sábado, 26 de junho de 2010

Nassif: As Classes Sociais e as Eleicoes no Brasil

O texto retrata como se darao as relacoes entre a politica e as classes sociais no Brasil, e como, hoje, as oposicoes tem tanta dificuldade de manter uma identidade com tais classes, em especial com as intermediarias. Sera que teremos uma hegemonia do PT e de seus partidos aliados pelos proximos anos? Havera tempo para as oposicoes tomarem um novo rumo sob o comando de novas liderancas antenadas com os fenomenos que estao transformando o pais e a sociedade brasileira?

Por Joao Carlos RB
do blog do Nassif


Nassif, o problema é que é essa nova dinâmica social que determinará o surgimento de uma nova oposição. No Brasil existem as classe A, B, C, D e E. As classes A e B são inexpressivas eleitoralmente, mas partidos políticos que as representam sempre ganharam as eleições. Daí surgiu a hipótese dos formadores de opinião e das "ondas do lago", indicando que a classe B influenciava as outras classes sociais.
Havia alguns problemas com essa hipótese. A classe C aparentemente não seria influenciada pela classe B, pois a classe C sempre foi o núcleo dos eleitores e militantes do PT, os tais de 30% que o Lula sempre tinha em eleições. Isso deve-se ao fato que a classe C são constituídos, em sua maioria, por trabalhadores com carteira assinada e sindicalizados, vide os operários do ABC, que é onde o PT surgiu.
Todavia, de 2006 para cá a classe B não está influenciando o resultado de qualquer eleição nacional e devemos, portanto, procurar outra hipótese de trabalho. Resta a análise de que as classes D e E são conservadoras, hipótese defendida pelo Sader. Ao promover a melhoria da vida dessas classes, as classes D e E procuram conservar o que guanharam no governo Lula, daí decidiram votar na continuidade que é a Dilma.
Entretanto, observem que o processo de desconcentração de renda, que é devido muito mais às políticas do governo Lula do que a oposição atual consegue admitir, gera a ascenção das classes D e E para a classe C. Por ascenção à classe C entenda-se não só a melhoria no padrão de vida e na capacidade de consumo, mas questões sociais básicas como ter carteira assinada. Esse constingente, ao longo dos próximos anos, incorporará as características básicas da classe C, incluindo a sindicalização. A tendência, ao longo dos próximos 10 a 20 anos, é se somarem aos eleitores e militantes do PT, não importando a situação histórica e econômica do momento. Portanto, não esperem deles uma base social para a oposição.
O que pode acontecer é que, caso o crescimento econômico continue forte nos próximos anos, o que acredito possível, pois aparentemente entramos num novo ciclo de crescimento acelerado, se desenvolva uma nova classe B. Todavia, enquanto a classe C parece incorporar sem resistências a ascenção das classes D e E, duvido que tal processo ocorra com a classe B sem traumas.
A classe B que existe atualmente é o núcleo social do antipetismo e possui como característica essencial o elitismo. Antes que alguém tente discutir o último comentário, o fato é que quando houve a massificação do ensino básico durante o regime militar, a classe B retirou os filhos das escolas públicas e colocou-os em escolas particulares, demonstrando ser uma classe elitista e excludente.
A atual classe B não aceitará de bom grado a ascenção da classe C, que para eles é "petista" (observem nos comentários em vários blogs como qualquer defesa do governo Lula ou crítica à oposição sempre aparece a acusação de que o comentarista é "petista";  todavia, também é digno de nota que a nova classe B ascende da classe C, que é o núcleo social do PT). Também não concordará com a possibilidade de ter de concorrer por empregos,  educação, saúde, lazer, consumo e prestígio com essa nova classe B. E talvez seja a observação de que isso possa acontecer ou talvez o fato de que isso esteja começando a acontecer que explique o "anti-petismo" vigente na maior parte dos membros da classe B. Observem que é essa "antiga" classe B que é a base social da oposição atual.
Contudo, se a classe B atual tentar exlcuir a classe B que está emergindo, conseguirá apenas se excluir. A classe B que está ascendendo da classe C superará em número a classe B atual em duas a três vezes quando o processo de ascenção social tiver terminado. Desse modo, a nova classe B fatalmente ganhará qualquer competição com a "antiga" classe B, restando à essa aceitar a assimilação aos ascendetes e a aceitação dos seu ideário político-social.
Sendo assim, qualquer fator que explique criação de uma nova oposição deve levar em conta os seguintes processo sociais que estão ocorrendo:
1- a ascenção social das classes D e E para a classe C e a concomitante e posterior ascenção da classe C para a B, caso o crescimento econômico permaneça forte;
2- a consolidação das posições sociais pelos ascendentes, que no caso das classe D e E que chegaram à C significa a sindicalização e o desenvolvimento da capacidade de auto-organização; e no caso da "nova" classe B a competição e posterior substituição, conforme essa nova classe social adquira superioridade numérica, da "antiga" classe B.
A minha conclusão é que, em primeiro lugar, uma nova oposição só surgirá conforme o processo de ascenção social e, principalmente, sua consolidação estiver concluido. Esse processo demandará de 15 a 20 anos, no mínimo.
Em segundo lugar, o contingente da nova classe C tende a adquirir as características da classe C atual, incluindo o sindicalismo. Essa nova classe C, que agora vota no PT para "conservar" (pois mantém as características conservadoras das classes D e E) as conquistas adquiridas, deverá a continuar a votar no PT por razões de classe social. Observem que na estrutura social que está sendo construída a classe C representará em torno de metade da população brasileria e será o maior contingente de eleitores, seguida pela classe B. O resultado provável será uma presença por um prazo longo do PT no governo, seja comandando-o ou sendo membro de uma coligação. Aliás, de modo bem similar à presença constante do PMDB em todos os governos desde a década de 80.
Finalmente, a nova classe B que parece estar ascendendo da classe C deverá adotar um ideário político diferente da atual classe B, em especial pela tendência elitista da atual classe B  e excluir os ascendentes e como forma de auto-afirmação e diferenciação. Entretanto, como serão o segundo contingente eleitoral, talvez achem mais razoável e produtivo coligar-se à classe C. O modelo politico seria similar ao que foi tentado por Getúlio Vargas que criou o PSD e o PTB no final da década de 40.
Em conclusão, o modelo de coligação política que se consolidará ao longos dos próximos 20 anos não vislumbra o surgimento de uma oposição com reais chances de chegar ao poder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário