A bem da verdade, neste imbróglio todo envolvendo o Irã, fazendo uma análise crua e abstraindo a questão economômica que secunda as intenções brasileiras, é preciso que se entenda que para que haja a “inserção global” do Brasil é necessário que o país entre para o clube, liderado pelos EUA. Mas para isto vai precisar se alinhar aos interesses estratégicos ocidentais, ou seja, aqueles que ainda sobrevivem com o viés ideológico da OTAN. Não precisa ser um alinhamento automático, mas não pode atrapalhar os interesses do clube. O Brasil não pode se dar ao luxo de “peitar” esta aliança estratégica, que se costurou desde a segunda grande guerra, se intensificou com a guerra fria, e hoje é ainda a mais poderosa, militar e economicamente falando, ainda que estejamos num mundo menos polarizado. Além do quê o Brasil não é do clube atômico, e, ainda que fosse, não tem “escala” para encarar esta parada. Entretanto, acredito que o governo Lula tenha feito uma aposta bem arriscada, contando com o peso dos BRICs (apenas para não enumerá-los um a um), para dissuadir a imposição de sanções contra o Irã. Neste caso optou pela sua própria aliança estratégica, que está sendo forjada nas relações sul-sul, como uma contrapartida a antiga aliança ocidental. Uma jogada de grande risco, que, aparentemente tem tudo para dar errado, haja vista que, ao contrário da aliança ocidental, entendo que ainda falta um amálgama importante, que vá além dos interesses econômicos, a unir tais países do sul, e aí entra também o componente histórico e cultural. Mas tudo é possível, e no xadrez global não é improvável que até a mais poderosa aliança fique em xeque num determinado momento.
Da Reuters
TEERÃ (Reuters) - O Brasil quer ver a retomada de um acordo de troca de combustível nuclear como forma de pôr fim ao impasse com o Irã sobre seu programa nuclear, disse o ministro de Relações Exteriores Celso Amorim nesta terça-feira.
Em visita a Teerã, Amorim disse que o Brasil queria ajudar a resolver a disputa que levou o Ocidente a buscar sanções da ONU contra o Irã, país que os Estados Unidos e seus aliados temem tentará construir uma bomba atômica.
O Brasil, membro temporário do Conselho de Segurança da ONU, vem resistindo à pressão dos EUA para apoiar novas sanções que Washington pretende aprovar nas próximas semanas, e Amorim fez um apelo para que todos os lados demonstrem "flexibilidade" para chegar a um acordo.
"Não existe consenso político de que o Irã deve ser isolado ou que o Brasil vá nessa direção", disse Amorim em coletiva de imprensa ao lado de seu colega iraniano.
Amorim disse que espera que um acordo de troca de combustível, acordado em princípio no outubro passado, fosse retomado.
O acordo inicial determinava que Teerã enviaria 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento --o suficiente para uma única bomba se purificado para um nível suficientemente alto-- para que a Rússia e a França o transformassem em combustível para um reator de pesquisa médica.
O Irã disse depois que aceitaria apenas uma troca simultânea em território iraniano, uma mudança que outros partidários do acordo disseram não aceitar porque seria um empecilho à construção de confiança.
"O Irã deve ter atividades nucleares para propósitos pacíficos e a comunidade internacional também deve receber garantias de que não haverá violação ou desvio para finalidades militares", disse Amorim a jornalistas.
Uma solução negociada deve significar que qualquer "ambiguidade" sobre o programa nuclear já terminou, disse ele.
"A razão pela qual damos alta importância a esse acordo de troca de combustível nuclear... é porque o acordo em si é um acordo importante e segundo, cria a confiança com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e alguns países ocidentais", disse Amorim.
"Temos esperança de que esse acordo deve ser feito, mas, como qualquer outra negociação, deve haver flexibilidade de ambos os lados."
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que alertou contra "encurralar o Irã", deve visitar Teerã em maio, refletindo o fortalecimento de laços diplomáticos e econômicos entre os países.
(Reportagem de Robin Pomeroy)
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