Amália Safatle
De São Paulo
De São Paulo
- O que nós podemos fazer agora?? Quero ajudar, mas não sei como!
Este é dos comentários postados no site da ONG Greenpeace, sobre a notícia do desastre no Golfo do México, de responsabilidade da British Petroleum e sua fornecedora Deepwater Horizon, e que pode configurar a maior catástrofe ecológica da história dos Estados Unidos. Sem controle, o petróleo da plataforma que explodiu no dia 20 de abril, matando 11 pessoas, continua vazando no mar e alargando a mancha de óleo, cuja dimensão passa do equivalente ao território do estado de Sergipe. Os prejuízos, estimados na casa do bilhão de dólares, também alcançam a esfera política de Barack Obama e devem ser irreparáveis do ponto de vista biológico.
Os comentários são comoventes. Dá para sentir a sinceridade e o desprendimento com que muitos foram escritos. O que nós podemos fazer a agora? Ao escrever "nós", veja como o sujeito se inclui e se envolve com o problema causado por uma empresa de fora, em outro país, movida por outros interesses.
- Também gostaria de poder ajudar (...).Fiz um cursinho de Técnico em Meio Ambiente e qualquer coisa entrem em contato - escreveu um internauta.
- Se eu pudesse, iria com minha esponjinha lá e faria a minha parte! - disse outro. Alguns entraram em contato com a petrolífera britânica e receberam de volta um comunicado padrão e formal, para aumentar sua indignação.
Há quem recomende não comprar "produtos, ações ou qualquer coisa com que a BP esteja vinculada". São atitudes louváveis, mas que parecem um Davi diante do Golias de uma grande corporação que opera dentro de um imenso sistema econômico como o do petróleo. O poder do consumidor não é tão grande como se apregoa.
O que não quer dizer que ele não deva se mobilizar, ao contrário. Mas estar ciente de que, individualmente, poderá muito pouco. Organizar-se e articular-se em ações e movimentos coletivos é uma forma de ganhar musculatura e amplificar as vozes para poder entrar em páreo duro.
Pois não é nada fácil combater uma cadeia em cima da qual a economia mundial foi erigida, e da qual todos dependem. Uma forma de energia poluente, sujeita a graves acidentes, e para qual podem ser criadas alternativas menos impactantes, como outras fontes de energia e bioplástico.
Mas, em milhares de produtos e de quilômetros rodados, ainda está o petróleo, na forma de combustível ou insumo básico da indústria petroquímica, para nos servir. Ainda não há muitas alternativas para onde possamos correr.
Não faz tanto tempo assim, a Petrobrás foi a bola da vez, com seguidos acidentes terríveis na década de 90, mortes, derramamento de óleo. E está aí, darling do mercado financeiro, uma das empresas mais negociadas e valorizadas da Bolsa, grande patrocinadora de eventos culturais, forte anunciante de veículos de comunicação, com postos de gasolina por toda a parte e estrela do pujante plano que o governo acalenta em seus sonhos de pré-sal.
Na dúvida, não ultrapasse
Em meio ambiente, uma das ideias mais importantes é o chamado Princípio da Precaução. É o contrário do "pagar pra ver". Ou seja, para não incorrer em situações irremediáveis, evita-se o risco. Em vez de atravessar diretamente uma rodovia movimentada, usa-se a passarela, mesmo que o caminho seja mais tortuoso e trabalhoso.
Assim, se determinada área para exploração de petróleo é riquíssima em biodiversidade - e a vida for considerada como valor maior - a exploração deve ser evitada, ou feita em outro local. Se não se sabe exatamente o risco para o meio ambiente do uso de transgênicos, não se deve liberar o cultivo comercial antes de provas definitivas. Se são considerados importantes riscos sociais e ambientais na construção de uma hidrelétrica, de uma usina nuclear ou da transposição de um rio, devem-se procurar alternativas menos arriscadas para ofertar energia ou irrigar uma região.
Pode-se argumentar que o petróleo tem um valor enorme e justifica o risco, mas o que são barris que os EUA deixaram de importar perto da tragédia que ocorreu e os prejuízos de toda ordem, tangíveis ou intangíveis, quantificáveis ou não?
Acontece que o sistema econômico, na busca rápida e competitiva do lucro, busca o caminho mais curto: não anda até a passarela para atravessar a rodovia e provoca um acidente que afeta a todos. O consumidor, sem muita escolha em um sistema concentrado por poucas corporações, acaba por alimentá-lo ao usar seus produtos.
O acidente no Golfo do México expõe a fragilidade de um setor forte, poderoso, embora tenda a entrar em ocaso com a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e com o encarecimento da exploração, dada a diminuição da oferta em áreas de prospecção mais fácil. Mas ainda há controvérsias sobre a data em que o petróleo perderá seu brilho e deixará de ser o grande motor da atual civilização. Até lá, os riscos de toda a ordem continuarão existindo, e o cidadão deve se organizar para combatê-los, ou pelo menos para mostrar sua indignação.
Com perdas significativas no seu valor de mercado, a BP tem tratado de manter a imagem de empresa preocupada com a tragédia. Em sua homepage (www.bp.com) publica informações sobre o acidente e como a empresa tem respondido a ele.
No site da Deepwater, permanecem os dizeres: "Nossa visão de segurança é: nossas operações serão conduzidas em um ambiente de trabalho livre de incidentes - todo o tempo, em todo o lugar."
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4412751-EI6780,00-Uma+esponjinha+versus+a+British+Petroleum.html
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