Brasília - O deputado Ciro Gomes (PSB) afirmou nesta quarta-feira (24), pela primeira vez de forma enfática, que poderá concorrer ao governo de São Paulo, apesar de manter sua disposição de disputar a Presidência da República.
"De repente, o projeto nacional que o presidente Lula representa precisaria ter como uma engrenagem modesta que eu aceitasse esse desafio (disputar São Paulo). Nesse caso, a serviço do Brasil, a serviço dessa fração de São Paulo eu não titubearia em ir", afirmou Ciro a jornalistas.
Ele ponderou, no enquanto, que um cenário em que seja forçado a concorrer em São Paulo é "quase impossível" e um "exagero".
As declarações foram feitas após reunião com dirigentes de partidos da base aliada do governo convocada para discutir seu futuro político. Representantes de PT, PDT, PCdoB e do PSB paulista disseram a Ciro que uma aliança potencial de 11 legendas poderia sustentar sua eventual candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Pressionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta tirá-lo da disputa presidencial para garantir espaço à pré-candidata do PT ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Ciro mudou seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo em outubro do ano passado.
Lula deseja que a eleição de outubro seja um confronto entre o PT e o PSDB do governador de São Paulo, José Serra.
Mesmo com a troca de domicílio, o parlamentar vinha se colocando apenas como pré-candidato a presidente, o que ele reiterou na semana passada no programa de televisão do PSB.
"Estou decidido. Sou candidato à Presidência da República, mas só o tempo poderá afirmar se essa minha decisão vai se materializar", destacou Ciro nesta quarta. "Neste instante, não é possível afirmar senão que eu sou candidato a presidente do Brasil."
Para Ciro, que retornou em 2010 à cena política depois de passar as férias de janeiro no exterior, o primeiro movimento no xadrez político em São Paulo não deve ser dos partidos aliados a Lula.
"Há grande dúvida se o atual governador de São Paulo (José Serra, do PSDB) será mesmo candidato à Presidência da República ou não. Entre nós, a avaliação majoritária é que ele será candidato a presidente. A minha avaliação, minoritária, é de que ele não será e haverá uma grande mudança no quadro se ele não for."
O deputado vê risco na continuidade do governo Lula, pois as pesquisas mostram que a população ainda não reconhece a ministra Dilma como a candidata do presidente e que ela pode ter dificuldades em São Paulo, no Sul e no Centro-Oeste.
"Sou muito melhor candidato que qualquer um desses aí", disparou Ciro.
"Não é por nada não e isso não diminui nenhum deles, que são grandes quadros. A Dilma é extraordinária, mas é tão extraordinária, mas não tem, por exemplo, uma história de 20 eleições que eu tenho."
Em sondagem de intenção de voto para presidente divulgada este mês pelo Instituto Sensus, Ciro registrou queda, indo de 17,5% para 11,9% no principal cenário, em que Serra e Dilma aparecem emparelhados no topo. Pesquisa Ibope que veio a público dia 18, mostra Ciro com índice próximo ao do Sensus, com 11%.
Aliados comemoram
Mesmo que discretamente, os representantes dos partidos que conversaram nesta quarta com o deputado comemoraram o resultado da reunião."Ele deu um sinal. Ele afirma que é candidato a presidente, mas trabalha para que, se for dentro de um projeto nacional e se o projeto nacional não correr risco, ele não descarta se candidatar ao governo de São Paulo", comentou o presidente do PT em São Paulo, Edinho Silva. "Ele abriu a possibilidade", acrescentou.
Sob a condição do anonimato, um aliado de Ciro comentou que a reunião comoveu o deputado. No entanto, disse, o parlamentar ainda teria dúvidas sobre as chances reais de o eleitorado paulista despejar votos em sua chapa.
Os partidos aliados marcaram mais duas reuniões com o parlamentar. A primeira ocorrerá na primeira quinzena de março, em São Paulo. A outra, em Brasília, está agendada para a primeira semana de abril. Ciro deve ter uma conversa, considerada definitiva, com o presidente Lula em meados de março.
O deputado recomendou que seus interlocutores coloquem "gelo nas veias" e tenham "paciência".
"Essa ansiedade é legítima, até porque o PT é um partido que tem condição de lançar um candidato e vencer as eleições sozinho (em SP)."
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