terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Egoísmo dos Bancos

O texto é de Thomas Friedman, colunista de assuntos internacionais do New York Times, e revela seu apoio às políticas de Barack Obama para evitar que novos "incidentes" como o de 2008 voltem a ocorrer no sistema financeiro americano.

 

 

Somente adultos, por favor


Thomas L. Friedman
Talvez seja só eu, mas nas últimas semanas achei a política americana particularmente irritante. Nossa economia ainda está muito frágil, mas não daria para perceber isso pela forma que a classe política está agindo. Somos como um paciente que acaba de sair da UTI e está sentando na cama pela primeira vez quando, subitamente, todos os médicos e enfermeiros começam a discutir ao lado da cama. Um deles joga um estetoscópio para longe; outro ameaça desligar todos os monitores a não ser que as contas do hospital sejam pagas até o meio dia; e o tempo todo o paciente está pensando: “Vocês estão loucos? Estou apenas começando a me recuperar. Vocês não entendem como seria fácil eu ter uma recaída? Não há adultos aqui?”
Algumas vezes você se pergunta: será que estamos em casa sozinhos? Obviamente as elites políticas e financeiras a quem damos autoridade frequentemente agem com base em interesses pessoais. Mas ainda temos muito que avançar para sairmos da bagunça em que entramos e, se nossas elites não se comportarem com maior senso de bem comum, podemos ver nossa economia dar outro mergulho com salto mortal.
Dov Seidman, diretor executivo da LRN, que ajuda empresas a construírem culturas éticas, gosta de falar em dois tipos de valores: “valores de ocasião” e “valores sustentáveis”. Os líderes, empresas ou indivíduos guiados por valores de ocasião agem conforme o momento, não importa os interesses maiores de suas comunidades. Um banqueiro que assina uma hipoteca para alguém que sabe que não poderá pagar a dívida no longo prazo está agindo com valores de ocasião, dizendo: “Não estarei mais aqui quando a conta aparecer.”
As pessoas inspiradas por valores sustentáveis agem de forma exatamente oposta, dizendo: “Nunca vou embora. Estarei sempre aqui. Portanto, preciso me comportar de uma forma que sustente meus empregados, meus clientes, meus fornecedores, meu ambiente, meu país e as futuras gerações.”
Ultimamente, vimos uma explosão de pessoas pensando apenas em valores de ocasião. Em geral, apóio as propostas que o presidente Barack Obama expôs na semana passada para impedir os bancos de se tornarem grandes demais para falirem e para proteger os contribuintes dos bancos que entram em colapso especulando excessivamente e que depois esperam que livremos a cara deles. Mas a forma como o presidente revelou suas propostas –“Se esses sujeitos querem briga, essa briga estou disposto a ter”- me fez sentir como se ele estivesse procurando uma forma de falar mal dos bancos logo após a perda dos democratas em Massachusetts, para marcar alguns pontos políticos baratos no lugar de iniciar uma discussão nacional séria sobre uma questão incrivelmente complexa.
Obama é tão melhor quando ele pega uma questão quente e enrolada, como direitos civis ou reforma bancária, e fala ao país como a um adulto. Ele é tão melhor quando nos deixa mais inteligentes do que raivosos. Entrar em guerra com os bancos para tirar um rápido prazer de popularidade após uma perda eleitoral só vai funcionar contra ele e contra nós. Vai fazer os bancos emprestarem ainda menos e retardar ainda mais a recuperação.
Isso dito, uma parte de mim não culpa o presidente. O comportamento de alguns importantes bancos de Wall Street, particularmente do Goldman Sachs, foi extremamente egoísta. Os contribuintes norte-americanos seguraram o Goldman ao salvarem um de seus maiores devedores, a AIG. Em qualquer cálculo justo, o Tesouro americano deveria ter uma fatia do Goldman hoje. Por anos, o Goldman foi o exemplo maior de bancos que se comportavam com base em valores de ocasião –explorando o que quer que uma ocasião ou regra permitissem.
Obama também tentou criar uma comissão bipartidária para criar um plano para reduzir a dívida nacional –um plano que causaria dor aos dois partidos cortando alguns programas e aumentando alguns impostos. Contudo, o líder republicano, senador Mitch McConnnell, disse que o partido não ia cooperar com qualquer comissão que propusesse o aumento de impostos. E alguns democratas liberais rejeitaram cortar seus programas favoritos. Isso é que é altruísmo pelo país.

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