sábado, 10 de abril de 2010

Direto da Redação: AS CONSEQUÊNCIAS DA CHUVA

Por Mair Pena Neto

Criticar autoridades em período de tragédia é fácil. De fato, elas têm grande responsabilidade pelas conseqüências terríveis de chuvas como as que se abateram sobre o Rio de Janeiro esses dias, mesmo que o volume tenha sido tanto e as condições da cidade, tão particulares, que nem o melhor dos administradores teria evitado que algo de ruim acontecesse.

Mas a dimensão poderia ter sido bem menor se houvesse uma política de prevenção, manutenção e de ação para socorrer as vítimas. Tudo isso parece faltar. Mas numa hora dessas é preciso observar as reações da sociedade quando se fala em retirar as pessoas das zonas de risco e colocá-las em condições dignas de moradia.

Recentemente, li que uma antiga fábrica da CCPL, no subúrbio do Rio, abandonada e ocupada há uma década, será substituída por um projeto habitacional para famílias de baixa renda do programa “Minha casa, Minha vida”. Serão construídos 40 novos prédios, com apartamentos de dois quartos e varanda, e área de lazer no entorno, com praças e quadras esportivas.

Passei diversas vezes em frente a esta fábrica e constatei as condições degradantes dos que lá viviam. Por se tratar de uma fábrica, não tinha as divisões de apartamentos, e famílias separavam seus espaços com pedaços de pano. Assim como a ex-fábrica da CCPL, comunidades importantes do Rio de Janeiro, como Rocinha, Manguinhos e Alemão, estão sendo atendidas por obras, que incluem remoção de áreas de risco e urbanização para inclui-las na cidade formal.

Estes são projetos importantes para as populações marginalizadas do Rio, e sua inclusão também irá reduzir a quantidade de tragédias nas chuvas que costumam abalar periodicamente a cidade. Mas setores da política brasileira tratam o PAC, programa que congrega estas obras, como peça de ficção e anunciam o seu fim caso cheguem ao poder.

A mídia aliada a esses segmentos também detona o programa, como fez o Estadão em editorial contra o PAC 2: “A maior parte do programa não passa de um amontoado de restos do PAC 1, de promessas destinadas a seduzir uma parte do eleitorado urbano: mais casas, transporte, água, luz, saneamento e outros serviços essenciais. Anunciaram-se 2 milhões de moradias, o dobro do número previsto no programa Minha Casa, Minha Vida, ainda quase todo no papel.”

E não é exatamente isso que se quer? Ou os serviços essenciais só devem se destinar a uma parte da população. O PAC 2 tem entre seus projetos o Cidade Melhor, com o objetivo de enfrentar os principais desafios das grandes aglomerações urbanas e prevê 57 bilhões de reais para obras de saneamento, contenção de encostas e drenagem.

Um projeto como esse deveria ser saudado e a sociedade convocada a acompanhá-lo de perto para que cumpra os seus objetivos e não fique no papel, como afirma o editorial. A sua não realização seria uma perda para as metrópoles brasileiras que agonizam com a falta de mobilidade urbana, a violência e a exclusão social. Se nada for feito, na próxima chuva será a mesma tragédia. E aí, não adianta culpar os políticos e se eximir das responsabilidades.


http://www.diretodaredacao.com/

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