sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Grécia e os Corsários Financeiros

Belo artigo do Clóvis Rossi na Folha de São Paulo sobre a crise na Grécia. Revela a ação livre do capital financeiro especulativo em determinados mercados, prejudicando países economicamente frágeis e faz uma comparação com o sistema de seguros, tomando por base o preceito básico do interesse no bem assegurado por parte de quem faz o seguro. 
Muito interessante também o comentário da Chanceler alemã conservadora Angela Merkel ao afirmar: "Seria uma desgraça se for verdade que os bancos que já nos puxaram para a beira do abismo tomaram também parte na falsificação das estatísticas gregas". Certamente o sistema financeiro mundial não será mais o mesmo do que foi alguns anos atrás.

CLÓVIS ROSSI

Licença para queimar a casa (a sua)

Crise na Grécia é também nova aventura dos corsários da banca; só se tornou aguda com ataque especulativo


VOCÊ JÁ deve ter lido tudo o que a ortodoxia -hegemônica no mundo- tem a dizer sobre a crise na Grécia, que ameaça até o euro, uma das duas únicas moedas de reserva do planeta, atrás do dólar.
Culpa do governo, que gasta demais e é irresponsável ao ponto de falsificar as estatísticas. Foi o governo anterior, conservador, não o atual, social-democrata, mas não adianta: paga o Estado grego, seja quem for o responsável ou o ocupante de turno.
Nenhuma dessas acusações é falsa. Mas elas não contam a história inteira da crise na Grécia.
Ela só se tornou aguda a ponto de ameaçar quebrar o país por conta de um ataque especulativo praticado por instituições financeiras.
O ataque especulativo usou, entre outros, um instrumento muito citado desde que a crise global se instalou, mas é muito pouco compreendido, os tais CDSs (Credit Default Swaps). Trata-se, para simplificar, de um espécie de apólice de seguro contra "default" (calote, em linguagem de gente normal).
Para entender melhor como funciona, recorro a artigo para o "Financial Times" do dia 11 de James Rickards, hoje na Omnis, mas que foi conselheiro da Long-Term Capital Management, que quebrou anos atrás também envolvida em transações nebulosas.
Rickards lembra que, por 250 anos, o mercado de seguros funcionou com base em um preceito básico: o do interesse no bem assegurado por parte de quem fazia o seguro. Escreve Rickards: "Seu vizinho não pode comprar um seguro sobre sua casa porque ele não tem interesse "assegurável" nela. Esse tipo de seguro é considerado não saudável porque causaria no vizinho o desejo de que sua casa queimasse -e ele poderia até acender o fósforo".
O CDS é, basicamente, esse tipo de seguro não saudável, vendido e revendido em troca de gordas comissões. Pior: no caso da Grécia, o "vizinho" (o mercado financeiro) de fato acendeu o fósforo. Só não queimou o país todo porque a União Europeia funcionou como Corpo de Bombeiros, relutante, mas bombeiros ao fim e ao cabo.
Pior ainda: os piromaníacos do mercado financeiro ajudaram a acumular material inflamável na casa chamada Grécia, oferecendo instrumentos para maquiar as estatísticas lá atrás.
Comentário de Angela Merkel, a chanceler (conservadora) alemã: "Seria uma desgraça se for verdade que os bancos que já nos puxaram para a beira do abismo tomaram também parte na falsificação das estatísticas gregas".

Leia mais: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2002201006.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário