Nao sei se e um problema de crenca ou descrenca. A verdade e que todas as vezes que nos deparamos com situacoes como estas, vem sempre aquela pergunta: onde estava Deus? Numa roda de amigos esta foi a questao levantada por um de nos. O porque de tanto sofrimento.
Considero-me crente, mas nao soube explicar exatamente o porque, nao a ponto de tocar o coracao ou a mente daquele meu amigo. Acredito que e porque a crenca (que ele denominou de "muleta") e algo muito particular, individual e soa estranho para aqueles que nao comungam ou nao as tem em comum.
Foram citados os filosofos iluministas, como Voltaire, e sua perplexidade em relacao ao terremoto de 1755 que devastou a cidade de Lisboa e o fato de ele ter ocorrido no Dia de Todos os Santos. E o fato da Sra. Zilda Arns, em plena acao de caridade, tenha perecido da forma como pereceu.
Outros, de corrente espiritualista, acreditam na questao da causa-efeito e do carma. Mais tarde, na televisao, vi duas pessoas comentando sobre esta questao (nao exatamente a do Haiti): o perecimento de pessoas inocentes ou de tantas pessoas, quaisquer que sejam as circunstancias.
A verdade e que nos incomodamos com aquilo que nao conseguimos explicar, principalmente frente a nossa finitude e a nossa fragilidade. Nos deixamos oprimir pela magnitude desse fenomeno que e a vida, que ao mesmo tempo nos deixa maravilhados e perplexos. Maravilhados com sua dimensao, beleza e complexidade. Perplexos com a nossa condicao de limitacao e impotencia, embora sejamos chamados constantemente a interagir com esta realidade.
E onde Deus? Tenho pra mim que nos momentos de angustia caimos na tentacao de simplificar aquilo que nao podemos ou nao temos condicao de entender. A proprio nocao de Deus e um misterio em si, porque encerra conceitos como onisciencia, onipresenca e onipotencia na ideia maior de imanencia. Sao conceitos que tocam muito de leve a nossa consciencia, assim mesmo em situacoes de maior sublimacao, que, no meu entender, acontecem numa oracao sincera ou quando conseguimos uma profunda contemplacao. Ou seja, sao experiencias individuais, bastante particulares, assim como e a vida de cada um.
Por isso, talvez o que valha nao seja tanto o corpo que ficou para tras, mas a vida que aquele corpo abrigou e a forma como ela interagiu neste mundo. A forma como se morre ainda nos impressiona, o que e natural, mas o que realmente importa e como se viveu. Certamente, assim como a Sra. Zilda Arns, muitos que ali estavam ajudando a tantos outros de modo algum podem ser considerados como malditos pela forma como morreram. Muito pelo contrario. E isto e a unica coisa que importa.
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