sábado, 20 de fevereiro de 2010

Não temos medo de tomar decisões, diz Lula sobre estatização

Da Agência Brasil

Lísia Gusmão
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o discurso de lançamento da pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff como sua sucessora para afirmar que o Estado deve ter o papel de indutor e regulador na administração do país, mas não descartou a hipótese de estatizações em setores considerados estratégicos. E reforçou que gostaria que Dilma cumprisse dois mandatos.

“Dizem que a Dilma é estatizante. Isso não é ruim. É bom. Aquilo que for estratégico, nós não teremos medo de tomar decisões. O Estado não tem que ser gerenciador, pois cria uma aristocracia administrativa. O Estado tem que ser indutor e regulador”, disse. “E eu quero eleger a Dilma Rousseff presidente da República para que ela tenha autoridade política para um segundo mandato”, completou.

Deixando a questão econômica de lado, o presidente mandou um recado aos partidos da base aliada sobre as disputas regionais. Para Lula, interesses regionais não poderão afetar o projeto nacional que é a eleição de Dilma Rousseff.
“Não podemos permitir que os interesses de uma região possam atrapalhar os interesses nacionais. Se não tiver jeito, o que vai prevalecer é a decisão nacional”, avisou.

O presidente Lula acrescentou que Dilma Rousseff é candidata do mais importante partido de esquerda da América Latina e de uma coalizão de partidos “muito poderosa”, mas não é “candidata do Lula”. O presidente negou que pretenda tentar a volta ao poder nas eleições de 2014.
“Rei morto rei posto. O político perverso, não sério, nunca indicaria uma pessoa para ganhar se ele pensasse em voltar. Ele preferiria que ganhasse um adversário.”

A Grécia e os Corsários Financeiros

Belo artigo do Clóvis Rossi na Folha de São Paulo sobre a crise na Grécia. Revela a ação livre do capital financeiro especulativo em determinados mercados, prejudicando países economicamente frágeis e faz uma comparação com o sistema de seguros, tomando por base o preceito básico do interesse no bem assegurado por parte de quem faz o seguro. 
Muito interessante também o comentário da Chanceler alemã conservadora Angela Merkel ao afirmar: "Seria uma desgraça se for verdade que os bancos que já nos puxaram para a beira do abismo tomaram também parte na falsificação das estatísticas gregas". Certamente o sistema financeiro mundial não será mais o mesmo do que foi alguns anos atrás.

CLÓVIS ROSSI

Licença para queimar a casa (a sua)

Crise na Grécia é também nova aventura dos corsários da banca; só se tornou aguda com ataque especulativo


VOCÊ JÁ deve ter lido tudo o que a ortodoxia -hegemônica no mundo- tem a dizer sobre a crise na Grécia, que ameaça até o euro, uma das duas únicas moedas de reserva do planeta, atrás do dólar.
Culpa do governo, que gasta demais e é irresponsável ao ponto de falsificar as estatísticas. Foi o governo anterior, conservador, não o atual, social-democrata, mas não adianta: paga o Estado grego, seja quem for o responsável ou o ocupante de turno.
Nenhuma dessas acusações é falsa. Mas elas não contam a história inteira da crise na Grécia.
Ela só se tornou aguda a ponto de ameaçar quebrar o país por conta de um ataque especulativo praticado por instituições financeiras.
O ataque especulativo usou, entre outros, um instrumento muito citado desde que a crise global se instalou, mas é muito pouco compreendido, os tais CDSs (Credit Default Swaps). Trata-se, para simplificar, de um espécie de apólice de seguro contra "default" (calote, em linguagem de gente normal).
Para entender melhor como funciona, recorro a artigo para o "Financial Times" do dia 11 de James Rickards, hoje na Omnis, mas que foi conselheiro da Long-Term Capital Management, que quebrou anos atrás também envolvida em transações nebulosas.
Rickards lembra que, por 250 anos, o mercado de seguros funcionou com base em um preceito básico: o do interesse no bem assegurado por parte de quem fazia o seguro. Escreve Rickards: "Seu vizinho não pode comprar um seguro sobre sua casa porque ele não tem interesse "assegurável" nela. Esse tipo de seguro é considerado não saudável porque causaria no vizinho o desejo de que sua casa queimasse -e ele poderia até acender o fósforo".
O CDS é, basicamente, esse tipo de seguro não saudável, vendido e revendido em troca de gordas comissões. Pior: no caso da Grécia, o "vizinho" (o mercado financeiro) de fato acendeu o fósforo. Só não queimou o país todo porque a União Europeia funcionou como Corpo de Bombeiros, relutante, mas bombeiros ao fim e ao cabo.
Pior ainda: os piromaníacos do mercado financeiro ajudaram a acumular material inflamável na casa chamada Grécia, oferecendo instrumentos para maquiar as estatísticas lá atrás.
Comentário de Angela Merkel, a chanceler (conservadora) alemã: "Seria uma desgraça se for verdade que os bancos que já nos puxaram para a beira do abismo tomaram também parte na falsificação das estatísticas gregas".

Leia mais: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2002201006.htm

Banda Larga Popular: O Estado Indutor

A inclusão digital é, hoje, um dos objetivos pelo qual os governos mais se empenham. Não é à-toa que o Estado de São Paulo editou, em outubro de 2009, decreto que isenta de ICMS o serviço de banda larga popular, com preço máximo de R$ 29,80 ao mês e velocidade de acesso de 200 kbps a 1Mbps, e que deveria beneficiar de imediato cerca de 2,5 milhões de domicílios. Neste caso, a desoneração tributária da iniciativa privada deveria ser elemento indutor de investimentos para as classes menos favorecidas. Acontece que a simples redução da carga tributária não demostrou ser eficaz no intento de massificação do produto. Isto porque problemas alegados pelas empresas, como a Telefônica em São Paulo, têm impedido a redução de preços na oferta do serviço. Alguns aspectos técnicos e jurídicos, como bem explanado por Lia Ribeiro, no seu texto "A Montanha pariu um Rato", do Observatório da Imprensa, referindo-se ao caso de São Paulo: 

"Qual é o motivo do fraco desempenho de um programa de apelo popular e que oferece um serviço que hoje é o "objeto de desejo" de toda família que tem um computador em casa? De acordo com dados da PNAD, do IBGE, existem 690 mil domicílios no estado de São Paulo que têm computador mas não têm acesso à internet, e outros 1,752 milhão que usam a internet por linha discada.

Embora as questões sejam complexas, pois envolvem temas de ordem jurídica e regulatória, não é difícil entender o que está acontecendo. A banda larga é um serviço prestado em regime privado, portanto a operadora não está obrigada a fazer uma oferta isonômica para toda a população. Nem tem obrigação de oferecê-lo se não tiver condições técnicas para atender a solicitação de um cliente. Só que o governo do Estado de São Paulo, ao isentar o serviço, nas condições definidas pelo decreto, entendeu que a oferta da operadora tem que atender a todos, assinantes e não assinantes. Isso acabou praticamente eliminando a possibilidade de se usar a rede telefônica, porque a Telefônica avalia que terá prejuízo se ofertar a banda larga a R$ 29,80 para quem ainda não tenha o par de cobre instalado em sua casa, ou seja, para quem não é assinante de seu serviço de telefonia fixa."

Esse modelo, também utilizado em outros Estados, tem demonstrado os mesmos problemas:

"São Paulo não é caso isolado. Nos demais estados que isentaram de ICMS a banda larga, com aprovação de um programa popular, o serviço também não está sendo oferecido pelas concessionárias. A Oi não aderiu ao banda larga popular do Pará e do Distrito Federal. Diz que ainda está desenvolvendo o produto, mas o temor que tem é o mesmo enfrentado pela Telefônica: a exigência na oferta da banda larga sobre par de cobre tanto para assinantes quanto para não assinantes, pelo mesmo preço. "Não é possível oferecer banda larga por ADSL por R$ 29,80, com modem e custo de instalação incluído, se já não existir um par de cobre instalado na casa do cliente", resume fonte da Telefônica. "Não temos um produto em escala industrial para atender a esse público", explica."

Diante de tal situação, não seria o Plano de Banda Larga Popular do governo federal, um "mal" necessário em vista de tantos problemas para a iniciativa privada em atender a demanda da população de mais baixa renda? Existem aqueles que, em casos como tais, defendem uma atuação estatal complementar e não competidora com entidades já existentes. Diz Ronaldo Sá, ex-Diretor da Telebrás e consultor independente, em artigo no site do Ethevaldo Siqueira:


"Para qualquer sociedade moderna e razoavelmente organizada o primeiro produto mais caro é aquele que não está disponível no mercado, e o segundo mais caro é aquele que constitui a única opção, ou seja, quando não existe a liberdade de escolha propiciada pela competição. Assim, caso ocorra alguma das situações acima, o Estado pode entrar com investimentos indutores ao desenvolvimento da oferta, se a regulamentação e o controle dos órgãos reguladores tiverem fracassado.
A intervenção do investimento estatal deve atuar como complementadora da ação privada e ser neutra quanto ao seu uso. Ela não deve estar voltada para a competição com entidades existentes, mas sim para o estímulo e a complementaridade dos esforços para a ampliação da oferta e da competição entre agentes privados."

E mais adiante, sugere:

"Como ainda não foi resolvido o problema de prover as localidades economicamente menos atrativas com a gama de serviços de telecomunicações mais modernos, cabe lembrar que existe uma ferramenta legal já definida para induzir tais investimentos. A ferramenta é o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que é recolhido mensalmente, na proporção do faturamento, das operadoras de telecomunicações.
Como sugestão, poderia ser criado um caderno de obrigações de investimento em regiões menos favorecidas economicamente com o dinheiro do Fust arrecadado pela própria operadora, ficando ela responsável direta pela aplicação dos recursos e em débito do valor histórico com o fundo até a comprovação da realização dos investimentos compromissados. O controle de tais aplicações deve ficar a cargo da Anatel que seria também a responsável pela elaboração do caderno de obrigações de investimento."

Um caderno de obrigações de investimentos custeados pelo Fust (R$ 4 bilhões arrecadados) seria uma alternativa suficientemente eficaz para se conseguir a universalização da banda larga no país? Porque nesta seara também existem problemas, como o fato das empresas de telecomunicações buscarem no fundo uma forma de ampliar seus ativos e suprir suas demandas financeiras em detrimento do princípio da universalização dos serviços. Falta uma ação mais ativa do governo? Qual o grau de compromentimento de quem gere este fundo com o princípio e com os interesses das teles?
Acredito que estes aspectos tenham precipitado a ação do governo federal em colocar uma empresa estatal no circuito, ainda que - suprema heresia! -, para competir principalmente no mercado de baixa renda. Se assim não for, a velocidade de implantação da banda larga popular estará atrelada quase que exclusivamente à iniciativa privada, que, como demonstrado, não tem a mesma velocidade que, no Brasil, a sociedade demanda. Entretanto, do mesmo modo que há problemas com a iniciativa privada, devemos estar atentos à forma como o Estado vai proceder como indutor do desenvolvimento, não se podendo descuidar dos meios necessários de fiscalização e cobrança por toda a sociedade.

  
 
 
Clique aqui para ir ao texto da Lia Ribeiro no O.I. 

E aqui para o do Ronaldo Sá, no site do Ethevaldo Siqueira. 

Ações da Telebrás disparam após Lula sinalizar Recuperação da Empresa

Do Portal R7

No final dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo, altas superavam 14%

As ações da Telebrás dispararam nesta sexta-feira após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que vai recuperar a empresa.

As ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (sem direito a voto) da companhia encerraram os negócios hoje com alta de mais de 14%, cotadas, respectivamente, a R$ 2,41 e R$ 2,48. A Bolsa de Valores de São Paulo, porém, fechou com leve baixa de 0,35%.

Questionado por jornalistas sobre a expressiva valorização das ações da Telebrás na bolsa nos últimos anos, Lula disse que "as ações de todas as empresas cresceram" durante seu governo.

- Ela [Telebrás] vai crescer, vai, porque nós vamos recuperar a Telebrás. Nós vamos utilizar ela para fazer banda larga neste país – disse Lula em visita a Três Lagoas (MS), sem dar mais detalhes.

O governo federal está trabalhando num Plano Nacional de Banda Larga, com objetivo de universalizar o acesso rápido à Internet no país. As ações da Telebrás têm subido na Bovespa diante da expectativa de que a empresa será o braço do governo nesta iniciativa.

No início de fevereiro, o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, sinalizou, após reunião com Lula e representantes do setor de telecomunicações, que a Telebrás tinha "grandes chances" de ser a empresa pública no Plano Nacional de Banda Larga.

Nenhuma decisão foi tomada até o momento e a expectativa é de que isso aconteça em março.

Em documento encaminhado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no último dia 11, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou que a inclusão da Telebrás no plano de banda larga "continua sendo objeto de estudos".

O sistema Telebrás foi privatizado, por meio de leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, no dia 29 de julho de 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O sistema era formado por empresas regionais e estaduais de telecomunicações, como a Telesp, Telerj, Telebrasília e a operadora de longa distância Embratel.

Painel Internacional: Al Qaeda pode estar em busca de uma Bomba Atômica

Volta e meia surgem boatos a respeito do tema, sobre a possibilidade da obtenção de uma bomba atômica por parte do grupo terrorista Al Qaeda. O que se deve perguntar é como um grupo caçado no Paquistão e no mundo todo poderia adquirir tal tecnologia, e em que grau pois, uma coisa é ter o material, outra é construir a bomba e o artefato lançador. É possível que o grupo se contentasse em apenas ter a bomba, ainda que com grau de enriquecimento do urânio que a classifique apenas como "suja", ou até as "mini-nukes" cogitadas de serem utilizadas no Iraque pela forças de coalizão. De qualquer modo, no mercado subterrâneo de armas, não se pode descartar a possibilidade do contrabando de armas nucleares, certamente em grau de confecção distante das ogivas colocadas nas pontas dos vetores fabricados pelas nações que detém esta tecnlogia, até porque não se pode esconder um míssil tão facilmente, tampouco ter acesso à teconologia de direcionamento eficiente deste vetores. A matéria foi disponibilizada no UOL exclusivamente para assinantes, e foi publicada no Herald Tribune.

Por H. D. S. Greenway

Recentemente os diretores da CIA, do FBI e da diretoria de Inteligência Nacional disseram à senadora Dianne Feinstein que uma tentativa de ataque contra os Estados Unidos nos próximos anos é quase que “uma certeza”. Se Osama Bin Laden e Ayman al-Zawahiri tiverem ligação com tal plano, é improvável que esse ataque seja uma tentativa amadora similar àquela do patético “homem-bomba da cueca”, Umar Farouk Abdulmutallab, que tentou explodir um avião no Natal passado.

E tampouco o atentado se restringirá à destruição por bombas de ônibus e trens em Londres ou Madri. Isso poderia ser suficiente em se tratando de alvos europeus, mas, em relação aos Estados Unidos, a Al Qaeda parece estar determinada a superar os atentados de 11 de setembro de 2001 e a fazer algo realmente espetacular.

Esta é a opinião de Rolf Mowatt-Larssen, um ex-agente da CIA e diretor de Inteligência e Contra-inteligência do Departamento de Energia. Em um documento escrito para o Centro Belfer da Universidade Harvard, Mowatt-Larssen relata detalhadamente o paciente trabalho de uma década da Al Qaeda no sentido de roubar ou construir uma arma nuclear improvisada – o que seria o supremo horror.

Essa busca explica por que a Al Qaeda não tentou “produzir armas táticas mais disponíveis, como 'bombas sujas', agentes químicos, toxinas e venenos grosseiros” que poderiam causar estragos e provocar mortes, mas que não se comparam “aos benefícios da criação da imagem de uma nuvem em forma de cogumelo crescendo sobre uma cidade dos Estados Unidos”. Assim como o 11 de setembro de 2001, tal ataque “alteraria o curso da história”, afirma Mowatt-Larssen.

Isso poderia explicar por que Zawahiri, o braço-direito de Bin Laden, suspendeu um ataque contra o sistema de metrô de Nova York, poupando recursos para “algo melhor”. Um ataque relativamente fácil com o uso de armas táticas não poderia atingir os objetivos que os líderes da Al Qaeda estabeleceram para si, argumenta Mowatt-Larssen. A Al Qaeda pode estar aguardando o momento certo para desfechar um ataque verdadeiramente estratégico.

Mowatt-Larssen explica detalhadamente os esforços da Al Qaeda no sentido de obter uma arma nuclear a partir do final de 1993 e início de 1994. Segundo um desertor do grupo, houve uma tentativa por parte da Al Qaeda de comprar material nuclear da África do Sul com o propósito de fabricar um “dispositivo nuclear improvisado” por US$ 1,5 milhão (R$ 2,7 milhões).
Em 1996, o próprio Zawahiri foi detido na Rússia, mas acabou sendo libertado pelos serviços de segurança. Os analistas especulam que ele estava tentando comprar uma bomba. Zawahiri disse certa vez que por US$ 30 milhões (R$ 54,2 milhões) seria possível comprar uma “bomba atômica de mala” de um cientista insatisfeito da ex-União Soviética. Em 1998 ele assumiu pessoalmente controle sobre os programas de armas nucleares e biológicas da Al Qaeda.

Naquele mesmo ano Bin Laden emitiu uma “fatwa”, afirmando que uma obrigação dos bons muçulmanos é “matar norte-americanos e seus aliados, civis e militares...”. A isso se seguiram os atentados à bomba contra embaixadas norte-americanas na Tanzânia e no Quênia. Em dezembro daquele ano, Bin Laden declarou a um jornalista da revista “Time” que a aquisição de armas de destruição em massa “para a defesa de muçulmanos é uma obrigação religiosa”.

Em 1999, um programa secreto de armas biológicas da Al Qaeda foi criado em um laboratório de Kandahar. O antraz parece ter sido a arma preferida.
No verão de 2001, um homem que encaixava-se com a descrição física de Mohammed Atta, um dos terroristas do 11 de setembro, tentou comprar um avião pulverizador de lavouras na Flórida. Zacarias Moussaoui, que atualmente cumpre pena de prisão perpétua, foi pego com manuais de pulverização de plantações.

A lista continua. O proliferador nuclear paquistanês A.Q. Khan teria recusado um pedido feito pela Al Qaeda para auxiliar a organização a fabricar uma bomba atômica. Ramzi Yousef, o terrorista responsável por um atentado a bomba contra o World Trade Center, pretendia usar gás cianeto para “envolver as vítimas presas na Torre Norte” na sua tentativa fracassada de derrubar o edifício em 1993. Mas a explosão incinerou o gás.
Apesar do seu interesse por armas químicas e biológicas, a Al Qaeda parece estar concentrada na opção nuclear. O seu objetivo declarado é matar quatro milhões de estadunidenses. As tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que possuem soldados no Afeganistão também poderão ser vulneráveis a um ataque do gênero.
Embora o mundo esteja se focando no Irã como a maior fonte potencial de proliferação nuclear, o perigo mais óbvio pode estar se formando no Paquistão, sob a direção de Zawahiri e Bin Laden. E, ao contrário do Irã, a Al Qaeda não tem outros motivos para fabricar a bomba além de usá-la.

Entrevista do Lula no Estadão: O Meu Governo é a Essência da Democracia.

Muito boa a entrevista do Lula no Estadão. Entre outros aspectos assuntos como reeleição, mandato de cinco anos, Dilma Rousseff, políticas públicas, enchentes em São Paulo, etc. Como o Estadão não disponibilizou a entrevista na íntegra, cliquem aqui para o áudio

Por Vera Rosa, Tânia Monteiro, Rui Nogueira, João Bosco Rabello e Ricardo Gandour , em O Estado de S. Paulo 
BRASÍLIA - Na véspera de participar do 4.° Congresso Nacional do PT, que amanhã sacramentará a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que a herdeira do espólio petista, se eleita, deverá ficar dois mandatos no cargo. Em entrevista ao Estado, Lula negou que tenha escolhido Dilma com planos de voltar ao poder lá na frente, disputando as eleições de 2014.
 "Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio", afirmou o presidente. "Todo político que tentou eleger alguém manipulado quebrou a cara." A dez meses da despedida no Palácio do Planalto, Lula disse que o ideal é deixar as "corredeiras da política" seguirem o seu caminho. "Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição", insistiu. "Eu tive a graça de Deus de governar este país oito anos."
Uma eventual gestão Dilma, no seu diagnóstico, não será mais à esquerda do que seu governo. Ele admite, no entanto, que, no governo, ela vai imprimir "o ritmo dela, o estilo dela". Na sua avaliação, porém, diretrizes do programa de governo de Dilma, que o PT aprovará nesta sexta-feira, 19, podem conter um tom mais teórico do que prático.
"Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo", argumentou. "O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender." Questionado se concorda com a ampliação do papel do Estado na economia, proposta na plataforma de Dilma, Lula abriu um sorriso. "Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão", disse, numa referência ao jornal. Mais tarde, no entanto, destacou a importância de investimentos estratégicos por parte do Estado. "Quero criar uma megaempresa de energia no País."
O presidente manifestou preocupação com a divisão da base aliada em Estados como Minas, onde o PT e o PMDB até agora não conseguiram selar uma aliança. "Imaginar que Dilma possa subir em dois palanques é impossível", comentou. "O que vai acontecer é que em alguns Estados ela não vai poder ir."
Bem-humorado, Lula tomou uma xícara pequena de café e afirmou que Dilma não vai sentir sua falta como cabo eleitoral quando deixar o governo, em março. "Eu estarei espiritualmente com ela", brincou. Ele defendeu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deu estocadas no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, falou da chuva em São Paulo, mas poupou o governador José Serra (PSDB), provável adversário de Dilma.
 Nem mesmo a língua afiada do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), porém, fez Lula desistir de convencer o antigo aliado a não concorrer à Presidência. "É preciso provar que o santo Lula está errado", provocou.
 Na entrevista ao Estado, em agosto de 2007, perguntamos se o sr. já pensava em lançar uma mulher como candidata à sua sucessão. Sua resposta foi: ‘No momento em que eu disser isso, uma flecha estará apontada para esse nome, seja ele qual for.’ Naquela época, o sr. já tinha decidido que seria a ministra Dilma? Quando o sr. decidiu?
Quando aconteceram todos os problemas que levaram o companheiro José Dirceu a sair do governo, eu não tinha dúvida de que a Dilma tinha o perfil para assumir a Casa Civil e ajudar a governar o País. Na Casa Civil ela se transformou na grande coordenadora das políticas do governo. Foi quase uma coisa natural a indicação da Dilma. A dedicação, a capacidade de trabalho e de aprender com facilidade as coisas foram me convencendo que estava nascendo ali mais do que uma simples tecnocrata. Estava nascendo ali uma pessoa com potencial político extraordinário, até porque a vida dela foi uma vida política importante.
Mas a escolha da ministra só ocorreu porque houve um "vazio" no PT, como disse o ex-ministro Tarso Genro, com os principais candidatos à sua cadeira dizimados pela crise do mensalão, não?
Não concordo. Não tinha essa coisa de ‘principais candidatos’. Isso é coisa que alguém inventou.
José Dirceu, Palocci...
Na minha cabeça não tinha "principais candidatos". Estou absolutamente convencido de que ela é hoje a pessoa mais preparada, tanto do ponto de vista de conhecimento do governo quanto da capacidade de gerenciamento do Brasil.
Naquele momento em que sr. chamou a ministra de "mãe do PAC", na Favela da Rocinha (Rio), ali não foi apresentada a vontade prévia para fazer de Dilma a candidata?
Se foi, foi sem querer. Eu iria lançar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na verdade, antes da eleição (de 2006). Mas fui orientado a não utilizar o PAC em campanha porque a gente não precisaria dele para ganhar as eleições. Olha o otimismo que reinava no governo! E o PAC surgiu também pelo fato de que eu tinha muito medo do segundo mandato.
 Por quê?
 Quem me conhece há mais tempo sabe que eu nunca gostei de um segundo mandato. Eu sempre achei que o segundo mandato poderia ser um desastre. Então, eu ficava pensando: se no segundo mandato o presidente não tiver vontade, não tiver disposição, garra e ficar naquela mesmice que foi no primeiro mandato, vai ser uma coisa tão desagradável que é melhor que não tenha.
 O sr. está enfrentando isso?
Não porque temos coisas para fazer ainda, de forma excepcional, e acho que o PAC foi a grande obra motivadora do segundo mandato.
 O sr. não está desrespeitando a Lei Eleitoral, antecipando a campanha?
Não há nenhum desrespeito à Lei Eleitoral. Agora, o que as pessoas não podem é proibir que um presidente da República inaugure as obras que fez. Ora, qual é o papel da oposição? É criticar as coisas que nós não fizemos. Qual é o nosso papel? Mostrar coisas que nós fizemos e inaugurar.
 Mas quem partilha dessa tese diz que o sr. praticamente pede votos para Dilma nas inaugurações...
Eu dizer que vou fazer meu sucessor é o mínimo que espero de mim. A grande obra de um governo é ele fazer seu sucessor. Não faz seu sucessor quem está pensando em voltar quatro anos depois. Aí prefere que ganhe o adversário, o que não é o meu caso.
Há quem diga que o sr. só escolheu a ministra Dilma, cristã nova no PT, com apenas nove anos de filiação ao partido, porque, se eleita, ela será fiel a seu criador. Isso deixaria a porta aberta para o sr. voltar em 2014. O sr. planeja concorrer novamente?
Olha, somente quem não conhece o comportamento das mulheres e somente quem não conhece a Dilma pode falar uma heresia dessas. Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio. Não faz parte da minha vida nem no PT nem na CUT. Eu já tive a graça de Deus de governar este país oito anos. Minha tese é a seguinte: rei morto, rei posto. A Dilma tem de criar o estilo dela, a cara dela e fazer as coisas dela. E a mim cabe, como torcedor da arquibancada, ficar batendo palmas para os acertos dela. E torcendo para que dê certo e faça o melhor. Não existe essa hipótese .
O sr. não pensa mesmo em voltar à Presidência?
Não penso. Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição. Ponto pacífico. Essa é a prioridade número 1.
O sr. não vai defender a mudança dessa regra, de fim da reeleição com mandato de cinco anos?
Não vou porque quando quis defender ninguém quis. Eu fui defensor da ideia de cinco anos sem reeleição. Hoje, com a minha experiência de presidente, eu queria dizer uma coisa para vocês: ninguém, nenhum presidente da República, num mandato de quatro anos, concluirá uma única obra estruturante no País.
Então o sr. mudou de ideia...
Mudei de ideia. Veja quanto tempo os tucanos estão governando São Paulo e o Rio Tietê continua do mesmo jeito. É draga dali, tira terra, põe terra. Eu lembro do entusiasmo do Jornal da Tarde quando, em 1982, o banco japonês ofereceu US$ 500 milhões para resolver aquilo. A verdade é que, para desgraça do povo de São Paulo, as enchentes continuam. Eu até mandei o Franklin ( Martins) fazer  um levantamento para ver o que diziam das enchentes quando a Marta era prefeita, quando a Erundina era prefeita e o que falam agora para fazer uma comparação com o comportamento... [grifo nosso;  parte que o Estadão omitiu na transcrição] Eu não culpo o Serra, não culpo o Kassab e nenhum governante. Eu acho que a chuva é demais. No meu apartamento, em São Bernardo, está caindo mais água dentro do que fora. Choveu tanto que vazou. Há dias o meu filho me ligou, às duas horas da manhã, e disse: "Pai, estou com dois baldes de água cheios." Eu fui a São Paulo no dia do aniversário da cidade e disse que o governo federal está disposto a sentar com o governo do Estado, com o prefeito, e discutir uma saída para ver se consegue resolver o problema, que é gravíssimo. Não queremos ficar dizendo: "Ah, é meu adversário, deu enchente, que ótimo". Quem está falando isso para vocês viveu muitas enchentes dentro de casa".
‘Quero criar no País uma megaempresa de energia’
Pelas diretrizes do programa do PT, um eventual governo Dilma Rousseff parece que será mais à esquerda que o seu...
 Eu ainda não vi o programa, eu sei que tem discussão. Mas conheço bem a Dilma e, como acho que ela deve imprimir o ritmo dela, se ela tomar uma decisão mais à esquerda do que eu, eu tenho que encarar com normalidade. E, se tomar uma posição mais à direita do que eu, tenho que encarar com normalidade. Tenho total confiança na Dilma, de que ela saberá fazer as coisas corretas para este país. Uma mulher que passou a vida que a Dilma passou - e é sem ranço, sem mágoa, sem preconceito - venceu o pior obstáculo.
A experiência de poder distanciou o sr. do pensamento mais utópico do PT, não?
Veja, o PT que chegou ao poder comigo, em 2002, não era mais o PT de 1980, de 1982.
 Não era porque houve a Carta ao Povo Brasileiro...
 Não é verdade. Num Congresso do PT aparecem 20 teses. Tem gosto para todo mundo. É que nem uma feira de produtos ideológicos. As pessoas compram o que querem e vendem o que querem. O PT, quando chegou à Presidência, tinha aprendido com dezenas de prefeituras, já tínhamos as experiências do governo do Acre, do Rio Grande do Sul, de Mato Grosso do Sul... O PT que chegou ao governo foi o PT maduro. De vez em quando, acho que foi obra de Deus não permitir que eu ganhasse em 1989. Se eu chego em 1989 com a cabeça do jeito que eu pensava, ou eu tinha feito uma revolução no País ou tinha caído no dia seguinte. Acho que Deus disse assim: "Olha, baixinho, você vai perder várias eleições, mas, quando chegar, vai chegar sabendo o que é tango, samba, bolero." O PCI italiano passou três décadas sendo o maior partido comunista do mundo ocidental, mas não passava de 30%. Eu não tinha vocação para isso. E onde eu fui encontrar (a solução)? Na Carta ao Povo Brasileiro e no Zé Alencar. Essa mistura de um sindicalista com um grande empresário e um documento que fosse factível e compreensível pela esquerda e pela direita, pelos ricos e pelos pobres, é que garantiu a minha chegada à Presidência.
 Mesmo assim, o sr. teve de funcionar como fator moderador do seu governo em relação ao partido...
 E vou continuar sendo. Eu não morri.
 Mas a Dilma poderá fazer isso?
Ah, muito. Hipoteticamente, vocês acham que o PSTU ganhará eleição com o discurso dele? Vamos supor que ganhe, acham que governa? Não governa.
 As diretrizes do PT, que pregam o fortalecimento do Estado na economia, não atrapalham?
 Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública depois de sete anos no poder. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder.
Os críticos do programa do PT dizem que o Estado precisa ter limites como empreendedor. Por que mais Estado na economia?
Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão (risos). Não existe hipótese, na minha cabeça, de você ter um governo que vire um governo gerenciador. O governo tem dois papéis e a crise reforçou a descoberta deste papel. O governo tem, de um lado, de ser o regulador e o fiscalizador; do outro lado, tem de ser o indutor, o provocador do investimento, que discute com o empresário e pergunta por que ele não investe em tal setor.
 Por que é preciso ressuscitar empresas estatais para fazer programas como a universalização da banda larga? O governo toca o Luz Para Todos com uma política pública que contrata serviços junto às distribuidoras e não ressuscita a Eletrobrás.
 Mas nós estamos ressuscitando a Eletrobrás. O Luz Para Todos só deu certo porque o Estado assumiu. As empresas privadas executam sob a supervisão do governo, que é quem paga.
Não pode fazer a mesma coisa com a banda larga? 
Pode. Não temos nenhum problema com a empresa privada que cumpre as metas. Mas tem empresa privada que faz menos do que deveria. Então, eu quero, sim, criar uma megaempresa de energia no País. Quero empresa que seja multinacional, que tenha capacidade de assumir empréstimos lá fora, de fazer obras lá fora e fazer aqui dentro. Se a gente não tiver uma empresa que tenha cacife de dizer "se vocês não forem, eu vou", a gente fica refém das manipulações das poucas empresas que querem disputar o mercado. Então, nós queremos uma Eletrobrás forte, para construir parceria com outras empresas. Não queremos ser donos de nada.
A banda larga precisa de uma Telebrás?
 Se as empresas privadas que estão no mercado puderem oferecer banda larga de qualidade nos lugares mais longínquos, a preço acessível, por que não?
Mas precisa de uma Telebrás?
Depende. O governo só vai conseguir fazer uma proposta para a sociedade se tiver um instrumento. Não quero uma nova Telebrás com 3 ou 4 mil funcionários. Quero uma empresa enxuta, que possa propor projetos para o governo. Nosso programa está quase fechado, mais uns 15 dias e posso dizer que tenho um programa de banda larga. Vou chamar todos e quero saber quem vai colocar a última milha ao preço mais baixo. Quem fizer, ganha; quem não fizer, tá fora. Para isso o Estado tem de ter capacidade de barganhar.
O sr. teme que o PSDB venha na campanha com o discurso de gastança, de inchaço da máquina, que o seu governo contratou 100 mil novos servidores?
Vou dar um número, pode anotar aí: cargos comissionados no governo federal, para uma população de 191 milhões de habitantes. Por cada 100 mil habitantes, o governo tem 11 cargos comissionados. O governo de São Paulo tem 31 e a Prefeitura de São Paulo tem 45.
Deixar o governo de Minas para o PMDB de Hélio Costa facilita a vida de Dilma junto à base aliada?
A aliança com o PMDB de Minas independe da candidatura ao governo de Estado. O Hélio Costa tem me dito publicamente que a candidatura dele não é problema. Ele propõe o óbvio, que se faça no momento certo um estudo e veja quem tem mais condições e se apoie esse candidato. Acho que os companheiros de Minas, tanto o Patrus Ananias quanto o Fernando Pimentel se meteram em uma enrascada. Estava tudo indo muito bem até que eles transformaram a disputa entre eles em uma fissura muito ruim para o PT. Como a política é a arte do impossível, quem sabe até março eles conseguem resolver o problema deles.
A desistência da pré-candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) facilitaria a vida de Dilma?
O Ciro é um companheiro por quem tenho o mais profundo respeito. Eu já gostava do Ciro e aprendi a respeitá-lo. Um político com caráter. E, portanto, eu não farei nada que possa prejudicar o companheiro Ciro Gomes. Eu pretendo conversar com ele, ver se chegamos à conclusão sobre o melhor caminho.
 Ele diz que o "santo Lula" está errado.
É preciso provar que o santo está errado. É por isso que eu quero discutir.
O sr. ainda quer que ele seja candidato ao governo de São Paulo?
 Se eu disser agora, a minha conversa ficará prejudicada.
 O senador Mercadante pode ser o plano B?
 Não sei. Alguém terá de ser candidato.
 O Ciro tem dito que a aliança da ministra Dilma com o PMDB é marcada pela frouxidão moral.
 Todo mundo conhece o Ciro por essas coisas. Mas acho que ele não disse nada que impeça uma conversa com o presidente.
O que se teme no Temer? Ele é o nome para vice?
 O Michel Temer, neste período todo que temos convivido com ele, que ele resolveu ficar na base e foi eleito presidente da Câmara, tem sido um companheiro inestimável. A questão da vice é uma questão a ser tratada entre o PT, a Dilma e o PMDB.
O sr. não teme que Dilma caia nas pesquisas após sair do governo?
 Ela vai crescer.
 Mas sozinha?
 Ela nunca estará sozinha. Eu estarei espiritualmente ao lado dela (risos).
 Há quem tenha ficado assustado com a foto do sr. abraçando o Collor, depois de tudo o que passou na campanha de 1989.
 O exercício da democracia exige que você faça política em função da realidade que vive. O Collor foi eleito senador pelo voto livre e direto do povo de Alagoas, tanto quanto foi eleito qualquer outro parlamentar. Ele está exercendo uma função institucional e merece da minha parte o mesmo respeito que eu dou ao Pedro Simon, que de vez em quando faz oposição, ao Jarbas Vasconcelos, que faz oposição. Se o Lula for convidado para determinadas coisas, não irá. Mas o presidente tem função institucional. Portanto, cumpre essa função para o bem do País e, até agora, tem dado certo. Fui em uma reunião com a bancada do PT em que eles queriam cassar o Sarney. Eu disse: muito bem, vocês cassam o Sarney e quem vem para o lugar?
O sr. acha que o eleitor entende?
O eleitor entende, pode entender mais. Agora, quem governa é que sabe o tamanho do calo que está no seu pé quando quer aprovar uma coisa no Senado.
O governo depende do Sarney no Senado? O único punido até agora foi o Estado, que está sob censura.
 O Sarney foi um homem de uma postura muito digna em todo esse episódio. Das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente e o tempo vai provar. O exercício da democracia não permite que a verdade seja absoluta para um lado e toda negativa para o outro lado. Perguntam: você é contra a censura? Eu nasci na política brigando contra a censura. Exerço um governo em que eu duvido que alguém tenha algum resquício de censura. Mas eu não posso censurar que os Poderes exerçam suas funções. Eu não posso censurar a imprensa por exercer a sua função de publicar as coisas, nem posso censurar um tribunal ou uma Justiça por dar uma decisão contrária. Deve ter instância superior, deve ter um órgão para recorrer.
 O sr. e o PT lideraram o processo de impeachment de Collor e nada, então, se sustentou juridicamente porque o STF absolveu o ex-presidente. O sr. está dizendo que o jornal não deveria publicar as notícias porque não se sustentariam juridicamente? Os jornais publicam fatos...
Não quero que vocês deixem de publicar nada. Minha crítica é esta: uma coisa é publicar a informação, outra coisa é prejulgar. Muitas vezes as pessoas são prejulgadas. Todos os casos que eu vi do Sarney, de emprego para a neta, daquela coisa, eu ficava lendo e a gente percebia que eram coisas muito frágeis. Você vai tirar um presidente do Senado porque a neta dele ligou para ele pedindo um emprego?
O caso da neta é o corporativismo, o fisiologismo, os atos secretos...
 O que eu acho é o seguinte: o DEM governou aquela Casa durante 14 anos e a maioria dos atos secretos era deles. E eles esconderam isso para pedir investigação do outro lado. É uma coisa inusitada na política.
O sr. acha que os fatos do "mensalão do DEM", no Distrito Federal, são fatos inverídicos também?
 No DEM tem um agravante: tem gravação, chegaram a gravar gente cheirando dinheiro.
 No mensalão do PT tinha uma lista na porta do banco com o registro dos políticos indo pegar a mesada...
 Vamos pegar aquela denúncia contra o companheiro Silas Rondeau, que foi ministro das Minas e Energia. De onde se sustenta aquela reportagem dizendo que tinha dinheiro dentro daquele envelope? Como se pode condenar um cara por uma coisa que não era possível provar?
 O sr. tem dito, em conversas reservadas, que quando terminar o governo, vai passar a limpo a história do mensalão. O que o sr. quer dizer?
 Não é que vou passar a limpo, é que eu acho que tem coisa que tem de investigar. E eu quero investigar. Eu só não vou fazer isso enquanto eu for presidente da República. Mas, quando eu deixar a Presidência, eu quero saber de algumas coisas que eu não sei e que me pareceram muito estranhas ao longo do todo o processo.
Quem o traiu?
Quando eu deixar a Presidência, eu posso falar.
 Por que é que o seu governo intercede em favor do governo do Irã?
Porque eu acho que essa coisa está mal resolvida. E o Irã não é o Iraque e todos nós sabemos que a guerra do Iraque foi uma mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha. A gente se esqueceu que o cara que fiscalizava as armas químicas era um brasileiro, o embaixador Maurício Bustani, que foi decapitado a pedido do governo americano, para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque.
O sr. continua achando que a Venezuela é uma democracia?
 Eu acho que a Venezuela é uma democracia.
 E o seu governo aqui é o quê?
 É uma hiper-democracia. O meu governo é a essência da democracia.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Vídeo mostra possível Ação do Mossad contra Líder Palestino



O vídeo acima mostra uma possível ação do serviço secreto israelense, o Mossad, contra o líder do braço armado do Hamas, Mahmoud al-Mabhouh, de 50 anos, morto com choques elétricos na cabeça, num quarto de hotel, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.  A polícia de Dubai indentificou pelos passaportes onze  suspeitos – os britânicos Jonathan Lewis Graham, James Leonard Clarke, Paul John Keeley, Michael Lawrence Barney, Melvyn Adam Mildiner e Stephen Daniel Hodes, os irlandeses Gail Folliard, Evan Dennings e Kevin Daveron, o francês Peter Elvinger e o alemão Michael Bodenheimer.

O responsável pela polícia de Dubai, o general Dahi Jalfan Tamin, fez a declaração sobre o assassinato de al Mabhuh - cujo cadáver foi encontrado em 20 de janeiro em um hotel do país - em entrevista a uma emissora local.

Tamin disse que, se for provado que o serviço secreto israelense é o autor do assassinato, "Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, será o primeiro a fazer justiça com a pessoa que tomou a decisão de assassinar al Mabhuh em Dubai" e emitir uma ordem de prisão contra ele.

O policial recusou comentar se as autoridades de Dubai discutiram a prisão com Netanyahu. Em outra entrevista, contudo, Tamin se mostrou ambíguo sobre a possível falsificação dos passaportes usados pelos onze supostos assassinos.

"As autoridades francesas, as alemãs, as irlandesas e as britânicas se enfadaram quando foram contactadas sobre os passaportes usados pelos suspeitos para entrar em Dubai".

A Interpol emitiu nesta quinta uma ordem de prisão contra os onze supostos assassinos.

Com excertos do Estadão

Chanceler sinaliza que “evolução” em Honduras pode levar a uma nova posição do Brasil

Agência Brasil

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, sinalizou hoje (18) que os novos acontecimentos em Honduras podem levar o governo do Brasil a rever sua posição em relação ao país caribenho. Desde o golpe de Estado, em junho do ano passado, o governo brasileiro considerou ilegítimas as eleições, realizadas em junho, e que deram a vitória a Porfirio "Pepe" Lobo.

Amorim se referia aos esforços de Lobo para restabelecer a ordem no país e o acordo para que ex-presidente Manuel Zelaya, que havia sido deposto em junho, não sofresse ameaças ao deixar a Embaixada do Brasil no mês passado. Zelaya está provisoriamente na Costa Rica.
O assunto será tema de reunião – entre os dias 21 e 23 - do Grupo do Rio, em Cancún, no México. “Vamos ver como essas condições evoluem”, afirmou Amorim, ao participar de um debate sobre temas internacionais promovido pelo Congresso do PT em Brasília. Estavam presentes havia representantes de vários países. “Essas condições [em Honduras} não se fazem em um dia.”

As condições, mencionadas por Amorim referem-se às alternativas sugeridas pela comunidade internacional para que Honduras seja reintegrada à Organização dos Estados Americanos (OEA) e retome as relações políticas com o Brasil, o Chile, a Venezuela, a Bolívia, o Equador e a Argentina.
Para parte da comunidade internacional, “Pepe” Lobo deve garantir que serão arquivadas as denúncias contra Zelaya e seus correligionários e realizar esforços para a unidade nacional e a busca pela unidade interna pelas vias democráticas. Na prática, os países querem garantias de que não há riscos, nem ameaças de um novo golpe de Estado no país.

O golpe de Estado em Honduras, em 28 de junho de 2009, foi resultado de um conjunto de forças formado por integrantes das Forças Armadas, do Congresso Nacional e da Suprema Corte. O então presidente Zelaya foi deposto e deixou o país. Depois, em 21 de setembro, retornou a Honduras e ficou abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

O Brasil condenou o golpe, rechaçando o episódio como um atentado às forças democráticas. Para o governo brasileiro, as eleições que deram vitória a “Pepe” Lobo só poderiam ser reconhecidas como legítimas se tivessem ocorrido com a restituição de Zelaya ao poder. No entanto, isso não ocorreu, e o processo foi conduzido pelo então presidente Roberto Micheletti, apontado como golpista pelo governo brasileiro.

Criação de empregos tem melhor resultado para um mês de janeiro

Do Portal G1

País abriu 181.419 vagas formais no primeiro mês do ano.
Em dezembro, haviam sido fechados 415.192 postos de trabalho.
Carolina Lauriano Do G1, no Rio

O Brasil criou, em janeiro de 2010, 181.419 vagas formais de emprego, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado é o melhor já registrado em um mês de janeiro desde o início da pesquisa do Ministério do Trabalho, em maio de 2000.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Socialismo Volta ao Programa, mas sem Rupturas

Por Maria Inês Nassif
do Blog do Nassif.

O PT já esteve muito mais à esquerda do que está hoje; também já esteve muito mais à direita. Desde 2002, quando venceu um processo eleitoral imbricado com uma grave crise financeira – alimentada por um movimento especulativo de motivação também eleitoral -, a posição ideológica do partido tem sido mais movida pela conjuntura do que pelos grandes embates internos que marcaram a vida da legenda até o XII Encontro Nacional, de dezembro de 2001, responsável pelo último documento que foi produto de uma disputa acirrada entre suas tendências.
Segundo o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, a radicalização da oposição, a partir de 2005, levou a um paradoxo: enquanto a esquerda perdia espaço internamente, todo o partido se “esquerdizava”. “A burguesia, a direita, a oposição radicalizaram e o efeito foi ‘esquerdizar’ o partido, ou seja, trazê-lo da Carta aos Brasileiros para o programa do XII Encontro”, disse.

O PT, no seu 4º Congresso, que começa hoje, deve manter a tendência do 3º Congresso, de assumir-se como partido socialista democrático, sem, contudo, voltar ao período pré-XII Congresso, quando os grupos mais radicais chegavam a pregar a ruptura democrática. As teses apresentadas pelas tendências que disputaram o Processo de Eleição Direta (PED) do ano passado são um claro sinal disso: apenas a tendência mais radical, a Esquerda Socialista, fala em mudança no “modo de produção” e na “superação prática das relações capitalistas”.

“As teses do PED relatam a consolidação da ideia da revolução democrática no Brasil, do socialismo democrático. O PT, antes de ser comprometido com a ruptura, tem compromisso com o Estado democrático de direito”, afirma o ex-ministro da Justiça Tarso Genro. “Foi um caminho processual: não quebramos a ordem nem fizemos a revolução”, constata o deputado José Genoino, ex-presidente do partido.
O XII Encontro Nacional do PT, realizado em dezembro de 2001, aprovou “Diretrizes do Programa de Governo do PT para o Brasil”, documento coordenado pelo então prefeito de Santo André, Celso Daniel, num trabalho de costura das posições das facções mais à esquerda do partido e as do já consolidado Campo Majoritário , que havia feito uma forte inflexão ao centro como concessão para eleger Luiz Inácio Lula da Silva presidente. O documento professava o socialismo, mas admitia uma aliança com a “burguesia” – definia uma política de alianças mais ampla, uma exigência de Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer em 2002, depois de ter sido derrotado em 1989, em 1994 e 1998 como candidato de uma coligação que sequer conseguia reunir todos os partidos que se diziam de esquerda. A “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada em junho de 2002, quando o dólar fazia uma escalada perigosa frente ao real, deu a guinada definitiva ao centro, prometendo continuidade na política econômica do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. O socialismo encolheu.

Em 2005, atingido em cheio pelo chamado Mensalão – série de denúncias de comprometimento da direção do partido com captação ilegal de dinheiro para financiar campanhas eleitorais -, o PT sofreu dois movimentos que teoricamente neutralizariam um ao outro. De um lado, perdeu a parcela mais radical da esquerda, que saiu com muito barulho e fundou o P-SOL. Isso teoricamente definiria o esvaziamento da esquerda partidária. De outro lado, foram excluídos do governo os integrantes do Campo Majoritário que detinham grande poder sobre as definições de política e política econômica, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o chefe da Casa Civil, José Dirceu – e o controle exercido por ambos não era favorável às tendências de esquerda. Palocci era o fiador da política econômica ortodoxa, de continuidade à do governo anterior. Dirceu, segundo integrantes da esquerda, exercia controle sobre as minorias internas, dificultando o acesso delas ao governo petista.

O racha do P-SOL, na época um trauma partidário, conteve o avanço das tendências de esquerda quando a grande crise política do Mensalão colocava em xeque, internamente, o pragmatismo do Campo Majoritário (hoje chamado Construindo um Novo Brasil – PNB, que elegeu José Eduardo Dutra no Processo de Eleição Direta, o PED, de 2009). No PED de 2005, o primeiro depois do escândalo, o grupo que daria origem ao P-SOL concorreu à presidência do partido com Plínio de Arruda Sampaio. Derrotado no primeiro turno, Sampaio anunciou a saída do partido. Somados os votos de toda a oposição ao Campo Majoritário no primeiro turno do PED de 2005, ela tinha mais do que Ricardo Berzoini (SP), do Campo Majoritário; sem o grupo de Sampaio, a esquerda perdeu por 5 mil votos.

Para o secretário das Relações Internacionais, a “ironia da história” é que, a partir da saída desse grupo, o PT como um todo foi para a esquerda. Para o ex-presidente do PT, o deputado José Genoino, a dissidência “fez mais barulho do que deu prejuízo efetivo”. “A saída do grupo não foi representativa”, concorda o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

“A esquerda do PT começou a transitar no governo depois da saída do Palocci. Ele na economia, e Dirceu na política, limitaram muito o debate ideológico interno no primeiro mandato”, afirma Teixeira. Mas, para o ex-prefeito Raul Pont, da Democracia Socialista (DS), tendência também à esquerda do Campo Majoritário ), de alguma forma o grupo hegemônico, de centro, foi obrigado a ceder e “re-ideologizar” o PT, pois o pragmatismo do setor hegemônico não conseguiu, por si só, consolidar uma unidade partidária. Assim, foi obrigado a assumir “compromissos mais estratégicos”.

O fato é que, sem Palocci e Dirceu no governo, e mesmo sem o grupo que originou o P-SOL no partido, em 2006 os documentos do PT deram uma nova guinada à esquerda. Nas resoluções do 3º Congresso, em 2007, o socialismo democrático voltou a ser professado como opção ideológica sem que isso fosse considerado constrangimento político à legenda que ocupa o poder desde 2003, pelo voto direito, e já havia abandonado há algum tempo ideias de ruptura revolucionária. No documento final, o partido retoma a ideia de socialismo de forma clara, embora definindo o tipo de mudança que prega para o país: “A grande tarefa que o PT, o governo Lula, os movimentos sociais e as demais forças de esquerda têm pela frente é avançar na construção permanente de um governo democrático e popular com base em um projeto de desenvolvimento de longo prazo para o país, e que já está em andamento”.

“Além da reforma política e de mudanças na política econômica – com predominância do desenvolvimento sobre a estabilidade – temos de lutar por uma ampla reforma do Estado brasileiro”, diz o documento. E define a diferença entre o seu projeto e o do PSDB. “A direita tucano-liberal quer que o Estado apenas financie, não planeje. Nós entendemos que deve financiar e planejar.”

Segundo Genro, o debate sobre o socialismo nunca foi abandonado, mas foi obstruído. “A discussão permaneceu no partido durante todo o tempo, mas o PT ficou na defensiva em função da crise do socialismo real”, disse. “O socialismo democrático é uma visão que se consolida no PT desde 2002 e tem como ideia central a democracia como reguladora das relações entre o Estado e a sociedade. Hoje os partidos do mundo inteiro têm como ponto de partida de reflexão a questão da democracia.”

O que define um programa socialista, no entanto, não é a defesa de uma maior intervenção na economia – esse assunto transcende os partidos socialistas ou os governos considerados de esquerda depois da crise mundial do ano passado. “Exemplos de projetos inspirados na ideia do socialismos democrático são o alargamento do espaço da universidade pública, o repasse de recursos do Estado para diminuir a desigualdade de renda e a não-submissão do Brasil ao jugo dos países que definem o domínio do capital financeiro”, diz Genro. O “desenvolvimentismo” não necessariamente é considerado uma bandeira de esquerda, e o debate sobre o papel do Estado está situado na órbita do desenvolvimentismo. “Achar que o PT propõe a re-estatização é relativo. A capitalização da Petrobras foi muito importante para o Brasil durante a crise. As grandes empresas sabem que a gestão do PT ajuda o processo de internacionalização das empresas nacionais. O Programa Minha Casa, Minha Vida, teria sido inviável sem a capitalização dos bancos”, afirma a ex-prefeita Marta Suplicy.

Para a esquerda petista, o debate sobre o tamanho do Estado ou o seu poder de intervenção na economia não caracterizam o partido como mais ou menos socialista. Pomar vê, na história interna do partido, o período de 2003 a 2010 como o do debate entre “desenvolvimentistas versus os social-liberais”; hoje, o debate estaria se deslocando para uma polarização entre “desenvolvimentistas conservadores”, que não tocam nas reformas estruturais, e “desenvolvimentistas democrático-populares”, “que querem combinar desenvolvimento com democracia, igualdade e soberania”.

Para Raul Pont, da Democracia Socialista, embora o partido tenha colocado a palavra “socialismo” em seus documentos programáticos novamente, isso não se materializou no governo petista. “Para nós, ser socialista significa democratizar as decisões, aumentar a participação popular no governo”, opina. Para Pont, a proposta socialista não elimina a revisão de privatizações feitas no passado e cujas empresas são prestadoras de serviço ineficientes.

O fato de existirem internamente ainda essas posições, no entanto, não significa que todo o debate sobre o socialismo está liberado. “É preciso evitar fios desencapados”, afirma Genoino. “O idealismo é muito bonito, mas temos que ter cuidado para que isso não seja usado contra a ministra Dilma (Rousseff, candidata do partido à Presidência)”, completa a ex-prefeita Marta Suplicy.

Esnobado por Lula, Paulo Octávio cogita renúncia no DF

Da Folha On Line

Reportagem publicada na edição de hoje da Folha informa que o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), já cogita renunciar ao cargo. Ele comunicou a ideia a líderes do partido depois de ter sido esnobado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Paulo Octávio tentou ser recebido por Lula para conseguir apoio a sua permanência no governo. Ele entrou no governo após a prisão de José Roberto Arruda (sem partido) por suspeita de tentativa de suborno a testemunha do processo que investiga o suposto esquema de corrupção no Distrito Federal.
Mas o Palácio do Planalto evitou o encontro com Paulo Octávio ontem. Interlocutores do presidente sustentam que a Presidência só deve decidir se haverá a reunião depois da Executiva Nacional do DEM definir o futuro político de Paulo Octavio --que deve se tornar alvo de um processo interno de expulsão.

A avaliação dos assessores do presidente é que o encontro poderia influenciar na decisão do DEM, uma vez que poderia servir de argumento favorável à manutenção de Paulo Octávio no cargo. Líderes do DEM afirmam que se Paulo Octávio conquistar o apoio de Lula, a tese da expulsão se enfraquece --assim como a possibilidade de uma intervenção federal.
A Executiva do DEM deve decidir na próxima terça-feira sobre a permanência do governador interino no partido. Ele é citado no inquérito do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que investiga o suposto esquema de arrecadação e pagamento de propina que envolve o governador afastado, José Roberto Arruda (sem partido).

O governador interino disse nesta quarta-feira à Folha Online que pretende pedir apoio ao presidente Lula para continuar governando. Paulo Octávio disse que pretende se "colocar como um fator facilitador" para administrar a crise local.

Blowback: o legado da CIA no Irã, Afeganistão e Paquistão.

Por Argemiro Ferreira

A imagem do herói no cavalo branco a salvar a mocinha das garras do vilão, seja este assaltante de banco ou índio em defesa de suas terras invadidas, é recorrente na ficção de Hollywood. O deputado Charlie Wilson morreu, aos 76 anos, no dia 10 de fevereiro, certo de que era herói na vida real. Motivo: no Congresso injetou bilhões de dólares para financiar os que lutavam contra os russos no Afeganistão.

Ao morrer do coração Wilson já estava aposentado. Mas ele representou o Texas por 14 mandatos sucessivos na Câmara. Um livro (“Charlie Wilson’s War - The Extraordinary Story of the Largest Covert Operation in History”, de George Crile) e um filme (“Charlie Wilson’s War”, de Mike Nichols, com Tom Hanks no papel-título) o retrataram como herói.

A semana marcou ainda o 31° aniversário da revolução dos aiatolás do Irã, ocorrida apenas alguns meses antes da invasão do Afeganistão. Os iranianos derrubaram o regime do xá Reza Pahlevi, instalado em 1953 graças a golpe planejado pela mesma CIA que usou as verbas secretas do deputado Wilson para recrutar e armar os radicais islâmicos do lado paquistanês da fronteira com o Afeganistão.

O mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o deputado Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética) devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA.

A lambança atual no Afeganistão (largamente nas mãos dos radicais islâmicos usados pela CIA a partir de 1979), no Paquistão (onde a CIA instalou acampamentos para os ataques aos russos no país vizinho e encorajou o sonho paquistanês da bomba nuclear islâmica) e no Irã (que se nega hoje a abandonar o enriquecimento de urânio) reflete o passado irresponsável da espionagem dos EUA.

No Irã o golpe da CIA instalou o xá no lugar do premier nacionalista Mohamed Mossadegh, anulou a nacionalização do petróleo e com faustosa coroação em 1967 impôs a ficção do “trono de 2.500 anos”. As corporações anglo-americanas ganharam mais um quarto de século para explorar o petróleo do Irã, já que a CIA ainda concebeu a tenebrosa Savak, serviço secreto celebrizado pelas câmaras de tortura.

Ainda naquela década de 1950 o Irã foi premiado pelo governo do presidente Eisenhower com relações muito especiais - que incluiram “acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos”, deixando o país com alguma base para, em seguida à revolução dos aiatolás, assustar os EUA com a disposição de ampliar o programa nuclear e rumar para o enriquecimento de urânio.

Para o Irã submisso de Reza Pahlevi, nada era bom demais: além de favorecer o desenvolvimento nuclear, Washington ainda dotou o país de armas sofisticadas e modernizou a máquina da repressão - tudo pago com a receita do petróleo, que regalou nos EUA as indústrias bélica, aeronáutica, nuclear e de segurança. Só que hoje, tomado pelos rebeldes radicalizados nas câmaras de tortura, o Irã é outro.

De tal forma o Irã do xá era criatura da CIA que, no final de 1973, o presidente Nixon concluiu que ninguém melhor para ser embaixador em Teerã do que o próprio diretor da central de espionagem, Richard Helms - “dada a intimidade dele com o xá”, explicou. Como se fosse o posto final de uma carreira de sucesso na CIA, dirigida por Helms durante quase sete anos, antes dos três que passou no Irã.

Com a contribuição do deputado Charlie Wilson, anticomunista meio fanático, o capítulo Afeganistão-Paquistão foi ainda mais vivo, excitante e insólito - ou “colorful”, para usar adjetivo talvez mais apropriado à conduta do parlamentar excêntrico que quando não estava “salvando o mundo” da suposta “ameaça vermelha” dedicava-se ao consumo de álcool e drogas com prostitutas de luxo.

Ele ficou obviamente encantado com os relatos do livro e do filme que o tornaram celebridade. Seu papel pode ter sido singular pelo conhecimento de sutilezas do processo legislativo na Câmara, onde integrava a comissão de verbas (appropriations) e sua subcomissão sobre operações no exterior - além de cultivar contatos na comissão que supervisiona a espionagem.

Não só estava familiarizado com mecanismos e artifícios para ocultar a destinação de recursos. Também revelara-se mestre na troca de favores com colegas interessados em abocanhar verbas para projetos de seus distritos eleitorais. Certos especialistas acham que hoje teria mais dificuldades: o processo legislativo sofreu reformas depois, reduzindo - em nome da transparência - a prática do sigilo.

O fato é que Wilson começou por canalizar uma verba de US$ 5 milhões para os radicais do Afeganistão. E, no fim da década de 1980, aqueles recursos elevavam-se a nada menos de US$ 750 milhões por ano. Pode ter sido ajudado por pertencer ao partido da oposição (Democrata) numa década dominada por governos republicanos (Reagan e Bush I) obstinados em estender ainda mais as ações militares dos EUA pelo mundo.

No Afeganistão e Paquistão, sabe-se hoje, a lambança foi bipartidária - devido a uma armadilha do governo do presidente democrata Jimmy Carter. Seu assessor de segurança nacional na Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, confessaria 20 anos depois ter atraído a URSS para a idéia de invadir o Afeganistão. A invasão veio a 24 de dezembro de 1979, após seis meses de ajuda crescente da CIA aos rebeldes radicais.

Em entrevista à revista francesa “Nouvel Observateur”, em 1998, Brzezinski vangloriou-se de seu papel: “Carter assinou a 3 de julho de 1979 a primeira diretiva (à CIA) para a ajuda secreta aos opositores do regime pro-soviético de Kabul. Naquele dia eu tinha enviado nota ao presidente na qual expliquei que, na minha opinião, tal ajuda americana iria levar a uma intervenção militar soviética”.

Quando o jornalista perguntou se a ação clandestina dos EUA tivera a intenção de provocar a invasão russa, Brzezinski amenizou: “Não provocamos os russos para que invadissem, mas ampliamos conscientemente a probabilidade de que isso viesse a ocorrer”. No dia em que os russos cruzaram a fronteira, disse, escreveu de novo a Carter: “Agora temos a oportunidade de dar aos soviéticos o Vietnã deles”.

Brzezinski contestou, assim, a tese republicana que atribui a Reagan a glória pelo fim da URSS. “Durante quase 10 anos a URSS amargou guerra insuportável - um conflito que trouxe a desmoralização e, afinal, a dissolução do império soviético”, alegou. Mas o exagero é comparável ao do mérito republicano. O desfecho, após meio século, deveu-se aos dois partidos e muita gente mais - inclusive os que erraram na própria URSS.

As avaliações atuais tentam ignorar os efeitos negativos das ações da espionagem. Ao financiar, treinar e armar (até com mísseis Stinger, capazes de destruir aviões em vôo) os radicais que batizou de “combatentes da liberdade” a CIA extremou as ambições deles. Hoje ela os repudia como “terroristas”, indiferente ao fato de que aprenderam na CIA a pensar o impensável - como atacar o coração do império americano.

Com os russos fora do Afeganistão os EUA deixaram o país para os radicais que a CIA diplomou em terrorismo. Com armas como o Stinger, os talibãs tomaram o poder e ficaram até 2001. Bin Laden, saudita de nascimento, ainda dirige de lá a rede al-Qaeda, que opera no mundo a partir do território afegão. E a CIA ainda tenta “recomprar” Stinger mas nem sabe quantos distribuiu - a estimativa vai de 500 a 2.000.

O deputado Wilson, ao invés de herói, foi cúmplice das trapalhadas. Livro e filme dizem que atuava com assistência da CIA. A culpa dos EUA e sua agência ia mais longe na relação promíscua com o general-ditador paquistanês Zia-ul-Haq, que em troca do apoio à operação na fronteira afegã obteve luz verde e deu carta branca ao construtor da bomba atômica islâmica, o cientista Abdul Qadeer Khan.

No desdobramento, a receita da bomba-A do Paquistão foi parar no Irã, Coréia do Norte, Líbia e talvez outros. Assim, além de fazer a “guerra (sem fronteiras) ao terrorismo” e lutar no Afeganistão contra os que antes chamava de “combatentes da liberdade”, os EUA hoje têm de vigiar o Dr. Khan, o serviço secreto (ISI) do Paquistão, os progressos nucleares do Irã e da Coréia do Norte e sabe-se-lá-mais-o-que.

A própria CIA adotou a expressão “blowback” para designar os efeitos opostos ao que pretendia em cada uma de suas operações clandestinas. A palavra apareceu pela primeira vez em relatório secreto de 1954 sobre o golpe da CIA no Irã. O “blowback” da derrubada de Mossadegh foi a tirania de 25 anos e a revolução (antiamericana) dos aiatolás. Já no Afeganistão os ataques do 11/9 nos EUA tendem a ficar como exemplo maior.


 
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Família filma passagem de tornado por fazenda na Austrália

Argentina e Inglaterra disputam petróleo das Ilhas Malvinas

Bol Notícias

Raquel Garzón
Em Buenos Aires
Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Petróleo é o nome do jogo. E vem causando atritos nas relações diplomáticas entre a Argentina e o Reino Unido desde o início do mês de fevereiro. As causas são as explorações em busca do cru que empresas britânicas começarão nos próximos dias a cerca de 160 km ao norte das ilhas Malvinas, arquipélago cuja soberania os dois países ainda disputam.

Na terça-feira (16), a Argentina passou do "enérgico protesto" diplomático à ação: a presidente Cristina Fernández de Kirchner decretou que "todo navio ou artefato naval que se proponha transitar" entre os portos continentais e as ilhas Malvinas "deverá solicitar uma autorização prévia" ao governo argentino, desse modo limitando o tráfego marítimo - tanto comercial quanto turístico - na região.
Kirchner baseou a decisão em resoluções da ONU "sistematicamente desacatadas pelo Reino Unido", que instam os dois países a retomar as conversações sobre a soberania das ilhas, abstendo-se de decisões unilaterais. Depois das versões jornalísticas inglesas que especularam, na primeira semana de fevereiro, sobre um eventual "confronto bélico" por esse motivo, agitando o fantasma da guerra de 1982, e negadas rotundamente por Buenos Aires, o ministério das Relações Exteriores britânico tentou baixar os decibéis, expressando o "desejo" de que a "colaboração" que os dois países mantêm em diversas áreas continue.

A chegada da plataforma Ocean Guardian, contratada pela empresa britânica Desire Petroleum para perfurar oito poços, em um programa que duraria entre seis e oito meses, está prevista para sexta-feira (19), embora possa atrasar por razões climáticas. Os custos da exploração - desconhecidos - serão cobertos pela indústria, sem que Londres ou as ilhas desembolsem uma libra.

A medida argentina pretende dificultar, desanimar e encarecer essa exploração, enquanto se multiplicam as reclamações pela via diplomática. Esse é o motivo pelo qual esta semana as autoridades argentinas impediram o embarque de uma partida de tubos sem costura, supostamente destinados à atividade petroleira no arquipélago. "Cada país está agindo segundo a posição que tomou na política internacional e suas pretensões, mas falamos de águas e terras em disputa, por isso a reivindicação argentina é correta", explicou o ex-embaixador Lucio García del Solar, o diplomata argentino que mais conhece o tema Malvinas. "Na Argentina usamos a expressão 'embarrear o campo'", uma estratégia que neste caso significaria, segundo García del Solar, "apertar os parafusos para dificultar a manutenção da disputa, coisa que na Espanha é compreensível se se pensar que algumas vezes os espanhóis dificultaram a vida dos habitantes de Gibraltar tomando medidas nas fronteiras."

Nas ilhas, o clima de negócios é bem-vindo. Ninguém sabe se há realmente petróleo, mas as perfurações revelarão um mistério que pode se traduzir em uma solvência financeira perpétua para os moradores. Os estudos existentes especulam com reservas entre 60 bilhões de barris (os mais otimistas) e 3 bilhões de barris. "O Reino Unido tem reservas de 3,4 bilhões de barris e a Argentina, de 2,6 bilhões", explica Daniel Montamat, ex-secretário de Energia durante o mandato de Raúl Alfonsín e ex-presidente da YPF. "Com o barril a US$ 77, o negócio é claro."

Crítico da "indiferença e reação retardada" do governo atual em um assunto para o qual, ele afirma, "não há política de Estado", Montamat indica ações indispensáveis. "Sem abandonar a via diplomática, é preciso conceder autorizações de exploração no mar argentino. Deve-se dar aos investidores a oportunidade de trabalhar em águas que não sejam objeto de litígio internacional. Se não o fizermos, há um risco certo: caso se encontre petróleo, isto poderá ajudar o desejo do Reino Unido de validar a autodeterminação das ilhas."

IBOPE: Dilma diminui vantagem de Serra nas intenções de voto

Do Portal UOL

São Paulo, 17 fev (EFE).- A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, possível candidata do PT para as eleições presidenciais de outubro, diminuiu ainda mais a vantagem do governador paulista José Serra, do PSDB, revelou hoje uma pesquisa de intenções de voto.

O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) em uma pesquisa encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, indicou que Dilma passou de 17% a 25%, enquanto Serra caiu de 38% para 36%. A variação deixa o governador "tecnicamente estável" segundo a margem de erro.

Na terceira posição apareceu o deputado cearense Ciro Gomes, do PSB, com 11% das intenções, seguido da senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, do PV, com 8%.

Ciro Gomes perdeu dois pontos percentuais, enquanto Marina Silva aumentou dois pontos em relação à pesquisa anterior realizada em dezembro.

Pela margem de erro, de dois pontos percentuais da enquete, Ciro Gomes e Marina Silva ficaram na mesma posição.

A percentagem de votos brancos foi de 11% e o de eleitores ainda indecisos foi de 9%.

Na simulação de um eventual segundo turno, Serra aparece com o 47% das intenções de voto, enquanto Dilma, favorita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 33%.

A pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7 de fevereiro com 2.002 eleitores em 144 municípios de todo o país e um nível de confiança de 95%.

Prevê-se que o PT eleja Dilma Rousseff como sua candidata à Presidência, em um ato previsto para o próximo sábado, no quarto congresso do partido, que começa amanhã.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

André Singer: O Lulismo pode durar 30 Anos.

Do blog "Democracia Politica e Novo Reformismo", do Gilvan Cavalcanti de Melo, reproduzindo entrevista da Revista Epoca com o jornalista Andre Singer.

Para o ex-porta-voz de Lula, a conquista dos eleitores pobres levará o PT à hegemonia política

Mariana Sanches

Autor de um artigo que causou grande repercussão nos meios acadêmicos e políticos, o cientista político e ex-porta-voz da Presidência André Singer diz que as eleições presidenciais de 2010 serão o grande teste de força do lulismo. Para Singer, o lulismo alia um projeto de redistribuição de renda à manutenção da ordem social, o que atraiu eleitores conservadores e de baixa renda historicamente avessos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Singer acompanhou Lula ao longo do primeiro mandato e estudou o comportamento eleitoral brasileiro nas cinco últimas eleições para presidente. Segundo ele, o lulismo reorganizou o eleitorado brasileiro e poderá virar uma força política hegemônica por décadas.

ENTREVISTA - ANDRÉ SINGER

ÉPOCA – Como o senhor define o lulismo?
André Singer – O lulismo é a execução de um projeto político de redistribuição de renda focado no setor mais pobre da população, mas sem ameaça de ruptura da ordem, sem confrontação política, sem radicalização, sem os componentes clássicos das propostas de mudanças mais à esquerda. Foi o que o governo Lula fez. A manutenção de uma conduta de política macroeconômica mais conservadora, com juros elevados, austeridade fiscal e câmbio flutuante, foi o preço a pagar pela manutenção da ordem. Diante desse projeto, a camada de baixa renda, cerca de metade do eleitorado, começou a se realinhar em direção ao presidente.

ÉPOCA – Quando isso aconteceu?
Singer – Em 2006. Houve um realinhamento eleitoral, um deslocamento grande de eleitores que ocorre a cada tantas décadas. A matriz desse tipo de estudo é americana. Lá, eles acham que aconteceu um realinhamento eleitoral em 1932, quando (Franklin) Roosevelt ganhou a eleição presidencial. Ele puxou uma base social de trabalhadores para o Partido Democrata que não havia antes. Aqui, em 2006 a camada de baixíssima renda da população, que sempre tinha votado contra o Lula, votou a favor dele. A diferença entre 2002 e 2006 foi que Lula perdeu base na classe média, seu eleitorado tradicional, e ganhou base entre os eleitores de baixa renda.

ÉPOCA – O lulismo pode sobreviver sem o Lula? Não é preciso uma liderança carismática à frente desse projeto político?
Singer – No lulismo existe um elemento de carisma, mas isso não é o mais importante. A importância do carisma é maior nas regiões menos urbanizadas do país, onde se tende a atribuir a capacidade de execução de um projeto a características especiais da liderança. Em regiões urbanizadas existe uma adesão mais racional ao programa político. Se minha análise estiver correta, o lulismo sobreviverá sem o Lula. Uma hipótese é que o lulismo vá desaguar no PT. Essa camada social que aderiu ao Lula pode lentamente começar a votar nos candidatos do PT a prefeito, governador, senador. Vejo indícios de que isso começou a ocorrer nas eleições municipais de 2008. O PT foi mal nas capitais, mas foi bem nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte. Isso pode sinalizar que o voto da camada de menor renda da sociedade está caminhando para o PT.

ÉPOCA – Dilma Rousseff será a herdeira do lulismo? O que acontecerá em 2010?
Singer – Mantidas as condições atuais, a tendência é que, à medida que ficar claro para o eleitor que a Dilma é a candidata de continuidade do lulismo, ela aumentará suas intenções de voto com chances consideráveis de ganhar a eleição.

ÉPOCA – Se o lulismo desaguar no PT, o partido terá de abrir mão de bandeiras históricas de esquerda?
Singer – O PT poderá ser uma fusão de duas forças, o petismo e o lulismo, que têm projetos com pontos de contato e diferenças. O PT continua sendo o partido do proletariado organizado, sindicalizado, com carteira de trabalho assinada. Pode vir a ser também o partido do subproletariado. Quando a gente vê a força do PT na periferia de São Paulo pode ser a expressão da confluência dessas duas forças.

ÉPOCA – Se essa convergência ocorrer, haverá uma hegemonia do PT?
Singer – Pode ser. É possível que estejamos assistindo a um realinhamento como foi na época do Roosevelt, que trouxe segmentos da classe trabalhadora para o Partido Democrata por cerca de 30 anos.

ÉPOCA – Essa camada que era anti-Lula, antiesquerda e a favor da ordem não teria dificuldades em se associar ao PT?
Singer – Com adaptações de parte a parte parece possível, mas será um processo lento. Não é tão simples porque o PT tem formação ideológica de esquerda e, embora tenha se transformado, mantém a identidade de um partido de esquerda. O PT é herdeiro de uma tradição de crítica ao populismo. Se o partido vier a ser caudatário desse movimento, vai haver o encontro de águas bem diferentes.

ÉPOCA – O que aproxima o lulismo do populismo de Getúlio Vargas?
Singer – Em ambos há uma política de governo voltada para os setores de menor renda. Mas há uma diferença importante. Getúlio Vargas, ao fazer a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), criou direitos para o setor urbano da classe trabalhadora, em um país predominantemente rural. Deixou de fora um vasto setor da classe trabalhadora que foi incorporado agora.

ÉPOCA – O lulismo pode prejudicar as instituições democráticas?
Singer – O presidente Lula tomou uma decisão fundamental ao não aceitar a proposta do terceiro mandato. Colocou um ponto final nessa questão. O Brasil sai desse processo com instituições democráticas fortalecidas. Há problemas na política partidária, cada vez mais pragmática e menos programática. Isso cria a sensação de que a política diz respeito aos políticos, e não à sociedade.

ÉPOCA – Lula e o PT, em sua estratégia eleitoral, fizeram uma guinada ao centro. A política econômica ortodoxa não tem a ver com esse caminho que o partido já vinha tomando antes de chegar ao poder?
Singer – O PT foi se institucionalizando, mas a ida ao centro é relativa se você olhar o aspecto programático. O partido manteve um programa com mudanças relativamente pequenas. E é isso que faz com que o PT mantenha a identidade de esquerda. Onde houve mudança foi na política de alianças do PT. Antes ele recusava alianças até o ponto de, em 1989, não querer o apoio do PMDB no segundo turno, sem contrapartida. Hoje o PT dá prioridade à aliança com o PMDB. Isso é compreensível do ponto de vista eleitoral, por causa do tempo de televisão, do tamanho do PMDB. Mas é também um problema porque não se sabe qual é a base programática dessa aliança.

ÉPOCA – Com Dilma na Presidência, crescem as chances de o PT aplicar um programa de governo mais à esquerda?
Singer – Depende da política de alianças. Se você tiver um vice-presidente como o Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), as probabilidades caem muito. Mas o sentimento do PT é ter um governo mais à esquerda.

ÉPOCA – A emergência dos pobres significará a marginalização da classe média?
Singer – A entrada em cena dessa força nova tirou a centralidade das decisões políticas da classe média. Se o lulismo se consolidar, teremos o setor de baixa renda em um campo político e a classe média tradicional em outro. A nova classe média é dúvida. A oposição em 2010 vai fazer tudo para não se isolar dos eleitores de baixa renda. Vai tentar a mágica de convencer os lulistas de que seu candidato é melhor para dar continuidade ao projeto do que a candidata da situação.

QUEM É
André Singer é jornalista e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo. Tem 51 anos, é casado e pai de duas filhas

O QUE FEZ
Foi porta-voz da Presidência da República entre 2003 e 2007 e secretário de Imprensa de 2005 a 2007

O QUE PUBLICOU
E autor de Esquerda e direita no eleitorado brasileiro (Edusp, 2000) e de O PT (Publifolha, 2009) e organizador de Sem medo de ser feliz: cenas de campanha (Scritta, 1990)

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