O texto retrata como se darao as relacoes entre a politica e as classes sociais no Brasil, e como, hoje, as oposicoes tem tanta dificuldade de manter uma identidade com tais classes, em especial com as intermediarias. Sera que teremos uma hegemonia do PT e de seus partidos aliados pelos proximos anos? Havera tempo para as oposicoes tomarem um novo rumo sob o comando de novas liderancas antenadas com os fenomenos que estao transformando o pais e a sociedade brasileira?
Por Joao Carlos RB
do blog do Nassif
Nassif, o problema é que é essa nova dinâmica social que determinará o surgimento de uma nova oposição. No Brasil existem as classe A, B, C, D e E. As classes A e B são inexpressivas eleitoralmente, mas partidos políticos que as representam sempre ganharam as eleições. Daí surgiu a hipótese dos formadores de opinião e das "ondas do lago", indicando que a classe B influenciava as outras classes sociais.
Havia alguns problemas com essa hipótese. A classe C aparentemente não seria influenciada pela classe B, pois a classe C sempre foi o núcleo dos eleitores e militantes do PT, os tais de 30% que o Lula sempre tinha em eleições. Isso deve-se ao fato que a classe C são constituídos, em sua maioria, por trabalhadores com carteira assinada e sindicalizados, vide os operários do ABC, que é onde o PT surgiu.
Todavia, de 2006 para cá a classe B não está influenciando o resultado de qualquer eleição nacional e devemos, portanto, procurar outra hipótese de trabalho. Resta a análise de que as classes D e E são conservadoras, hipótese defendida pelo Sader. Ao promover a melhoria da vida dessas classes, as classes D e E procuram conservar o que guanharam no governo Lula, daí decidiram votar na continuidade que é a Dilma.
Entretanto, observem que o processo de desconcentração de renda, que é devido muito mais às políticas do governo Lula do que a oposição atual consegue admitir, gera a ascenção das classes D e E para a classe C. Por ascenção à classe C entenda-se não só a melhoria no padrão de vida e na capacidade de consumo, mas questões sociais básicas como ter carteira assinada. Esse constingente, ao longo dos próximos anos, incorporará as características básicas da classe C, incluindo a sindicalização. A tendência, ao longo dos próximos 10 a 20 anos, é se somarem aos eleitores e militantes do PT, não importando a situação histórica e econômica do momento. Portanto, não esperem deles uma base social para a oposição.
O que pode acontecer é que, caso o crescimento econômico continue forte nos próximos anos, o que acredito possível, pois aparentemente entramos num novo ciclo de crescimento acelerado, se desenvolva uma nova classe B. Todavia, enquanto a classe C parece incorporar sem resistências a ascenção das classes D e E, duvido que tal processo ocorra com a classe B sem traumas.
A classe B que existe atualmente é o núcleo social do antipetismo e possui como característica essencial o elitismo. Antes que alguém tente discutir o último comentário, o fato é que quando houve a massificação do ensino básico durante o regime militar, a classe B retirou os filhos das escolas públicas e colocou-os em escolas particulares, demonstrando ser uma classe elitista e excludente.
A atual classe B não aceitará de bom grado a ascenção da classe C, que para eles é "petista" (observem nos comentários em vários blogs como qualquer defesa do governo Lula ou crítica à oposição sempre aparece a acusação de que o comentarista é "petista"; todavia, também é digno de nota que a nova classe B ascende da classe C, que é o núcleo social do PT). Também não concordará com a possibilidade de ter de concorrer por empregos, educação, saúde, lazer, consumo e prestígio com essa nova classe B. E talvez seja a observação de que isso possa acontecer ou talvez o fato de que isso esteja começando a acontecer que explique o "anti-petismo" vigente na maior parte dos membros da classe B. Observem que é essa "antiga" classe B que é a base social da oposição atual.
Contudo, se a classe B atual tentar exlcuir a classe B que está emergindo, conseguirá apenas se excluir. A classe B que está ascendendo da classe C superará em número a classe B atual em duas a três vezes quando o processo de ascenção social tiver terminado. Desse modo, a nova classe B fatalmente ganhará qualquer competição com a "antiga" classe B, restando à essa aceitar a assimilação aos ascendetes e a aceitação dos seu ideário político-social.
Sendo assim, qualquer fator que explique criação de uma nova oposição deve levar em conta os seguintes processo sociais que estão ocorrendo:
1- a ascenção social das classes D e E para a classe C e a concomitante e posterior ascenção da classe C para a B, caso o crescimento econômico permaneça forte;
2- a consolidação das posições sociais pelos ascendentes, que no caso das classe D e E que chegaram à C significa a sindicalização e o desenvolvimento da capacidade de auto-organização; e no caso da "nova" classe B a competição e posterior substituição, conforme essa nova classe social adquira superioridade numérica, da "antiga" classe B.
A minha conclusão é que, em primeiro lugar, uma nova oposição só surgirá conforme o processo de ascenção social e, principalmente, sua consolidação estiver concluido. Esse processo demandará de 15 a 20 anos, no mínimo.
Em segundo lugar, o contingente da nova classe C tende a adquirir as características da classe C atual, incluindo o sindicalismo. Essa nova classe C, que agora vota no PT para "conservar" (pois mantém as características conservadoras das classes D e E) as conquistas adquiridas, deverá a continuar a votar no PT por razões de classe social. Observem que na estrutura social que está sendo construída a classe C representará em torno de metade da população brasileria e será o maior contingente de eleitores, seguida pela classe B. O resultado provável será uma presença por um prazo longo do PT no governo, seja comandando-o ou sendo membro de uma coligação. Aliás, de modo bem similar à presença constante do PMDB em todos os governos desde a década de 80.
Finalmente, a nova classe B que parece estar ascendendo da classe C deverá adotar um ideário político diferente da atual classe B, em especial pela tendência elitista da atual classe B e excluir os ascendentes e como forma de auto-afirmação e diferenciação. Entretanto, como serão o segundo contingente eleitoral, talvez achem mais razoável e produtivo coligar-se à classe C. O modelo politico seria similar ao que foi tentado por Getúlio Vargas que criou o PSD e o PTB no final da década de 40.
Em conclusão, o modelo de coligação política que se consolidará ao longos dos próximos 20 anos não vislumbra o surgimento de uma oposição com reais chances de chegar ao poder.
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sábado, 26 de junho de 2010
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Leandro Fortes: O Fim do Besteirol Esportivo
Sempre achei a linguagem esportiva brasileira bem infantilizada. Talvez seja em virtude da nova abordagem que se impos em razao dos valores envolvidos nos negocios.
A Nova Era Dunga: O Fim do Besteirol Esportivo
Por Leandro Fortes
Foi na Copa do Mundo de 1986, no México, com Fernando Vanucci, então apresentador da TV Globo, que a cobertura esportiva brasileira abandonou qualquer traço de jornalismo para se transformar num evento circense, onde a palhaçada, o clichê e o trocadilho infame substituíram a informação, ou pelo menos a tornaram um elemento periférico. Vanucci, simpático e bonachão, criou um mote (“alô você!”) para tornar leve e informal a comunicação nos programas esportivos da Globo, mas acabou por contaminar, involuntariamente, todas as gerações seguintes de jornalistas com a falsa percepção de que a reportagem esportiva é, basicamente, um encadeamento de gracinhas televisivas a serem adaptadas às demais linguagens jornalísticas, a partir do pressuposto de que o consumidor de informações de esporte é, basicamente, um retardado mental. Por diversas razões, Vanucci deixou a Globo, mas a Globo nunca mais abandonou o estilo unidunitê-salamê-minguê nas suas coberturas esportivas, povoadas por sorridentes repórteres de camisa pólo colorida. Aliás, para ser justo, não só a Globo. Todas as demais emissoras adotaram o mesmo estilo, com igual ou menor competência, dali para frente.
Passados quase 25 anos, o estilo burlesco de se cobrir esporte no Brasil passou a ser uma regra, quando não uma doutrina, apoiado na tese de que, ao contrário das demais áreas de interesse humano, esporte é apenas uma brincadeira, no fim das contas. Pode ser, quando se fala de handebol, tênis de mesa e salto ornamental, mas não de futebol. O futebol, dentro e fora do país, mobiliza imensos contingentes populacionais e está baseado num fluxo de negócios que envolve, no todo, bilhões de reais. Ao lado de seu caráter lúdico, caminha uma identidade cultural que, no nosso caso, confunde-se com a própria identidade nacional, a ponto de somente ele, o futebol, em tempos de copa, conseguir agregar à sociedade brasileira um genuíno caráter patriótico. Basta ver os carros cobertos de bandeiras no capô e de bandeirolas nas janelas. É o momento em que mesmos os ricos, sempre tão envergonhados dos maus modos da brasilidade, passam a ostentar em seus carrões importados e caminhonetes motor 10.0 esse orgulho verde-e-amarelo de ocasião. Não é pouca coisa, portanto.
Na Copa de 2006, na Alemanha, essa encenação jornalística chegou ao ápice em torno da idolatria forçada em torno da seleção brasileira penta campeã do mundo, então comandada pelo gentil Carlos Alberto Parreira. Naquela copa, a dominação da TV Globo sobre o evento e o time chegou ao paroxismo. A área de concentração da seleção tornou-se uma espécie de playground particular dos serelepes repórteres globais, lá comandados pela esfuziante Fátima Bernardes, a produzir pequenos reality shows de dentro do ônibus do escrete canarinho. Na época, os repórteres da Globo eram obrigados a entrar ao vivo com um sorriso hiperplastificado no rosto, com o qual ficavam paralisados na tela, como em uma overdose de botox, durante aqueles segundos infindáveis de atraso de sinal que separam as transmissões intercontinentais. Quatro anos antes, Fátima Bernardes havia conquistado espaço semelhante na bem sucedida seleção de Felipão. Sob os olhos fraternais do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi eleita a musa dos jogadores, na Copa de 2002, no Japão. Dentro do ônibus da seleção. Alguém se lembra disso? Eu e a Globo lembramos, está aqui.
O estilo grosseiro e inflexível de Dunga desmoronou esse mundo colorido da Globo movido por reportagens engraçadinhas e bajulações explícitas confeitadas por patriotadas sincronizadas nos noticiários da emissora. Sem acesso direto, exclusivo e permanente aos jogadores e aos vestiários, a tropa de jornalistas enviada à África do Sul se viu obrigada a buscar informações de bastidores, a cavar fontes e fazer gelados plantões de espera com os demais colegas de outros veículos. Enfim, a fazer jornalismo. E isso, como se sabe, dá um trabalho danado. Esse estado de coisas, ao invés de se tornar um aprendizado, gerou uma reação rançosa e desproporcional, bem ao estilo dos meninos mimados que só jogam porque são donos da bola. Assim, o sorriso plástico dos repórteres e apresentadores se transformou em carranca e, as gracinhas, em um patético editorial.
Dunga será demitido da seleção, vença ou perca o mundial. Os interesses comerciais da TV Globo e da CBF estão, é claro, muito acima de sua rabugice fronteiriça e de sua saudável disposição de não se submeter à vontade de jornalistas acostumados a abrir caminho com um crachá na mão. Mas poderá nos deixar de herança o fim de uma era medíocre da crônica esportiva, agora defrontada com um fenômeno com o qual ela pensava não mais ter que se debater: o jornalismo.
A Nova Era Dunga: O Fim do Besteirol Esportivo
Por Leandro Fortes
Foi na Copa do Mundo de 1986, no México, com Fernando Vanucci, então apresentador da TV Globo, que a cobertura esportiva brasileira abandonou qualquer traço de jornalismo para se transformar num evento circense, onde a palhaçada, o clichê e o trocadilho infame substituíram a informação, ou pelo menos a tornaram um elemento periférico. Vanucci, simpático e bonachão, criou um mote (“alô você!”) para tornar leve e informal a comunicação nos programas esportivos da Globo, mas acabou por contaminar, involuntariamente, todas as gerações seguintes de jornalistas com a falsa percepção de que a reportagem esportiva é, basicamente, um encadeamento de gracinhas televisivas a serem adaptadas às demais linguagens jornalísticas, a partir do pressuposto de que o consumidor de informações de esporte é, basicamente, um retardado mental. Por diversas razões, Vanucci deixou a Globo, mas a Globo nunca mais abandonou o estilo unidunitê-salamê-minguê nas suas coberturas esportivas, povoadas por sorridentes repórteres de camisa pólo colorida. Aliás, para ser justo, não só a Globo. Todas as demais emissoras adotaram o mesmo estilo, com igual ou menor competência, dali para frente.
Passados quase 25 anos, o estilo burlesco de se cobrir esporte no Brasil passou a ser uma regra, quando não uma doutrina, apoiado na tese de que, ao contrário das demais áreas de interesse humano, esporte é apenas uma brincadeira, no fim das contas. Pode ser, quando se fala de handebol, tênis de mesa e salto ornamental, mas não de futebol. O futebol, dentro e fora do país, mobiliza imensos contingentes populacionais e está baseado num fluxo de negócios que envolve, no todo, bilhões de reais. Ao lado de seu caráter lúdico, caminha uma identidade cultural que, no nosso caso, confunde-se com a própria identidade nacional, a ponto de somente ele, o futebol, em tempos de copa, conseguir agregar à sociedade brasileira um genuíno caráter patriótico. Basta ver os carros cobertos de bandeiras no capô e de bandeirolas nas janelas. É o momento em que mesmos os ricos, sempre tão envergonhados dos maus modos da brasilidade, passam a ostentar em seus carrões importados e caminhonetes motor 10.0 esse orgulho verde-e-amarelo de ocasião. Não é pouca coisa, portanto.
Na Copa de 2006, na Alemanha, essa encenação jornalística chegou ao ápice em torno da idolatria forçada em torno da seleção brasileira penta campeã do mundo, então comandada pelo gentil Carlos Alberto Parreira. Naquela copa, a dominação da TV Globo sobre o evento e o time chegou ao paroxismo. A área de concentração da seleção tornou-se uma espécie de playground particular dos serelepes repórteres globais, lá comandados pela esfuziante Fátima Bernardes, a produzir pequenos reality shows de dentro do ônibus do escrete canarinho. Na época, os repórteres da Globo eram obrigados a entrar ao vivo com um sorriso hiperplastificado no rosto, com o qual ficavam paralisados na tela, como em uma overdose de botox, durante aqueles segundos infindáveis de atraso de sinal que separam as transmissões intercontinentais. Quatro anos antes, Fátima Bernardes havia conquistado espaço semelhante na bem sucedida seleção de Felipão. Sob os olhos fraternais do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi eleita a musa dos jogadores, na Copa de 2002, no Japão. Dentro do ônibus da seleção. Alguém se lembra disso? Eu e a Globo lembramos, está aqui.
O estilo grosseiro e inflexível de Dunga desmoronou esse mundo colorido da Globo movido por reportagens engraçadinhas e bajulações explícitas confeitadas por patriotadas sincronizadas nos noticiários da emissora. Sem acesso direto, exclusivo e permanente aos jogadores e aos vestiários, a tropa de jornalistas enviada à África do Sul se viu obrigada a buscar informações de bastidores, a cavar fontes e fazer gelados plantões de espera com os demais colegas de outros veículos. Enfim, a fazer jornalismo. E isso, como se sabe, dá um trabalho danado. Esse estado de coisas, ao invés de se tornar um aprendizado, gerou uma reação rançosa e desproporcional, bem ao estilo dos meninos mimados que só jogam porque são donos da bola. Assim, o sorriso plástico dos repórteres e apresentadores se transformou em carranca e, as gracinhas, em um patético editorial.
Dunga será demitido da seleção, vença ou perca o mundial. Os interesses comerciais da TV Globo e da CBF estão, é claro, muito acima de sua rabugice fronteiriça e de sua saudável disposição de não se submeter à vontade de jornalistas acostumados a abrir caminho com um crachá na mão. Mas poderá nos deixar de herança o fim de uma era medíocre da crônica esportiva, agora defrontada com um fenômeno com o qual ela pensava não mais ter que se debater: o jornalismo.
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