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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Brasil acelera Investimentos na Africa
Do Portal Uol - Noticias - Internacional
Brasil acelera investimento na África
Richard Lapper*
Em Johannesburgo (África do Sul)A Vale, a maior companhia mineradora brasileira, está se preparando para dar início a operações em Moçambique, enquanto a maior economia da América do Sul empenha-se mais na busca por recursos da África.
A remota cidade de Tete, na região central de Moçambique, fica sobre uma das maiores reservas mundiais de carvão. Neste momento em que trabalhadores migrantes e empreiteiras seguem para a região a fim de aproveitarem as oportunidades criadas por este empreendimento brasileiro multibilionário, Tete experimenta um boom econômico, e a sua infraestrutura não dá conta do fluxo constante de visitantes a negócios.
Caminhões trabalham na mina Casa de Pedra, em Congonhas do Campo, Minas Gerais. A mineradora Vale, detentora da mina, planeja grandes investimentos em Moçambique, na África
“Toda vez que vou para lá, as coisas ficam mais difíceis”, diz Antônio Coutinho, um banqueiro sul-africano que está ajudando a financiar um investimento que poderia transformar a economia de Moçambique, que ainda depende de ajuda externa. “Esta é uma cidade pequena que está tentando dar conta de uma expansão maciça. A situação deve ter sido semelhante em Johannesburgo durante a corrida do ouro”.
O envolvimento da Vale é uma evidência clara do interesse crescente do Brasil na África. Os vínculos comerciais chineses e indianos com o continente estão mais avançados e atraem maior atenção.
Mas a chegada do Brasil na África faz parte do mesmo padrão segundo o qual os parceiros ocidentais típicos do continente competem com uma gama de países emergentes por recursos e influência.
Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente brasileiro que assumiu o cargo em 2003, visitou a África seis vezes nos seus primeiros cinco anos no poder.
Impulsionado pela demanda brasileira por matérias primas, o comércio cresceu rapidamente, com as importações da África subindo de US$ 3 bilhões (R$ 5,54 bilhões) em 2000 para US$ 18,5 bilhões (R$ 34,15 bilhões) em 2008. A Nigéria e a Argélia – assim como Angola – são fontes fundamentais de petróleo importado. Os competitivos produtores brasileiros de alimentos encontraram mercados em países como o Egito, contribuindo para aumentar em oito vezes o valor das exportações de São Paulo para a África, de US$ 1 bilhão (R$ 1,85 bilhão) em 2000 para US$ 8 bilhões (R$ 14,77 bilhões) em 2008.
Em Moçambique, a Vale está trabalhando com a Odebrecht, uma companhia brasileira de construção, para explorar as reservas de carvão, construir uma usina de energia elétrica e infraestrutura ferroviária e portuária para transportar o minério negro para os mercados exportadores.
Em Moatize, o local da mina na qual as escavações terão início no final deste ano, a Vale calcula que o seu investimento inicial será de US$ 1,3 bilhão (948 milhões de euros, 831 milhões de libras esterlinas, R$ 2,4 bilhões). Especialistas afirmam que o total poderá ser várias vezes superior a essa quantia.
A Vale e a Odebrecht não são as únicas companhias brasileiras que atuam em Moçambique. Há dois meses, a CSN, uma siderúrgica brasileira, comprou 16,3% da Riversdale, uma companhia mineradora australiana, na qual a indiana Tata Steel também possui uma participação acionária substancial. Essa companhia também está planejando investir bilhões de dólares na área de Tete.
A Odebrecht tornou-se a maior empresa empregadora do setor privado em Angola, com atividades que incluem a produção de alimentos e etanol, escritórios, fábricas e supermercados. Os seus executivos têm acesso direto a José Eduardo do Santos, o presidente do país. A Petrobras, a companhia petrolífera estatal brasileira, também é ativa em Angola, utilizando os seus conhecimentos técnicos no setor de prospecção em águas profundas.
Lula ao lado do presidente moçambicano, Armando Guebuza, em Maputo, Moçambique, durante visita ao país em 16 de outubro de 2008. Segundo o jornal Financial Times, o presidente brasileiro acelerou a agenda de visitas ao continente africano, a fim de estabelecer novos tratados comerciais com as nações africanas
Conexões culturais e linguísticas contribuíram para tornar o modelo de desenvolvimento do Brasil especialmente atraente em Angola e Moçambique. Vínculos históricos com a África lusófona remontam a séculos.
Cerca de 1,4 milhão dos três milhões de escravos africanos enviados para o Brasil entre 1700 e 1850 vieram de Angola, e na década de 1820 colonos de Angola, Moçambique e outras colônias portuguesas inscreveram-se para integrar um Brasil que declarara recentemente a sua independência.
O sucesso mais recente do Brasil no combate à pobreza – por meio do pagamento de auxílios condicionados à frequência à escola ou a visitas a clínicas – atraiu interesse em ambos os países.
“Eles se identificam conosco porque nós passamos por problemas similares aos deles no passado e adaptamos com sucesso a tecnologia às circunstâncias locais”, afirma um diplomata brasileiro em Maputo, a capital de Moçambique. “Eles veem o Brasil como um modelo a ser imitado”.
Embora as companhias brasileiras tenham investido uma quantia modesta de cerca de US$ 10 bilhões (R$ 18,5 bilhões) desde 2003, essa cifra provavelmente aumentará acentuadamente. O governo do Brasil está se empenhando em persuadir as companhias brasileiras a expandirem-se na África, especialmente depois que Lula da Silva assumiu a presidência em 2003.
A rede de embaixadas do Brasil no continente expandiu-se e dezenas de líderes empresariais acompanharam Lula da Silva em suas viagens. A fama do presidente na África é boa, tanto que em julho do ano passado a União Africana o nomeou convidado de honra na sua reunião na Líbia.
Analistas do Standard Bank em Johannesburgo argumentam que há um casamento harmônico entre os recursos brasileiros e a experiência do Brasil no setor alimentício e as oportunidades oferecidas por Angola. E eles dizem que a mudança climática poderia aumentar o valor dos investimentos do Brasil na África.
Como o clima mais quente reduziria a quantidade de terra cultivável no Brasil, os produtores de alimentos e etanol poderiam interessar-se mais por expandirem os seus negócios para a África, especialmente em países como Angola, onde a terra é abundante.
Para as multinacionais brasileiras, não há dúvida que as atrações são evidentes.
“O mais interessante em relação à África é que cedo ou tarde tudo isso se tornará realidade”, diz Roger Agnelli, presidente e diretor-executivo da Vale. “A África, juntamente com a América do Sul, representa o futuro dos recursos naturais do mundo”.
Construindo Brics
Na corrida pelos carimbos de passaporte, Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, superou Hu Jintao, o presidente da China, tendo visitado 19 países africanos em oito viagens desde que assumiu o cargo em 2003.
Mas, em termos econômicos, a relação da África com a China continua sendo a mais significativa entre as nações emergentes do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O valor do comércio entre a África e a China saltou de US$ 4,1 bilhões (R$ 7,6 bilhões) em 1992 para US$ 107 bilhões (R$ 197,5 bilhões) em 2008, fazendo de Pequim o segundo maior parceiro comercial do continente depois dos Estados Unidos. Companhias chinesas têm investido agressivamente nos recursos naturais africanos, especialmente no petróleo.
Como bloco, o comércio do Bric com a África aumentou como proporção das transações comerciais do continente de 4,6% em 1993 para mais de 19% em 2008. Economistas do Standard Bank calculam que até 2030 quase 50% do comércio da África será feito com os Brics.
*Jonathan Wheatley, em São Paulo, e Jack Farchy, em Londres, contribuíram para esta matéria.
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Este artigo é muito bom. Pouca gente reconhece esse trabalho que Lula realmente fez.
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Vida longa.
Abraços
Pax
Valeu, Pax! Seja sempre bem vindo e mais uma vez obrigado pela dica. Abcs.
ResponderExcluirUm enorme prazer, meu caro. Conte sempre comigo.
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