domingo, 31 de janeiro de 2010

Afeganistao: Os Erros dos EUA

Na guerra contra o terror os EUA elegeram como prioridade o combate ao Taliba e a al-Qaeda, nas montanhas do Afeganistao, e o alijamento do poder de Sadam Husseim e o seu grupo, neste ultimo caso sob o falso argumento da existencia de armas de destruicao em massa. De quebra, levar os valores ocidentais de democracia e pluralismo para uma regiao em sua maior parte dominada por ditaduras assentadas sob grandes jazidas de petroleo.
Com Barack Obama, as empresas petroliferas e os interesses americanos nas fontes de energia iraquianas devidamente protegidos, foram relocadas tropas para o Afeganistao, para ali intensificar o combate ao grupo terrorista que os proprios EUA ajudaram a fomentar, via CIA, no tempo em que os invasores eram os sovieticos.
Entretanto, insistem os EUA em cometer erros que os distanciam, cada vez mais de conquistar coracoes e mentes numa regiao empobrecida, dominada por "senhores de guerra", organizada de forma feudal em que o governo de Cabul nao tem qualquer autoridade.
Ha algum tempo atras, o jornalista John Burns, do New York Times, entrevistou o embaixador russo em Cabul e ex-agente da KGB, Zamir Kabulov, que enumerou alguns erros patentes da ocupacao americana, entre eles: permanecer muito tempo ocupando o país; fazê-lo com número inadequado de tropas; acreditar que ocupar as cidades decide a guerra; ignorar a profunda aversão dos vários contingentes populacionais do Afeganistão aos estrangeiros, especialmente não muçulmanos; tentar resolver a situação militar com ataques muito agressivos e confiança apenas em armas de grande poder de destruição, especialmente forças aéreas.
A agressividade (como nao te-la numa guerra!) e a tonica da ocupacao americana e, com ela e seus metodos, os EUA tem perdido aliados internos no combate ao terror. Em recente artigo no Asia Times, reproduzido no site do Luiz Carlos Azenha, ha uma serie de narrativas sobre tal fenomeno, dos quais, podemos destacar:


(...)
Em algum momento dos últimos anos, os pashtuns que vivem no interior montanhoso do Afeganistão começaram a perder a fé no projeto dos EUA para seu país. Muitos pashtuns sabem dizer o exato momento em que houve a transformação; quase sempre, na calada da noite, quando todo o país dorme profundamente. Nos processos de detenção secreta dos EUA, os suspeitos são sequestrados quase sempre na escuridão e mandados para vários campos de concentração de priosioneiros mantidos em bases militares, na maioria dos casos sem que ninguém saiba nem por que prende nem por que é preso, e sem qualquer comunicado à família do preso.

Esses sequestros são hoje mais temidos e odiados no Afeganistão que os ataques dos mísseis-robôs, os ‘drones’ não tripulados. Os sequestros noturnos e os ‘desaparecimentos’ de pessoas, dos quais pouco se fala fora das aldeias pashtun, vão aos poucos convertendo em inimigos declarados os soldados que, há apenas alguns anos, os afegãos receberam como libertadores.
(...)

A seguir, um relato de um desses sequestros que tem fomentado o odio as tropas americanas:

Numa noite escura, em novembro

Dia 19/11/2009, às 3h15 da madrugada. Uma explosão acordou os moradores da periferia da cidade de Ghazni, cidade antiga, no sul do Afeganistão. Um pelotão de soldados dos EUA explodiu a porta da frente da residência de Majidullah Qarar, porta-voz do ministro da Agricultura. Qarar, naquele dia, estava em Cabul; mas a família estava na residência; quatro de seus parentes dormiam ali, no único cômodo da casa de hóspedes.

Um deles, Hamidullah, que vende cenouras no bazaar local, correu em direção à porta da casa de hóspedes. Foi baleado, mas conseguiu arrastar-se de volta para a casa de onde saíra, deixando uma trilha de sangue no chão. Então, Azim, padeiro, correu para ajudar o primo baleado. Também foi baleado e caiu. Os dois feridos gritaram para as duas crianças que permaneciam dentro da casa, para que fugissem; mas as crianças, paralisadas de medo, não conseguiram mover-se.

Os soldados estrangeiros, a maioria dos quais barbudos e cobertos de tatuagens, entraram, então, na sala principal da residência. Espalharam pelo chão as roupas que encontraram, quebraram louças e o que arrancaram de armários e prateleiras o que encontraram. Até que, afinal, acharam o que buscavam: Habib-ur-Rahman, especialista em programação de computadores e funcionário do governo. Rahman era encarregado de adaptar o Microsoft Windows, do idioma inglês para o idioma pashtum local, para que a administração pública pudesse usar o sistema e seus programas. Fizera um estágio no Kuwait, e o intérprete afegão que acompanhava os soldados norte-americanos disse que Rahman fora denunciado por ser membro da al-Qaeda.

Arrastaram Rahman e um primo, sem sapatos, para um helicóptero pousado perto da casa e os levaram para uma pequena base dos EUA numa província vizinha, para interrogatório. Depois de dois dias, o exército dos EUA libertou o primo. De Rahman, nunca mais houve qualquer sinal ou notícia.

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