segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eleicoes no Chile: sobre Alternancia de Poder e Trasnferencia de Votos


As eleicoes no Chile chamam a atencao em face de seu resultado. A maior parte da populacao daquele pais (pouco mais de 50%) decidiu por brecar 20 anos de governo de centro-esquerda, e dar a vitoria ao candidato da direita, Sebastian Pinera. O que se pergunta e porque Michele Bachelet, do alto dos seus mais de 80% de aprovacao e do equilibrio economico que vive o Chile, nao conseguiu emplacar o candidato Eduardo Frei? E por aqui, por essas bandas, alguns ja comentam: seria o caso do Lula? Alta aprovacao mas pouca transferencia de votos?
As primeiras analises dao conta de que o apoio tardio da Presidente ao candidato Eduardo Frei e ainda, um racha no "Concertacion", a baixa participacao dos jovens, o fato do partido estar ha 20 anos no poder, e do proprio Frei ja ter sido Presidente, bem como a populacao nao enxergar diferencas importantes entre os oponentes, teriam prejudicado a sua candidatura.
Ha os que se apressam em afirmar que teria sindo uma derrota da Bachelet, mas, se observarmos atentamente, talvez sem a sua participacao, Pinera tivesse uma vitoria esmagadora.
Pinera hoje pode ter sido o que Bachelet foi: candidato da novidade, de algo diferente daquilo que ja esta no poder ha 20 anos, ainda que bem governando o Chile. Chega-se ao ponto que para a populacao ja nao faz tanta diferenca assim quem esteja no comando e, sendo assim, a alternancia como elemento da novidade passa a ser o motivo principal da escolha. E verdade que o Chile ainda possui problemas como a questao da geracao de empregos (afetada pela crise economica mundial), alem da questao do atendimento público de saúde e dificuldades na educação da básica à superior - no Chile, o ensino universitário é privado. Mas, em geral, a situacao economica e social e equilibrada.
Ha os que acusam o Pinera de ser pinochista por ter um irmao que serviu ao governo ditatorial e por, ele mesmo, ter enriquecido nesta epoca. Mas dai acreditar que hoje, apos todos os expurgos e avancos que a sociedade chilena fez em relacao a este passado, o candidato vitorioso trara alguma identidade ou retrocesso, e um contrasenso.
Existem tambem os que acreditam que este e um prenuncio de um novo avanco de "direitistas" na America Latina, e ai citam os casos de Honduras, Colombia e agora o proprio Chile. Esquecem que, em termos de processos eleitorais, no Uruguai, nas ultimas eleicoes, venceu um candidato de esquerda, da Frente Ampla e ex-tupamaro. Em Honduras houve um golpe travestido de defesa da constituicao e a Colombia e um aliado incondicional do EUA na regiao.
Nao acredito em julgamentos definitivos como o de que a direita avanca na America Latina. A comparacao que se faz com o Brasil e as proximas eleicoes tem seu furos, seus defeitos. A sociedade brasileira e muito mais desigual por regioes e a relacao Lula-Dilma e bem diferente daquela que envolvia Bachelet-Frei. Ainda nao conseguimos o nivel de equilibrio da sociedade chilena que permita ao povo brasileiro uma certa indiferenca sobre quem vai governa-lo nos proximos quatro anos. Talvez isso possa se aplicar a uma parcela da sociedade, mais concentrada em estados mais ricos do sul-sudeste do pais, e principalmente no Estado de Sao Paulo, com a diferenca que o povo nao e tao politizado e a imprensa age como partido politico. Ai ja nao trata de indiferenca, mas de doutrinacao mesmo.
A questao e que a altenancia no poder se aplica a todos os espectros de correntes politicas, e, em ultima analise, deve se socorrer no fato de trazer melhorias para a sociedade como um todo. Alguns paises da regiao estao numa fase historica que precisam de governos mais tutores do desenvolvimento, como o Brasil; e outros nao, como o Chile. Sao niveis diferentes de governanca, que envolve o aspecto economico e social. Assim e possivel afirmar que o fato do Brasil estar bem economicamente hoje tem muito mais peso na escolha de candidatos do que no Chile, que ja experimenta uma fase de equilibrio economico mais duradoura.
Isto nao quer dizer que oposicao nao possa ganhar as eleicoes de outubro proximo no Brasil, mas definitivamente, tambem nao quer dizer que Lula nao possa transferir votos a sua candidata. Pelo menos nao pela tese da semelhanca com o processo politico chileno.

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