Do Portal Uol
Por Paul Krugman
(The New York Times)
Os preços dos planos de saúde estão subindo –e os conservadores temem que o espetáculo revigore a pressão pela reforma. Na “Fox Business Network”, um apresentador repreendeu um vice-presidente da WellPoint, que disse aos clientes da Califórnia que esperassem grandes aumentos de preços: “Você deu carne vermelha aos políticos em um momento em que uma reforma da saúde está sendo discutida. Você a deu para eles!”
De fato. Aumentos enormes de preços representam um argumento poderoso para a ação. E eles mostram, em particular, que precisamos de uma cobertura abrangente, garantida –que é exatamente o que os democratas estão tentando fazer.
Aqui está a história: cerca de 800 mil pessoas na Califórnia que pagam por planos de saúde individuais –e não os recebem de seus empregadores– possuem cobertura da Anthem Blue Cross, uma subsidiária da WellPoint. Foi para essas pessoas que foi dito recentemente que esperem aumentos dramáticos nos preços, em alguns casos de até 39%.
Por que tamanho aumento? Não se trata de exploração, diz a WellPoint, que alega em vez disso (sem usar o termo) estar enfrentando um clássico mergulho em parafuso mortal.
Tenha em mente que um plano de saúde privado só funciona se as seguradoras puderem vender planos tanto para clientes doentes quanto com saúde. Se pessoas demais com saúde decidirem que preferem se arriscar e permanecer sem um plano, o pool de risco deteriora, forçando as seguradoras a aumentar os preços. Isto, por sua vez, leva mais pessoas com saúde a abrirem mão do plano de saúde, piorando ainda mais o pool de risco e assim por diante.
Mas o que a WellPoint alega é que foi forçada a aumentar os preços por causa dos “tempos econômicos difíceis”: os californianos sem dinheiro têm abandonado seus planos ou adotado planos mais simples. Aqueles que mantêm a cobertura tendem a ser pessoas com altas despesas médicas. E o resultado, diz a empresa, é um drástico agravamento do pool de risco: na prática, um mergulho em parafuso mortal.
Logo, insiste a WellPoint, os aumentos de preços não são sua culpa: “Outras seguradoras estão enfrentando a mesma dinâmica e estão sendo forçadas a adotar medidas semelhantes”. De fato, um relatório divulgado na quinta-feira pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos mostra que ocorreram de fato ou foram propostos fortes aumentos nos preços dos planos de várias seguradoras.
Então vamos supor que os planos de saúde não sejam os principais vilões nesta história. Mesmo assim, o mergulho em parafuso na Califórnia torna tolice todos os principais argumentos contra uma reforma abrangente da saúde.
Por exemplo, alguns alegam que os custos da saúde cairiam dramaticamente se as seguradoras fossem autorizadas a vender apólices de um Estado para outro. Mas a Califórnia já é um mercado imenso, com muito mais concorrência do que em outros Estados; infelizmente, as seguradoras só competem na arte de negar cobertura para as pessoas que mais precisam. E a concorrência não evitou o mergulho em parafuso. Logo, por que a criação de um mercado nacional tornaria as coisas melhores?
De modo mais amplo, os conservadores fazem você acreditar que os planos de saúde sofrem com interferência demais do governo. Na verdade, o verdadeiro motivo para pressionar pela autorização da venda para outros Estados é uma nivelação por baixo, para eliminação da regulamentação estadual. Mas o mercado de planos de saúde da Califórnia já é notável pela falta de regulamentação, certamente em comparação a Estados como Nova York –mas o mercado está sofrendo colapso assim mesmo.
Finalmente, há os pedidos para uma reforma da saúde minimalista, que proibiria a discriminação com base em condições pré-existentes e que pararia por aí. É uma ideia popular, mas como todo economista de saúde sabe, também é tolice. Pois uma proibição à discriminação médica levaria a valores mais altos para as pessoas com saúde, causando, portanto, mais e maiores mergulhos em parafuso mortais.
Assim, os problemas na Califórnia mostram que as prescrições dos conservadores para a reforma da saúde não funcionam.
E o que funcionaria? De todas as formas, vamos proibir a discriminação com base no histórico médico, mas também vamos manter as pessoas com saúde no pool de risco, o que significa obrigar as pessoas a comprarem um plano de saúde. Isso, por sua vez, exige uma ajuda substancial aos americanos de renda mais baixa para que possam arcar com o custo da cobertura.
E se você reunir tudo isso, você acaba tendo algo muito parecido com os projetos de reforma da saúde que já foram aprovados pela Câmara e pelo Senado.
E quanto às alegações de que esses projetos de lei forçariam os americanos a caírem nas garras de planos de saúde inescrupulosos? Bem, a principal resposta é uma regulamentação mais forte; mas também seria uma ideia muito boa, política e substancialmente, o Senado fazer uso da reconciliação para colocar a opção pública de volta ao seu projeto.
Mas o principal argumento é este: o mergulho em parafuso mortal na Califórnia é um lembrete de que nosso sistema de saúde está ruindo e que a inação não é uma opção. O Congresso e o presidente precisam fazer com que a reforma aconteça –e já.
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