O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) inaugurou terça-feira (28/12), no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), em Cachoeira Paulista (SP), o supercomputador Tupã. Com o nome do deus do trovão na mitologia tupi-guarani, o sistema computacional é o terceiro maior do mundo em previsão operacional de tempo e clima sazonal e o oitavo em previsão de mudanças climáticas. Não apenas isso. De acordo com a mais recente relação do Top 500 da Supercomputação, que lista os sistemas mais rápidos do mundo, divulgada em novembro, o Tupã ocupa a 29ª posição. Essa é a mais alta colocação já alcançada por uma máquina instalada no Brasil.
Ao custo de R$ 50 milhões, dos quais R$ 15 milhões foram financiados pela FAPESP e R$ 35 milhões pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o sistema foi fabricado pela Cray, em Wisconsin, nos Estados Unidos.
O Tupã é capaz de realizar 205 operações de cálculos por segundo e processar em 1 minuto um conjunto de dados que um computador convencional demoraria mais de uma semana.
Com vida útil de seis anos, o equipamento permitirá ao Inpe gerar previsões de tempo mais confiáveis, com maior prazo de antecedência e de melhor qualidade, ampliando o nível de detalhamento para 5 quilômetros na América do Sul e 20 quilômetros para todo o globo.
A máquina também possibilitará melhorar as previsões ambientais e da qualidade do ar, gerando prognósticos de maior resolução – de 15 quilômetros – com até seis dias de antecedência, e prever com antecedência de pelo menos dois dias eventos climáticos extremos, como as chuvas intensas que abateram as cidades de Angra dos Reis (RJ) e São Luiz do Paraitinga (SP) no início de 2010.
“Com o novo computador, conseguiremos rodar modelos meteorológicos mais sofisticados, que possibilitarão melhorar o nível de detalhamento das previsões climáticas no país”, disse Marcelo Enrique Seluchi, chefe de supercomputação do Inpe e coodernador substituto do CPTEC, à Agência FAPESP.
Segundo o pesquisador, no início de janeiro de 2011 começarão a ser rodados no supercomputador, em nível de teste, os primeiros modelos meteorológicos para previsão de tempo e de mudanças climáticas. E até o fim de 2011 será possível ter os primeiros resultados sobre os impactos das mudanças climáticas no Brasil com dados que não são levados em conta nos modelos internacionais.
Modelo climático brasileiro
De acordo com Gilberto Câmara, diretor do Inpe, o supercomputador foi o primeiro equipamento comprado pela instituição de pesquisa que dispensou a necessidade de financiamento estrangeiro.
“Todos os outros três supercomputadores do Inpe contaram com financiamento estrangeiro, que acaba custando mais caro para o Brasil. O financiamento da FAPESP e do MCT nos permitiu realizar esse investimento sem termos que contar com recursos estrangeiros”, afirmou.
O supercomputador será utilizado, além do Inpe, por outros grupos de pesquisa, instituições e universidades integrantes do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, da Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climática (Rede Clima) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas.
Em seu discurso na inauguração, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destacou a importância do supercomputador para o avanço das pesquisas realizadas no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, que foi concebido para durar pelo menos dez anos, e para a criação do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG).
“O modelo incorporará os elementos do sistema terrestre (atmosfera, oceanos, criosfera, vegetação e ciclos biogeoquímicos, entre outros), suas interações e de que modo está sendo perturbado por ações antropogênicas, como, por exemplo, emissões de gases de efeito estudo, mudanças na vegetação e urbanização”, disse.
A construção do novo modelo envolve um grande número de pesquisadores do Brasil e do exterior, provenientes de diversas instituições. E se constitui em um projeto interdisciplinar de desenvolvimento de modelagem climática sem precedentes em países em desenvolvimento.
“Não tínhamos, no Brasil, a capacidade de criar um modelo climático global do ponto de vista brasileiro. Hoje, a FAPESP está financiando um grande programa de pesquisa para o desenvolvimento de um modelo climático brasileiro”, disse Brito Cruz.
Na avaliação dele, o supercomputador representará um avanço na pesquisa brasileira em previsão de tempo e mudanças climáticas globais, que são duas questões estratégicas para o país.
Impossibilitado de participar do evento, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, gravou um vídeo, exibido na solenidade de inauguração do supercomputador, em que declarou o orgulho da instalação no Brasil do maior supercomputador do hemisfério Sul.
“Com esse supercomputador, o Brasil dá mais um passo para cumprir as metas de monitoramento do clima assumidas internacionalmente e entra no seleto grupo de países capazes de gerar cenários climáticos futuros”, disse.
Mais informações: www.inpe.br
Fonte: http://www.planetauniversitario.com/index.php?option=com_content&view=article&id=19250:superprevisao-do-tempo-pergunte-ao-tupa&catid=56:ciia-e-tecnologia&Itemid=75
Agência FAPESP
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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Tupã e a Previsão do Tempo
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A Casa Grande e a Senzala
O ENEM e o crédito fácil. O extremismo pós-eleições: o preconceito regional, de classe, raça, opção sexual. É a Casa-Grande estrebuchando no seu velho pensamento.
Parte 1
Parte 2
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sábado, 25 de setembro de 2010
Um Discurso Histórico de Lula
Foi em Campinas (21/09/2010) e mostra o porquê de Lula ser um político de envergadura. Foi a partir dele que iniciou a estratégia de polemização com a velha mídia, tirando o foco dos escândalos da Casa Civil e da própria Dilma Rousseff e recrudescendo o discurso com o stablishmente midiático. Foi a partir dele também que a velha mídia aumentou o tom das críticas, acusando, inclusive, o Presidente de ter arroubos de autoritarismo e ser contra a livre expressão. É a partir deste fato político que alguns órgãos, outrora discretos, passarão a sair do armário, e assumir publicamente a candidatura de sua predileção (o caso do editorial do Estadão de 26/09/2010), como fizera a Carta Capital já em duas eleições. É possível afirmar que este discurso selou, simbolicamente, o destino do setembro negro (embora ainda se espere uma possível "bala de prata") promovido pelo consórcio midiático em torno da candidatura Serra, e, quem sabe, poderá ser considerado como um marco de uma nova era das comunicações no país.
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010
O Padrão Veja de Jornalismo e a Estratégia do Denuncismo
De há muito que a revista Veja tornou-se sinônimo de mal jornalismo para uma grande parcela da sociedade brasileira. De fato esta noção se deu, principalmente, após a cristalização da internet, hoje considerada a melhor opção para quem quer buscar informação de qualidade. Considero o Caso Veja do jornalista Luis Nassif o ponto de inflexão para se entender como funciona este tipo de mídia. A par dessas constatações é importante salientar que todo e qualquer órgão de imprensa tem direito a se posicionar no que se refere à sua opção política. O que não dá para aceitar é o jornalismo proselitista, que omite o maqueia informações, que apela para a desonestidade intelctual para impor suas escolhas amparadas nos interesses imediatos dos negócios, e que mistura notícia com opinião. Este caso da Ministra da Casa Civil é exemplar para que possamos entender como funciona este comportamento da velha mídia e os grupos políticos de poder e como a credibilidade de um órgão de imprensa pode ser prejudicada. O texto a seguir, do Alberto Dines no Observatório da Imprensa é bastante equilibrado e elucidativo sobre o tema.
CASO ERENICE GUERRA O método Veja de jornalismo Por Alberto Dines em 13/9/2010 | |
A revista Veja desenvolveu ultimamente um tipo de reportagem denuncista apoiada em misteriosos vazamentos, ilações, e não em investigações. Optou pelo gênero de jornalismo de cruzada (cruzading journalism), adjetivado, politizado, claramente engajado. Seus críticos sentem-se livres para reciprocar no mesmo tom, desconsiderando liminarmente o teor e a importância do que está sendo publicado. A mais recente revelação do semanário, no último fim de semana, contém os velhos vícios e o mesmo estilo panfletário dos últimos tempos. Porém, algumas das suas revelações parecem consistentes: Israel Guerra, filho da atual ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, envolveu-se num esquema de favorecimentos em altas esferas da administração federal, especialmente nos Correios, em troca de "taxas de sucesso" (success fee), por intermédio de uma empresa de consultoria que tem o irmão como sócio. Isto não significa que Erenice Guerra esteja implicada no esquema, embora tenha admitido que poderia ter encontrado os denunciantes-favorecidos em casa de familiares. E o fato de a ministra da Casa Civil ser amiga e ex-auxiliar da antecessora, a candidata Dilma Rousseff, não justifica sob hipótese alguma a menção do seu nome num ilícito praticado à sua revelia. Contorcionismo editorial Veja também errou quando avisou que possuía a gravação dos depoimentos incriminadores, mas não os disponibilizou imediatamente em seu site. Ficou claro também o acionamento do tradicional pool da grande imprensa: a manchete da Folha de S.Paulo no domingo (12/9) com desdobramentos das denúncias originais envolvendo além dos Correios, também a ANAC, evidencia que o jornal começou a investigar o assunto pelo menos um dia antes de a revista ir para as bancas. A manchete da primeira página da Folha no domingo é uma exibição de contorcionismo para implicar a candidata do PT – "Filho do braço direito de Dilma atua como lobista". Estado de S.Paulo e Globo também tiveram acesso prévio às investigações de Veja, mas certamente vão intervir no decorrer da semana. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=606IMQ022 |
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sábado, 4 de setembro de 2010
O Recado de Lula para José Serra
Nenhum, mas nenhum dos candidatos têm a sabedoria de dizer a coisa certa no momento certo que o Lula tem. É impressionante! Pode-se até discordar, mas não se pode negar que ele é um grande comunicador. Sobre o vazamento da Receita o Lula contrapôs com argumentos como a tentativa de censura da internet por parte do Serra, completando que tanto ele, quanto o Candidato e quanto tantos jornalistas, hoje, já não estão mais imunes a críticas, sejam elas procedentes ou não, com o advento da internet, e que não seria ele que iria impor tal censura. E aproveitou ainda pra mandar o Serra ir para as ruas atrás de voto, que é a melhor maneira de exercer a democracia. Tipo de entrevista que você não vai ver no Jornal Nacional.
Nosso adversário deveria procurar um novo argumento. Não é possível que um homem que se diz tão preparado para presidir o país, um homem que se diz tão preparado para presidir os destinos de 190 milhões de habitantes quer que o presidente Lula censure a internet.
Ele não alertou, ele se queixou do que estava acontecendo com ele na internet. Como eu sou vitima disso há muito tempo, eu sempre achei… sabe que a internet livre tem coisa extraordinariamente séria e tem coisa que é leviana.
Até agora, não tem nada de mais que a internet publicou sobre a filha do Serra, não tem nada de mais. Tem insinuações como tem contra o presidente Lula, como tem contra a família do presidente Lula, como tem contra vocês jornalistas individualmente.
Hoje de vez em quando vocês escrevem um artigo que os internautas não gostam, vocês tomam cacete o dia inteiro e isso é uma democracia que nós precisamos aprender a respeitar. Querer que eu censure a internet não é meu papel e não vou censurar, porque briguei contra a censura a vida inteira.
Eu acho que o Serra, eu acho que o Serra precisa saber uma coisa… uma eleição a gente ganha ela convencendo os eleitores a votar na gente. Não é tentando convencer a Justica eleitoral a impugnar a adversária. Isso já aconteceu em outros tempos de ditadura militar, em tempo de democracia o seu Serra que vá para a rua, que melhore a qualidade do seu programa, que melhore a qualidade de seu programa, que faça proposta de coisas que ele quer fazer para o nosso país, que apresente soluções para o crescimento industrial.
Hoje ele deve tá com dor de cabeça porque o PIB parece que pelo IBGE vai crescer acima daquilo que os mais pessimistas previam que ia crescer, vai crescer 7 por cento. O Brasil… o Brasil… o Brasil… o Brasil… o Brasil vive um momento de ouro e eu não vou permitir que nenhuma coisa menor, nenhuma futrica menor, porque não tem nenhuma, nenhuma acusação grave contra o Serra ou contra qualquer coisa, tem as coisas da internet contra o Serra e contra todo mundo.
Então, o presidente da República tem coisa mais séria para cuidar ao invés de cuidar das dores de cotovelo do Serra.
Nosso adversário deveria procurar um novo argumento. Não é possível que um homem que se diz tão preparado para presidir o país, um homem que se diz tão preparado para presidir os destinos de 190 milhões de habitantes quer que o presidente Lula censure a internet.
Ele não alertou, ele se queixou do que estava acontecendo com ele na internet. Como eu sou vitima disso há muito tempo, eu sempre achei… sabe que a internet livre tem coisa extraordinariamente séria e tem coisa que é leviana.
Até agora, não tem nada de mais que a internet publicou sobre a filha do Serra, não tem nada de mais. Tem insinuações como tem contra o presidente Lula, como tem contra a família do presidente Lula, como tem contra vocês jornalistas individualmente.
Hoje de vez em quando vocês escrevem um artigo que os internautas não gostam, vocês tomam cacete o dia inteiro e isso é uma democracia que nós precisamos aprender a respeitar. Querer que eu censure a internet não é meu papel e não vou censurar, porque briguei contra a censura a vida inteira.
Eu acho que o Serra, eu acho que o Serra precisa saber uma coisa… uma eleição a gente ganha ela convencendo os eleitores a votar na gente. Não é tentando convencer a Justica eleitoral a impugnar a adversária. Isso já aconteceu em outros tempos de ditadura militar, em tempo de democracia o seu Serra que vá para a rua, que melhore a qualidade do seu programa, que melhore a qualidade de seu programa, que faça proposta de coisas que ele quer fazer para o nosso país, que apresente soluções para o crescimento industrial.
Hoje ele deve tá com dor de cabeça porque o PIB parece que pelo IBGE vai crescer acima daquilo que os mais pessimistas previam que ia crescer, vai crescer 7 por cento. O Brasil… o Brasil… o Brasil… o Brasil… o Brasil vive um momento de ouro e eu não vou permitir que nenhuma coisa menor, nenhuma futrica menor, porque não tem nenhuma, nenhuma acusação grave contra o Serra ou contra qualquer coisa, tem as coisas da internet contra o Serra e contra todo mundo.
Então, o presidente da República tem coisa mais séria para cuidar ao invés de cuidar das dores de cotovelo do Serra.
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Globonews, Receita Federal, Vazamentos e a Filha de Serra.
Muito difícil o trabalho da Mônica Waldvogel. Primeiro porque tem que manter politizada a questão, e outra porque tem que fazê-lo desprezando o princípio da presunção de inocência. Aí convida três especialistas em direito pra tentar construir um consenso (ou mesmo um dissenso) que vá na linha da politização do escândalo, com foco em quê? Na responsabilidade da campanha da Dilma. E o que acontece? Mais uma vez quebra a cara. Desse jeito esse programa ainda sai do ar. Pra não deixar em branco o consenso se deu no fato da necessidade do controle social sobre a possibilidade do amparelhamento do Estado, contrapondo-se à chamada ditadura da maioria, observando-se que no Brasil já existe uma opinião pública crítica e uma imprensa livre, capazes de manter uma vigilância consistente sobre tais possibilidades, e que é assim que os regimes democráticos funcionam. Nessa linha de raciocínio é que a opinião pública vai concordar com a imprensa de que é preciso apurar o caso e exigir transparência da Receita Federal, mas também de que seria uma leviandade atribuir o fato, a priori, a uma manobra da campanha eleitoral da Dilma Rousseff. Não fosse assim as últimas pesquisas do IBOPE e do Data-Folha (dos dias 03 e 04 de setembro) refletiriam negativamente sobre as intenções de voto na Dilma, o que não foi o caso. Muito bom o programa.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Do Ùltimo Segundo: Tracking Vox/Band/iG: Dilma tem 51% e Serra fica com 25%
Tradicionalmente usado pelos partidos políticos, levantamento será publicado diariamente pelo iG
Na primeira medição do tracking encomendado pelo iG e pela Band ao Instituto Vox Populi, a candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, aparece na liderança, com 51% das intenções de voto. O cenário, que daria à petista a vitória no primeiro turno, mostra o adversário tucano José Serra com 25%. A candidata do PV, Marina Silva, aparece em seguida, com 9%. Outros candidatos obtiveram, juntos, 1% das intenções de voto. Brancos e nulos somaram 4%, enquanto os indecisos ficaram em 11%.Leia também
O tracking, modalidade de pesquisa tradicionalmente utilizada pelas campanhas eleitorais para identificar tendências na definição do voto, será divulgado diariamente pelo iG. Apesar de o sistema ser utilizado há mais de uma década pelos partidos políticos e campanhas eleitorais, os dados tradicionalmente não entravam no rol de divulgação dos veículos de comunicação.
O tracking Vox/Band/iG conta com 2.000 entrevistas, sendo que um quarto dessa amostra é renovada diariamente. Essa renovação permite identificar rapidamente as tendências de evolução das intenções de voto. A margem de erro do tracking é de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
No tracking espontâneo, no qual os nomes dos candidatos não são apresentados aos entrevistados, Dilma tem 41% das intenções de voto, enquanto Serra aparece com 19%. Marina, nesse caso, tem 6%. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda é citado por 2% dos entrevistados. Brancos e nulos somaram 4%, não souberam ou não responderam 11%.
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As Entrevistas no Jonal da Globo
Diferentemente do estilo "hard talk" tentado no Jornal Nacional, no Jornal da Globo o Waack foi muito mais eficiente do que o Bonner. Não houve diferenças gritantes de tratamento, embora os temas abordados, por si só, já denotem outro tipo de abordagem. É verdade que o mensalão foi citado tanto na entrevista da Dilma, quanto na do Serra, mas se compararmos as três, a da Marina pôde ser muito mais propositiva do que a dos dois anteriores. A Dilma precisou se defender de questões como FARCs e mensalão, e o Serra aproveitou para lançar acusações infundadas baseadas numa "conveniente" indignação quanto a uma possível violação do sigilo fiscal da própria filha.Como a Dilma é "telhado" por ser governista, pro Serra ficou muito mais fácil partir para uma postura agressiva, inclusive estreando o episódio da Receita Federal. O que podemos tirar de tudo o que foi assistido? A Dilma defende, logicamente, a posição do governo, e ressaltou os avanços conseguidos na gestão Lula e que ela pretende continuar. A Marina trouxe proposições interessantes, mas não se aprofundou nos temas, até porque neste formato de entrevista o debate é muito mais opinativo do que explanador de idéias. Para ela é uma missão inglória falar de questões tão avançadas como o equilíbrio da equação sustentabilidade, produção capitalista e tamanho do Estado e fazer uma contraposição ao atual quadro de sucesso das políticas sociais e econômicas do governo. Aliás, neste último ponto ficou confuso se um Estado mais interventor era ou não necessário, ainda que ela tenha condenado o Estado, digamos, mastodôntico. Quanto ao Serra, de certa forma a entrevista serviu para o candidato inaugurar o estilo "tudo ou nada". Vai, mais uma vez, com a ajuda da velha mídia, reverberar até mais não poder a questão da Receita Federal, misturar com as "volúpias sardemberguianas" da ameaça ao estado democrático de direito, e, para fazer bastante marola, tentar cassar a candidatura da Dilma lá no TSE. É assim que o candidato vai querer reverter a tendência das pesquisas eleitorais. A tática do medo e a aposta na burrice do eleitorado brasileiro. Eles não cansam de ser repetitivos. Foi assim com a Roseana Sarney em 2002, com o Lula e o dinheiro do mensalão em 2006 e agora com este factóide muito mal explicado (e devem vir mais). Isto é que é proposição.
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Marina Silva no Jornal da Globo
A Marina, na primeira etapa da entrevista, falou do grau de conhecimento que alcançou com sua campanha, o fato de discutir o Brasil, de debater diversos problemas do país e quebrar a dicotomia que ocorreria se só existissem as duas campanhas principais. Falou sobre o desenvolvimento do Acre, como os problemas de esgoto, água encanada e analfabetismo e a existência de oligarquias que prejudicam o estado e aproveitou para exemplificar comparativamente com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com as questões de favelas e educação. Sobre o aborto defendeu a adoção de um plebiscito para que se busque um debate mais equilibrado sobre o tema. Perguntada sobre parceiros preferenciais na política externa declarou que os princípios é que devem nortear esta politica, como a paz das fronteiras, negociação, relação pacífica entre os povos, defesa da democracia. No caso do Irã disse que não daria "audiência" ao Ahmadinejah, chamando-o de ditador, embora não condenasse o diálogo, censurando o fato do Presidente do Irã ter dito que riscaria Israel do mapa. Falou sobre o ensino técnico e tecnológico, destacando que hoje o Brasil importa mão de obra especializada.
Na segunda etapa falou sobre a quetão da sustentabilidade e das tecnologias de produção de energia, redução de gastos públicos combinando eficiência na aplicabilidade dos tributos arrecadados com a diminuição do desperdício, afirmando que devemos ter um estado mobilizador, eficiente e transparente, o chamado "estado necessário", dizendo que limitaria o crescimento do gasto público à metade do crescimento do PIB. Exemplificou com a atuação que teve à frente do Ministério do Meio Ambiente, quando promoveu a diminuição de desmatamentos com um orçamento reduzido. Falou em combater a cultura do "produzir mais destruindo mais" e sobre o agronegócio, afirmando que a oposição meio ambiente x desenvolvimento deve ser modificada na produção de alimentos. Entrevista positiva, não calcada em cima de factóides, e, ainda que passível de muitas críticas, bastante propositiva.
Parte 1
Parte 2
Na segunda etapa falou sobre a quetão da sustentabilidade e das tecnologias de produção de energia, redução de gastos públicos combinando eficiência na aplicabilidade dos tributos arrecadados com a diminuição do desperdício, afirmando que devemos ter um estado mobilizador, eficiente e transparente, o chamado "estado necessário", dizendo que limitaria o crescimento do gasto público à metade do crescimento do PIB. Exemplificou com a atuação que teve à frente do Ministério do Meio Ambiente, quando promoveu a diminuição de desmatamentos com um orçamento reduzido. Falou em combater a cultura do "produzir mais destruindo mais" e sobre o agronegócio, afirmando que a oposição meio ambiente x desenvolvimento deve ser modificada na produção de alimentos. Entrevista positiva, não calcada em cima de factóides, e, ainda que passível de muitas críticas, bastante propositiva.
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Parte 2
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
José Serra no Jornal da Globo
Nesta entrevista o Serra foi questionado sobre sua campanha, a fato do abandono pelos aliados nos Estados, a utilização da figura do Lula. Defendeu a atuação da oposição de forma construtiva criticando o PT como responsável por uma oposição destrutiva quando fora do governo. O Waack falou sobre o mensalão em Brasília, aí o Serra desviou a conversa para citar a questão do sigilo fiscal da filha ter sido quebrado com o fito de ser divulgado em "blogs sujos" com objetivos político-eleitorais, responsabilizando a campanha da Dilma e afirmando que trata-se de mentira a justificativa da Receita Federal (só não disse porque). Falando sobre o mensalão, afirmou que foi menor que o do PT e que todos os envolvidos foram afastados, ao contrário do partido do governo. Disse que não privatizaria mais, e falou sobre a entrega dos Correios pelo governo para fins privados. Criticou a situação do câmbio e a taxa de juros, e o déficit fiscal. O Waack acusou a ausência de programa de governo do Serra, que entregou um trecho de seu discurso de campanha no TSE. O Serra se defende afirmando que o discurso traria o seu programa de governo, com uma série do que chamou "propostas tópicas". Falou de crescimento e aumento de oferta de emprego, reduzir a carga tributária (citando o impostômetro) e a taxa de investimento governamental, afirmando ser a do Brasil a menor do mundo, não havendo investimentos. Sobre a questão da relação com os Estados estrangeiros disse que iria pressionar a Bolívia sobre a questão das drogas, reafirmando que o governo boliviano seria cúmplice com o tráfico de drogas. Falando sobre a cracolândia disse que não poderia encarcerar drogados e criaria clínicas de reabilitação. Observando a entrevista vemos que a estratégia de questionar sobre programa de governo ficou em segundo plano - o próprio Waack questionou este fato. E isto foi bom para o Serra, que não tem muito o que dizer sobre este aspecto, facilitando a sua tática de ataques à campanha da Dilma, inclusive com denúncias sem provas.
Parte 1
Parte 2
Parte 1
Parte 2
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Dilma no Jornal da Globo
A Dilma está mais a vontade nesta forma de sabatina. Os apresentadores insistiram na possibilidade de nomes num futuro governo, principalmente no que se refere ao nome de José Dirceu. A Ministra se esquivou e, corretamente, afirmou qua não discutiria nomes em respeito aos eleitores, até porque não estaria eleita. Neste ponto citou o fato de que um ex-Presidente (sem nomear FHC), sentou antes da hora na cadeira de um governo e terminou por não se eleger. Interessante o colóquio entre ela e o William Waack ali na altura dos 4min30s da primeira parte do vídeo (acho que o Waack levou um "punch"). Falou do vazamento da Receita Federal e ponderou que não há provas contra a sua campanha, além de lembrar que a própria candidatura oposicionista estaria envolvida com vazamentos e grampos, lembrando alguns casos conhecidos e esquecidos da velha mídia. Outra questão, levantada pelo Waack, foi a afirmação do Presidente Lula, ao comparar presos de consciência em Cuba com bandidos do PCC em São Paulo, contra a qual a candidata contra-argumentou com o fato de que o Presidente fora um dos colaboradores nas tratativas que resultaram na soltura de presos políticos naquele país. Quanto às FARCs, saiu-se muito bem defendendo a importância do diálogo e que o próprio Ministro da Defesa da Colômbia dialogou com a organização criminosa. Falou da ocupação de cargos no governo por técnicos e não-técnicos, investimentos públicos. Aos 4min25s da segunda parte perdeu a paciência com os números apresentados pela Cristiane Pelajo, embora tenha admitido que os investimentos públicos ainda estão aquém do desejado. Interessante como ela se sai bem nesta questão de números, mas muito mais como técnica. Neste ponto ela vai falar para um público bem restrito. Coisas como ajuste fiscal e redução de gastos. Muito boa a entrevista.
Parte 1
Parte 2
Parte 1
Parte 2
O Crescimento do PIB Brasileiro e o Porquê da Oposição estar Atônita.
Notou que a Velha Mídia já não se detém muito nos números do PIB ou do crescimento da econcomia brasileira? O foco agora é nos dossiês ou vazamentos da Receita Federal. Não que isto não seja notícia, tampouco que não seja importante num ano eleitoral. Mas foco por foco, este atende mais aos interesses do consórcio midiático-político em exaustão. Acontece que o fato da economia brasileira estar num momento ímpar da sua história deveria ser também motivo de louvor e atenção. Isto porque seria importante para a população em geral saber o porquê deste momento e como mantê-lo sem que caiamos no famoso e tenebroso "vôo de galinha". As informações do gráfico a seguir revelam o quanto o Brasil está bem na fita. Atrás apenas da China e da Índia, países com mais de "bilhão" de habitantes. O feito se torna mais espantoso quando nos apercebemos que nosso país está crescendo com distribuição de renda e preocupação com o meio ambiente. Mas tudo bem. O que a população não vê nos telejornais ou revistas ou jornalões ela sente no dia-a-dia. E aí vá explicar para a Oposição o porquê do Lula estar bem perto de eleger aquilo que eles chamaram de "poste".
Vá ao pdf do "Economia Brasileira em Perspectiva" do Minstério da Fazenda para saber mais.
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sábado, 28 de agosto de 2010
A Crise de 2008: Lula, o PSDB e a Grande Mídia.
Como sabemos a crise financeira de 2008 foi o marco que abalou os alicerces do mercado, sustentado na tese da auto-regulação e tendo como bandeira o neoliberalismo, termo que ficou conhecido a partir dos governos Reagan, nos EUA e Tatcher, na Grã Bretanha, tendo como pano de fundo a teoria do Estado Mínimo, necessário para resguardar os interesses do mercado e deixar de ser empecilho para a livre iniciativa. Com esta doutrina na cabeça a oposição brasileira e sua infantaria, representada pela velha mídia, bombardearam o Presidente Lula quando este afirmou que no Brasil a crise seria como uma "marolinha", que não cortaria gastos, e que manteria investimentos. Esta posição otimista sofreu duros ataques dos que mantinha a mentalidade na "mão invisível do mercado" e todos pagaram para ver. Sabem o que aconteceu? O Brasil foi o último país a sentir os efeitos da crise e um dos primeiros a sair dela, como reconhecem todos os analistas financeiros e políticos, e hoje, com um PIB beirando os 7% ao ano e gerando mais de um milhão de empregos. Depois perguntam porque o Lula transfere tantos votos...
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010
O Caso Lula x Frias Filho (Folha de São Paulo)
Esta versão está no blog do Nassif, contada por Ricardo Kotscho, jornalista muito próximo do Presidente. Refere-se ao almoço na casa dos Frias, donos do grupo Folha, episódio citado por Lula no comício de Campo Grande.
(...)
O único problema mais sério que tivemos no relacionamento com a imprensa ao longo da campanha aconteceu por culpa minha. Lula já havia mantido encontros e participado de almoços com os dirigentes dos principais meios de comunicação, mas resistia a atender ao convite da Folha para o tradicional almoço com os diretores, editores e repórteres especiais. Quase toda semana, "seu" Frias ou alguém a seu pedido repetia o convite, que eu voltava a levar a Lula. Este alegava que noutras ocasiões tinha ficado contrariado com a maneira pouco cortês como fora tratado no jornal. Tanto insisti, que ele acabou me autorizando a marcar o almoço. Impôs, no entanto, que o número de participantes fosse reduzido, para que pudesse conversar melhor com o "seu" Frias.
Em razão de algum mal-estar ocorrido em almoços anteriores, dos quais não participei, o clima já não pareceu muito amigável desde o momento em que "seu" Frias recebeu Lula e José Alencar. Otávio Frias Filho ficou calado, enquanto Lula não parava de falar dos seus planos para o país e da importância de ter um vice como Alencar. Assim que os comensais sentaram à mesa, Frias Filho disparou a primeira pergunta: se Lula se sentia em condições de governar o país, mesmo sem ter se preparado para isso, não sabendo nem falar inglês. O candidato fez uma expressão de incredulidade, olhou prá mim como quem diz: "E eu tinha que ouvir isso?", engoliu em seco e deu uma resposta até tranqüila diante daquela situação constrangedora.
Como se tivessem sido ensaiadas, as perguntas seguiram no mesmo tom hostil ao convidado até que, já quase na hora em que seria servida a sobremesa, alguém quis saber como ele se sentia ao aceitar uma aliança com Paulo Maluf. O argumento era que, se o PL apoiava Maluf na eleição para governador de São Paulo, o candidato do PT a presidente também estaria se aliado ao político que mais combatera durante toda a história do partido. Não havia porém, nenhuma aliança em São Paulo entre o PP e o PT, que disputava a mesma eleição tendo como candidato o deputado federal José Genoíno. Foi a gota d'água. Lula não respondeu; levantou-se, dirigiu-se a "seu" Frias e comunicou: "O senhor me desculpe, mas não posso mais ficar aqui. Vou embora. Não posso aceitar isso, em nome da minha dignidade."
Ficou todo mundo paralisado. "Seu" Frias levantou-se também. Antes de sair, Lula ainda disse a Otavinho, o único que permaneceu na sala:"Eu não tenho culpa se você está nervoso porque teu candidato vai mal nas pesquisas". Para ele, a Folha estava apoiando José Serra. Pegando no braço do candidato, "seu" Frias o acompanhou até o elevador e depois até o carro, no estacionamento, com os outros todos caminhando atrás. "Nunca tinha acontecido isso antes na nossa casa", lamentou.
Por Der Steppenwolf
Livro: Do Golpe ao Planalto – Ricardo Kotscho
Capítulo: Rumo à Vitória 2000 – 2002 - página 225(...)
O único problema mais sério que tivemos no relacionamento com a imprensa ao longo da campanha aconteceu por culpa minha. Lula já havia mantido encontros e participado de almoços com os dirigentes dos principais meios de comunicação, mas resistia a atender ao convite da Folha para o tradicional almoço com os diretores, editores e repórteres especiais. Quase toda semana, "seu" Frias ou alguém a seu pedido repetia o convite, que eu voltava a levar a Lula. Este alegava que noutras ocasiões tinha ficado contrariado com a maneira pouco cortês como fora tratado no jornal. Tanto insisti, que ele acabou me autorizando a marcar o almoço. Impôs, no entanto, que o número de participantes fosse reduzido, para que pudesse conversar melhor com o "seu" Frias.
Em razão de algum mal-estar ocorrido em almoços anteriores, dos quais não participei, o clima já não pareceu muito amigável desde o momento em que "seu" Frias recebeu Lula e José Alencar. Otávio Frias Filho ficou calado, enquanto Lula não parava de falar dos seus planos para o país e da importância de ter um vice como Alencar. Assim que os comensais sentaram à mesa, Frias Filho disparou a primeira pergunta: se Lula se sentia em condições de governar o país, mesmo sem ter se preparado para isso, não sabendo nem falar inglês. O candidato fez uma expressão de incredulidade, olhou prá mim como quem diz: "E eu tinha que ouvir isso?", engoliu em seco e deu uma resposta até tranqüila diante daquela situação constrangedora.
Como se tivessem sido ensaiadas, as perguntas seguiram no mesmo tom hostil ao convidado até que, já quase na hora em que seria servida a sobremesa, alguém quis saber como ele se sentia ao aceitar uma aliança com Paulo Maluf. O argumento era que, se o PL apoiava Maluf na eleição para governador de São Paulo, o candidato do PT a presidente também estaria se aliado ao político que mais combatera durante toda a história do partido. Não havia porém, nenhuma aliança em São Paulo entre o PP e o PT, que disputava a mesma eleição tendo como candidato o deputado federal José Genoíno. Foi a gota d'água. Lula não respondeu; levantou-se, dirigiu-se a "seu" Frias e comunicou: "O senhor me desculpe, mas não posso mais ficar aqui. Vou embora. Não posso aceitar isso, em nome da minha dignidade."
Ficou todo mundo paralisado. "Seu" Frias levantou-se também. Antes de sair, Lula ainda disse a Otavinho, o único que permaneceu na sala:"Eu não tenho culpa se você está nervoso porque teu candidato vai mal nas pesquisas". Para ele, a Folha estava apoiando José Serra. Pegando no braço do candidato, "seu" Frias o acompanhou até o elevador e depois até o carro, no estacionamento, com os outros todos caminhando atrás. "Nunca tinha acontecido isso antes na nossa casa", lamentou.
(...)
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Otávio Frias Filho
Mentes Colonizadas
Este episódio já foi bastante comentado na blogosfera. O filho do dono da Folha de São Paulo, ao receber o Presidente Lula para um almoço oferecido pela instituição, tratou-o de forma desrespeitosa, desqualificando-o por não saber falar inglês. O que retrata que parte de nossa elite tem uma mente colonizada, subdesenvolvida, incapaz de perceber a diferença entre um simples Presidente e um Estadista. O primeiro é um gerentão, que administra as coisas para o bem ou para o mal; o segundo vai além da mera adminstração dos negócios de Estado. Enxerga além, possui grande habilidade e tirocínio, sabedoria para tratar das coisas relativas ao bem estar da população, bem como das relações com outras nações. Lula fez isto sem falar inglês. E os que o antecederam? Estes que sabiam falar inglês e até outros idiomas? De fato o episódio carrega em si uma grande conotação de preconceito e orgulho por parte desses empresários de comunicação, que sempre estiveram atrelados ao poder, dele se beneficiando e influenciando, com o intuito de garantir seus próprios interesses. O povo? Ora o povo!
Do blog do Azenha
24 de agosto de 2010 • 23h33 • atualizado em 25 de agosto de 2010 às 02h30
Claudio Leal
Direto de Campo Grande (MS)
no Terra
No comício em Campo Grande (MS), na noite desta terça-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou o publisher da Folha de S. Paulo, Otávio Frias Filho, por um episódio ocorrido em 2002, quando foi cobrado, em almoço no jornal paulista, por não falar inglês. Em elevados decibéis, ao lado dos candidatos Dilma Rousseff e Zeca do PT, Lula criticou os que o viam como “cidadão de segunda classe ou verdadeiro vira-lata”.
“Me lembro como se fosse hoje, quando eu estava almoçando com a Folha de São Paulo. O diretor da Folha de São Paulo perguntou pra mim: “O senhor fala em inglês? Como é que o senhor vai governar o Brasil se o senhor não fala inglês?”… E eu falei pra ele: alguém já perguntou se Bill Clinton fala português? Eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar português!”, alvejou. A plateia o interrompeu, com gritos e aplausos. “Era eu, o subalterno, o colonizado, que tinha que falar inglês, e não Bill Clinton o português!”.
“Houve uma hora em que eu fiquei chateado e me levantei da mesa e falei: eu não vim aqui pra dar entrevista, eu vim aqui pra almoçar… Levantei, parei o almoço… E fui embora”, prosseguiu. “Quando terminou o meu mandato, Zeca… terminei sem precisar ter almoçado com nenhum jornal! Nunca faltei com o respeito com a imprensa… E vocês sabem o que já fizeram comigo…”, encerrou o presidente.
Do blog do Azenha
Otavinho, para Lula: “Como é que o senhor vai governar o Brasil se não fala inglês?”
Em comício no MS, Lula ataca diretor da ‘Folha de S. Paulo’24 de agosto de 2010 • 23h33 • atualizado em 25 de agosto de 2010 às 02h30
Claudio Leal
Direto de Campo Grande (MS)
no Terra
No comício em Campo Grande (MS), na noite desta terça-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou o publisher da Folha de S. Paulo, Otávio Frias Filho, por um episódio ocorrido em 2002, quando foi cobrado, em almoço no jornal paulista, por não falar inglês. Em elevados decibéis, ao lado dos candidatos Dilma Rousseff e Zeca do PT, Lula criticou os que o viam como “cidadão de segunda classe ou verdadeiro vira-lata”.
“Me lembro como se fosse hoje, quando eu estava almoçando com a Folha de São Paulo. O diretor da Folha de São Paulo perguntou pra mim: “O senhor fala em inglês? Como é que o senhor vai governar o Brasil se o senhor não fala inglês?”… E eu falei pra ele: alguém já perguntou se Bill Clinton fala português? Eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar português!”, alvejou. A plateia o interrompeu, com gritos e aplausos. “Era eu, o subalterno, o colonizado, que tinha que falar inglês, e não Bill Clinton o português!”.
“Houve uma hora em que eu fiquei chateado e me levantei da mesa e falei: eu não vim aqui pra dar entrevista, eu vim aqui pra almoçar… Levantei, parei o almoço… E fui embora”, prosseguiu. “Quando terminou o meu mandato, Zeca… terminei sem precisar ter almoçado com nenhum jornal! Nunca faltei com o respeito com a imprensa… E vocês sabem o que já fizeram comigo…”, encerrou o presidente.
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domingo, 22 de agosto de 2010
O Atual Cenário Eleitoral
O texto é bastante lúcido e foi colocado como comentário a um post do blog do Nassif.
Por Alexandre Tambelli
do blog do Nassif
Nassif!
Nada é mais seguro do que se pautar pelos fatos concretos e pela verdade! O velho ditado e sempre atual diz: "contra fatos não há argumentos". O PT tem uma média histórica de 30% do eleitorado, fiel e de carteirinha, certo?(se fosse o contrário o PSOL, o PSTU, principalmente estes dois partidos, teriam crescido e não foi assim, como opções da esquerda e eles nem pontuam nas pesquisas.) O eleitor do PT continuou votando no PT, na sua grande maioria, e hoje, creio eu, ampliou-se o número de simpatizantes do partido, certamente. Ninguém supõe que o eleitorado petista, por causa do suposto mensalão de 2005 mudaria seu voto para o DEM, PSDB ou PMDB e nem para o PCO, PCB, PSOL ou PSTU, certo?
Será possível, que um grupo de pessoas que durante mais de 20 anos defendeu ideias de esquerda iria chegar ao poder e mudar de posição? Só mesmo a ingenuidade da esquerda mais radical para pensar assim. Fez o Governo LULA o que se pôde dentro da realidade do mundo atual. Um passo em falso quase derrubaram o LULA, imagina radicalizar para a esquerda, como pretende o PSOL de Plínio, sem sequer combinar com a população? LULA já estaria deposto do poder faz tempo. A extrema-esquerda quer fazer revolução, prega o Socialismo, porém, não se preocupa em dar um passo decisivo nesta direção, que seria, estar diretamente ligada com a Educação do povo, ai se o povo soubesse o que é Socialismo, teriamos a chance de implemetá-lo. Porém, sem conversar e ouvir o povo, tanto a extrema-esquerda, toda a direita, bem como a mídia ficaram para trás e sem credibilidade. O PlLÍNIO foi nos debates e não pontuou nas pesquisas, como isto foi possível? O SERRA com toda ajuda da mídia não sai dos 30% dos votos, por quê? A grande mídia achincalhando com o PT, a DILMA, o LULA e as esquerdas e seus partidários não conseguiu diminuir a popularidade do Governo LULA, que só tem 4% de notas vermelhas, como isto é possível?
O Governo LULA com quase 80% de aprovação e a grande mídia querendo dizer que estava sob controle a vitória do SERRA? Ele só tinha uma vantagem sobre a DILMA, era bem mais conhecido. A partir do momento que colou a imagem de DILMA no eleitorado como sendo a candidata do PT e de LULA de fato, inverteu-se o quadro, tudo dentro daquilo que a realidade mostra e que os honestos intelectualmente e lúcidos, sem partidarismo ou vontade própria de que seja outra a realidade (verdade) sabem.
Primeiro ela ganhou os votos da esquerda moderada, do PT, PCdoB, PDT e PSB, o eleitorado LULISTA e chegou no eleitorado apartidário mas que quer continuar no caminho que o Brasil traça para seu futuro, com distribuição de renda, empregos em alta, obras de infraestrutura e consumo.
Por Alexandre Tambelli
do blog do Nassif
Nassif!
Nada é mais seguro do que se pautar pelos fatos concretos e pela verdade! O velho ditado e sempre atual diz: "contra fatos não há argumentos". O PT tem uma média histórica de 30% do eleitorado, fiel e de carteirinha, certo?(se fosse o contrário o PSOL, o PSTU, principalmente estes dois partidos, teriam crescido e não foi assim, como opções da esquerda e eles nem pontuam nas pesquisas.) O eleitor do PT continuou votando no PT, na sua grande maioria, e hoje, creio eu, ampliou-se o número de simpatizantes do partido, certamente. Ninguém supõe que o eleitorado petista, por causa do suposto mensalão de 2005 mudaria seu voto para o DEM, PSDB ou PMDB e nem para o PCO, PCB, PSOL ou PSTU, certo?
Será possível, que um grupo de pessoas que durante mais de 20 anos defendeu ideias de esquerda iria chegar ao poder e mudar de posição? Só mesmo a ingenuidade da esquerda mais radical para pensar assim. Fez o Governo LULA o que se pôde dentro da realidade do mundo atual. Um passo em falso quase derrubaram o LULA, imagina radicalizar para a esquerda, como pretende o PSOL de Plínio, sem sequer combinar com a população? LULA já estaria deposto do poder faz tempo. A extrema-esquerda quer fazer revolução, prega o Socialismo, porém, não se preocupa em dar um passo decisivo nesta direção, que seria, estar diretamente ligada com a Educação do povo, ai se o povo soubesse o que é Socialismo, teriamos a chance de implemetá-lo. Porém, sem conversar e ouvir o povo, tanto a extrema-esquerda, toda a direita, bem como a mídia ficaram para trás e sem credibilidade. O PlLÍNIO foi nos debates e não pontuou nas pesquisas, como isto foi possível? O SERRA com toda ajuda da mídia não sai dos 30% dos votos, por quê? A grande mídia achincalhando com o PT, a DILMA, o LULA e as esquerdas e seus partidários não conseguiu diminuir a popularidade do Governo LULA, que só tem 4% de notas vermelhas, como isto é possível?
O Governo LULA com quase 80% de aprovação e a grande mídia querendo dizer que estava sob controle a vitória do SERRA? Ele só tinha uma vantagem sobre a DILMA, era bem mais conhecido. A partir do momento que colou a imagem de DILMA no eleitorado como sendo a candidata do PT e de LULA de fato, inverteu-se o quadro, tudo dentro daquilo que a realidade mostra e que os honestos intelectualmente e lúcidos, sem partidarismo ou vontade própria de que seja outra a realidade (verdade) sabem.
Primeiro ela ganhou os votos da esquerda moderada, do PT, PCdoB, PDT e PSB, o eleitorado LULISTA e chegou no eleitorado apartidário mas que quer continuar no caminho que o Brasil traça para seu futuro, com distribuição de renda, empregos em alta, obras de infraestrutura e consumo.
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Luis Nassif e os Desdobramentos das Pesquisas Eleitorais
O problema é que a oposição não encarou a realidade de frente. Esqueceu que o povo era um "detalhe" importante e que só mídia não ganha eleição. Mal comparando, é a mesma coisa que dizer que um time de futebol ganha uma campeonato apenas com a tradição. Taí a grande mídia batendo dia e noite no governo, muitas vezes de forma desonesta apelando para métodos pouco ortodoxos, e não tem quem baixe a aprovação do Lula. Aliás, ao que parece só tem contribuído para aumentá-la. Ok, as eleições ainda vão ocorrer e não foram ganhas por nenhum dos lados, portanto, ainda estão abertas as possibilidades. O que não nos impede de analisar a questão da fragilidade da oposição e seus possíveis desdobramentos pós-eleições. O texto é do Luis Nassif.
Coluna Econômica - 18/08/2010
A grande tragédia política dessas eleições será o fim quase completo da frente PSDB-DEM, a única que poderia oferecer uma oposição consistente ao novo governo, que será empossado em 1º de janeiro de 2011.
Não existe governo, por mais virtuoso, que resista a um mandato sem oposição. E este é o risco que o Brasil corre, com os erros cometidos pela oposição nas atuais eleições. A avaliação é de João Francisco Meira, diretor-presidente do Instituto Vox Populi.
Em meados do ano passado, a partir de conversas com Meira e de reflexões próprias, parlamentares do DEM – como o ex-deputado Saulo Queiroz – alertaram para as dificuldades que haveria em uma provável candidatura José Serra. Estava claro para eles a quase impossibilidade de vitória de Serra, por um conjunto de fatores.
***
O alerta de nada adiantou.
Em março, durante Congresso da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), Meira alertou mais uma vez que a eleição já estava decidida para Dilma Rousseff. Tanto o Vox Populi quanto o Instituto Sensus trabalhavam com modernas técnicas de pesquisa, visando antecipar tendências do eleitorado.
A metodologia era simples. Parte relevante do eleitorado não sabia ainda que Dilma era candidata de Lula. Mas certamente saberá no dia das eleições. A técnica consistia em antecipar aos pesquisados as informações. A partir daí, se chegaria a um resultado muito mais próximo do resultado final das urnas.
***
No encontro, houve um forte questionamento do Instituto Datafolha, para quem pesquisas não deveriam antecipar tendência.
É uma bela discussão conceitual. O que interessa em uma pesquisa eleitoral: saber qual o resultado se a eleição fosse hoje ou tentar antecipar o resultado final da eleição? A fronteira da pesquisa de mercado é justamente antecipar tendências, explica Meira.
***
Nos meses seguintes, um inferno se abateu sobre os Institutos que seguiram essa nova metodologia – Sensus e Vox Populi. Foram atacados pelos jornais.
O momento mais dramático dessa história foi quando, estimulado pelas matérias da Folha, o PSDB entrou na justiça eleitoral exigindo a auditagem da pesquisa do Sensus. O Instituto amanheceu com um estatístico convocado em São Carlos, com a polícia, para garantir a vistoria, e com um repórter da Folha (empresa proprietária do Datafolha) para escandalizar o acontecimento.
Não se encontrou nenhuma irregularidade na pesquisa. Mais que isso, à medida que os dias iam passando, confirmava-se integralmente o acerto do Sensus e do Vox.
***
O próximo desafio de Meira será produzir um trabalho acadêmico a respeito das conseqüências do viés das pesquisas. Em um primeiro momento, aumentou a desinformação da opinião pública. Agora, há muita gente perplexa com um resultado que já era previsível desde o ano passado.
Ao comprar a ideia de que Serra era competitivo, contra toda a evidência de um ano atrás, a oposição acabou indo para o caminho que Lula queria.
***
Meira equipara esse episódio às grandes tragédias shakespeareanas, de desdobramentos terríveis quando se toma a decisão errada na política, na guerra e no amor. Os fatos acabam voltando no meio da sua testa, com fúria redobrada.
Se não se tivesse embarcado nessa armadilha das pesquisas com viés, a oposição teria tomado outro caminho. Constataria que Lula inaugurou um novo tempo na política brasileira e tentaria se adequar a esse novo cenário, pensando em um pacto progressista, que permitisse reformas estruturais do Judiciário, reforma fiscal, estrutura tributária. Não venceria as eleições, mas sairia preservada.
Em vez disso, queimaram-se as caravelas e se chegou ao final da tragédia, com a aniquilação quase completa da estrutura DEM-PSDB. Vai sobrar Aécio Neves, em Minas, Kátia Abreu em Tocantins, talvez Roseane Sarney (embora no PMDB) no Maranhão. Cesar Maia corre o risco de não se eleger, assim como Agripino Maia e outros caciques. A nova geração de centro-direita, esperança de um revigoramento da oposição, será arrasada nas eleições.
Levará no mínimo oito anos para se recompor a oposição, com todos os inconvenientes que trará para o aprimoramento democrático do país. O final da tragédia será em São Paulo. Geraldo Alckmin será eleito, possivelmente com folga. Mas há grande probabilidade de Serra perder no seu próprio estado, a partir do qual se produziu a fantasia que liquidou com a oposição em todo país.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/desdobramentos-de-pesquisas-eleitorais#more
Coluna Econômica - 18/08/2010
A grande tragédia política dessas eleições será o fim quase completo da frente PSDB-DEM, a única que poderia oferecer uma oposição consistente ao novo governo, que será empossado em 1º de janeiro de 2011.
Não existe governo, por mais virtuoso, que resista a um mandato sem oposição. E este é o risco que o Brasil corre, com os erros cometidos pela oposição nas atuais eleições. A avaliação é de João Francisco Meira, diretor-presidente do Instituto Vox Populi.
Em meados do ano passado, a partir de conversas com Meira e de reflexões próprias, parlamentares do DEM – como o ex-deputado Saulo Queiroz – alertaram para as dificuldades que haveria em uma provável candidatura José Serra. Estava claro para eles a quase impossibilidade de vitória de Serra, por um conjunto de fatores.
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O alerta de nada adiantou.
Em março, durante Congresso da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), Meira alertou mais uma vez que a eleição já estava decidida para Dilma Rousseff. Tanto o Vox Populi quanto o Instituto Sensus trabalhavam com modernas técnicas de pesquisa, visando antecipar tendências do eleitorado.
A metodologia era simples. Parte relevante do eleitorado não sabia ainda que Dilma era candidata de Lula. Mas certamente saberá no dia das eleições. A técnica consistia em antecipar aos pesquisados as informações. A partir daí, se chegaria a um resultado muito mais próximo do resultado final das urnas.
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No encontro, houve um forte questionamento do Instituto Datafolha, para quem pesquisas não deveriam antecipar tendência.
É uma bela discussão conceitual. O que interessa em uma pesquisa eleitoral: saber qual o resultado se a eleição fosse hoje ou tentar antecipar o resultado final da eleição? A fronteira da pesquisa de mercado é justamente antecipar tendências, explica Meira.
***
Nos meses seguintes, um inferno se abateu sobre os Institutos que seguiram essa nova metodologia – Sensus e Vox Populi. Foram atacados pelos jornais.
O momento mais dramático dessa história foi quando, estimulado pelas matérias da Folha, o PSDB entrou na justiça eleitoral exigindo a auditagem da pesquisa do Sensus. O Instituto amanheceu com um estatístico convocado em São Carlos, com a polícia, para garantir a vistoria, e com um repórter da Folha (empresa proprietária do Datafolha) para escandalizar o acontecimento.
Não se encontrou nenhuma irregularidade na pesquisa. Mais que isso, à medida que os dias iam passando, confirmava-se integralmente o acerto do Sensus e do Vox.
***
O próximo desafio de Meira será produzir um trabalho acadêmico a respeito das conseqüências do viés das pesquisas. Em um primeiro momento, aumentou a desinformação da opinião pública. Agora, há muita gente perplexa com um resultado que já era previsível desde o ano passado.
Ao comprar a ideia de que Serra era competitivo, contra toda a evidência de um ano atrás, a oposição acabou indo para o caminho que Lula queria.
***
Meira equipara esse episódio às grandes tragédias shakespeareanas, de desdobramentos terríveis quando se toma a decisão errada na política, na guerra e no amor. Os fatos acabam voltando no meio da sua testa, com fúria redobrada.
Se não se tivesse embarcado nessa armadilha das pesquisas com viés, a oposição teria tomado outro caminho. Constataria que Lula inaugurou um novo tempo na política brasileira e tentaria se adequar a esse novo cenário, pensando em um pacto progressista, que permitisse reformas estruturais do Judiciário, reforma fiscal, estrutura tributária. Não venceria as eleições, mas sairia preservada.
Em vez disso, queimaram-se as caravelas e se chegou ao final da tragédia, com a aniquilação quase completa da estrutura DEM-PSDB. Vai sobrar Aécio Neves, em Minas, Kátia Abreu em Tocantins, talvez Roseane Sarney (embora no PMDB) no Maranhão. Cesar Maia corre o risco de não se eleger, assim como Agripino Maia e outros caciques. A nova geração de centro-direita, esperança de um revigoramento da oposição, será arrasada nas eleições.
Levará no mínimo oito anos para se recompor a oposição, com todos os inconvenientes que trará para o aprimoramento democrático do país. O final da tragédia será em São Paulo. Geraldo Alckmin será eleito, possivelmente com folga. Mas há grande probabilidade de Serra perder no seu próprio estado, a partir do qual se produziu a fantasia que liquidou com a oposição em todo país.
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O Início da Propaganda Eleitoral na TV
Com o resultado das últimas pesquisas eleitorais, e esta última da Vox Populi, que adotou o método de antecipação de tendências, a situação da oposição no âmbito nacional ficou mais difícil. A candidata Dilma Rousseff começa o guia com mais de 10 pontos percetuais à frente de José Serra, que hoje estaria abaixo dos 30% de intenções de voto. Ontem, 17/08, iniciou-se aquilo que poderia ser uma alento para esta situação, mas pelo que se viu das duas principais candidaturas, foi uma grande diferença de enfoque, com vantagem para o programa governista, por óbvio: a uma, porque o governo tem o que mostrar de positivo; e outra, porque trouxe o peso da aprovação popular do Lula para dentro da campanha da Dilma, a pedir voto para sua candidata. O Serra teve a bola levantada pelo JN na Rede Globo, que um pouco antes, na sua edição do mesmo dia, tratou do problema de saúde, asssunto abordado coincidentemente pelo programa oposicionista. Outro aspecto foi a tentativa de "popularizar" o nome do candidato associando-o à sucessão do Lula, e tranformando o José Serra em "Zé". A redução do léxico soou tão artificial quanto a favela que abre o programa. Pelo andar da carruagem vai ser muito difícil a mudança deste quadro e restará para oposição PSDB-DEM se reinventar, inclusive no que se refere a questões de conceito e métodos de fazer política, com todos os inconvenientes que é termos uma oposição fragilizada, sem discurso e sem proposições. É torcer para que o governo continue bem, mas, como somos demasiadamente humanos, e nenhum governo será sempre bom, torcemos também para o surgimento de uma oposição responsável e inteligente, papel que, infelizmente, o movimento que construiu a candidatura Serra não foi capaz de desempenhar durante todo este tempo.
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sábado, 14 de agosto de 2010
Revista Época e a Dilma Guerrilheira
Sinceramente não sei em que mundo vive as Organizações Globo. Ao que parece, o último a acreditar que uma realidade mudou é aquele que dela sempre se beneficiou. A Época sai agora com uma matéria sobre o "passado que a Dilma não gosta de falar". Aquela velha questão da Dilma guerrilheira, que teve como dois grandes marcos (se assim podemos chamar tais factóides) o trucidamento do Agripino Maia, que quebrou a cara ao aproveitar a convocação da Ministra na Comissão de Infra-Estrutura para falar sobre o caso Lina Vieira (Receita Federal) e a matéria de capa da Folha de São Paulo sobre a ficha (que depois se comprovou ser falsa, e sequer o jornal teve a dignidade de reconhecer o erro) de Dilma. Fica a sensação de que, após as últimas pesquisas, é um esforço para, se pelo menos não ganhar as eleições presidenciais, garantir que o governo de São Paulo jamais cairá nas mãos dos petistas.
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Economist: A Vantagem da Mulher de Lula
É interessante ter uma leitura do país pelos olhos da mídia estrangeira. Digamos que é possível encontrar um certo distanciamento do provincianismo típico da nossa imprensa engajada, ainda que as semelhanças editorias sejam patentes e inevitáveis. A Economist lança mais um artigo sobre o Brasil, referente às eleições presidenciais, com suas impressões sobre os dois principais candidatos: Dilma Rousseff e José Serra. O artigo é direto e refere-se exclusivamente ao desempenho dos personagens bem como do seu currículo e patrimônio políticos. Serra, ex-Ministro, Prefeito e Governador; Dilma, burocrata, mas candidata do Presidente mais popular que o Brasil já teve. No final dá pra sentir um certo vaticínio da reportagem, que deixa escapar uma pequena decepção. Ainda bem que quem decide é o povo.
A campanha presidencial brasileira
Glória refletida
A lady do Lula está a caminho de herdar a presidência
Aug 12th 2010 | da revista britânica Economist
No papel, José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) , o maior partido de oposição do Brasil, deveria ser capaz de vencer a eleição presidencial de 3 de outubro sem suor. Ele teve muitos grandes cargos políticos em uma longa e bem sucedida carreira, inclusive como deputado, senador, ministro do Planejamento e depois da Saúde, e prefeito e agora governador de São Paulo, a maior cidade e o estado mais poderoso do Brasil. Ele está diante de uma neófita política: uma assessora e burocrata que era quase desconhecida há apenas alguns anos, que nunca antes disputou, muito menos venceu, uma eleição.
Em vez disso, o sr. Serra está lutando para se manter na disputa. Pesquisas o colocam de cinco a dez pontos atrás de Dilma Rousseff, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT). O problema não é a apresentação, embora o sr. Serra pareça maçante a não ser quando sorri, quando parece alarmante. A sra. Rousseff não tem nada de carismática e sua fraqueza é oferecer respostas de meia hora para perguntas de uma linha.
O problema do sr. Serra é que a sra. Rousseff é a sucessora escolhida de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente. Quatro-quintos dos brasileiros aprovam Lula e quase a metade diz que numa eleição presidencial votaria ou nele (se a Constituição não o impedisse de disputar um terceiro mandato consecutivo) ou no candidato dele. Desde que selecionou a sucessora, Lula a tem elevado aos céus (ela é “como Nelson Mandela”) e cruza o país com ela a tiracolo. Agora a maioria dos brasileiros sabe qual é a candidata do Lula — e cada vez mais brasileiros pretendem votar nela.
No dia 5 de agosto, o dia do primeiro debate televisionado entre os candidatos, uma empresa de pesquisas colocou a sra. Roussef com 41,6%, uma vantagem de dez pontos sobre o sr. Serra. Marina Silva do Partido Verde veio em terceiro com 9%. Excluindo as respostas inválidas, a sra. Rousseff está perto de vencer no primeiro turno. Essa pesquisa pode ser fora da média, mas outras dão a ela uma liderança crescente.
A sra. Rousseff parecia nervosa no debate e teve dificuldades para manter suas respostas curtas. O sr. Serra parecia melhor. Mas como o debate aconteceu ao mesmo tempo que uma importante partida de futebol, quase ninguém viu.
Mais preocupante para o sr. Serra, o debate demonstrou as dificuldades que ele vai enfrentar no resto da campanha. Provavelmente com razão, o sr. Serra decidiu que atacar um presidente tão popular quanto Lula não daria a ele muitos votos. Ele discorda da sra. Rousseff em algumas coisas, como a política externa e o papel do estado na economia. Mas ele concorda em outras. Ele foi obrigado a prometer continuidade de alguns dos programas de Lula, como o Bolsa Família, um empréstimo para famílias pobres. Enquanto isso, com a economia em forte crescimento, os brasileiros estão aproveitando a vida: “o fator do bem estar” agora faz parte da língua portuguesa.
Mas a estabilidade vende melhor para os governistas do que para os desafiantes. O slogan do sr. Serra, “Brasil pode mais”, exemplifica a dificuldade. Ele luta para capitalizar seu currículo. Ele é mais conhecido pelo papel que teve nos governos de Fernando Henrique Cardoso, de 1995-2002, os quais, apesar de algumas conquistas sólidas, são relembrados pelos brasileiros sem carinho.
“Para Dilma é simples: persuadir o povo de que ela representa Lula”, diz Rubens Figueiredo, um consultor político de São Paulo. “Mas Serra precisa relembrar as pessoas de que Lula não é o candidato — mas de um jeito que não seja oposição, preferivelmente sem nem mesmo mencionar Lula”.
A liderança da sra. Rousseff ainda não é insuperável. Se o sr. Serra conseguir evitar a vitória dela no primeiro turno, pode ter chance no segundo. E no Brasil sempre há a possibilidade de um escândalo ou de um desastre de campanha.
Mas ainda existem alguns votos que a sra. Rousseff pode conseguir por ser a mulher do Lula. Cerca de 8% dizem a pesquisadores que querem votar no candidato do presidente, mas não citam o nome dela.
Ela em breve terá mais oportunidades para reforçar essa ligação. A partir de 17 de agosto as estações de rádio e TV brasileiras são obrigadas a colocar anúncios políticos gratuitos, com mais tempo para os candidatos cujas alianças tem maior número de assentos no Congresso. Isso significa que a sra. Rousseff terá mais de dez minutos, três vezes por semana; o sr. Serra precisa se arranjar com pouco mais de sete minutos. Essa vantagem pode acabar sendo a decisiva.
A campanha presidencial brasileira
Glória refletida
A lady do Lula está a caminho de herdar a presidência
Aug 12th 2010 | da revista britânica Economist
No papel, José Serra do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) , o maior partido de oposição do Brasil, deveria ser capaz de vencer a eleição presidencial de 3 de outubro sem suor. Ele teve muitos grandes cargos políticos em uma longa e bem sucedida carreira, inclusive como deputado, senador, ministro do Planejamento e depois da Saúde, e prefeito e agora governador de São Paulo, a maior cidade e o estado mais poderoso do Brasil. Ele está diante de uma neófita política: uma assessora e burocrata que era quase desconhecida há apenas alguns anos, que nunca antes disputou, muito menos venceu, uma eleição.
Em vez disso, o sr. Serra está lutando para se manter na disputa. Pesquisas o colocam de cinco a dez pontos atrás de Dilma Rousseff, a candidata do governista Partido dos Trabalhadores (PT). O problema não é a apresentação, embora o sr. Serra pareça maçante a não ser quando sorri, quando parece alarmante. A sra. Rousseff não tem nada de carismática e sua fraqueza é oferecer respostas de meia hora para perguntas de uma linha.
O problema do sr. Serra é que a sra. Rousseff é a sucessora escolhida de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente. Quatro-quintos dos brasileiros aprovam Lula e quase a metade diz que numa eleição presidencial votaria ou nele (se a Constituição não o impedisse de disputar um terceiro mandato consecutivo) ou no candidato dele. Desde que selecionou a sucessora, Lula a tem elevado aos céus (ela é “como Nelson Mandela”) e cruza o país com ela a tiracolo. Agora a maioria dos brasileiros sabe qual é a candidata do Lula — e cada vez mais brasileiros pretendem votar nela.
No dia 5 de agosto, o dia do primeiro debate televisionado entre os candidatos, uma empresa de pesquisas colocou a sra. Roussef com 41,6%, uma vantagem de dez pontos sobre o sr. Serra. Marina Silva do Partido Verde veio em terceiro com 9%. Excluindo as respostas inválidas, a sra. Rousseff está perto de vencer no primeiro turno. Essa pesquisa pode ser fora da média, mas outras dão a ela uma liderança crescente.
A sra. Rousseff parecia nervosa no debate e teve dificuldades para manter suas respostas curtas. O sr. Serra parecia melhor. Mas como o debate aconteceu ao mesmo tempo que uma importante partida de futebol, quase ninguém viu.
Mais preocupante para o sr. Serra, o debate demonstrou as dificuldades que ele vai enfrentar no resto da campanha. Provavelmente com razão, o sr. Serra decidiu que atacar um presidente tão popular quanto Lula não daria a ele muitos votos. Ele discorda da sra. Rousseff em algumas coisas, como a política externa e o papel do estado na economia. Mas ele concorda em outras. Ele foi obrigado a prometer continuidade de alguns dos programas de Lula, como o Bolsa Família, um empréstimo para famílias pobres. Enquanto isso, com a economia em forte crescimento, os brasileiros estão aproveitando a vida: “o fator do bem estar” agora faz parte da língua portuguesa.
Mas a estabilidade vende melhor para os governistas do que para os desafiantes. O slogan do sr. Serra, “Brasil pode mais”, exemplifica a dificuldade. Ele luta para capitalizar seu currículo. Ele é mais conhecido pelo papel que teve nos governos de Fernando Henrique Cardoso, de 1995-2002, os quais, apesar de algumas conquistas sólidas, são relembrados pelos brasileiros sem carinho.
“Para Dilma é simples: persuadir o povo de que ela representa Lula”, diz Rubens Figueiredo, um consultor político de São Paulo. “Mas Serra precisa relembrar as pessoas de que Lula não é o candidato — mas de um jeito que não seja oposição, preferivelmente sem nem mesmo mencionar Lula”.
A liderança da sra. Rousseff ainda não é insuperável. Se o sr. Serra conseguir evitar a vitória dela no primeiro turno, pode ter chance no segundo. E no Brasil sempre há a possibilidade de um escândalo ou de um desastre de campanha.
Mas ainda existem alguns votos que a sra. Rousseff pode conseguir por ser a mulher do Lula. Cerca de 8% dizem a pesquisadores que querem votar no candidato do presidente, mas não citam o nome dela.
Ela em breve terá mais oportunidades para reforçar essa ligação. A partir de 17 de agosto as estações de rádio e TV brasileiras são obrigadas a colocar anúncios políticos gratuitos, com mais tempo para os candidatos cujas alianças tem maior número de assentos no Congresso. Isso significa que a sra. Rousseff terá mais de dez minutos, três vezes por semana; o sr. Serra precisa se arranjar com pouco mais de sete minutos. Essa vantagem pode acabar sendo a decisiva.
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quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Observatório da Imprensa: JN no AR
Pra que possamos nos familiarizar sobre como pensam aqueles que fazem o principal telejornal da Rede Globo. Um dia eles vão acordar e ver que já não estão com esta bola toda.
Além dos Aviões de Carreira
Por Sylvia Moretzsohn em 10/8/2010
O show vai recomeçar. No dia 23 de agosto o Jornal Nacional iniciará uma série para turbinar a cobertura das eleições presidenciais: visitará uma cidade de cada estado brasileiro, além do Distrito Federal, a bordo de um jato Falcon 2000 – eventualmente substituído por um monomotor Caravan, no caso de municípios menores –, com o alegado objetivo de oferecer um panorama geral do modo de vida e das expectativas dos eleitores.
É uma reedição, agora pelo ar, da caravana que atravessou o país quatro anos atrás. Porém, como daquela vez, não trará novidade. Porque, como daquela vez, o principal não é informar sobre a vida e os anseios das pessoas, mas enaltecer a potência tecnológica da maior rede de televisão do país, numa evidente estratégia de marketing que apenas reforça a crítica ao desvirtuamento do jornalismo transformado em espetáculo autorreferente.
Quatro anos antes, a "caravana" Em julho de 2006, o Jornal Nacional lançava a "Caravana JN", dedicando um bloco inteiro do telejornal para exibir a grandeza dos números: 15 mil quilômetros de estradas a serem percorridas; 380 quilos de equipamentos, que garantiriam transmissão via satélite de qualquer ponto do país; dois meses a bordo de um ônibus (o "motorhome", devidamente adaptado para a "missão") e oito dias num barco atravessando parte da região Norte. Comandada pelo jornalista animador dos Big Brothers, a expedição contaria, a cada quinzena, com outra celebridade: o casal-símbolo do JN se revezaria no deslocamento para as cidades por onde o ônibus passava, para dali ancorar parte do telejornal, arrastando consigo a previsível legião de figurantes.
Poeta reincidente, o jornalista-animador caprichava nas frases de efeito. Logo na estréia, por exemplo, se inspirou no nome da cidade de onde a caravana partia – a histórica São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul – para afirmar: "Do sul talvez possamos encontrar o norte de nossa missão mais facilmente...".
Quatro anos depois, o repórter é outro, mas a profusão de lugares-comuns persiste: o projeto "JN no ar" vai "decolar", a democracia vai voar "nas asas da informação", esse voo vai nos ajudar "a escolher melhor quem vai pilotar o Brasil depois da próxima eleição".
Da mesma forma, persiste a exaltação dos números: "Vamos voar pelo menos 55 horas a bordo deste jato executivo de fabricação francesa", capaz levar, "sem escalas, a qualquer ponto do território nacional", voando "a mais de 800 km/h" e carregando "700 quilos de equipamento" eletrônico, a ser montado em cada aeroporto para o envio das reportagens.
A mesma velha história O nome escolhido para a série pode não ter sido o melhor – afinal, o JN, por definição, deve sempre estar "no ar" –, mas os propósitos declarados são os mesmos que sustentaram os da caravana, quatro anos antes: identificar "os desejos do Brasil". Não só as preferências eleitorais, não só "um retrato do estado, feito com base em dados de pesquisas de instituições respeitadas como o IBGE", mas aquilo "que não aparece nas planilhas, mas faz o orgulho de cada lugar: o bom humor dos seus moradores, suas ruas limpas (sic), sua riqueza de cultura e história".
Mereceria comentário essa intenção deliberada de exaltar as qualidades de nossa terra e nossa gente, tão característica dos tempos do "Brasil grande", quando a Globo, aliás, se firmou como campeã de audiência. Mais interessante ainda é indagar o quê, afinal, distingue esse enorme e custoso esforço de reportagem do material veiculado diariamente pela emissora. Apresentar o Brasil aos brasileiros – de preferência sem demagogias, mas aqui não se trata de discutir a orientação ideológica da empresa – acaso não é o fundamento de qualquer trabalho jornalístico?
Ao sabor do acaso Na época da "caravana", o jornalista Mário Marona comentava, em artigo reproduzido neste Observatório ("Jornal Nacional tenta retomar o caminho. De ônibus", 1/8/2006):
"Uma rede de televisão que dispõe de 121 emissoras em todo o país, entre empresas próprias e afiliadas, todas com equipes de telejornalismo e com pelo menos uma equipe exclusiva para o Jornal Nacional em cada capital, não precisaria de um ônibus para mostrar o Brasil real". Tampouco precisaria agora desse aparato aeronáutico, patrocinado por um dos maiores bancos do país, cujo logotipo viajará no leme do jatinho. Entretanto, como dizia o velho barão, há mesmo sempre algo mais no ar além dos aviões de carreira. Daí que toda essa parafernália se torna não apenas necessária como indispensável, porque o objetivo principal é a autopropaganda: legitimar-se junto ao público, exibindo seu poderio tecnológico, com a presença de jornalistas experientes, reconhecidos e reconhecíveis, identificados com a "marca" da emissora.
Nada disso é novidade, porém. A CNN teve o seu "Election Express", um ônibus que cruzou os EUA entre dezembro de 2003 e novembro de 2004, quando Bush saiu vitorioso. Na eleição de Obama, ano passado, exagerou de tal forma na mágica das holografias que poderia concorrer ao Oscar de efeitos especiais. Para o jornalismo inspirado em Hollywood, a informação é o que menos importa.
Novidade talvez seja a forma pela qual se definirá o destino do jatinho global: por sorteio, na bancada do Jornal Nacional, na véspera de cada viagem. Acrescenta-se aí um elemento típico de show de variedades, tão ao gosto da audiência. Quem sabe não se formarão listas nas "redes sociais" para tentar adivinhar as cidades a serem visitadas? Quem sabe não haverá rufar de tambores para sublinhar a excitação durante o sorteio? E o que diriam os nossos teóricos do jornalismo, ao se darem conta de que os "valores-notícia" podem oscilar ao sabor do acaso?
Resta indagar se, numa próxima visita de William Bonner a uma das nossas universidades que cultivam o convênio com a Globo, haverá alguém na platéia capaz de deixar de lado o deslumbramento para fazer as perguntas que realmente importam.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=602IMQ002
Além dos Aviões de Carreira
Por Sylvia Moretzsohn em 10/8/2010
O show vai recomeçar. No dia 23 de agosto o Jornal Nacional iniciará uma série para turbinar a cobertura das eleições presidenciais: visitará uma cidade de cada estado brasileiro, além do Distrito Federal, a bordo de um jato Falcon 2000 – eventualmente substituído por um monomotor Caravan, no caso de municípios menores –, com o alegado objetivo de oferecer um panorama geral do modo de vida e das expectativas dos eleitores.
É uma reedição, agora pelo ar, da caravana que atravessou o país quatro anos atrás. Porém, como daquela vez, não trará novidade. Porque, como daquela vez, o principal não é informar sobre a vida e os anseios das pessoas, mas enaltecer a potência tecnológica da maior rede de televisão do país, numa evidente estratégia de marketing que apenas reforça a crítica ao desvirtuamento do jornalismo transformado em espetáculo autorreferente.
Quatro anos antes, a "caravana" Em julho de 2006, o Jornal Nacional lançava a "Caravana JN", dedicando um bloco inteiro do telejornal para exibir a grandeza dos números: 15 mil quilômetros de estradas a serem percorridas; 380 quilos de equipamentos, que garantiriam transmissão via satélite de qualquer ponto do país; dois meses a bordo de um ônibus (o "motorhome", devidamente adaptado para a "missão") e oito dias num barco atravessando parte da região Norte. Comandada pelo jornalista animador dos Big Brothers, a expedição contaria, a cada quinzena, com outra celebridade: o casal-símbolo do JN se revezaria no deslocamento para as cidades por onde o ônibus passava, para dali ancorar parte do telejornal, arrastando consigo a previsível legião de figurantes.
Poeta reincidente, o jornalista-animador caprichava nas frases de efeito. Logo na estréia, por exemplo, se inspirou no nome da cidade de onde a caravana partia – a histórica São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul – para afirmar: "Do sul talvez possamos encontrar o norte de nossa missão mais facilmente...".
Quatro anos depois, o repórter é outro, mas a profusão de lugares-comuns persiste: o projeto "JN no ar" vai "decolar", a democracia vai voar "nas asas da informação", esse voo vai nos ajudar "a escolher melhor quem vai pilotar o Brasil depois da próxima eleição".
Da mesma forma, persiste a exaltação dos números: "Vamos voar pelo menos 55 horas a bordo deste jato executivo de fabricação francesa", capaz levar, "sem escalas, a qualquer ponto do território nacional", voando "a mais de 800 km/h" e carregando "700 quilos de equipamento" eletrônico, a ser montado em cada aeroporto para o envio das reportagens.
A mesma velha história O nome escolhido para a série pode não ter sido o melhor – afinal, o JN, por definição, deve sempre estar "no ar" –, mas os propósitos declarados são os mesmos que sustentaram os da caravana, quatro anos antes: identificar "os desejos do Brasil". Não só as preferências eleitorais, não só "um retrato do estado, feito com base em dados de pesquisas de instituições respeitadas como o IBGE", mas aquilo "que não aparece nas planilhas, mas faz o orgulho de cada lugar: o bom humor dos seus moradores, suas ruas limpas (sic), sua riqueza de cultura e história".
Mereceria comentário essa intenção deliberada de exaltar as qualidades de nossa terra e nossa gente, tão característica dos tempos do "Brasil grande", quando a Globo, aliás, se firmou como campeã de audiência. Mais interessante ainda é indagar o quê, afinal, distingue esse enorme e custoso esforço de reportagem do material veiculado diariamente pela emissora. Apresentar o Brasil aos brasileiros – de preferência sem demagogias, mas aqui não se trata de discutir a orientação ideológica da empresa – acaso não é o fundamento de qualquer trabalho jornalístico?
Ao sabor do acaso Na época da "caravana", o jornalista Mário Marona comentava, em artigo reproduzido neste Observatório ("Jornal Nacional tenta retomar o caminho. De ônibus", 1/8/2006):
Nada disso é novidade, porém. A CNN teve o seu "Election Express", um ônibus que cruzou os EUA entre dezembro de 2003 e novembro de 2004, quando Bush saiu vitorioso. Na eleição de Obama, ano passado, exagerou de tal forma na mágica das holografias que poderia concorrer ao Oscar de efeitos especiais. Para o jornalismo inspirado em Hollywood, a informação é o que menos importa.
Novidade talvez seja a forma pela qual se definirá o destino do jatinho global: por sorteio, na bancada do Jornal Nacional, na véspera de cada viagem. Acrescenta-se aí um elemento típico de show de variedades, tão ao gosto da audiência. Quem sabe não se formarão listas nas "redes sociais" para tentar adivinhar as cidades a serem visitadas? Quem sabe não haverá rufar de tambores para sublinhar a excitação durante o sorteio? E o que diriam os nossos teóricos do jornalismo, ao se darem conta de que os "valores-notícia" podem oscilar ao sabor do acaso?
Resta indagar se, numa próxima visita de William Bonner a uma das nossas universidades que cultivam o convênio com a Globo, haverá alguém na platéia capaz de deixar de lado o deslumbramento para fazer as perguntas que realmente importam.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=602IMQ002
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As Entrevistas do JN
O que podemos dizer dessas entrevistas? Houve tratamento diferenciado ou não? É possível apontar algo relevante para influenciar na definicção do voto de uma pessoa?
Sinceramente, não acredito que tenha servido para muita coisa. Ainda que tenham aliviado pro Serra - e aí ficou feio para a emissora que já não goza de tanto prestígio -, o tempo fez com que a abordagem dos assuntos fossem superficiais.
Sobre o tratamento, o Serra foi menos interrompido e bem mais poupado. Essa exposição da emissora revela o esforço que está sendo feito para tentar melhorar a performance do candidato que corre o risco de começar o guia eleitoral pelo menos 10 pontos atrás de Dilma Rousseff. E assim podemos dizer que a emissora tem candidato definindo.
É interessante observar que, na entrevista da Dilma, a tática foi de tirá-la do sério, com perguntas sobre se maltratava colegas de trabalho ou se seria tutelada (fantoche) pelo Lula. O Bonner foi mais agressivo e a interrompeu constantemente. Com o Serra foi diferente. Ele teve tempo para divagar sobre as perguntas e muito pouco foi interrompido.
Um outro aspecto foi o do mensalão do PT, que esteve presente, tanto na entrevista da Marina, quanto na do Serra. Na deste último ficou a dívida sobre o mensalão mineiro e do DEM no Distrito Federal, bem como sobre a questão do José Roberto Arruda, que era o mais cotado para ser o vice do Serra na chapa presidencial.
Enfim, infelizmente deu a lógica. Era o que se esperava da emissora, não iria ser diferente disto. Vamos ver se este esforço todo vai dar algum resultado nas próximas pesquisas de intenção de voto. Acredito que não. Nem tanto pela capacidade de penetração do programa da emissora, mas pelo fato de que ele já não é tão relevante para definir o voto do cidadão brasileiro.
Sinceramente, não acredito que tenha servido para muita coisa. Ainda que tenham aliviado pro Serra - e aí ficou feio para a emissora que já não goza de tanto prestígio -, o tempo fez com que a abordagem dos assuntos fossem superficiais.
Sobre o tratamento, o Serra foi menos interrompido e bem mais poupado. Essa exposição da emissora revela o esforço que está sendo feito para tentar melhorar a performance do candidato que corre o risco de começar o guia eleitoral pelo menos 10 pontos atrás de Dilma Rousseff. E assim podemos dizer que a emissora tem candidato definindo.
É interessante observar que, na entrevista da Dilma, a tática foi de tirá-la do sério, com perguntas sobre se maltratava colegas de trabalho ou se seria tutelada (fantoche) pelo Lula. O Bonner foi mais agressivo e a interrompeu constantemente. Com o Serra foi diferente. Ele teve tempo para divagar sobre as perguntas e muito pouco foi interrompido.
Um outro aspecto foi o do mensalão do PT, que esteve presente, tanto na entrevista da Marina, quanto na do Serra. Na deste último ficou a dívida sobre o mensalão mineiro e do DEM no Distrito Federal, bem como sobre a questão do José Roberto Arruda, que era o mais cotado para ser o vice do Serra na chapa presidencial.
Enfim, infelizmente deu a lógica. Era o que se esperava da emissora, não iria ser diferente disto. Vamos ver se este esforço todo vai dar algum resultado nas próximas pesquisas de intenção de voto. Acredito que não. Nem tanto pela capacidade de penetração do programa da emissora, mas pelo fato de que ele já não é tão relevante para definir o voto do cidadão brasileiro.
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quarta-feira, 11 de agosto de 2010
E o Bonner desencantou: A Entrevista de Serra no JN
Bem diferente o tratamento do Bonner com o Serra. Sem interrupções bruscas, cordial (no final até pediu desculpas por ter que interromper o candidato - que meigo!). É, parece que houve uma "evolução". Na verdade uma vergonha o tratamento diferenciado usado pelo Jornal Nacional. Mais uma vez o mensalão petista estava em evidência, juntamente com o da oposição (pra fazer o devido contraponto, e, claro, passando de raspão). Faltou o Arruda, faltou aprofundar mais na questão dos pedágios paulistas e do apoio do Bob Jefferson. Mas tem o tempo, não é? E o Serra falou em saúde, saúde e saúde. Mas seria muito esperar algo diferente da emissora. Vamos em frente.
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Entrevista com Marina Silva no JN
Marina conseguiu "domesticar" melhor o processo da entrevista e o Bonner ficou mais delicado.
Agora, esta história de que vai colocar apenas os melhores técnicos nos postos chave da República, aí fica difícil acreditar.
A saia justa foi a questão do "mensalão". Se for para o plano puramente ético a Marina tinha que ter saído imediatamente do governo ou simplesmente não ter entrado na política nacional. Talvez ela tivesse sido mais sincera se explanasse alguma idéia do que fazer contra a cultura do caixa dois neste país. Ficou no genérico combate à corrupção.
Explanou bem suas idéias ambientais e foi segura.
Agora, esta história de que vai colocar apenas os melhores técnicos nos postos chave da República, aí fica difícil acreditar.
A saia justa foi a questão do "mensalão". Se for para o plano puramente ético a Marina tinha que ter saído imediatamente do governo ou simplesmente não ter entrado na política nacional. Talvez ela tivesse sido mais sincera se explanasse alguma idéia do que fazer contra a cultura do caixa dois neste país. Ficou no genérico combate à corrupção.
Explanou bem suas idéias ambientais e foi segura.
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terça-feira, 10 de agosto de 2010
Entrevista com Dilma Rousseff no Jornal Nacional
Parece que o Bonner se empolgou e quis imprimir um ritmo tipo "hard talk". Teve que ser contido pela esposa e co-apresentadora. A verdade é que neste formato de entrevista, em que se tem pouco mais de 10 minutos para expor idéias fica complicado se aprofundar nos assuntos. O que resta é avaliar o desempenho do candidato no que se refere ao equilíbrio e a capacidade de síntese nas respostas. A Dilma se saiu bem, conseguindo fazer as devidas comparações com o governo anterior e respondendo com tranquilidade.
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Globonews e Eleições 2010
Um bom debate sobre as eleições 2010 com o jornalista da Revista Época, Paulo Moreira Leite e o cientista politico, Alberto Carlos Almeida. Tema central: a liderança e crescimento da candidatura Dilma Rousseff e os problemas enfrentados pela oposição nesta eleições. A avaliação do governo Lula, o momento econômico e as estratégias políticas das principais candidaturas. Muito bom.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
A Pureza das Crianças e o Ato Falho de Campanha
Para as crianças, na sua pureza, vem à boca aquilo que está no coração. Neste caso o assessor teve que corrigir a "falha" quando da visita do candidato Serra àquela escola.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010
A Vingança de Lula
Podemos dizer que com Lula a Amercia Latina tornou-se um parceiro preferencial. A idéia de uma comunidade latinoamericana tomou peso, e tem uma lógica muito interessante: a de que o bem-estar do meu vizinho é o meu bem-estar. Esta idéia de integração é que permitirá que o continente deixe para trás os momentos de conturbação que tanto prejudicaram a vida dos povos que o compõem.
Aqui stá o discurso de Lula na integra.
"Bem, primeiro, eu queria cumprimentar a companheira Cristina Kirchner, presidente da Argentina e presidente Pro Tempore do Mercosul,
Cumprimentar o companheiro Fernando Lugo, presidente do Paraguai,
Cumprimentar o companheiro José Mujica, presidente do Uruguai,
Cumprimentar o companheiro Evo Morales, presidente da Bolívia,
Cumprimentar o companheiro Sebastián Piñera, presidente do Chile,
Cumprimentar o nosso querido secretário-geral da Unasul, companheiro Kirchner,
Cumprimentar os companheiros representantes de organismos internacionais,
Cumprimentar o nosso querido Governador da Província de San Juan,
Queria cumprimentar os chefes de delegações,
Queria cumprimentar os representantes do Parlamento do Mercosul,
Cumprimentar os representantes dos movimentos sociais aqui presentes,
E dizer para a Cristina que vou fazer um esforço imenso para não levar todo o tempo que levávamos para falar, alguns anos atrás.
Mas queria começar reconhecendo que ontem à noite quando eu cheguei aqui, às dez e meia da noite, onze horas – o companheiro Celso Amorim já estava recolhido, certamente telefonando para sua mulher –, eu me encontrei com os meus assessores que, unanimemente, me disseram que esta reunião de San Juan tinha sido a melhor reunião, depois de Ouro Preto, do Mercosul – já faz muito tempo –, e estava todo mundo feliz com o conteúdo e a qualidade das decisões que foram aprovadas aqui. Portanto, eu acho que o clima de San Juan, Governador, permitiu que o Mercosul avançasse nisso. Esta, na verdade, deve ser considerada a Declaração de San Juan, grande declaração.
Bem, queria dizer aos companheiros que eu sou decano do Mercosul, sou o presidente mais velho. De idade, estou igual a Pepe, mas de participação no Mercosul eu sou o presidente que mais tempo está exercendo a Presidência. O que é triste é que para quem está no governo oito anos não é nada, e para quem está na oposição oito anos é uma eternidade. Entonces, eu tenho que sair para contemplar um pouco a oposição que quer disputar uma eleição, embora vá perder.
Segundo, dizer um pouco, Cristina, do clima que era o Mercosul, no começo. O companheiro Kirchner não está aqui presente agora, deve estar em uma bilateral. Mas eu queria dizer que os avanços do Mercosul, na minha visão, foram avanços extraordinários. Eu lembro que eu fiz uma campanha para presidente da República em 2002, em que o grande tema da campanha era se iria prevalecer a implantação da Alca ou não. E o movimento social, o movimento sindical, o meu partido e as pessoas de esquerda no meu país, todos éramos contra a Alca, todos. E éramos acusados de não querer que o Brasil se desenvolvesse, éramos acusados de não perceber a importância dos Estados Unidos para o desenvolvimento da América do Sul. E nós afirmávamos que na Alca não tinha nenhuma proposta condescendente, como teve a proposta da criação da União Europeia, em que países como Portugal, Grécia, Espanha, receberam ajuda financeira para desenvolver os seus países, investimentos em infraestrutura, e se colocarem, mais ou menos, em igualdade de condições. Então, a Alca, no fundo, no fundo, no fundo, era uma proposta que não tinha nenhum propósito de ajudar com que os países mais pobres pudessem ter ajuda para se desenvolverem e se transformarem em países minimamente competitivos com os países ricos.
O dado concreto é que nós ganhamos as eleições. Depois de algum tempo, veio o Kirchner e ganhou as eleições. O dado concreto é que dois anos depois que estávamos na Presidência da República, nem os Estados Unidos falavam mais em Alca, ninguém falava mais em Alca. Talvez, alguns saudosistas acreditassem que poderiam continuar falando na Alca. E nós fizemos uma coisa e a história, às vezes leva anos para mostrar e às vezes... Eu lembro quantos discursos eu ouvi, eu lembro quantas vezes eu lia jornal de países aqui do Mercosul, em que os presidentes participavam de algumas reuniões e voltavam para os seus países dizendo: “O Mercosul não adianta, porque o Mercosul não vai para a frente, porque é preciso nos voltarmos para tentar fazer acordo direto com os Estados Unidos”. Nós nunca fizemos nenhuma crítica a quem quisesse fazer acordo, com quem quisesse. Era um direito soberano de cada país fazer acordo com os Estados Unidos, fazer acordo com a Europa, fazer acordo com o Japão. Mas o que nós queríamos era fortalecer o potencial de similaridade que nós tínhamos e que não era explorado.
Pois bem, eu acho que os resultados econômicos do Mercosul demonstram, por si só, o acerto das decisões que nós tomamos quando resolvemos fortalecer o Mercosul. É só pegar o fluxo comercial e, além do fluxo comercial, pegar os avanços de integração, e, sobretudo, pegar os avanços da interação política que houve entre os nossos companheiros governantes, ministros e o povo em geral. Há um processo de confiabilidade hoje que não havia dez anos atrás ou que não havia oito anos atrás.
Além disso, nós tivemos a oportunidade de fazer duas reuniões da América do Sul com os Países Árabes – parecia impossível e aconteceram as duas reuniões –; nós fizemos duas reuniões entre a América do Sul e o continente africano – parecia impossível e aconteceram as reuniões –; e nós fizemos a primeira reunião, em 200 anos de independência, de toda a América Latina mais o Caribe, que foi a reunião de Sauípe, na Bahia, o que parecia impossível.
Muitas vezes, muitas vezes, nós ficamos ansiosos porque vamos a uma reunião e não voltamos para casa com nada para dizer para o nosso povo: “Eu conquistei tal coisa”. Todos nós ficamos ansiosos. Eu, no começo, ficava nervoso porque o Kirchner ia para as reuniões, ficava um dia e depois o Kirchner vinha embora para a Argentina. Eu falava: por que é que ele não fica os dois dias com a gente aqui e tal? Depois ele virou, agora, secretário-geral da Unasul. Agora ele vai ter muito mais dor de cabeça e muito mais reuniões do que ele tinha na época.
Aprovamos a entrada da Venezuela no Mercosul e, lamentavelmente, o Parlamento brasileiro demorou quatro anos para aprovar, muito mais por preconceito político, porque não há nenhuma divergência econômica para [não] ter aprovado. Eu acho que a mesma coisa pode se dar no Paraguai, e é preciso que a gente trabalhe para que outros países façam parte do Mercosul. Não tem lógica, não tem lógica, não tem lógica, nem econômica, nem cultural, nem comercial, que nós que temos milhões de quilômetros de fronteira seca em que o nosso povo pode transitar de lado a lado, que a gente não tenha um comércio muito mais forte, que as nossas empresas não se desenvolvam construindo parcerias. A gente não precisa abdicar das nossas relações com outros países, mas a gente tem que privilegiar as nossas relações. Afinal de contas, se a gente não cuida dos filhos da gente, a gente não pode dar palpite nos filhos dos outros. É preciso, primeiro, cuidar de onde nós temos um potencial extraordinário.
Nós temos energia, nós temos petróleo, nós temos gás, nós temos possibilidade hídrica como nenhuma parte do mundo tem, nós temos tudo que o mundo precisa, sobretudo para dar exemplo nessa discussão sobre a questão do clima. Os países ricos fazem discursos de bonzinhos, mas querem que nós submetamos o nosso desenvolvimento para cuidar de coisas que eles não cuidaram. Foi por isso que nós não tivemos acordo em Copenhague, porque a grande proposta, a grande proposta de contenção de emissão de gases de efeito estufa dos companheiros americanos era de apenas 4%, se pegássemos como base 1990. A Europa poderia ter oferecido 30%, ofereceu 20%. E eles acham que podem resolver o problema do mundo dando um pouco de dinheiro para os países pobres não desmatarem as suas florestas, ou seja, para os países pobres ficarem pobres, subdesenvolvidos, enquanto eles podem, sofisticadamente, cada vez mais, exportar para nós produtos de valor agregado, cada vez mais sofisticados.
No fundo, no fundo, é isso que está em jogo nessa discussão. Ninguém quer abrir mão dos privilégios conquistados. E nós não queremos manter privilégios, nós queremos conquistar o direito do nosso povo ter o mesmo direito que eles já têm. Cada argentino, cada brasileiro, cada boliviano, cada venezuelano, cada chileno, cada uruguaio, paraguaio, cada companheiro do Haiti tem que ter o mesmo direito de ter acesso a todos bens materiais que eles têm porque, senão... Se o planeta Terra não oferece matéria-prima suficiente para todo mundo ter o padrão de vida alemão, é preciso, então, que a gente discuta como utilizar corretamente as matérias-primas e as riquezas que existem no mundo.
Então, essa é uma discussão que vai se dar muito forte em Cancún, e essa discussão vai se dar, outra vez, Cristina, com os Estados Unidos, ela vai se dar, outra vez, com a Europa, e ela vai se dar com a China. E nós precisamos estar preparados e, quem sabe, construir uma proposta do Mercosul; quem sabe, o Kirchner trabalhar para a gente construir uma proposta da Unasul; fazer o possível para a gente fazer uma proposta, mas sem abrir mão do direito de continuarmos nos desenvolvendo. Esse é um dado delicadíssimo.
Então, eu acho que nós avançamos de forma extraordinária. E quero, Cristina, dizer que eu só tenho uma frustração, que era um sonho meu: que era que nós pudéssemos construir o acordo entre Mercosul e União Europeia, na sua Presidência e na Presidência do companheiro Zapatero, o que não foi possível. E agora, como o grande adversário dessa união me parece que são os companheiros franceses, eu agora vou ter cinco meses pela frente para tentar convencer os franceses a fazerem o acordo União Europeia e... Deus queira que a gente consiga e, quando, em dezembro, quando em dezembro, eu for passar a Presidência, acho que é para o Paraguai, lá... eu já estou dizendo que a reunião será convocada lá em Foz do Iguaçu, porque além do Mercosul, nós vamos visitar a escola que está sendo construída... a Universidade Latino-Americana, com professor latino-americano, com currículo latino-americano, com aluno latino-americano, e já vai ter uma base funcionando nos prédios de Itaipu... Então, vai ser lá a reunião.
Bem, ditas essas coisas, eu queria dizer aos companheiros que os avanços que nós conseguimos são visíveis e o nosso povo sente. Eu tenho sempre uma parte improvisada e uma parte institucional. Essa institucional é porque o Brasil vai ter uma nova pessoa que vai assumir a Presidência. Então, eu preciso deixar algo provado, do que foi o meu penúltimo discurso.
Eu gostaria, companheiros e companheiras... É quase um agradecimento à lealdade que nós tivemos nesses anos de convivência. Acho que a América do Sul e o Mercosul hoje são exemplos de como o mundo poderia viver em paz, de como o mundo poderia viver sem armas nucleares, de como o mundo poderia viver sem guerra, de como o mundo poderia viver de forma muito mais harmônica. Eles poderiam aprender conosco, poderiam aprender conosco. Eles não poderiam ter os ciúmes que tiveram nesses últimos dias, que eu peço a paciência de vocês para contar.
Eu, Cristina, não conhecia o Presidente do Irã, até que eu o encontrei na ONU, uma vez, e resolvi conversar com ele. Depois que conversei com ele, fui conversar com o Obama, fui conversar com o Sarkozy, fui conversar com a Angela Merkel, fui conversar com o Gordon Brown, sobre o problema dos conflitos entre iranianos, europeus, Estados Unidos e Israel. Depois eu fui à Palestina conversar com o presidente Abbas; depois eu fui a Israel conversar com o Primeiro-Ministro de Israel; depois eu recebi o Presidente de Israel no Brasil, tivemos conversa; depois tive uma conversa com o Presidente da Síria; recebi o Presidente do Irã no Brasil, e depois eu fui ao Irã.
O que me deixou profundamente chocado é que nenhum dos presidentes, dos grandes do Conselho de Segurança, tinham conversado com o Irã. Estive com Medvedev... mostrando para eles que era necessário que alguém pegasse o telefone e chamasse o Presidente do Irã para conversar, afinal de contas nós tínhamos lá os homens mais importantes do Planeta, que são os homens que têm... são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Eu não sei se é pelo fato de serem os membros permanentes do Conselho de Segurança, que são os cinco países que vendem mais armas no mundo, são os países que têm bomba nuclear. Então, deveriam chamar o Irã para conversar. Essas coisas a gente resolve na conversa, como foi resolvido o acordo aduaneiro agora, aqui. Em dois minutos de conversa o Lugo decidiu.
Pois bem, diziam que era impossível, que o Irã não queria sentar para conversar. O Primeiro-Ministro da Turquia e eu, Celso Amorim e o chanceler deles, depois de 18 horas conseguimos assinar um documento em que ele se dispunha a sentar à mesa de negociação com o Grupo de Viena, que era o grupo composto por Rússia, Estados Unidos e França. Não, só os três. Qual não foi a minha surpresa, qual não foi a minha surpresa, que quando ele manda o documento no domingo à noite – porque nós exigíamos prazo –, os países do Grupo de Viena, em vez de começarem a dizer “Bom, estão criadas as condições para negociação”, começaram a discutir o aumento das sanções. Possivelmente, eles nem queriam ler o documento. E o documento – o que me deixou mais irritado –, é que o documento – e eu posso dizer para vocês aqui –, o documento que nós firmamos com Ahmadinejad era a carta explícita que o Obama mandou para mim e mandou para o Primeiro-Ministro da Turquia. Exatamente o que Obama disse que era possível fazer, nós fizemos.
De repente, aquilo que era para ser um acordo virou sanções. Eu não acredito em sanções porque essas sanções, também, têm problemas. Deve ter sanção para as empresas argentinas, para as empresas brasileiras, mas não deve ter sanção para as empresas russas, não deve ter sanção para as empresas americanas, não deve ter sanção para as empresas chinesas. Eles vão continuar... A Rússia vai continuar fazendo a usina nuclear do Irã, a Argentina... o Chile vai... a China vai continuar cuidando do petróleo lá, e os outros mortais comuns é que vão ficar fora.
Eu fiquei muito decepcionado porque hoje eu me pergunto se as pessoas querem paz ou se as pessoas querem manter o clima de instabilidade que existe para poder utilizar a teoria, muito conhecida, de Maquiavel: é preciso dividir para reinar. Hoje eu tenho essa convicção, porque não é possível, não é possível que as pessoas não conversem com quem está nos conflitos, para negociar. Como é que eu posso fazer pacto com o Piñera se eu não me sentar com o Piñera para conversar? Como é que a gente vai restabelecer a harmonia entre Colômbia e Venezuela, se Chávez e o novo presidente não sentarem para conversar. Como é possível resolver um conflito do Brasil com a Argentina, se eu e Cristina não sentarmos para conversar? Então, em política, a gente não pode terceirizar o mandato que o povo nos deu. Em política, quem foi eleito precisa exercer o seu mandato e fazer o que tem que ser feito, negociar, conversar, porque, às vezes, um companheiro nosso, assessor, pensa diferente. Eu acho, acho que... Eu queria fazer esse depoimento aqui, porque eu ainda vou discutir com eles na ONU, ainda vou discutir com eles no G-20. Eles não vão... Nós vamos fazer uma discussão profunda sobre isso, porque eu acho que...
Nós não queremos guerra. E se alguém quiser saber um lugar tranquilo no Planeta, olhe para a América do Sul, olhe para este continente. Aqui nós temos todos os defeitos do mundo, mas faz muito tempo que nós não fazemos guerra entre nós. Às vezes, temos guerra verbal, que não fere ninguém, não ataca ninguém. Por exemplo, eu fiz uma... eu falei uma coisa com a imprensa, nesses dias, e o Uribe ficou meio nervoso e fez uma nota. Sabem como é que eu vou me vingar de Uribe? Eu vou, na segunda-feira à noite, jantar lá, no jantar de despedida dele, para ele saber que eu não tenho nenhum problema com ele, que eu gosto dele, que é meu amigo, e que eu quero ajudar a construir a paz. Então, o meu gesto vai ser ir jantar, para ver se ele me convida para sentar ao lado dele, ainda, para a gente poder conversar. Senão, a gente não constroi a paz no mundo, senão a gente não constroi a tranquilidade, senão a gente não constroi o Mercosul, não constroi a Unasul, não constroi o Parlamento do Mercosul. Por que não aprovamos o Parlamento do Mercosul? Qual é a dificuldade que nós temos? Qual é a grande divergência de fundo, que a gente não tem um Parlamento? Que vai ajudando a gente a fazer as coisas, com erros e com acertos. Nada, nada, nada vai ser definitivamente pronto, é um processo de aprendizagem. E nós vamos aprendendo com os erros, sabendo que não pode ter supremacia de um país sobre outro país, sabendo que o Parlamento não pode aprovar uma coisa que fira a soberania de um outro país. E a gente só vai atingir a maturidade política quando a gente tiver responsabilidade.
Então, meus queridos companheiros e companheiras, eu acho que... Eu vou deixar o meu discurso escrito aqui para outra oportunidade. Eu acho que nós ainda temos muito, muito o que fazer. Por exemplo, no Brasil nós aprovamos uma grande política de inovação tecnológica. E essa política de inovação não pode ser só para o Brasil, nós temos que ter laboratório no Mercosul inteiro. Cada país do Mercosul tem que ter um laboratório... [estar] conectado com um laboratório para a gente poder avançar nessa questão da inovação tecnológica, que é uma necessidade, hoje, do mundo. A questão energética, nós não podemos ficar, a cada inverno, a cada verão, vendo um país nosso ter problema energético. Nós temos que sentar e pensar, definitivamente, como é que nós vamos resolver esse problema.
Então, companheiros... eu queria, Cristina, te dar os parabéns. Acho que a tua Presidência foi, na minha opinião, uma extraordinária Presidência. Acho que este documento assinado é uma demonstração do avanço extraordinário que nós tivemos. Eu espero que na minha Presidência a gente possa avançar um pouquinho mais, e que em outras presidências a gente possa avançar um pouquinho mais, até que o Mercosul seja uma coisa que ninguém tenha mais dúvida de ninguém e que nós sejamos amigos de verdade na construção de um bloco político, econômico, social e cultural.
Portanto, eu quero agradecer a todos vocês pelo tratamento que me deram, nesse tempo todo. Obviamente que não é o discurso de despedida porque vai ter outro discurso, mas é quase... tudo o que eu faço, daqui para a frente, é quase a última vez. Sinceramente, saio daqui com a consciência de que... lá no meu país tem gente falando contra o Mercosul, lá no meu país tem gente falando contra o Mercosul, lá no meu país tem gente achando que não vale a pena a gente manter relações privilegiadas com a Bolívia, com o Uruguai, com o Paraguai, são todos países “pequeninicos”.
Eu quero dizer o seguinte: as pessoas não sabem... Eu estava com o Lugo, quando um jornalista brasileiro perguntou: “Companheiro Lula, como é que você está investindo US$ 400 milhões numa linha de transmissão, se quem vai pagar o custo dessa linha de transmissão é o povo brasileiro?” Eu perguntei [respondi] para ele: perguntem o preço de uma guerra, que vocês vão perceber que nós não estamos gastando absolutamente nada com a construção dessa torre.
Portanto, muito obrigado, companheiros, e feliz Mercosul."
http://noticias.uol.com.br/politica/2010/08/03/lula-critica-demora-da-venezuela-em-integrar-o-mercosul-e-pede-mais-paises-no-bloco-leia-a-integra-do-discurso.jhtm
Aqui stá o discurso de Lula na integra.
"Bem, primeiro, eu queria cumprimentar a companheira Cristina Kirchner, presidente da Argentina e presidente Pro Tempore do Mercosul,
Cumprimentar o companheiro Fernando Lugo, presidente do Paraguai,
Cumprimentar o companheiro José Mujica, presidente do Uruguai,
Cumprimentar o companheiro Evo Morales, presidente da Bolívia,
Cumprimentar o companheiro Sebastián Piñera, presidente do Chile,
Cumprimentar o nosso querido secretário-geral da Unasul, companheiro Kirchner,
Cumprimentar os companheiros representantes de organismos internacionais,
Cumprimentar o nosso querido Governador da Província de San Juan,
Queria cumprimentar os chefes de delegações,
Queria cumprimentar os representantes do Parlamento do Mercosul,
Cumprimentar os representantes dos movimentos sociais aqui presentes,
E dizer para a Cristina que vou fazer um esforço imenso para não levar todo o tempo que levávamos para falar, alguns anos atrás.
Mas queria começar reconhecendo que ontem à noite quando eu cheguei aqui, às dez e meia da noite, onze horas – o companheiro Celso Amorim já estava recolhido, certamente telefonando para sua mulher –, eu me encontrei com os meus assessores que, unanimemente, me disseram que esta reunião de San Juan tinha sido a melhor reunião, depois de Ouro Preto, do Mercosul – já faz muito tempo –, e estava todo mundo feliz com o conteúdo e a qualidade das decisões que foram aprovadas aqui. Portanto, eu acho que o clima de San Juan, Governador, permitiu que o Mercosul avançasse nisso. Esta, na verdade, deve ser considerada a Declaração de San Juan, grande declaração.
Bem, queria dizer aos companheiros que eu sou decano do Mercosul, sou o presidente mais velho. De idade, estou igual a Pepe, mas de participação no Mercosul eu sou o presidente que mais tempo está exercendo a Presidência. O que é triste é que para quem está no governo oito anos não é nada, e para quem está na oposição oito anos é uma eternidade. Entonces, eu tenho que sair para contemplar um pouco a oposição que quer disputar uma eleição, embora vá perder.
Segundo, dizer um pouco, Cristina, do clima que era o Mercosul, no começo. O companheiro Kirchner não está aqui presente agora, deve estar em uma bilateral. Mas eu queria dizer que os avanços do Mercosul, na minha visão, foram avanços extraordinários. Eu lembro que eu fiz uma campanha para presidente da República em 2002, em que o grande tema da campanha era se iria prevalecer a implantação da Alca ou não. E o movimento social, o movimento sindical, o meu partido e as pessoas de esquerda no meu país, todos éramos contra a Alca, todos. E éramos acusados de não querer que o Brasil se desenvolvesse, éramos acusados de não perceber a importância dos Estados Unidos para o desenvolvimento da América do Sul. E nós afirmávamos que na Alca não tinha nenhuma proposta condescendente, como teve a proposta da criação da União Europeia, em que países como Portugal, Grécia, Espanha, receberam ajuda financeira para desenvolver os seus países, investimentos em infraestrutura, e se colocarem, mais ou menos, em igualdade de condições. Então, a Alca, no fundo, no fundo, no fundo, era uma proposta que não tinha nenhum propósito de ajudar com que os países mais pobres pudessem ter ajuda para se desenvolverem e se transformarem em países minimamente competitivos com os países ricos.
O dado concreto é que nós ganhamos as eleições. Depois de algum tempo, veio o Kirchner e ganhou as eleições. O dado concreto é que dois anos depois que estávamos na Presidência da República, nem os Estados Unidos falavam mais em Alca, ninguém falava mais em Alca. Talvez, alguns saudosistas acreditassem que poderiam continuar falando na Alca. E nós fizemos uma coisa e a história, às vezes leva anos para mostrar e às vezes... Eu lembro quantos discursos eu ouvi, eu lembro quantas vezes eu lia jornal de países aqui do Mercosul, em que os presidentes participavam de algumas reuniões e voltavam para os seus países dizendo: “O Mercosul não adianta, porque o Mercosul não vai para a frente, porque é preciso nos voltarmos para tentar fazer acordo direto com os Estados Unidos”. Nós nunca fizemos nenhuma crítica a quem quisesse fazer acordo, com quem quisesse. Era um direito soberano de cada país fazer acordo com os Estados Unidos, fazer acordo com a Europa, fazer acordo com o Japão. Mas o que nós queríamos era fortalecer o potencial de similaridade que nós tínhamos e que não era explorado.
Pois bem, eu acho que os resultados econômicos do Mercosul demonstram, por si só, o acerto das decisões que nós tomamos quando resolvemos fortalecer o Mercosul. É só pegar o fluxo comercial e, além do fluxo comercial, pegar os avanços de integração, e, sobretudo, pegar os avanços da interação política que houve entre os nossos companheiros governantes, ministros e o povo em geral. Há um processo de confiabilidade hoje que não havia dez anos atrás ou que não havia oito anos atrás.
Além disso, nós tivemos a oportunidade de fazer duas reuniões da América do Sul com os Países Árabes – parecia impossível e aconteceram as duas reuniões –; nós fizemos duas reuniões entre a América do Sul e o continente africano – parecia impossível e aconteceram as reuniões –; e nós fizemos a primeira reunião, em 200 anos de independência, de toda a América Latina mais o Caribe, que foi a reunião de Sauípe, na Bahia, o que parecia impossível.
Muitas vezes, muitas vezes, nós ficamos ansiosos porque vamos a uma reunião e não voltamos para casa com nada para dizer para o nosso povo: “Eu conquistei tal coisa”. Todos nós ficamos ansiosos. Eu, no começo, ficava nervoso porque o Kirchner ia para as reuniões, ficava um dia e depois o Kirchner vinha embora para a Argentina. Eu falava: por que é que ele não fica os dois dias com a gente aqui e tal? Depois ele virou, agora, secretário-geral da Unasul. Agora ele vai ter muito mais dor de cabeça e muito mais reuniões do que ele tinha na época.
Aprovamos a entrada da Venezuela no Mercosul e, lamentavelmente, o Parlamento brasileiro demorou quatro anos para aprovar, muito mais por preconceito político, porque não há nenhuma divergência econômica para [não] ter aprovado. Eu acho que a mesma coisa pode se dar no Paraguai, e é preciso que a gente trabalhe para que outros países façam parte do Mercosul. Não tem lógica, não tem lógica, não tem lógica, nem econômica, nem cultural, nem comercial, que nós que temos milhões de quilômetros de fronteira seca em que o nosso povo pode transitar de lado a lado, que a gente não tenha um comércio muito mais forte, que as nossas empresas não se desenvolvam construindo parcerias. A gente não precisa abdicar das nossas relações com outros países, mas a gente tem que privilegiar as nossas relações. Afinal de contas, se a gente não cuida dos filhos da gente, a gente não pode dar palpite nos filhos dos outros. É preciso, primeiro, cuidar de onde nós temos um potencial extraordinário.
Nós temos energia, nós temos petróleo, nós temos gás, nós temos possibilidade hídrica como nenhuma parte do mundo tem, nós temos tudo que o mundo precisa, sobretudo para dar exemplo nessa discussão sobre a questão do clima. Os países ricos fazem discursos de bonzinhos, mas querem que nós submetamos o nosso desenvolvimento para cuidar de coisas que eles não cuidaram. Foi por isso que nós não tivemos acordo em Copenhague, porque a grande proposta, a grande proposta de contenção de emissão de gases de efeito estufa dos companheiros americanos era de apenas 4%, se pegássemos como base 1990. A Europa poderia ter oferecido 30%, ofereceu 20%. E eles acham que podem resolver o problema do mundo dando um pouco de dinheiro para os países pobres não desmatarem as suas florestas, ou seja, para os países pobres ficarem pobres, subdesenvolvidos, enquanto eles podem, sofisticadamente, cada vez mais, exportar para nós produtos de valor agregado, cada vez mais sofisticados.
No fundo, no fundo, é isso que está em jogo nessa discussão. Ninguém quer abrir mão dos privilégios conquistados. E nós não queremos manter privilégios, nós queremos conquistar o direito do nosso povo ter o mesmo direito que eles já têm. Cada argentino, cada brasileiro, cada boliviano, cada venezuelano, cada chileno, cada uruguaio, paraguaio, cada companheiro do Haiti tem que ter o mesmo direito de ter acesso a todos bens materiais que eles têm porque, senão... Se o planeta Terra não oferece matéria-prima suficiente para todo mundo ter o padrão de vida alemão, é preciso, então, que a gente discuta como utilizar corretamente as matérias-primas e as riquezas que existem no mundo.
Então, essa é uma discussão que vai se dar muito forte em Cancún, e essa discussão vai se dar, outra vez, Cristina, com os Estados Unidos, ela vai se dar, outra vez, com a Europa, e ela vai se dar com a China. E nós precisamos estar preparados e, quem sabe, construir uma proposta do Mercosul; quem sabe, o Kirchner trabalhar para a gente construir uma proposta da Unasul; fazer o possível para a gente fazer uma proposta, mas sem abrir mão do direito de continuarmos nos desenvolvendo. Esse é um dado delicadíssimo.
Então, eu acho que nós avançamos de forma extraordinária. E quero, Cristina, dizer que eu só tenho uma frustração, que era um sonho meu: que era que nós pudéssemos construir o acordo entre Mercosul e União Europeia, na sua Presidência e na Presidência do companheiro Zapatero, o que não foi possível. E agora, como o grande adversário dessa união me parece que são os companheiros franceses, eu agora vou ter cinco meses pela frente para tentar convencer os franceses a fazerem o acordo União Europeia e... Deus queira que a gente consiga e, quando, em dezembro, quando em dezembro, eu for passar a Presidência, acho que é para o Paraguai, lá... eu já estou dizendo que a reunião será convocada lá em Foz do Iguaçu, porque além do Mercosul, nós vamos visitar a escola que está sendo construída... a Universidade Latino-Americana, com professor latino-americano, com currículo latino-americano, com aluno latino-americano, e já vai ter uma base funcionando nos prédios de Itaipu... Então, vai ser lá a reunião.
Bem, ditas essas coisas, eu queria dizer aos companheiros que os avanços que nós conseguimos são visíveis e o nosso povo sente. Eu tenho sempre uma parte improvisada e uma parte institucional. Essa institucional é porque o Brasil vai ter uma nova pessoa que vai assumir a Presidência. Então, eu preciso deixar algo provado, do que foi o meu penúltimo discurso.
Eu gostaria, companheiros e companheiras... É quase um agradecimento à lealdade que nós tivemos nesses anos de convivência. Acho que a América do Sul e o Mercosul hoje são exemplos de como o mundo poderia viver em paz, de como o mundo poderia viver sem armas nucleares, de como o mundo poderia viver sem guerra, de como o mundo poderia viver de forma muito mais harmônica. Eles poderiam aprender conosco, poderiam aprender conosco. Eles não poderiam ter os ciúmes que tiveram nesses últimos dias, que eu peço a paciência de vocês para contar.
Eu, Cristina, não conhecia o Presidente do Irã, até que eu o encontrei na ONU, uma vez, e resolvi conversar com ele. Depois que conversei com ele, fui conversar com o Obama, fui conversar com o Sarkozy, fui conversar com a Angela Merkel, fui conversar com o Gordon Brown, sobre o problema dos conflitos entre iranianos, europeus, Estados Unidos e Israel. Depois eu fui à Palestina conversar com o presidente Abbas; depois eu fui a Israel conversar com o Primeiro-Ministro de Israel; depois eu recebi o Presidente de Israel no Brasil, tivemos conversa; depois tive uma conversa com o Presidente da Síria; recebi o Presidente do Irã no Brasil, e depois eu fui ao Irã.
O que me deixou profundamente chocado é que nenhum dos presidentes, dos grandes do Conselho de Segurança, tinham conversado com o Irã. Estive com Medvedev... mostrando para eles que era necessário que alguém pegasse o telefone e chamasse o Presidente do Irã para conversar, afinal de contas nós tínhamos lá os homens mais importantes do Planeta, que são os homens que têm... são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Eu não sei se é pelo fato de serem os membros permanentes do Conselho de Segurança, que são os cinco países que vendem mais armas no mundo, são os países que têm bomba nuclear. Então, deveriam chamar o Irã para conversar. Essas coisas a gente resolve na conversa, como foi resolvido o acordo aduaneiro agora, aqui. Em dois minutos de conversa o Lugo decidiu.
Pois bem, diziam que era impossível, que o Irã não queria sentar para conversar. O Primeiro-Ministro da Turquia e eu, Celso Amorim e o chanceler deles, depois de 18 horas conseguimos assinar um documento em que ele se dispunha a sentar à mesa de negociação com o Grupo de Viena, que era o grupo composto por Rússia, Estados Unidos e França. Não, só os três. Qual não foi a minha surpresa, qual não foi a minha surpresa, que quando ele manda o documento no domingo à noite – porque nós exigíamos prazo –, os países do Grupo de Viena, em vez de começarem a dizer “Bom, estão criadas as condições para negociação”, começaram a discutir o aumento das sanções. Possivelmente, eles nem queriam ler o documento. E o documento – o que me deixou mais irritado –, é que o documento – e eu posso dizer para vocês aqui –, o documento que nós firmamos com Ahmadinejad era a carta explícita que o Obama mandou para mim e mandou para o Primeiro-Ministro da Turquia. Exatamente o que Obama disse que era possível fazer, nós fizemos.
De repente, aquilo que era para ser um acordo virou sanções. Eu não acredito em sanções porque essas sanções, também, têm problemas. Deve ter sanção para as empresas argentinas, para as empresas brasileiras, mas não deve ter sanção para as empresas russas, não deve ter sanção para as empresas americanas, não deve ter sanção para as empresas chinesas. Eles vão continuar... A Rússia vai continuar fazendo a usina nuclear do Irã, a Argentina... o Chile vai... a China vai continuar cuidando do petróleo lá, e os outros mortais comuns é que vão ficar fora.
Eu fiquei muito decepcionado porque hoje eu me pergunto se as pessoas querem paz ou se as pessoas querem manter o clima de instabilidade que existe para poder utilizar a teoria, muito conhecida, de Maquiavel: é preciso dividir para reinar. Hoje eu tenho essa convicção, porque não é possível, não é possível que as pessoas não conversem com quem está nos conflitos, para negociar. Como é que eu posso fazer pacto com o Piñera se eu não me sentar com o Piñera para conversar? Como é que a gente vai restabelecer a harmonia entre Colômbia e Venezuela, se Chávez e o novo presidente não sentarem para conversar. Como é possível resolver um conflito do Brasil com a Argentina, se eu e Cristina não sentarmos para conversar? Então, em política, a gente não pode terceirizar o mandato que o povo nos deu. Em política, quem foi eleito precisa exercer o seu mandato e fazer o que tem que ser feito, negociar, conversar, porque, às vezes, um companheiro nosso, assessor, pensa diferente. Eu acho, acho que... Eu queria fazer esse depoimento aqui, porque eu ainda vou discutir com eles na ONU, ainda vou discutir com eles no G-20. Eles não vão... Nós vamos fazer uma discussão profunda sobre isso, porque eu acho que...
Nós não queremos guerra. E se alguém quiser saber um lugar tranquilo no Planeta, olhe para a América do Sul, olhe para este continente. Aqui nós temos todos os defeitos do mundo, mas faz muito tempo que nós não fazemos guerra entre nós. Às vezes, temos guerra verbal, que não fere ninguém, não ataca ninguém. Por exemplo, eu fiz uma... eu falei uma coisa com a imprensa, nesses dias, e o Uribe ficou meio nervoso e fez uma nota. Sabem como é que eu vou me vingar de Uribe? Eu vou, na segunda-feira à noite, jantar lá, no jantar de despedida dele, para ele saber que eu não tenho nenhum problema com ele, que eu gosto dele, que é meu amigo, e que eu quero ajudar a construir a paz. Então, o meu gesto vai ser ir jantar, para ver se ele me convida para sentar ao lado dele, ainda, para a gente poder conversar. Senão, a gente não constroi a paz no mundo, senão a gente não constroi a tranquilidade, senão a gente não constroi o Mercosul, não constroi a Unasul, não constroi o Parlamento do Mercosul. Por que não aprovamos o Parlamento do Mercosul? Qual é a dificuldade que nós temos? Qual é a grande divergência de fundo, que a gente não tem um Parlamento? Que vai ajudando a gente a fazer as coisas, com erros e com acertos. Nada, nada, nada vai ser definitivamente pronto, é um processo de aprendizagem. E nós vamos aprendendo com os erros, sabendo que não pode ter supremacia de um país sobre outro país, sabendo que o Parlamento não pode aprovar uma coisa que fira a soberania de um outro país. E a gente só vai atingir a maturidade política quando a gente tiver responsabilidade.
Então, meus queridos companheiros e companheiras, eu acho que... Eu vou deixar o meu discurso escrito aqui para outra oportunidade. Eu acho que nós ainda temos muito, muito o que fazer. Por exemplo, no Brasil nós aprovamos uma grande política de inovação tecnológica. E essa política de inovação não pode ser só para o Brasil, nós temos que ter laboratório no Mercosul inteiro. Cada país do Mercosul tem que ter um laboratório... [estar] conectado com um laboratório para a gente poder avançar nessa questão da inovação tecnológica, que é uma necessidade, hoje, do mundo. A questão energética, nós não podemos ficar, a cada inverno, a cada verão, vendo um país nosso ter problema energético. Nós temos que sentar e pensar, definitivamente, como é que nós vamos resolver esse problema.
Então, companheiros... eu queria, Cristina, te dar os parabéns. Acho que a tua Presidência foi, na minha opinião, uma extraordinária Presidência. Acho que este documento assinado é uma demonstração do avanço extraordinário que nós tivemos. Eu espero que na minha Presidência a gente possa avançar um pouquinho mais, e que em outras presidências a gente possa avançar um pouquinho mais, até que o Mercosul seja uma coisa que ninguém tenha mais dúvida de ninguém e que nós sejamos amigos de verdade na construção de um bloco político, econômico, social e cultural.
Portanto, eu quero agradecer a todos vocês pelo tratamento que me deram, nesse tempo todo. Obviamente que não é o discurso de despedida porque vai ter outro discurso, mas é quase... tudo o que eu faço, daqui para a frente, é quase a última vez. Sinceramente, saio daqui com a consciência de que... lá no meu país tem gente falando contra o Mercosul, lá no meu país tem gente falando contra o Mercosul, lá no meu país tem gente achando que não vale a pena a gente manter relações privilegiadas com a Bolívia, com o Uruguai, com o Paraguai, são todos países “pequeninicos”.
Eu quero dizer o seguinte: as pessoas não sabem... Eu estava com o Lugo, quando um jornalista brasileiro perguntou: “Companheiro Lula, como é que você está investindo US$ 400 milhões numa linha de transmissão, se quem vai pagar o custo dessa linha de transmissão é o povo brasileiro?” Eu perguntei [respondi] para ele: perguntem o preço de uma guerra, que vocês vão perceber que nós não estamos gastando absolutamente nada com a construção dessa torre.
Portanto, muito obrigado, companheiros, e feliz Mercosul."
http://noticias.uol.com.br/politica/2010/08/03/lula-critica-demora-da-venezuela-em-integrar-o-mercosul-e-pede-mais-paises-no-bloco-leia-a-integra-do-discurso.jhtm
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