasil e da Turquia, entregou hoje ao diretor da agência a carta em que o Irã se compromete oficialmente com os termos do acordo.

Os EUA, Israel e a Alemanha ficaram pendurados na brocha, clamando que “a comunidade internacional” estava atrás deles. Só se for atrás do couro dos três.
Resultado, segundo o Ha’aretz:

EUA vão examinar proposta iraniana de troca de combustível

Natasha Mozgovaya e DPA
Tags: Israel news Iran Iran nuclear US
Os Estados Unidos vão examinar a proposta iraniana de enviar urânio enriquecido à Turquia, e planejam consultar a França e a Rússia sobre os próximos passos a serem dados, informou na segunda-feira o Departamento de Estado americano.
O Irã, juntamente com o Brasil e a Turquia, entregou na manhã de segunda-feira ao órgão de vigilância nuclear da ONU sediado em Viena, a Agência Internacional de Energia Atômica, a carta que esboça o acordo que pretende aliviar preocupações sobre as atividades nucleares iranianas e afastar possíveis sanções.
[Resto da notícia, em inglês, aqui:http://tinyurl.com/iran-haaretz]
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Não podiam ter dito isto há uma semana? Não podiam ter-se poupado o vexame de comprar uma assinatura sem efeito num papel sem valor em troca de favores substanciais aos russos e chineses? Não podiam ter dado ao mundo uma demonstração de que de fato procuram uma saída pacífica para o problema que eles mesmos criaram?
Definitivamente, tem um bando de amadores no controle do maior arsenal nuclear do mundo.
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À uma da manhã aqui no sul gelado, o site noticioso chinês english.cri.cn deu a notícia: em uma declaração oficial sobre uma conversa telefônica entre o primeiro ministro turco Recep Erdogan e o presidente francês Nicolas Sarkozy, o Palais de l’Élysée anunciou que a França “vai dar um tempo ao diálogo” sobre a questão nuclear iraniana.
Ás cinco da manhã, outra boa notícia: mais um aliado de peso se somou ao Brasil: o México, que vai presidir o Conselho de Segurança em junho, mês que as sanções *seriam* votadas, se s EUA ainda tiverem a cara-de-pau de as submeter a votação, correndo o risco de um vexame.
A ministra de relações exteriores mexicana, Patricia Espinosa, ainda acrescentou que “a presença do presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva no Irã garante a seriedade da questão”. E isto que ela é ministra de um governo “de direita”.
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Definitivamente, as sanções estão mortas.

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