Bol Notícias
Raquel Garzón
Em Buenos Aires
Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Petróleo é o nome do jogo. E vem causando atritos nas relações diplomáticas entre a Argentina e o Reino Unido desde o início do mês de fevereiro. As causas são as explorações em busca do cru que empresas britânicas começarão nos próximos dias a cerca de 160 km ao norte das ilhas Malvinas, arquipélago cuja soberania os dois países ainda disputam.
Na terça-feira (16), a Argentina passou do "enérgico protesto" diplomático à ação: a presidente Cristina Fernández de Kirchner decretou que "todo navio ou artefato naval que se proponha transitar" entre os portos continentais e as ilhas Malvinas "deverá solicitar uma autorização prévia" ao governo argentino, desse modo limitando o tráfego marítimo - tanto comercial quanto turístico - na região.
Kirchner baseou a decisão em resoluções da ONU "sistematicamente desacatadas pelo Reino Unido", que instam os dois países a retomar as conversações sobre a soberania das ilhas, abstendo-se de decisões unilaterais. Depois das versões jornalísticas inglesas que especularam, na primeira semana de fevereiro, sobre um eventual "confronto bélico" por esse motivo, agitando o fantasma da guerra de 1982, e negadas rotundamente por Buenos Aires, o ministério das Relações Exteriores britânico tentou baixar os decibéis, expressando o "desejo" de que a "colaboração" que os dois países mantêm em diversas áreas continue.
A chegada da plataforma Ocean Guardian, contratada pela empresa britânica Desire Petroleum para perfurar oito poços, em um programa que duraria entre seis e oito meses, está prevista para sexta-feira (19), embora possa atrasar por razões climáticas. Os custos da exploração - desconhecidos - serão cobertos pela indústria, sem que Londres ou as ilhas desembolsem uma libra.
A medida argentina pretende dificultar, desanimar e encarecer essa exploração, enquanto se multiplicam as reclamações pela via diplomática. Esse é o motivo pelo qual esta semana as autoridades argentinas impediram o embarque de uma partida de tubos sem costura, supostamente destinados à atividade petroleira no arquipélago. "Cada país está agindo segundo a posição que tomou na política internacional e suas pretensões, mas falamos de águas e terras em disputa, por isso a reivindicação argentina é correta", explicou o ex-embaixador Lucio García del Solar, o diplomata argentino que mais conhece o tema Malvinas. "Na Argentina usamos a expressão 'embarrear o campo'", uma estratégia que neste caso significaria, segundo García del Solar, "apertar os parafusos para dificultar a manutenção da disputa, coisa que na Espanha é compreensível se se pensar que algumas vezes os espanhóis dificultaram a vida dos habitantes de Gibraltar tomando medidas nas fronteiras."
Nas ilhas, o clima de negócios é bem-vindo. Ninguém sabe se há realmente petróleo, mas as perfurações revelarão um mistério que pode se traduzir em uma solvência financeira perpétua para os moradores. Os estudos existentes especulam com reservas entre 60 bilhões de barris (os mais otimistas) e 3 bilhões de barris. "O Reino Unido tem reservas de 3,4 bilhões de barris e a Argentina, de 2,6 bilhões", explica Daniel Montamat, ex-secretário de Energia durante o mandato de Raúl Alfonsín e ex-presidente da YPF. "Com o barril a US$ 77, o negócio é claro."
Crítico da "indiferença e reação retardada" do governo atual em um assunto para o qual, ele afirma, "não há política de Estado", Montamat indica ações indispensáveis. "Sem abandonar a via diplomática, é preciso conceder autorizações de exploração no mar argentino. Deve-se dar aos investidores a oportunidade de trabalhar em águas que não sejam objeto de litígio internacional. Se não o fizermos, há um risco certo: caso se encontre petróleo, isto poderá ajudar o desejo do Reino Unido de validar a autodeterminação das ilhas."
Nenhum comentário:
Postar um comentário