Enviada especial da BBC Brasil a Jerusalém
Desde que D. Pedro 2º passou pela Terra Santa há 150 anos, nenhum chefe de Estado brasileiro esteve no local em visita oficial.
A crise atual foi detonada durante a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, na semana passada. Biden planejava lançar um novo processo de negociações indiretas entre os dois lados do conflito, quando o Ministério da Defesa de Israel aprovou a construção de 112 residências no assentamento de Beitar Ilit, em território ocupado na Cisjordânia.
O anúncio foi visto como uma ameaça à retomada das negociações, mas a pá de cal veio no dia seguinte, quando o ministério do Interior, controlado pelo Shas, partido ultraortodoxo e a favor da ampliação dos assentamentos, divulgou a aprovação da construção de 1,6 mil casas em Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital de seu futuro Estado.
Fracasso americano
A decisão, classificada por muitos como uma humilhação a Biden, azedou relações entre Estados Unidos e Israel e marcou o fracasso da visita do vice de Barack Obama.
Não tardou para que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, se retirasse das negociações, Israel decretasse o fechamento temporário do acesso à Cisjordânia e reforçasse o policiamento em Jerusalém.
Em meio a essa crescente tensão, Lula chega para sua primeira visita com a ambição de se lançar como mediador de um processo de paz congelado desde dezembro de 2008, quando o presidente palestino suspendeu o diálogo com o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert
Na época, Israel tinha iniciado uma nova ofensiva militar na Faixa de Gaza.
Segundo o governo brasileiro, a visita de Lula "coroa" um processo iniciado há cinco anos com a aproximação gradual do Oriente Médio.
Estado palestino
Não está claro se o Brasil traz na manga alguma proposta nova. A posição do Brasil, no entanto, é conhecida.
Segundo a Presidência, a criação de um Estado palestino é uma necessidade urgente, e a ampliação dos assentamentos, inadmissível para o reinício das negociações.
Mas o papel exato que o Brasil pretende desempenhar é questionado por muitos em Israel. O ponto-chave da crítica ao Brasil está na aproximação de Lula e do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que não disfarça suas posições incendiárias como a negação do Holocausto e o objetivo de riscar Israel do mapa.
Israel tentará, mais um vez, alertar o Brasil sobre o "perigo" representado pelo Irã e defender a sua tese de que apenas duras sanções contra o país podem impedi-lo de desenvolver uma bomba atômica. Mas o alerta esbarra na conhecida posição de engajamento da diplomacia brasileira.
A visita oficial começa nesta segunda-feira e termina na quarta, quando Lula parte para a Jordânia.
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