Volta e meia surgem boatos a respeito do tema, sobre a possibilidade da obtenção de uma bomba atômica por parte do grupo terrorista Al Qaeda. O que se deve perguntar é como um grupo caçado no Paquistão e no mundo todo poderia adquirir tal tecnologia, e em que grau pois, uma coisa é ter o material, outra é construir a bomba e o artefato lançador. É possível que o grupo se contentasse em apenas ter a bomba, ainda que com grau de enriquecimento do urânio que a classifique apenas como "suja", ou até as "mini-nukes" cogitadas de serem utilizadas no Iraque pela forças de coalizão. De qualquer modo, no mercado subterrâneo de armas, não se pode descartar a possibilidade do contrabando de armas nucleares, certamente em grau de confecção distante das ogivas colocadas nas pontas dos vetores fabricados pelas nações que detém esta tecnlogia, até porque não se pode esconder um míssil tão facilmente, tampouco ter acesso à teconologia de direcionamento eficiente deste vetores. A matéria foi disponibilizada no UOL exclusivamente para assinantes, e foi publicada no Herald Tribune.
Por H. D. S. Greenway
Recentemente os diretores da CIA, do FBI e da diretoria de Inteligência Nacional disseram à senadora Dianne Feinstein que uma tentativa de ataque contra os Estados Unidos nos próximos anos é quase que “uma certeza”. Se Osama Bin Laden e Ayman al-Zawahiri tiverem ligação com tal plano, é improvável que esse ataque seja uma tentativa amadora similar àquela do patético “homem-bomba da cueca”, Umar Farouk Abdulmutallab, que tentou explodir um avião no Natal passado.
E tampouco o atentado se restringirá à destruição por bombas de ônibus e trens em Londres ou Madri. Isso poderia ser suficiente em se tratando de alvos europeus, mas, em relação aos Estados Unidos, a Al Qaeda parece estar determinada a superar os atentados de 11 de setembro de 2001 e a fazer algo realmente espetacular.
Esta é a opinião de Rolf Mowatt-Larssen, um ex-agente da CIA e diretor de Inteligência e Contra-inteligência do Departamento de Energia. Em um documento escrito para o Centro Belfer da Universidade Harvard, Mowatt-Larssen relata detalhadamente o paciente trabalho de uma década da Al Qaeda no sentido de roubar ou construir uma arma nuclear improvisada – o que seria o supremo horror.
Essa busca explica por que a Al Qaeda não tentou “produzir armas táticas mais disponíveis, como 'bombas sujas', agentes químicos, toxinas e venenos grosseiros” que poderiam causar estragos e provocar mortes, mas que não se comparam “aos benefícios da criação da imagem de uma nuvem em forma de cogumelo crescendo sobre uma cidade dos Estados Unidos”. Assim como o 11 de setembro de 2001, tal ataque “alteraria o curso da história”, afirma Mowatt-Larssen.
Isso poderia explicar por que Zawahiri, o braço-direito de Bin Laden, suspendeu um ataque contra o sistema de metrô de Nova York, poupando recursos para “algo melhor”. Um ataque relativamente fácil com o uso de armas táticas não poderia atingir os objetivos que os líderes da Al Qaeda estabeleceram para si, argumenta Mowatt-Larssen. A Al Qaeda pode estar aguardando o momento certo para desfechar um ataque verdadeiramente estratégico.
Mowatt-Larssen explica detalhadamente os esforços da Al Qaeda no sentido de obter uma arma nuclear a partir do final de 1993 e início de 1994. Segundo um desertor do grupo, houve uma tentativa por parte da Al Qaeda de comprar material nuclear da África do Sul com o propósito de fabricar um “dispositivo nuclear improvisado” por US$ 1,5 milhão (R$ 2,7 milhões).
Em 1996, o próprio Zawahiri foi detido na Rússia, mas acabou sendo libertado pelos serviços de segurança. Os analistas especulam que ele estava tentando comprar uma bomba. Zawahiri disse certa vez que por US$ 30 milhões (R$ 54,2 milhões) seria possível comprar uma “bomba atômica de mala” de um cientista insatisfeito da ex-União Soviética. Em 1998 ele assumiu pessoalmente controle sobre os programas de armas nucleares e biológicas da Al Qaeda.
Naquele mesmo ano Bin Laden emitiu uma “fatwa”, afirmando que uma obrigação dos bons muçulmanos é “matar norte-americanos e seus aliados, civis e militares...”. A isso se seguiram os atentados à bomba contra embaixadas norte-americanas na Tanzânia e no Quênia. Em dezembro daquele ano, Bin Laden declarou a um jornalista da revista “Time” que a aquisição de armas de destruição em massa “para a defesa de muçulmanos é uma obrigação religiosa”.
Em 1999, um programa secreto de armas biológicas da Al Qaeda foi criado em um laboratório de Kandahar. O antraz parece ter sido a arma preferida.
No verão de 2001, um homem que encaixava-se com a descrição física de Mohammed Atta, um dos terroristas do 11 de setembro, tentou comprar um avião pulverizador de lavouras na Flórida. Zacarias Moussaoui, que atualmente cumpre pena de prisão perpétua, foi pego com manuais de pulverização de plantações.
A lista continua. O proliferador nuclear paquistanês A.Q. Khan teria recusado um pedido feito pela Al Qaeda para auxiliar a organização a fabricar uma bomba atômica. Ramzi Yousef, o terrorista responsável por um atentado a bomba contra o World Trade Center, pretendia usar gás cianeto para “envolver as vítimas presas na Torre Norte” na sua tentativa fracassada de derrubar o edifício em 1993. Mas a explosão incinerou o gás.
Apesar do seu interesse por armas químicas e biológicas, a Al Qaeda parece estar concentrada na opção nuclear. O seu objetivo declarado é matar quatro milhões de estadunidenses. As tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que possuem soldados no Afeganistão também poderão ser vulneráveis a um ataque do gênero.
Embora o mundo esteja se focando no Irã como a maior fonte potencial de proliferação nuclear, o perigo mais óbvio pode estar se formando no Paquistão, sob a direção de Zawahiri e Bin Laden. E, ao contrário do Irã, a Al Qaeda não tem outros motivos para fabricar a bomba além de usá-la.
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