Essa questão do Irã provocou um fenômeno interessantes no Brasil. Hoje, a dita esquerda defende a posição brasileira de não aplicação das sanções em face dos interesses econômicos que o país tem naquela região, e a direita defende a moral antes dos negócios, uma vez que há "limites" para tudo e o Irã não é um país confiável, seja lá o que isso queira dizer. De fato, o Brasil, além da questão dos negócios, e segundo a linha adotada pela sua diplomacia, aproveitando a presidência rotativa no Conselho de Segurança da ONU, quer ter um protagonismo que vá além do alinhamento automático com os "interesses" outros, como o dos EUA liderando o bloco ocidental, que está de olho no controle das fontes de energia daquela região, bem como do processo de escoamento e distribuição, tanto para a Europa, quanto para a Ásia. Se o país não é alinhado e não deixa que empresas americanas "parceiras" atuem na região, tem que tomar. Mas pra isto é preciso um motivo, e o Ahmadinejad tem dado de sobra, principalmente quando toma uma postura belicosa em relação à Israel, no momento em que enriquece urânio a mais de 20% e, segundo a imprensa internacional, diz querer varrer aquele país do mapa. Há ainda a máquina de guerra americana que o Obama sabe muito bem que tem que alimentar. Entretanto o Irã não abre mão de sua soberania e, nas entrelinhas, deixa claro que quer ter uma bomba nuclear. Acredito que todo país que tem a capacidade de enriquecer urânio e construir um vetor para lançar uma bomba não vai querer abrir mão dessa possibilidade. E o Irã, ainda mais estando às turras com Israel (que tem a bomba) pensa desta forma. O jogo é intrincado e pesado. Há interesses econômicos e estratégicos bem definidos e, no final, pode prevalecer o interesse do bloco mais poderoso, uma vez que os EUA sozinho, embora pudessem em face de seu poder militar, não vai querer arcar com o custo político de uma invasão sem o aval de seus principais aliados. A questão é a China e a Rússia que fazem parte do CS com direito a veto. Ao Brasil cabe, neste momento, arrefecer os ânimos e, de alguma forma, embaralhar o jogo, trazendo a China, Índia e a Rússia para o lado dos que não querem as sanções, e, ao mesmo tempo, adiar o sonho iraniano de ter a bomba. Se conseguir, terá mantido seus interesses econômicos resguardados e se posicionado como um interlocutor de respeito e poder.
Brasil e Irã podem firmar parceria para a troca de tecnologia no setor de gás
Da Agência Brasil
Renata Giraldi*
Enviada Especial
Beirute (Líbano) – As relações entre o Brasil e o Irã podem se estreitar ainda mais no campo econômico para a troca de tecnologia na área de gás natural. Dono da segunda maior reserva de gás natural do mundo, estimada em 23 trilhões de metros cúbicos, o Irã fica atrás apenas da Rússia. O objetivo é aprender com os iranianos as formas de exploração, de transporte e de distribuição mais viáveis para a produção.
A Rússia, que detém a maior reserva de gás natural do mundo, reúne 44 trilhões de metros cúbicos nas suas terras. A América do Sul, como um todo, com concentrações na Bolívia e Venezuela, tem pouco mais de 11 trilhões de metros cúbicos nas suas reservas. Nesse cenário, as atenções se voltam para o Irã.
“Os iranianos são muito desenvolvidos, detêm imensa reserva e sabem como fazer para evitar desperdícios e gastos desnecessários na etapa do transporte, por exemplo. E isso nos interessa demais”, disse o gerente de Projetos da Secretaria de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Rafael Moreira. “Fiquei muito bem impressionado com o que vi no Irã. Eles conhecem o setor e sabem lidar com ele.”
Ao passar pelo Irã, com a comitiva empresarial liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, Moreira conheceu as várias etapas de atividades da empresa estatal do Irã - a Iranian Gas Company – e conversou com diretores e técnicos. Segundo ele, a ideia é elaborar um relatório detalhado, a ser apresentado à Petrobras e demais empresas do setor, para a avaliação de um possível acordo de cooperação.
“A parceria pode ser interessante para que as empresas levem o conhecimento do que se faz no Irã para os novos leilões”, disse Moreira. “A forma como o Irã atua na área de gás natural permite que o país produza de seis a oito vezes mais do que se tem no Brasil, por exemplo”, acrescentou.
Apesar de deter a segunda maior reserva mundial, o Irã sofre com as restrições econômicas impostas pelos países alinhados aos Estados Unidos. Os principais parceiros comerciais dos iranianos são a China e a Índia. Por essa razão, há expectativa de que um eventual acordo com o Irã seja bem-sucedido.
*A repórter e o fotógrafo viajaram a convite do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Edição: Graça Adjuto
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