segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Ilha dos Náufragos: Uma Fábula para entender o Dinheiro (Parte 1)

Sem querer demonizar o sistema financeiro, mas apenas para termos uma idéia de como poder e dinheiro são combinações extremamente favoráveis a abusos das mais diversas formas, publico uma fábula de Louis Even, do site Ecocídio (clique aqui) que nos revela, em outra linguagem, tais aspectos. No final o link para as duas últimas partes.

A Ilha dos Náufragos
(de Louis Even)

A fábula “A Ilha dos Náufragos”, de Louis Even, serve para entendermos o sistema financeiro desenvolvidopelo engenheiro escocês C. H. Douglas, que foi chamado de Crédito Social: um sistema econômico muito mais justo e equitativo para todos, sem hierarquias ou monopólios e onde cada um, para viver e prosperar, realiza as atividades que gosta!
Nota: a tradução usada mantém a linguagem e os termos usados na época em que o livro foi escrito.
Dividi o texto em três para não ficar um único e enorme post:

1 – Salvos do Naufrágio
Uma explosão destruiu o barco. Cada qual agarrou-se ao primeiro destroço flutuante que lhe chegou às mãos. Cinco acabaram por se encontrar reunidos sobre um destroço que as ondas levaram à deriva. Dos outros companheiros de viagem nenhuma notícia.
Depois de horas, de longas horas a escrutar o horizonte: Será que algum navio em rota por estas andanças do oceano os aperceberá? Irá a jangada de sorte dar à alguma paragem hospitaleira?
De repente, um grito ressonante: Teerrrra! terra à vista! Olhem! Olhem para ali! Olhem precisamnente na direção para onde nos levam!
A medida que se desenha o contorno da costa, os rostos se enchem de alegria.
Eles são cinco, cinco canadenses:
Francisco, o grande e vigoroso é carpinteiro, foi o que primeiro lançou o grito: Terra!; Paulo, é aquele que vocês vêm em primeiro plano na jangada, à esquerda, de joelhos com uma mão no chão e a outra no mastro, é cultivador;
Tiago, especializado na criação de animais, é o homem de calças riscadas que de joelhos na jangada olha em direção à terra;
Henrique, é horticultor agrônomo, um pouco corpulento, sentado sobre uma mala rescapada do naufrágio;
Tomás, é geólogo, é o moço vigoroso que está de pé, atrás do carpinteiro, com uma mão no ombro deste.
 
2 – Uma Ilha Providencial
Repor os pés em terra firme, é para nós humanos um regresso à vida.
Uma vez secos e aquecidos a primeira ânsia é a de fazer o reconhecimento desta ilha para onde eles foram atirados longe da civilazação. Ilha que eles batizaram Ilha dos Náufragos.
Uma rápida excursão à volta à ilha os enche de esperança. A ilha não é um deserto árido. Eles constatam que são os únicos habitantes ali presentes. Outrora porém, ela fôra habitada por outra gente a julgar pelos vestígios de hordas de animais domésticos nela vivendo. Tiago o criador de gado afirma poder tirar um bom rendimento.
Quanto ao solo da ilha, Paulo acha-o em grande parte muito propício à agricultura Henrique descobriu numerosas arvores de fruto e espera tirar delas bom proveito.
Francisco deparou principalmente com a bela extenção de floresta, rica em madeira de várias espécies: será como uma brincadeira cortar árvores para construir casas para a pequena colônia.
Quanto a Tomás o geólogo, o que mais o interressou foi a parte mais rochosa da ilha. Notou com grande interesse sinais indicativos da presença de vários minerais. Apesar da falta de ferramenta adequada, Tomás sente-se capaz de poder transformar esses minerais em metais úteis a todos.
Assim, cada um poderá então dedicar-se às suas tarefas favoritas para o bem comum. Todos são unânimes em louvar a Providência pelo final feliz do trágico incidente.

3 – As verdadeiras riquezas
Eis os moços amigos com as mãos à obra.
As casas e os móveis são assunto do carpinteiro. Nos primeiros tempos o grupo se contentou de alimentos primitivos. Mas bem depressa os campos produziram e o horticultor obteve boas colheitas.
À passagem sucessiva das estações o patrimônio da ilha se enriquece. Enriquece nao de ouro, não de notas impressas mas sim de verdadeiras riquezas de coisas que nutrem, que vestem, que hospedem e acomodam, que satisfazem as verdadeiras necessidades.
A vida porem não é assim tão doce como eles desejariam, Faltam-lhe certas comodidades a que estavam habituados quando viviam na civilização. Mas sua sorte poderia ter sido bem pior.
Além disso, eles já passaram tempos de crise no Canada – Eles se lembram das privações sofridas então que as lojas estavam repletas, a dois passos de suas portas – Ao menos na Ilha dos Náufragos ninguém os obriga a ver apodrecer à sua vista, coisas que eles necessitam. Taxas e impostos são inexistentes. Confiscações e vendas em leilão, não são a temer.
Se por vezes o trabalho é árduo, ao menos têm o direito de usufruir dos frutos do seu trabalho. Sobretudo explora-se a ilha a louvar a Deus, esperando que um dia se possam rever parentes e amigos com dois grandes bens conservados: a vida e a saúde.

4 – Um Grande Inconveniente
Nossos homens reunem-se frequentemente por causa dos seus negócios.
No sistema econômico bem simples por eles praticado, uma coisa os preocupa cada vez mais. Não têm qualquer espécie de moeda corrente. A troca, o câmbio livre e direto de produtos por produtos tem os seus inconvenientes. Os produtos ao serem trocados não estão sempre à face um do outro, quando da transação. Por exemplo, a madeira usada pelo agricultor no inverno só poderá ser reembolsada por bens alimentares depois de algum tempo. Isto é, no tempo das colheitas, em seis meses.
Por vezes também, um artigo de grande dimensão entregue de uma vez por um dos homens, e que ele queira em troca diferentes pequenas coisas produzidas por diversos deles em épocas diferentes.
Tudo isto complica os negócios. Se houvesse dinheiro em circulação cada qual venderia os seus produtos por dinheiro. Com o dinheiro apurado nas vendas compraria dos outros as coisas que quer, quando quer e que estejam disponiveis.
Todos estão de acordo quão cômodo seria um sistema monetário. Mas nenhum dentre eles sabe como estabelecer um. Eles aprenderam a produzir a verdadeira riqueza, as coisas, mas eles não sabem estabelecer o valor destas riquezas, o dinheiro.
Eles ignoram como o dinheiro começa e como o iniciar, quando o não há e quando se decide conjuntamente de o haver… Muitos homens instruidos ficariam sem dúvida também embaraçados.
Todos os nossos governos o estiveram dez anos antes da guerra. Só o dinheiro faltava, no país, e o governo ficava paralizado quando confrontado com o problema.

5 – A Chegada de Outro Náufrago
Um dia ao pôr do sol, nossos homens sentados a beira da costa retomam o problema pela centésima vez, quando subitamente deparam com um bote remado por um homem só.
Correm para ele para ajudar o seu ocupante, e oferecer os primeiros socorros. Oriundo da Europa, o novo habitante da ilha fala espanhol e chama-se Martinho.
Felizes por terem mais um companheiro, os nossos cinco homens acolhem-no com muito entusiasmo e fazem-no vistar a ilha.
- Embora perdidos no meio do oceano, longe do resto do mundo, eles não são de muitas queixas. A terra rende bem e a floresta também. Uma única coisa nos faz falta: nós não temos moeda para nos facilitar a troca de nossos produtos.
- Bendigam o acaso que me trouxe até vocês, responde Martinho. O dinheiro não tem mistérios para mim. Eu sou banqueiro e eu posso instalar um sistema monetário, em pouco tempo e que os dará plena satisfação.
Um banqueiro!… um banqueiro!…, um anjo vindo direitinho do céu não teria inspirado mais reverência. Não estamos nós habituados, em país civilizado a nos inclinarmos perante “Suas Excelências” os banqueiros, os quais controlam as pulsações da finança?

6 – O Deus da Civilização
- Senhor Martinho, já que é banqueiro, não trabalhá na ilha e somente se ocupará do nosso dinheiro.”
- Eu cumprirei com satisfação, como todo o bom banqueiro, o trabalho de forjar a prosperidade comum.
- Senhor Martinho, nós lhe construiremos uma moradia digna de sua posição. Entretanto, se contentaria de residir no edifício que serve às nossas reuniões publicas?”
- Ora bem meus caros senhores, comecemos por descarregar do bote a bagagem que pude salvar do naufrágio: Uma máquina impressora, papel e acessórios, e sobretudo um pequeno barril que tratarei com muito cuidado.
Depois de tudo descarregado, o pequeno barril desperta a curiosidade de nossos bravos homens.
- Este barril, declara Martinho, é um tesouro sem igual ele está repleto de ouro.”
Cheio de ouro! as cinco almas ameaçavam escapar-se dos cinco corpos tal a sua admiração. O deus da civilização entrava assim na Ilha dos Náufragos. O deus amarelo, sempre escondido, mas poderoso, terrível, onde a presença, a carência, ou o mais pequeno capricho pode decidir a vida de cem nações!
- Ouro! Senhor Martinho você é um banqueiro de verdade. Receba nossa homenagens e aceite nossos juramentos de fidelidade.
- Ouro para enriquecer um continente. Mas não é o ouro que vai circular. É preciso esconder o ouro; o ouro é a alma de todo o dinheiro válido. A alma deve permanecer invísivel. Eu lhes explicarei tudo isso, ao lhes passar o dinheiro.


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