Saiu um artigo de Mark Weisbrot, diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas (www.cepr.net), de Washington, na Folha de São Paulo, no domingo passado e que, pelo seu conteúdo, é de se estranhar ter passado "despercebido" ou sem repercussão mais ampla nos meios de comunicação da denominada grande mídia. De se estranhar porque para certos assuntos, o que sai num veículo é logo reverberado no outro até completar a cadeia de veiculação. Isto acontece, principalmente no que tange à política externa brasileira, que vem sendo muito criticada pela mídia tupiniquim em face de sua postura frente ao problema do Oriente Médio envolvendo o Irã e Israel.
Voltando ao artigo, talvez o seu conteúdo revele a solução para o mistério do desinteresse pelo encadeamento, uma vez que traz uma visão diametralmente oposta à que vem sendo adotada pelo editoriais dos grandes veículos de comunicação e uma crítica embasada a um recente artigo publicado na própria Folha, e de autoria do candidato José Serra. O ponto principal é a campanha dos EUA pela aplicação de sanções ao Irã, firmemente recusada pelo Brasil que prefere uma postura de conciliação no concerto das nações, sendo que o presidente Lula vem argumentando que a estratégia dos EUA seria contraproducente e incapaz de levar a uma solução pacífica na região.
Essa postura do Brasil vem sendo duramente criticada pelos opositores internos, conforme se depreende da leitura do artigo de autoria do candidato José Serra na Folha de São Paulo de 23.11.2009, e que parte de uma crítica contundente ao presidente Lula por ter recebido Ahmadinejad, cuja reeleição teria sido “notoriamente fraudulenta”, pelo teor repressivo do governo e pela negação do Holocausto. Weisbrot argumenta que a primeira acusação é inaceitável por quem tenha examinado as evidências. A vitória de Ahmadinejad por uma diferença de 11 milhões de votos teve apuração testemunhada por centenas de milhares de pessoas. Mais: os resultados corresponderam às pesquisas de intenção de voto e também de boca de urna.
O autor reconhece que o Irã tem um regime repressivo, mas não mais repressivo do que o de outros países da região apoiados pelos EUA, como o Egito (n.a.: presidido por Hosni Mubarak desde 14 de outubro de 1981), e de que quanto ao fato de que Ahmadinejad teria negado o Holocausto, Lula teria condenado veementemente tal afirmação, e que, sobre esta lógica, não poderia o presidente brasileiro receber a Secretária de Estado Hilary Clinton, por ser representante de um país que empreende uma guerra de ocupação no Iraque, que já vitimou mais de um milhão de pessoas, além das milhares de vítimas civis no Afeganistão.
Fala da dificuldade da equipe de Obama, assim como ocorreu com a de George Bush, de compreender os conceitos de mediação e de gerras desnecessárias da diplomacia brasileira, adotando sempre uma abordagem "Poderoso Chefão" nas relações internacionais.
Voltando ao artigo do Serra, Weisbrot critica a comparação feita entre o não reconhecimento por Lula do governo hondurenho após o golpe contra um presidente democraticamente eleito e a visita ao Irã de Ahmadinejad, observando que o golpe representa uma ameaça à democracia, enquanto o governo do Irã não representaria tal ameaça, além do que, o Brasil tem um papel regional importante pelo qual deve proceder à defesa intransigente da democracia no continente, em virtude dos acordos regionais e em respeito aos princípios que defendem a estabilidade na região.
Em suma, é uma visão de dentro dos EUA sobre a política externa brasileira em relação ao Oriente Médio, com um teor de defesa do diálogo e da conciliação, pontos que, no momento, e em face do embate de forças que acontece dentro e fora dos EUA, parecem não estar sendo prestigiados, inclusive por alguns atores aqui mesmo no Brasil.
O artigo na Folha, para assinantes.
Aqui para o artigo de José Serra.
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