segunda-feira, 1 de março de 2010

Internacional: Pesquisadores apontam grandes cidades como zonas propensas a terremotos e novas tragédias

Do New York Times
(Portal UOL)

Andrew C. Revkin

Em Istambul (Turquia)Enquanto investiga as ruas desta ampla megacidade, Mustafa Erdik, o diretor de um instituto de engenharia de terremotos daqui, diz que às vezes se sente como um médico diagnosticando uma ala lotada de hospital.

Não se trata tanto do lado moderno da cidade, onde duas Torres Trump reluzentes e um imenso terminal de aeroporto foram construídos para suportar um grande terremoto, que é considerado inevitável nas próximas poucas décadas. Erdik também não agoniza a respeito dos monumentos antigos de Istambul, cujas paredes de vários metros de espessura já suportaram mais de uma dúzia de golpes sísmicos potentes ao longo dos últimos dois milênios.

Sua maior preocupação é com as dezenas de milhares de prédios por toda a cidade, erguidos com pressa, despreparados e não inspecionados, à medida que a população saltava de 1 milhão para 10 milhões em apenas 50 anos, o que alguns sismólogos chamam de “escombros à espera”.

“Os terremotos sempre encontram o ponto mais fraco”, disse Erdik, um professor da Universidade de Bogazici daqui.

Istambul é uma das várias cidades ameaçadas por terremotos no mundo em desenvolvimento onde as populações cresceram mais rapidamente do que a capacidade de fornecer moradias seguras, as deixando propensas a um desastre de um tamanho que poderia, em alguns casos, ultrapassar a devastação causada pelo terremoto do mês passado no Haiti.

Roger Bilham, um sismólogo da Universidade do Colorado que passou décadas estudando grandes terremotos ao redor do mundo, incluindo o recente sismo no Haiti, disse que a crescente população urbana do planeta, projetada para aumentar em mais 2 bilhões de pessoas até meados do século, exigindo 1 bilhão de moradias, enfrenta “uma arma de destruição em massa não reconhecida: as moradias”.

Sem grandes esforços para mudar as práticas de construção e educar as pessoas, de prefeitos a pedreiros, sobre formas simples de reforçar as estruturas, ele disse, a tragédia do Haiti quase certamente será superada em algum momento deste século, quando um grande terremoto atingir Karachi, no Paquistão; Katmandu, no Nepal; Lima, no Peru; ou qualquer uma de uma longa lista de grandes cidades pobres que inevitavelmente enfrentarão grandes terremotos.

Em Teerã, a capital do Irã, Bilham calculou que 1 milhão de pessoas poderiam morrer em um terremoto previsto, semelhante em intensidade ao do Haiti, que o governo haitiano estima que matou 230 mil pessoas. (Alguns geólogos iranianos pressionam seu governo há décadas para mudar a capital, devido ao ninho de falhas geológicas ao seu redor.)

Quanto a Istambul, um estudo liderado por Erdik mapeou uma situação na qual um terremoto poderia matar de 30 mil a 40 mil pessoas e ferir gravemente 120 mil.

A cidade está repleta de prédios com falhas gritantes, como andares térreos com paredes ou colunas removidas para abrir espaço para vitrines de lojas, ou uma sucessão de acréscimos de novos andares ilegais a cada período eleitoral, com base na suposição de que as autoridades locais farão vista grossa. Em muitos prédios, os andares superiores se equilibram precariamente sobre a calçada, tirando proveito de um velho processo de permissão que rege apenas a base do prédio.

Repetindo a posição de outros engenheiros e planejadores que tentam reduzir a vulnerabilidade de Istambul, Erdik disse que a melhor esperança, considerando a escala do problema, seria a de um progresso econômico acontecer rápido o suficiente a ponto dos proprietários de imóveis substituírem os piores imóveis, já existentes, antes do chão tremer.

“Se o sismo nos der algum tempo, nós podemos reduzir as perdas com a simples rotatividade”, disse Erdik. “Se acontecer amanhã, haverá um número imenso de mortes.”

Mas quando um terremoto potente ocorreu a 80 quilômetros de distância em 1999, matando mais de 18 mil pessoas, incluindo 1.000 nos arredores de Istambul, a cidade foi lembrada de que o tempo pode não estar ao seu lado. Aquele terremoto ocorreu na falha Anatólia Norte, que passa sob o Mar de Mármara, a poucos quilômetros da zona sul densamente povoada da cidade.

A falha, que é muito semelhante à de San Andreas na Califórnia, parece ter um padrão de sismos sucessivos, o que significa que um provavelmente ocorrerá no trecho próximo de Istambul, disse Tom Parsons, que estudou a falha para o Levantamento Geológico dos Estados Unidos.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2010/02/25/pesquisadores-apontam-grandes-cidades-como-zonas-propensas-a-terremotos-e-novas-tragedias.jhtm

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