Sinceramente não sei em que mundo vive as Organizações Globo. Ao que parece, o último a acreditar que uma realidade mudou é aquele que dela sempre se beneficiou. A Época sai agora com uma matéria sobre o "passado que a Dilma não gosta de falar". Aquela velha questão da Dilma guerrilheira, que teve como dois grandes marcos (se assim podemos chamar tais factóides) o trucidamento do Agripino Maia, que quebrou a cara ao aproveitar a convocação da Ministra na Comissão de Infra-Estrutura para falar sobre o caso Lina Vieira (Receita Federal) e a matéria de capa da Folha de São Paulo sobre a ficha (que depois se comprovou ser falsa, e sequer o jornal teve a dignidade de reconhecer o erro) de Dilma. Fica a sensação de que, após as últimas pesquisas, é um esforço para, se pelo menos não ganhar as eleições presidenciais, garantir que o governo de São Paulo jamais cairá nas mãos dos petistas.
Principais análises e notícias sobre politica, economia, relações internacionais, etc., etc.
sábado, 14 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Economist: A Vantagem da Mulher de Lula
É interessante ter uma leitura do país pelos olhos da mídia estrangeira. Digamos que é possível encontrar um certo distanciamento do provincianismo típico da nossa imprensa engajada, ainda que as semelhanças editorias sejam patentes e inevitáveis. A Economist lança mais um artigo sobre o Brasil, referente às eleições presidenciais, com suas impressões sobre os dois principais candidatos: Dilma Rousseff e José Serra. O artigo é direto e refere-se exclusivamente ao desempenho dos personagens bem como do seu currículo e patrimônio políticos. Serra, ex-Ministro, Prefeito e Governador; Dilma, burocrata, mas candidata do Presidente mais popular que o Brasil já teve. No final dá pra sentir um certo vaticínio da reportagem, que deixa escapar uma pequena decepção. Ainda bem que quem decide é o povo.
A campanha presidencial brasileira
Glória refletida
A lady do Lula está a caminho de herdar a presidência
Aug 12th 2010 | da revista britânica Economist
No papel, José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) , o maior partido de oposição do Brasil, deveria ser capaz de vencer a eleição presidencial de 3 de outubro sem suor. Ele teve muitos grandes cargos políticos em uma longa e bem sucedida carreira, inclusive como deputado, senador, ministro do Planejamento e depois da Saúde, e prefeito e agora governador de São Paulo, a maior cidade e o estado mais poderoso do Brasil. Ele está diante de uma neófita política: uma assessora e burocrata que era quase desconhecida há apenas alguns anos, que nunca antes disputou, muito menos venceu, uma eleição.
Em vez disso, o sr. Serra está lutando para se manter na disputa. Pesquisas o colocam de cinco a dez pontos atrás de Dilma Rousseff, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT). O problema não é a apresentação, embora o sr. Serra pareça maçante a não ser quando sorri, quando parece alarmante. A sra. Rousseff não tem nada de carismática e sua fraqueza é oferecer respostas de meia hora para perguntas de uma linha.
O problema do sr. Serra é que a sra. Rousseff é a sucessora escolhida de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente. Quatro-quintos dos brasileiros aprovam Lula e quase a metade diz que numa eleição presidencial votaria ou nele (se a Constituição não o impedisse de disputar um terceiro mandato consecutivo) ou no candidato dele. Desde que selecionou a sucessora, Lula a tem elevado aos céus (ela é “como Nelson Mandela”) e cruza o país com ela a tiracolo. Agora a maioria dos brasileiros sabe qual é a candidata do Lula — e cada vez mais brasileiros pretendem votar nela.
No dia 5 de agosto, o dia do primeiro debate televisionado entre os candidatos, uma empresa de pesquisas colocou a sra. Roussef com 41,6%, uma vantagem de dez pontos sobre o sr. Serra. Marina Silva do Partido Verde veio em terceiro com 9%. Excluindo as respostas inválidas, a sra. Rousseff está perto de vencer no primeiro turno. Essa pesquisa pode ser fora da média, mas outras dão a ela uma liderança crescente.
A sra. Rousseff parecia nervosa no debate e teve dificuldades para manter suas respostas curtas. O sr. Serra parecia melhor. Mas como o debate aconteceu ao mesmo tempo que uma importante partida de futebol, quase ninguém viu.
Mais preocupante para o sr. Serra, o debate demonstrou as dificuldades que ele vai enfrentar no resto da campanha. Provavelmente com razão, o sr. Serra decidiu que atacar um presidente tão popular quanto Lula não daria a ele muitos votos. Ele discorda da sra. Rousseff em algumas coisas, como a política externa e o papel do estado na economia. Mas ele concorda em outras. Ele foi obrigado a prometer continuidade de alguns dos programas de Lula, como o Bolsa Família, um empréstimo para famílias pobres. Enquanto isso, com a economia em forte crescimento, os brasileiros estão aproveitando a vida: “o fator do bem estar” agora faz parte da língua portuguesa.
Mas a estabilidade vende melhor para os governistas do que para os desafiantes. O slogan do sr. Serra, “Brasil pode mais”, exemplifica a dificuldade. Ele luta para capitalizar seu currículo. Ele é mais conhecido pelo papel que teve nos governos de Fernando Henrique Cardoso, de 1995-2002, os quais, apesar de algumas conquistas sólidas, são relembrados pelos brasileiros sem carinho.
“Para Dilma é simples: persuadir o povo de que ela representa Lula”, diz Rubens Figueiredo, um consultor político de São Paulo. “Mas Serra precisa relembrar as pessoas de que Lula não é o candidato — mas de um jeito que não seja oposição, preferivelmente sem nem mesmo mencionar Lula”.
A liderança da sra. Rousseff ainda não é insuperável. Se o sr. Serra conseguir evitar a vitória dela no primeiro turno, pode ter chance no segundo. E no Brasil sempre há a possibilidade de um escândalo ou de um desastre de campanha.
Mas ainda existem alguns votos que a sra. Rousseff pode conseguir por ser a mulher do Lula. Cerca de 8% dizem a pesquisadores que querem votar no candidato do presidente, mas não citam o nome dela.
Ela em breve terá mais oportunidades para reforçar essa ligação. A partir de 17 de agosto as estações de rádio e TV brasileiras são obrigadas a colocar anúncios políticos gratuitos, com mais tempo para os candidatos cujas alianças tem maior número de assentos no Congresso. Isso significa que a sra. Rousseff terá mais de dez minutos, três vezes por semana; o sr. Serra precisa se arranjar com pouco mais de sete minutos. Essa vantagem pode acabar sendo a decisiva.
A campanha presidencial brasileira
Glória refletida
A lady do Lula está a caminho de herdar a presidência
Aug 12th 2010 | da revista britânica Economist
No papel, José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) , o maior partido de oposição do Brasil, deveria ser capaz de vencer a eleição presidencial de 3 de outubro sem suor. Ele teve muitos grandes cargos políticos em uma longa e bem sucedida carreira, inclusive como deputado, senador, ministro do Planejamento e depois da Saúde, e prefeito e agora governador de São Paulo, a maior cidade e o estado mais poderoso do Brasil. Ele está diante de uma neófita política: uma assessora e burocrata que era quase desconhecida há apenas alguns anos, que nunca antes disputou, muito menos venceu, uma eleição.
Em vez disso, o sr. Serra está lutando para se manter na disputa. Pesquisas o colocam de cinco a dez pontos atrás de Dilma Rousseff, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT). O problema não é a apresentação, embora o sr. Serra pareça maçante a não ser quando sorri, quando parece alarmante. A sra. Rousseff não tem nada de carismática e sua fraqueza é oferecer respostas de meia hora para perguntas de uma linha.
O problema do sr. Serra é que a sra. Rousseff é a sucessora escolhida de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente. Quatro-quintos dos brasileiros aprovam Lula e quase a metade diz que numa eleição presidencial votaria ou nele (se a Constituição não o impedisse de disputar um terceiro mandato consecutivo) ou no candidato dele. Desde que selecionou a sucessora, Lula a tem elevado aos céus (ela é “como Nelson Mandela”) e cruza o país com ela a tiracolo. Agora a maioria dos brasileiros sabe qual é a candidata do Lula — e cada vez mais brasileiros pretendem votar nela.
No dia 5 de agosto, o dia do primeiro debate televisionado entre os candidatos, uma empresa de pesquisas colocou a sra. Roussef com 41,6%, uma vantagem de dez pontos sobre o sr. Serra. Marina Silva do Partido Verde veio em terceiro com 9%. Excluindo as respostas inválidas, a sra. Rousseff está perto de vencer no primeiro turno. Essa pesquisa pode ser fora da média, mas outras dão a ela uma liderança crescente.
A sra. Rousseff parecia nervosa no debate e teve dificuldades para manter suas respostas curtas. O sr. Serra parecia melhor. Mas como o debate aconteceu ao mesmo tempo que uma importante partida de futebol, quase ninguém viu.
Mais preocupante para o sr. Serra, o debate demonstrou as dificuldades que ele vai enfrentar no resto da campanha. Provavelmente com razão, o sr. Serra decidiu que atacar um presidente tão popular quanto Lula não daria a ele muitos votos. Ele discorda da sra. Rousseff em algumas coisas, como a política externa e o papel do estado na economia. Mas ele concorda em outras. Ele foi obrigado a prometer continuidade de alguns dos programas de Lula, como o Bolsa Família, um empréstimo para famílias pobres. Enquanto isso, com a economia em forte crescimento, os brasileiros estão aproveitando a vida: “o fator do bem estar” agora faz parte da língua portuguesa.
Mas a estabilidade vende melhor para os governistas do que para os desafiantes. O slogan do sr. Serra, “Brasil pode mais”, exemplifica a dificuldade. Ele luta para capitalizar seu currículo. Ele é mais conhecido pelo papel que teve nos governos de Fernando Henrique Cardoso, de 1995-2002, os quais, apesar de algumas conquistas sólidas, são relembrados pelos brasileiros sem carinho.
“Para Dilma é simples: persuadir o povo de que ela representa Lula”, diz Rubens Figueiredo, um consultor político de São Paulo. “Mas Serra precisa relembrar as pessoas de que Lula não é o candidato — mas de um jeito que não seja oposição, preferivelmente sem nem mesmo mencionar Lula”.
A liderança da sra. Rousseff ainda não é insuperável. Se o sr. Serra conseguir evitar a vitória dela no primeiro turno, pode ter chance no segundo. E no Brasil sempre há a possibilidade de um escândalo ou de um desastre de campanha.
Mas ainda existem alguns votos que a sra. Rousseff pode conseguir por ser a mulher do Lula. Cerca de 8% dizem a pesquisadores que querem votar no candidato do presidente, mas não citam o nome dela.
Ela em breve terá mais oportunidades para reforçar essa ligação. A partir de 17 de agosto as estações de rádio e TV brasileiras são obrigadas a colocar anúncios políticos gratuitos, com mais tempo para os candidatos cujas alianças tem maior número de assentos no Congresso. Isso significa que a sra. Rousseff terá mais de dez minutos, três vezes por semana; o sr. Serra precisa se arranjar com pouco mais de sete minutos. Essa vantagem pode acabar sendo a decisiva.
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quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Observatório da Imprensa: JN no AR
Pra que possamos nos familiarizar sobre como pensam aqueles que fazem o principal telejornal da Rede Globo. Um dia eles vão acordar e ver que já não estão com esta bola toda.
Além dos Aviões de Carreira
Por Sylvia Moretzsohn em 10/8/2010
O show vai recomeçar. No dia 23 de agosto o Jornal Nacional iniciará uma série para turbinar a cobertura das eleições presidenciais: visitará uma cidade de cada estado brasileiro, além do Distrito Federal, a bordo de um jato Falcon 2000 – eventualmente substituído por um monomotor Caravan, no caso de municípios menores –, com o alegado objetivo de oferecer um panorama geral do modo de vida e das expectativas dos eleitores.
É uma reedição, agora pelo ar, da caravana que atravessou o país quatro anos atrás. Porém, como daquela vez, não trará novidade. Porque, como daquela vez, o principal não é informar sobre a vida e os anseios das pessoas, mas enaltecer a potência tecnológica da maior rede de televisão do país, numa evidente estratégia de marketing que apenas reforça a crítica ao desvirtuamento do jornalismo transformado em espetáculo autorreferente.
Quatro anos antes, a "caravana" Em julho de 2006, o Jornal Nacional lançava a "Caravana JN", dedicando um bloco inteiro do telejornal para exibir a grandeza dos números: 15 mil quilômetros de estradas a serem percorridas; 380 quilos de equipamentos, que garantiriam transmissão via satélite de qualquer ponto do país; dois meses a bordo de um ônibus (o "motorhome", devidamente adaptado para a "missão") e oito dias num barco atravessando parte da região Norte. Comandada pelo jornalista animador dos Big Brothers, a expedição contaria, a cada quinzena, com outra celebridade: o casal-símbolo do JN se revezaria no deslocamento para as cidades por onde o ônibus passava, para dali ancorar parte do telejornal, arrastando consigo a previsível legião de figurantes.
Poeta reincidente, o jornalista-animador caprichava nas frases de efeito. Logo na estréia, por exemplo, se inspirou no nome da cidade de onde a caravana partia – a histórica São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul – para afirmar: "Do sul talvez possamos encontrar o norte de nossa missão mais facilmente...".
Quatro anos depois, o repórter é outro, mas a profusão de lugares-comuns persiste: o projeto "JN no ar" vai "decolar", a democracia vai voar "nas asas da informação", esse voo vai nos ajudar "a escolher melhor quem vai pilotar o Brasil depois da próxima eleição".
Da mesma forma, persiste a exaltação dos números: "Vamos voar pelo menos 55 horas a bordo deste jato executivo de fabricação francesa", capaz levar, "sem escalas, a qualquer ponto do território nacional", voando "a mais de 800 km/h" e carregando "700 quilos de equipamento" eletrônico, a ser montado em cada aeroporto para o envio das reportagens.
A mesma velha história O nome escolhido para a série pode não ter sido o melhor – afinal, o JN, por definição, deve sempre estar "no ar" –, mas os propósitos declarados são os mesmos que sustentaram os da caravana, quatro anos antes: identificar "os desejos do Brasil". Não só as preferências eleitorais, não só "um retrato do estado, feito com base em dados de pesquisas de instituições respeitadas como o IBGE", mas aquilo "que não aparece nas planilhas, mas faz o orgulho de cada lugar: o bom humor dos seus moradores, suas ruas limpas (sic), sua riqueza de cultura e história".
Mereceria comentário essa intenção deliberada de exaltar as qualidades de nossa terra e nossa gente, tão característica dos tempos do "Brasil grande", quando a Globo, aliás, se firmou como campeã de audiência. Mais interessante ainda é indagar o quê, afinal, distingue esse enorme e custoso esforço de reportagem do material veiculado diariamente pela emissora. Apresentar o Brasil aos brasileiros – de preferência sem demagogias, mas aqui não se trata de discutir a orientação ideológica da empresa – acaso não é o fundamento de qualquer trabalho jornalístico?
Ao sabor do acaso Na época da "caravana", o jornalista Mário Marona comentava, em artigo reproduzido neste Observatório ("Jornal Nacional tenta retomar o caminho. De ônibus", 1/8/2006):
"Uma rede de televisão que dispõe de 121 emissoras em todo o país, entre empresas próprias e afiliadas, todas com equipes de telejornalismo e com pelo menos uma equipe exclusiva para o Jornal Nacional em cada capital, não precisaria de um ônibus para mostrar o Brasil real". Tampouco precisaria agora desse aparato aeronáutico, patrocinado por um dos maiores bancos do país, cujo logotipo viajará no leme do jatinho. Entretanto, como dizia o velho barão, há mesmo sempre algo mais no ar além dos aviões de carreira. Daí que toda essa parafernália se torna não apenas necessária como indispensável, porque o objetivo principal é a autopropaganda: legitimar-se junto ao público, exibindo seu poderio tecnológico, com a presença de jornalistas experientes, reconhecidos e reconhecíveis, identificados com a "marca" da emissora.
Nada disso é novidade, porém. A CNN teve o seu "Election Express", um ônibus que cruzou os EUA entre dezembro de 2003 e novembro de 2004, quando Bush saiu vitorioso. Na eleição de Obama, ano passado, exagerou de tal forma na mágica das holografias que poderia concorrer ao Oscar de efeitos especiais. Para o jornalismo inspirado em Hollywood, a informação é o que menos importa.
Novidade talvez seja a forma pela qual se definirá o destino do jatinho global: por sorteio, na bancada do Jornal Nacional, na véspera de cada viagem. Acrescenta-se aí um elemento típico de show de variedades, tão ao gosto da audiência. Quem sabe não se formarão listas nas "redes sociais" para tentar adivinhar as cidades a serem visitadas? Quem sabe não haverá rufar de tambores para sublinhar a excitação durante o sorteio? E o que diriam os nossos teóricos do jornalismo, ao se darem conta de que os "valores-notícia" podem oscilar ao sabor do acaso?
Resta indagar se, numa próxima visita de William Bonner a uma das nossas universidades que cultivam o convênio com a Globo, haverá alguém na platéia capaz de deixar de lado o deslumbramento para fazer as perguntas que realmente importam.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=602IMQ002
Além dos Aviões de Carreira
Por Sylvia Moretzsohn em 10/8/2010
O show vai recomeçar. No dia 23 de agosto o Jornal Nacional iniciará uma série para turbinar a cobertura das eleições presidenciais: visitará uma cidade de cada estado brasileiro, além do Distrito Federal, a bordo de um jato Falcon 2000 – eventualmente substituído por um monomotor Caravan, no caso de municípios menores –, com o alegado objetivo de oferecer um panorama geral do modo de vida e das expectativas dos eleitores.
É uma reedição, agora pelo ar, da caravana que atravessou o país quatro anos atrás. Porém, como daquela vez, não trará novidade. Porque, como daquela vez, o principal não é informar sobre a vida e os anseios das pessoas, mas enaltecer a potência tecnológica da maior rede de televisão do país, numa evidente estratégia de marketing que apenas reforça a crítica ao desvirtuamento do jornalismo transformado em espetáculo autorreferente.
Quatro anos antes, a "caravana" Em julho de 2006, o Jornal Nacional lançava a "Caravana JN", dedicando um bloco inteiro do telejornal para exibir a grandeza dos números: 15 mil quilômetros de estradas a serem percorridas; 380 quilos de equipamentos, que garantiriam transmissão via satélite de qualquer ponto do país; dois meses a bordo de um ônibus (o "motorhome", devidamente adaptado para a "missão") e oito dias num barco atravessando parte da região Norte. Comandada pelo jornalista animador dos Big Brothers, a expedição contaria, a cada quinzena, com outra celebridade: o casal-símbolo do JN se revezaria no deslocamento para as cidades por onde o ônibus passava, para dali ancorar parte do telejornal, arrastando consigo a previsível legião de figurantes.
Poeta reincidente, o jornalista-animador caprichava nas frases de efeito. Logo na estréia, por exemplo, se inspirou no nome da cidade de onde a caravana partia – a histórica São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul – para afirmar: "Do sul talvez possamos encontrar o norte de nossa missão mais facilmente...".
Quatro anos depois, o repórter é outro, mas a profusão de lugares-comuns persiste: o projeto "JN no ar" vai "decolar", a democracia vai voar "nas asas da informação", esse voo vai nos ajudar "a escolher melhor quem vai pilotar o Brasil depois da próxima eleição".
Da mesma forma, persiste a exaltação dos números: "Vamos voar pelo menos 55 horas a bordo deste jato executivo de fabricação francesa", capaz levar, "sem escalas, a qualquer ponto do território nacional", voando "a mais de 800 km/h" e carregando "700 quilos de equipamento" eletrônico, a ser montado em cada aeroporto para o envio das reportagens.
A mesma velha história O nome escolhido para a série pode não ter sido o melhor – afinal, o JN, por definição, deve sempre estar "no ar" –, mas os propósitos declarados são os mesmos que sustentaram os da caravana, quatro anos antes: identificar "os desejos do Brasil". Não só as preferências eleitorais, não só "um retrato do estado, feito com base em dados de pesquisas de instituições respeitadas como o IBGE", mas aquilo "que não aparece nas planilhas, mas faz o orgulho de cada lugar: o bom humor dos seus moradores, suas ruas limpas (sic), sua riqueza de cultura e história".
Mereceria comentário essa intenção deliberada de exaltar as qualidades de nossa terra e nossa gente, tão característica dos tempos do "Brasil grande", quando a Globo, aliás, se firmou como campeã de audiência. Mais interessante ainda é indagar o quê, afinal, distingue esse enorme e custoso esforço de reportagem do material veiculado diariamente pela emissora. Apresentar o Brasil aos brasileiros – de preferência sem demagogias, mas aqui não se trata de discutir a orientação ideológica da empresa – acaso não é o fundamento de qualquer trabalho jornalístico?
Ao sabor do acaso Na época da "caravana", o jornalista Mário Marona comentava, em artigo reproduzido neste Observatório ("Jornal Nacional tenta retomar o caminho. De ônibus", 1/8/2006):
Nada disso é novidade, porém. A CNN teve o seu "Election Express", um ônibus que cruzou os EUA entre dezembro de 2003 e novembro de 2004, quando Bush saiu vitorioso. Na eleição de Obama, ano passado, exagerou de tal forma na mágica das holografias que poderia concorrer ao Oscar de efeitos especiais. Para o jornalismo inspirado em Hollywood, a informação é o que menos importa.
Novidade talvez seja a forma pela qual se definirá o destino do jatinho global: por sorteio, na bancada do Jornal Nacional, na véspera de cada viagem. Acrescenta-se aí um elemento típico de show de variedades, tão ao gosto da audiência. Quem sabe não se formarão listas nas "redes sociais" para tentar adivinhar as cidades a serem visitadas? Quem sabe não haverá rufar de tambores para sublinhar a excitação durante o sorteio? E o que diriam os nossos teóricos do jornalismo, ao se darem conta de que os "valores-notícia" podem oscilar ao sabor do acaso?
Resta indagar se, numa próxima visita de William Bonner a uma das nossas universidades que cultivam o convênio com a Globo, haverá alguém na platéia capaz de deixar de lado o deslumbramento para fazer as perguntas que realmente importam.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=602IMQ002
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As Entrevistas do JN
O que podemos dizer dessas entrevistas? Houve tratamento diferenciado ou não? É possível apontar algo relevante para influenciar na definicção do voto de uma pessoa?
Sinceramente, não acredito que tenha servido para muita coisa. Ainda que tenham aliviado pro Serra - e aí ficou feio para a emissora que já não goza de tanto prestígio -, o tempo fez com que a abordagem dos assuntos fossem superficiais.
Sobre o tratamento, o Serra foi menos interrompido e bem mais poupado. Essa exposição da emissora revela o esforço que está sendo feito para tentar melhorar a performance do candidato que corre o risco de começar o guia eleitoral pelo menos 10 pontos atrás de Dilma Rousseff. E assim podemos dizer que a emissora tem candidato definindo.
É interessante observar que, na entrevista da Dilma, a tática foi de tirá-la do sério, com perguntas sobre se maltratava colegas de trabalho ou se seria tutelada (fantoche) pelo Lula. O Bonner foi mais agressivo e a interrompeu constantemente. Com o Serra foi diferente. Ele teve tempo para divagar sobre as perguntas e muito pouco foi interrompido.
Um outro aspecto foi o do mensalão do PT, que esteve presente, tanto na entrevista da Marina, quanto na do Serra. Na deste último ficou a dívida sobre o mensalão mineiro e do DEM no Distrito Federal, bem como sobre a questão do José Roberto Arruda, que era o mais cotado para ser o vice do Serra na chapa presidencial.
Enfim, infelizmente deu a lógica. Era o que se esperava da emissora, não iria ser diferente disto. Vamos ver se este esforço todo vai dar algum resultado nas próximas pesquisas de intenção de voto. Acredito que não. Nem tanto pela capacidade de penetração do programa da emissora, mas pelo fato de que ele já não é tão relevante para definir o voto do cidadão brasileiro.
Sinceramente, não acredito que tenha servido para muita coisa. Ainda que tenham aliviado pro Serra - e aí ficou feio para a emissora que já não goza de tanto prestígio -, o tempo fez com que a abordagem dos assuntos fossem superficiais.
Sobre o tratamento, o Serra foi menos interrompido e bem mais poupado. Essa exposição da emissora revela o esforço que está sendo feito para tentar melhorar a performance do candidato que corre o risco de começar o guia eleitoral pelo menos 10 pontos atrás de Dilma Rousseff. E assim podemos dizer que a emissora tem candidato definindo.
É interessante observar que, na entrevista da Dilma, a tática foi de tirá-la do sério, com perguntas sobre se maltratava colegas de trabalho ou se seria tutelada (fantoche) pelo Lula. O Bonner foi mais agressivo e a interrompeu constantemente. Com o Serra foi diferente. Ele teve tempo para divagar sobre as perguntas e muito pouco foi interrompido.
Um outro aspecto foi o do mensalão do PT, que esteve presente, tanto na entrevista da Marina, quanto na do Serra. Na deste último ficou a dívida sobre o mensalão mineiro e do DEM no Distrito Federal, bem como sobre a questão do José Roberto Arruda, que era o mais cotado para ser o vice do Serra na chapa presidencial.
Enfim, infelizmente deu a lógica. Era o que se esperava da emissora, não iria ser diferente disto. Vamos ver se este esforço todo vai dar algum resultado nas próximas pesquisas de intenção de voto. Acredito que não. Nem tanto pela capacidade de penetração do programa da emissora, mas pelo fato de que ele já não é tão relevante para definir o voto do cidadão brasileiro.
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quarta-feira, 11 de agosto de 2010
E o Bonner desencantou: A Entrevista de Serra no JN
Bem diferente o tratamento do Bonner com o Serra. Sem interrupções bruscas, cordial (no final até pediu desculpas por ter que interromper o candidato - que meigo!). É, parece que houve uma "evolução". Na verdade uma vergonha o tratamento diferenciado usado pelo Jornal Nacional. Mais uma vez o mensalão petista estava em evidência, juntamente com o da oposição (pra fazer o devido contraponto, e, claro, passando de raspão). Faltou o Arruda, faltou aprofundar mais na questão dos pedágios paulistas e do apoio do Bob Jefferson. Mas tem o tempo, não é? E o Serra falou em saúde, saúde e saúde. Mas seria muito esperar algo diferente da emissora. Vamos em frente.
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Entrevista com Marina Silva no JN
Marina conseguiu "domesticar" melhor o processo da entrevista e o Bonner ficou mais delicado.
Agora, esta história de que vai colocar apenas os melhores técnicos nos postos chave da República, aí fica difícil acreditar.
A saia justa foi a questão do "mensalão". Se for para o plano puramente ético a Marina tinha que ter saído imediatamente do governo ou simplesmente não ter entrado na política nacional. Talvez ela tivesse sido mais sincera se explanasse alguma idéia do que fazer contra a cultura do caixa dois neste país. Ficou no genérico combate à corrupção.
Explanou bem suas idéias ambientais e foi segura.
Agora, esta história de que vai colocar apenas os melhores técnicos nos postos chave da República, aí fica difícil acreditar.
A saia justa foi a questão do "mensalão". Se for para o plano puramente ético a Marina tinha que ter saído imediatamente do governo ou simplesmente não ter entrado na política nacional. Talvez ela tivesse sido mais sincera se explanasse alguma idéia do que fazer contra a cultura do caixa dois neste país. Ficou no genérico combate à corrupção.
Explanou bem suas idéias ambientais e foi segura.
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terça-feira, 10 de agosto de 2010
Entrevista com Dilma Rousseff no Jornal Nacional
Parece que o Bonner se empolgou e quis imprimir um ritmo tipo "hard talk". Teve que ser contido pela esposa e co-apresentadora. A verdade é que neste formato de entrevista, em que se tem pouco mais de 10 minutos para expor idéias fica complicado se aprofundar nos assuntos. O que resta é avaliar o desempenho do candidato no que se refere ao equilíbrio e a capacidade de síntese nas respostas. A Dilma se saiu bem, conseguindo fazer as devidas comparações com o governo anterior e respondendo com tranquilidade.
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Globonews e Eleições 2010
Um bom debate sobre as eleições 2010 com o jornalista da Revista Época, Paulo Moreira Leite e o cientista politico, Alberto Carlos Almeida. Tema central: a liderança e crescimento da candidatura Dilma Rousseff e os problemas enfrentados pela oposição nesta eleições. A avaliação do governo Lula, o momento econômico e as estratégias políticas das principais candidaturas. Muito bom.
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