Raramente em ocasiões anteriores judeus e árabes estiveram tão unidos frente à ameaça iraniana. Mas o governo de Israel está ignorando deliberadamente esta oportunidade histórica de fazer com que o processo de paz progrida. De fato, o governo de Benjamin Netanyahu parece estar satisfeito com a situação atual
Uma das doutrinas fundamentais perenes relativas ao conflito do Oriente Médio afirmava que os elementos de linha dura no governo israelense são os únicos capazes de obter um acordo de paz – os políticos mais brandos seriam muito fracos para conseguir tal resultado.
Uma segunda doutrina dizia que os líderes árabes necessitam do conflito para justificarem as suas próprias hesitações e os seus regimes não democráticos.
Com a farsa que está protagonizando neste momento em cima do seu aliado, os Estados Unidos, o governo israelense retirou simultaneamente de cena as três doutrinas, e isto não é uma boa notícia.
Primeiro, o ministro israelense do Interior, Eli Yishai, fez de bobo Joe Biden, presidente dos Estados Unidos e um amigo comprovado de Israel, que na semana passada garantiu ao Estado judeu que os Estados Unidos têm um “compromisso absoluto, total, direto com a segurança de Israel”. Como resposta, Yishai garantiu a aprovação de 1.600 novos apartamentos em setores de Jerusalém Oriental reivindicados pelos árabes.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desculpou-se pelo momento infeliz em que foi feito o anúncio e alegou que não sabia nada a respeito dos 1.600 apartamentos. Dá para acreditar que o primeiro-ministro não estivesse ciente do maior projeto de construção atual na cidade?
O “incidente” foi “prejudicial”, afirmou Netanyahu, antes de nomear autoridades graduadas para investigar os acontecimentos “a fim de assegurar a adoção de procedimentos para impedir que tais tipos de incidentes ocorram no futuro”. Netanyahu também indicou rapidamente qual foi a punição draconiana que reservou para o seu ministro: nenhuma. “Houve um incidente lamentável, que ocorreu inocentemente”, afirmou ele prematuramente, antes que a comissão tivesse sequer dado início à investigação.
A primeira doutrina acabou desaguando em uma conclusão: nenhum indivíduo que integra o governo israelense está atualmente interessado em conversações de paz – nem os elementos de linha dura nem os mais brandos:
Em janeiro, agentes do Mossad escolheram logo Dubai como cena do crime de assassinato premeditado perpetrado contra o líder do Hamas, Mahmoud al-Mabhouh. Dubai é um dos dois emirados do Golfo Pérsico que ignoraram o boicote árabe e receberam um ministro israelense.
Em fevereiro, Netanyahu declarou que os sepulcros de Raquel, na cidade de Belém, que é controlada pelos palestinos, e de Abraão, em Hebron (os dois sepulcros são sagrados tanto para cristãos quanto para muçulmanos) são “heranças culturais sionistas”.
E, em março, uma semana antes de o ultra-ortodoxo ministro do Interior Yishai ter aprovado a construção dos 1.600 apartamentos, o ministro trabalhista da Defesa, Ehud Barak, autorizou a construção de 112 novos prédios no assentamento Beitar Ilit, no território ocupado da Cisjordânia, onde supostamente estaria em vigor uma suspensão de dez meses de todas as construções.
A segunda doutrina também não tem mais nenhum valor – na verdade, o contrário é que se aplica. Não são mais os líderes árabes que necessitam de conflito para justificarem os seus regimes. Netanyahu é que precisa de conflito para manter coeso o seu governo heterogêneo formado por esquerda e direita.
Leia mais: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2010/03/17/benjamin-netanyahu-ignora-a-atual-proximidade-entre-judeus-e-arabes.jhtm
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